O impacto da vassoura
de bruxa, praga que dizimou as plantações de cacau do sul da Bahia e
desestruturou a cadeia produtiva é o pano de fundo do filme A Coleção Invisível
(2012), conquistando vários prêmios no Brasil e no exterior. A crise afetou 250 mil trabalhadores rurais
que ficaram desempregados e se deslocaram para a periferia das cidades, gerando problemas de desestruturação
familiar, prostituição e aumento da violência urbana.
A doença – que segundo
alguns teria sido introduzida criminosamente na região, o que não é evidenciado
no filme - , também empobreceu 30 mil produtores, como Samir Luedy,
interpretado por Walmor Chagas, que tem uma excelente interpretação no seu último filme, sob a
direção do cineasta franco-baiano Bernad Atal, antes de uma morte abrupta e
brutal.
Tudo começa quando Beto
(Vladmir Brichta), um jovem atravessa uma crise pessoal e financeira familiar que
o leva a viajar pela região cacaueira, mais precisamente em Itajuípe, em busca
de colecionadores de obras de arte para ampliar o faturamento da loja de
antiguidades da família. A sua vida muda partir do encontro com um velho
colecionador de arte, Samir Luedy, que vivia recluso na velha e decadente
fazenda Mundo Novo, a qual vai se transformando num monte de ruínas, mudando a sua visão da realidade.
Apesar das barreiras
para chegar ao fazendeiro, criadas pela mulher e pela filha do colecionador
Ludmila Rosa (Saada) acaba se desenvolvendo uma relação de amizade entre Beto e
Samir, que vivem um intervalo de tempo entre duas gerações que se interpõem e
se completam. Beto irá descobrir um segredo guardado no tempo e Samir, um
cacauicultor empobrecido e que mantém uma fortuna preciosa de desenhos de
grandes artistas, a exemplo de raridades de Cicero Dias, o que fará
reencontrar-se com sua própria história familiar como vendedor de obras de arte
e com o amor.
A crise do cacau é
retratada numa fala de Saada ao lembrar que em função da praga tudo começou a
desaparecer da fazenda, que foi ficando vazia, perdendo os lustres, as coisas
da casa, bem como cristais e porcelanas, por certo vendidos para garantir o
sustento da família e o pagamento dos trabalhadores que restaram. Já Samir, na
sua decadência descobriu o óbvio: nunca fora um agricultor, mas um colecionador
de gravuras e constata que o colecionador ainda é pior que os artistas, porque
nunca estão satisfeitos e nem realizados.
O filme também trata
do impacto ambiental mostrando o perígo do desmatamento na Mata Atlântica em conseqüência
do avanço da praga e aponta a saída para a produção de cacau orgânico. O roteiro da Coleção Invisível, é assinado
Sergio Machado, Iriane Mascarenhas e pelo diretor Bernard Atal, é inspirado no conto homônimo do Stefan Zweig,
escritor que se refugiou no Brasil no final dos anos trinta, após o avanço do
nazismo e é autor de “Brasil, país do
futuro”.
As sequências de Coleção Invisível foram filmadas em Salvador,
Itajuípe e em fazendas na região do cacau, que chegou a produzir 400 mil
toneladas de cacau e a exportar nos anos 80 do século passado mais de US$ 1
bilhão. A decadência começa após a eclosão da vassoura de bruxa, uma praga
devastadora que arruinou as plantações e
criou situações dramáticas na vida dos habitantes da região, gerando mortes, suicídios,
perdas de fazendas para bancos e aumentando as invsões de terras, agravando os
conflitos fundiários. (KLeber Torres)
Ficha técnica:
Titulo : A Coleção
Invisível
Direção : Bernard
Atal
Roteiro : Sergio
Machado, Iriane Mascarenhas e Bernard Atal a partir de um conto de Stefan Zweig
Elenco : Vladmir Brichta
(Beto),Walmor Chagas (Samir), Ludmila Rosa (Saada), Conceição Sena (Dona
Iolanda), Clarissa Abujamra (Dona Clara), Paulo César Pereio (locutor de rádio)
Ano : 2011