domingo, 30 de agosto de 2020

Uma obra iluminada e que veio para ficar na história do cinema

 


                                   

Considerado um cult movie de terror e suspense dirigido por  Stanly Kubrick, o filme O Iluminado ( The Shinning) narra uma tragédia famíliar. Tudo começa quando Jack Torrance (Jack Nicholson, com uma interpretação magistral), um escritor fracassado e alcoólatra em recuperação se torna zelador durante o inverno do isolado Hotel Overlook, nas Montanhas Rochosas, no Colorado. Além de cuidar do imóvel sem hóspedes, ele espera no tempo livre poder escrever um romance e vencer os  bloqueios que o limitavam no campo literário.

Ele se instala no hotel em companhia  da mulher Wendy (Shelley Duvall) e do filho Danny (Danny Lloyd),  um iluminado e que tem o dom da premonição e viusões. A criança acaba tendo contato com  o cozinheiro do hotel, Dick Hallorann (Scatman Crothers), com  essa mesma capacidade e que passa a  se comunicar  telepaticamente com ela.

Quando chega o inverno e começa a nevar, interrompendo o contato por terra  com o hotel, Jack não consegue escrever, e fica datilografando frases repetitivas. O  seu estado mental começa a se deteriorar de forma gradativa. Neste interim,  as visões de Danny se tornam cada vez mais perturbadoras: ele tem visões de duas gêmeas e de outros fantasmas que povoam o hotel, bem como das tragédias que ocorreram no seu interior, onde o antigo zelador também matou a mulher e as filhas num acesso de loucura.

Jack começa a tratar a mulher e o filho com aspereza e a cada dia se torna cada vez mais violento. Ele  começa a se transformar numa espécie de  maníaco homicida influenciado por forças malignas, deixando aterrorizada sua família. Durante uma tempestade de neve, ele corta as comunicações por telefone e por rádio do hotel e depois a mata Dick Hallorann, que veio em socorro da família.

Enquanto a saúde mental de Jack piora a cada dia, o filho Dany vê sangue esguichar nos corredores do hotel, tem encontros com fantasmas e lê a palavra assassinato (murder) de trás para frente na porta do seu quarto, uma espécie de  telegrama sobre a tragédia anunciada que se avizinha. O pai, consegue escapar do friogorífico onde foi colocado por Wendy, ao se defender dele com um bastão de basebol, provocando a queda do marido que rola das escadas no vão central do hotel e acaba perdendo a consciência.

Jeck, cada vez mais enlouquecido por forças sobrenaturais, também  bebe no bar do hotel, onde é atendido pelo garçon Lloyd (Joseph Turkell), que o considerava um cliente especial e que não precisava pagar as despesas com bebidas. Jack acaba morrendo congelado na neve ao perseguir a mulher e o filho num grande  labirinto de plantas a céu aberto. Embora a história tivesse como referência 1977, nas fotos do salão de festa do hotel Overlook aparece uma foto de Jack, nos festejos do ano novo de 1921, cinco décadas antes da sua morte,

Uma sequência de O Iluminado é Doctor Dleep (Doutor Sono) foi lançado no ano passado, 40 anos depois do primeiro filme, com Danny já adulto enfrentado vampiros, numa guerra que termina com o Hotel Overloork  engolido pelas chamas depois de uma série de mortes. Há dois anos, O Illuminado foi selecionado para preservação pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que o incluiu no National Film Registry, por ser considerado como uma obra significativa em termos culturais, estéticos e históricos. (Kleber Torres) 

 

Ficha Técnica

 

Título : O Iluminado  (The Shining)

Direção : Stanley Kubrick

Roteiro :  Stanley Kubrick e Diane Johnson, a partir de uma obra de Stephen King

Elenco : Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Llloyd, Scatman Crothers, Barry Nelson, Jack Turkel, Philip Stone e Anne Jackson

Cinematografia : John Alcott

Música : Wendy Carlos e Rachel Elkind, mais Béla Bartók e Hector Berlioz

Lançamento : 1980

144 minutos


domingo, 23 de agosto de 2020

Doutor Sono e a eterna luta entre o bem e o mal


Em termos lógicos, Doutor Sono (Doctor Sleep) é uma continuação natural de o Iluminado (The Shining), dois filmes baseados em romances de Stephen King, um dos mestres da ficção científica e do terror, tendo como referência a luta entre o bem e o mal. Desta vez, 40 anos depois do filme de Stanleuy Kubrick, Danny Torrance (Ewan McGregor), que  sobreviveu a uma série de atentados cometidos  pelo seu pai, um escritor perturbado pelos espíritos malignos que povoavam o Hotel Overlook, enfrenta vampiros que se alimentam da energia vital das pessoas.

Douto Sono é dirigido e roteirizado por Mike Flanagan, a partir da obra de King. Ela também cuidou da fotografia e nos mostra Danny como um adulto desajustado, traumatizado pelos dramas  vividos na infância e alcoólatra. Ele se muda para uma cidade pequena, onde consegue um emprego no hospital local.

Tudo começa a se complicar  a partir do momento em que ele  cria um vínculo telepático com Abra Stone (Killiegh Curran), uma menina também iluminada como Danny quando criança,  e com poderes tão fortes quanto como os seus, mas que os procura  bloquear agora na idade adulta. Os dois têm de enfrentar uma verdadeira gang de vampiros, liderada por Rose the Hat (Rebeca Ferguson), que não bebem sangue, mas se alimentam do élan vital das pessoas, o que lhes garante uma vida eterna.

Doutor Sono nos ensina que as crenças não nos fazem pessoas melhores, mas sim as atitudes, mostrando o mundo como uma grande casa de repouso a céu aberto e com problemas múltiplos, de todos os níveis. Também nos alerta que não há motivo de ter medo de nada, e que o perigo de enfrentar os vampiros são os mesmos de que se contrapõe a pessoas ricas e com contatos na sociedade organizada.

Na sua estratégia para enfrentar os vampiros, Danny  e Abba acabam atraindo Rose the Hat para o Hotel Overlook, onde ele viveu seu drama pessoal como uma criança iluminada, a qual teve de enfrentar as forças sobrenaturais que teve de conviver na infância. Ele também retorna ao bar, que foi frequentado pelo seu pai no hotel e encontra o mesmo garçom desencarnado, o qual o tenta oferecendo uma dose de Jack Daniel’s número 7, o que o fez comentar: “o homem toma o drinque, o drinque toma o drinque e aí o drinque toma o homem, mas remédio é o que é bom para todos os males. Você vai tomar o seu remédio”, mas não bebe.

O  hotel manteve a mesma decoração, tapetes e pisos da sua infância, ele também observa “que este lugar está doente, é como um câncer, só que pior”, ao avaliar as forças negativas ali presentes.  Ao enfrentar Rose the Hat, ele rememora que a diferença entre os dois é o tempo, o que resulta numa disputa de vida e morte entre as forças do bem e do mal, mostrando ao mesmo tempo que o mundo é um lugar voraz e de sonhos, mas quem há de negar ? (Kleber Torres)

 

Ficha técnica

Título : Doctor Sleep (Doutor Sono)

Direção, roteiro e cinematografia : Mike Flanagan

Elenco: Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Kyliegh Curran,  Cliff Curtis, Zahn McClarnon, Emily Alyn Lind,  Selena Anduze, Robert Lonystreet

Música :The Newton Brothers

Gênero : Terror

Estados Unidos \  Reino Unido \  Canadá

2019 •  cor •  144 min Doutor Sono e a eterna luta entre o bem e o mal

Kill Bill: uma estética de violência e vingança nua & crua


 

A vingança é um prato que se come frio e nunca é uma linha reta, isto é o que nos ensina Kill Bill I, em que Quentin Tarantino nos conta, com muito sangue e humor negro, a história da vingança da Noiva/Beatrix Kiddo/Mamba Negra (Uma Thurman) contra seus ex-companheiros do Esquadrão Assassino das Víboras Mortais (Deadly Viper Assassination Squad) integrado por Estados Unidos Bill / Encantador de Cobras (David Carradine), O-Ren Ishii/Boca de Algodão (Lucy Liu), Elle Driver/Cobra Californiana (Daryl Hannah), Budd/Cascavel (Michael Madsen) e Vernita Green/ Cabeça de Cobre/Jeannie Bell(Vivica A. Fox), que tentaram assassiná-la no ensaio para seu casamento em El Paso.

         

Considerado um desdobramento de Pulp Fiction, Kill Bill I tem a direção do Quentin Tarantino, num roteiro ágil e dinâmico, assinado a quatro mãos por ele e por Uma Thurman, tendo como referências de ação  a cultura pop  misturando referências aos filmes de caubói italiano com anime, blaxexploitation, consorciado  com kung fu e tudo o que se tem direito, tendo como pano de fundo a música popular e uma escalada crescente de violência. Por uma questão de tempo, o filme desenvolvido em 10 capítulos, foi dividido em duas partes Kill Bill – Volume I(2003) e Kill Bil Volume II(2004), com filmagens nos Estados Unidos, México, China e Japão.    

 

A vingança começa depois que a Mamba Negra, sai do coma e vai ao encontro de Vernita Green, que vive com a filha pequena em Passadena.  A Mamba Negra considera que matar o inimigo, numa lista de cinco nomes dos seus algozes, suprime a emoção humana e a compaixão, que são colocados num segundo plano. A ideia é matar quem se interpuser ao seu caminho seja Deus, Buda ou mesmo um pobre diabo qualquer.

  

O capitulo II, A Noiva Ensanguentada, começa quando o xerife investiga a chacina de nove pessoas, entre as quais a noiva, o noivo, o reverendo, e até o músico que tocava o órgão.  Numa cena de humor negro, o xerife questiona, “mas o que foi isso? Parece coisa de um esquadrão da morte nicaranguense”.  Para intuir com sua experiência que este foi um trabalho de matadores profissionais e que é coisa de gente grande.

 

No hospital, onde a Mamba Negra permanece em coma, um enfermeiro aluga o corpo da paciente para um cliente, recomendando nada de mordidas ou chupões para não deixar marcas. Nesse interim, ela desperta do coma e morde a língua do estuprador que morre. Quando o enfermeiro volta para saber se o cliente se divertiu, ela também o agride e pergunta: “cadê o Bill?” Fugindo em seguida deixando mais um corpo no seu caminho.

 

No capítulo III, A Origem, ela parte em busca da vingança contra O-Ren Ishi, cujo pai foi morto pela máfia japonesa, quando tinha nove anos e aos 20, já era considerada uma das melhores assassinas do mundo. Aos 25, ela participou da chacina de nove pessoas, inclusive da Mamba Negra e a sua filha, que também escapou com vida deixando de ser a décima vítima.

O Homem de Okinawa é o título do capitulo IV, quando a Mamba Negra procura no Japão a Hattori Hanzō(Sonny Chiba), a quem pede uma espada de samurai para exterminar uma praga. Hanzô questiona: “então deve ser um rato grande”, e ela responde laconicamente: “Imenso”. E é recomendada a pegar a segunda espada debaixo para cima em um painel. Num teste de reflexo e da espada de puro aço, ele atira em sua direção uma bola de beisebol, a qual ela corta ao meio com um golpe.

 

A violência explode com mais mortes e muito sangue,  no capitulo seguinte, no Confronto na Casa das Folhas Azuis, com cenas de luta minuciosamente coreografadas com destaque para a luta  travada contra Go-Go-Yubari (Chiaki Kuryama)), que morre com lagrimas de sangue, no Clube 88, tendo como pano de fundo apresentação musical do grupo de rock japonês “The 5.6.7.8’s”, onde a Mamba Negra foi em busca de  O-Ren Ishii, onde inicia uma carnificina, deixando para os feridos que tiveram a sorte de ficar vivos saiam, mas deixando como compensação os membros que perderam.

 

As duas rivais se encontram num jardim coberto de neve, onde a Mamba fere  O-Ren Ishii nas costas, dizendo que “você pode não saber lutar como os samurais, mas pelo menos deve morrer como tal”. Enquanto Bill procura saber se a Mamba Negra sabe que a filha ainda esta viva, sinalizando para a continuidade do Kill Bill II, que é menos violento, mas envolve muita ação com uma assassina vingadora que não esquece e nem perdoa seus inimigos. (Kleber Torres)

 

Ficha técnica:

 

Título : Kill Bill - Volume 1 (BRA)

Direção: Quentin Tarantino

Roteiro:  Quentin Tarantino e Uma Thurman

Elenco:  Uma Thurman, David Carradine, Lucy Liu, Vivica A. Fox, Michael Madsen,  Darryl Hannah, Julie Dreyfus, Gordon Liu e  Chiaki Kuriyama

Gênero : Aventura

Cinematografia : Robert Richardson

Lançamento 2003

Idioma          inglês

Estados Unidos

2003 •  cor •  111 min

domingo, 16 de agosto de 2020

Tudo é possível quando se abre uma janela para o Cosmos


 

Instigante, assim pode ser definida a série "Cosmos: Mundos Possíveis", exibida pela National Geographic, que a  transmite para milhões de pessoas  em 172 países, inclusive o Brasil e em 43 idiomas, como uma janela aberta para a compreensão da vida e do universo. A obra tem como base um projeto iniciado há 40 anos pelo astrônomo Carl Sagan (1934-1996), o qual também narrava cada episódio da série anterior e nos legou um livro sobre o tema, que ganha continuidade agora, numa produção coordenada pela sua mulher, agora viúva, Ann Druyan.

A nova série revela, nesta temporada curiosidades, inclusive biográficas e reflexões pertinentes sobre o avanço da ciência e a história da humanidade, com incursões no campo da filosofia e mesmo da política. Em termos didáticos, Cosmos: Mundos Possíveis compara a história do universo, criado há cerca de 14 bilhões de anos,  com um ano terrestre – a terra tem estimados 4,5 bilhões de anos de existência – segundo o calendário cósmico,  uma escala de tempo elaborada por Sagan, com o objetivo de resumir metaforicamente em um ano, com seus 12 meses e 365 dias, toda a história do universo, desde o início do Big Bang aos dias atuais. Nesta escala de tempo, cada segundo equivale a 500 anos terrestres.

 

Neste calendário, os dois últimos minutos do ano registram o acumulo de todos os avanços conhecidos e realizados pelo homem ao longo da história da humanidade. A série também nos faz refletir sobre o Big-bang e sobre os efeitos da expansão do universo, que pode ser circular ou plano, a partir de uma visão a partir da ótica da física quântica, a mesma que nos leva a pensar sobre a hipótese de muitos mundos.

A interpretação de muitos mundos (IMM) é um conceito  da mecânica quântica que propõe a existência de múltiplos "universos paralelos", neste espaço, tudo oque possa acontecer  já aconteceu em um cosmos paralelo ao nosso, mas inacessível para nós humanos, mortais, finitos e formados por células e partículas, as mesmas que foram e são o conteúdo do universo.

Assim, o que pode acontecer ou vai acontecer agora ou no futuro, já ocorreu num mundo paralelo, como numa espécie de superdeterminismo, em que cada evento foi previamente determinado no início dos tempos, há justos 14 bilhões de anos, ou seja, no primeiro momento do universo. O problema é que segundo esta teoria, nós estamos sujeitos às mesmas leis que vigoram no universo quântico.

Numa análise  mais fria deste processo, isso significa que nós estamos viajando no automático, seguindo mecanicamente um movimento iniciado há bilhões de anos, num universo em que ainda discutimos se o fóton e a luz são partículas ou uma onda, uma questão que divide os cientistas nos nossos dias, os quais buscam uma explicação sobre a origem do universo e da própria vida.

A esse conceito, Albert Einstein, pai da lei da relatividade, desenvolveu o conceito que denominou de ação assustadora à distância, ou seja,  a interação contínua entre fótons distantes entre si. Essa interação é possível graças ao entrelaçamento ou emaranhamento quântico dessas partículas – se entrelaçadas, qualquer mudança experimentada por uma delas afetará imediatamente a outra infinitamente.

Neste caso, se as correlações são realmente definidas desde o momento do big-bang, a grande explosão que deu origem ao universo ou aos universos, tudo está definido e foi previamente pré-ordenado. Isso também justificaria o princípio da razão suficiente, discutido por Leibniz, Kant e Schopenhauer para explicar que tudo o que acontece tem uma razão suficiente para ser assim e não de outra forma, em outras palavras, tudo tem uma explicação precípua e suficiente.

Além de imagens poderosas com auxilio de telescópios e o suporte da computação gráfica, a série também conta a história de filósofos, inventores  e cientistas que pesquisaram sobre a luz, fizeram estudos  que permitiram o homem viajar até a lua ou colocaram as suas vidas em risco ou salvar a humanidade da fome.

Num destes cenários aparece Nikolai Ivanovich Vavilov, agrônomo e geneticista russo,  conhecido por ter identificado os centros de diversidade de plantas cultivadas, o primeiro cientista a compreender a complexidade da biodiversidade e que dedicou sua vida ao estudo e melhoramento do trigo, milho e outros grãos essenciais para a alimentação da população, selecionando 250 mil variedades de sementes, realizando grandes avanços em relação às teorias de  Charles Darwin e de Gregor Mendel, sobre a hereditariedade.

Ele que idealizou e iniciou uma pesquisa mundial para criar um banco mundial de sementes visando erradicar  a fome no mundo, e tentava solucionar um problema que matou mais de 100 milhões de pessoas na China, no século XIX; na Irlanda, forçando a imigração de dois milhões de pessoas e mesmo no Brasil, durante os idos de 1877/1879, numa seca que matou mais de 400 mil pessoas esfomeadas, o que representava a metade da população do Nordeste, mas acabou preso e torturado pelos asseclas de Stálin, que também promoveu o extermínio pela fome de milhões de agricultores russos, com um projeto de coletivização de fazendas.

Vavilov acabou preso e  submetido a tortura, que o deixaram incapaciutado para andar, depois de exposto a mais de 1700 horas de interrogatório excruciante em mais de 400 sessões de terror. Ele acabou morto por inanição pelos seus algozes, um final trágico para quem sonhava eliminar a fome do mundo.

Aos seus interrogadores, que o acusavam de espionagem e de atividades antissoviéticas, em função do seu prestígio internacional, ele confessou que seu único crime foi divergir profundamente de uma opinião científica. Ele discordava de Trofim Lysenko, pai do Lysenkoismo, um método também usado metaforicamente para descrever a manipulação ou a distorção do processo científico, como uma maneira de se chegar a uma conclusão pré-determinada em conformidade com um viés ideológico,  geralmente relacionada a objetivos políticos ou sociais, o que agradava ao todo poderoso camarada Joseph Stálin.

Em tempo, o nome de Lysenko hoje é lembrado como o de um exemplo de pseudocientista e Nicolai Ivanovich Vavilov, deu seu nome ao principal centro de pesquisas agrícolas da Rússia e reconhecido como um dos país da teoria biodiversidade. Seu nome ficou e perdura no panteão da história. (Kleber Torres)

sábado, 15 de agosto de 2020

O tudo ou nada de um jogador muito louco e carismático

 

O Realidade CNN  exibiu a série documental em três capítulos O Carisma Obscuro de Hitler (The Dark Charisma of Adolf Hitler), que narra a trajetória de um ex-cabo e mensageiro do exército  alemão na Primeira Guerra Mundial, o que lhe valeu uma condecoração, e que de um pintor frustrado e depressivo, acabou se metendo na política e acaboi comandando a Alemanha levando o mundo a uma guerra entre 1939 a 1945, que custou a vida de 60 milhões a 85 milhões de pessoas. Ele era um jogador que apostava no tudo ou nada e fazia prevalecer o caos.

O estranho nesta história é que o líder nazista, considerado um dos  maiores vilões da história, ao lado de figuras como Joseph Stalin, Mao Tse Tung e Genghis Khan, entre outros personagens matadores no atacado e no varejo. O fato é que apesar de ser responsável milhões de mortes e de engendrar a ideia da solução final para extermínio do povo judeu e que lutava pela erradicação do comunismo,  ainda era amado e idolatrado por seu povo, que mantinha mobilizado com o apoio da propaganda, confiando na sua palavra e no seu carisma. 

Com um  discurso de ódio, essencialmente antissemita – culpava os judeus pela derrota da Alemanha na I Guerra Mundial e pelos problemas econômicos do seu país -,  racista e misógino, ele não aceitava conselhos e nem ouvia conselhos, mas convenceu uma nação inteira a entrar numa guerra sem fronteiras, que deixou a Europa em ruínas. Ele também usou a tecnologia a seu favor – falando teatralmente em comícios, usando emissoras de rádio, filmes e percorreu toda a Alemanha de avião na tentativa de se eleger para a chefia do governo germânico.

A série mostra o líder nazista como um homem movido essencialmente pelo ódio, incapaz de estabelecer relacionamentos humanos normais –no filme ele empurra uma mulher que o afagava e tentava beijá-lo-, o que o tornaria  um líder improvável. Ele também era contrário a reuniões e a debates políticos, mas, no entanto, conseguiu um apoio gigantesco, ao propor um partido único num país em havia 33 agremiações partidárias de todos os matizes.

O documentário escrito pelo historiador e documentarista Laurence Rees para a BBC, fala das raízes do Holocausto,  do plano expansionista dos nazistas que invadiram a Áustria, onde foram recebidos com rosas e flores pela população, uma ação seguida da ocupação da Tchecoslováquia e da Polônia, onde matou toda a oficialidade do exército no massacre de Katyn e implantou os primeiros campos de extermínio de judeus, deflagrando o estopim da Segunda Guerra e que foi ampliada como um conflito global com a invasão da França e  de outros países europeus, até o rompimento do pacto de não agressão com Stálin, que resultou na invasão da  União Soviética, com a abertura simultânea de  três frentes de combate, o que contribuiu para acelerar a derrota dos alemães e de seus aliados do eixo.

O fato é que  todos esses acontecimentos catastróficos do século XX e que marcaram negativamente a história, podem ser atribuídos a Adolfo Hitler, que  foi, sem sombra de dúvida, um criminoso de guerra sem precedentes em termos histórico. Ele também foi responsável pela Noite dos Cristais, em novembro de 1938, com a consequente  prisão e morte de milhares de judeus, servindo de embrião para  implantação de campos de concentração.

O aparente carisma de Hitler lhe  garantia o apoio  em todas as esferas de poder nas forças armadas, onde os grupos contrários eram aniquilados a ferro e fogo. Como consequência de um atentado frustrado em que saiu com ferimentos leves, mais de 200 oficiais foram condenados e executados, alguns deles sumariamente e sem defesa. Apesar das derrotas sofridas ao longo do tempo, depois de uma série de vitórias consideradas esmagadoras e com as tropas estimuladas por anfetamina do chocolate Panzer, mesmo ele ainda era capaz de exercer uma grande influência nas pessoas que encontrava e a quem convencia com seus discursos e afagos, às vezes pegando demoradamente nas mãos do interlocutor de quem dependia algum favor ou uma missão.

Rees, mostra com imagens e depoimentos colhidos ao longo  mais de duas décadas de pesquisas com pessoas que conviveram ou foram vitimas do líder nazista, revelando que por trás da natureza aparentemente atrativa de Hitler, havia  um suposto carisma que o levou aos meandros do poder e aos caminhos da morte.

Ele foi estimulado talvez pelo psiquiatra que o tratou de uma depressão, quando o pintor medíocre foi recusado para frequentar uma escola  de artes plásticas no começo dos anos 20 do século passado e daí, derivou suas pulsões  para o sucesso no mundo político e militar, como caminhos naturais para o poder conseguido a qualquer custo, mas que também o levou, ao seu país e o mundo a um final trágico, num jogo impossível, em que valia o tudo ou nada, mas cujo epílogo é conhecido, com o custo absurdo  e injustificado da perda de milhões de vidas humanas e incalculáveis prejuízos materiais.(Kleber Torres)

domingo, 9 de agosto de 2020

Uma reflexão sobre a era dos corações solitários

 

 

 

Um filme que serve como reflexão num tempo de pandemia e isolamento social é o documentário A Solidão de uma Era (The Age of Loneliness) , produzido e dirigido por Sue Bourne, que partiu da constatação de que 30% das pessoas já sentiram a aspereza da solidão, um problema que atinge a jovens e idosos. Hoje, na Inglaterra, 7,6 milhões de pessoas vivem sós em suas residências.

 

A Solidão de uma Era constata uma epidemia de solidão, que não tem cheiro e nem cor, mas é apenas sentida e percebida pelas pessoas isoladas nos quatro cantos deste vasto mundo. A outra constatação ainda mais dramática do filme é que é difícil admitir para os outros que se está solitário e isso fica oculto nas redes sociais, onde as pessoas postam os seus melhores momentos, fotos alegres, uma coisa distante e de certa forma dissociada da própria vida real com seus dramas e contradições.

 

No filme, é apresentada a experiência de voluntários que assistem a idosos não visitados e abandonados por parentes. Uma das entrevistadas conta que nunca pensou que chegaria  aos 100 anos, teve uma vida maravilhosa e um marido que era tudo para ela, mas ele morreu há cinco anos e ela acabou sozinha. Hoje, ela é acompanhada por uma cuidadora, mas não tem nenhuma conexão, pois não quer morar com parentes, mas tem medo de morrer sozinha.

 

Um outro depoimento é de um idoso de 72 anos, que faz um jornal numa rádio comunitária e acredita que as pessoas solitárias, que não fazem nada e não têm nenhuma atividade, acabam degenerando muito rápido. Outro entrevistado de 93 anos, não se considera um velho, mas admite em contrapartida, que nada pode substituir o que perdeu, inclusive guarda as cinzas da mulher falecida, a quem preferia ter viva e em sua companhia, mesmo com Alzheimer.

 

Uma  idosa fala do isolamento e da sensação do abandono: “há a sensação de que ninguém nos ama e nem precisa de nós.” Outra idosa vive numa casa em companhia de cachorros, que encheram um imóvel vazio: ”você não recebe recados, estou solitária e sinto falta de um amor na minha vida,” diz com nostalgia de um coração solitário. Ela constata com tristeza, que ninguém precisa dela, o que aumenta a sensação de abandono e isolamento.

 

O filme faz uma outra constatação com base em pesquisas: 25% dos pais britânicos se sentem isolados e solitários. Uma dona de casa mãe de filhos fala que sente falta de convivência  com adultos, pois toda a sua vida girou em torno dos três filhos e o marido falecido, hoje, ela combina passeios com as amigas e os filhos través das redes sociais.  Outra correlação observada no filme  é que a solidão se complementa com depressão, solidão e tristeza.

 

Um divorciado que vive com filhos de 13 e 15 anos, não tem namorada e nem vida social. Para compensar a solidão, ele faz caminhadas, corre com os filhos, mas não vê e nem conversa com adultos por noites seguidas. Também para compensar o isolamento ele acabou virando escritor, pois não há uma cura e nem uma receita de 10 passos para a solidão, mas sonha “quando tiver 65 anos, quero ter uma pessoa comigo”, complementou.

 

Uma mulher de 40 anos também se sente solitária e fala da falta de uma conexão com alguém especifico, como saída, às vezes, ela entra na internet e isso piora ainda mais a sua sensação de isolamento: “uma coisa que não pode ser assim todo o tempo”. O seu medo maior é de ficar sozinha pelo resto da vida, mesmo tendo bens materiais e autonomia financeira.

 

Um homem de 72 anos,  casado, contou que se sente solitário 24 horas por dia, mesmo com a casa cheia de gente. Já um escritor que vive no campo, compensa o isolamento ao constatar a grande beleza do lugar onde vive e o silêncio da fazenda, “hoje estou mais feliz do que nunca”.

 

Fica também evidente em A Solidão da uma era, que o isolamento é cada vez mais inevitável e uma mulher de 72 anos, com quatro filhos espalhados na Inglaterra, diz que é melhor ficar sozinha, do que solitária numa relação. Ela conta que devido a solidão tem depressão, mas deixou de tomar remédios para praticar exercícios.

 

O seu filho também vive isolado, os dois se falam uma vez por semana por telefone e se veem apenas duas vezes por anos. O rapaz tem ansiedade e depressão, não namora, já passou em casa duas semanas sem ver ninguém e seu dia começa às 16 horas, vivendo numa espécie de circulo vicioso de depressão e solidão.

 

O drama de um executivo também foi revelado no filme: ele se sentia solitário e fracassado, mas não podia conversar com colegas e amigos que era um solitário. Ele foi acometido de depressão, chegou a tentar suicídio e, para tentar resolver o problema, deixou a casa, a mulher e foi a uma clínica onde discutiu com uma enfermeira sobre seus planos de suicídio, mas acabou internado para uma terapia. Hoje, ele passa mais tempo com a mulher,  que o ajudou juntamente com seu chefe na recuperação.

 

Por fim, A Solidão da uma era nos ensina a lição fundamental de que devemos aproveitar o que pudermos da vida, pois ela é passageira,e fugaz. Uma das personagens entrevistadas morreu cinco semanas depois das filmagens, em casa, sozinha, mostrando que na maioria das vezes a solidão não tem cura e pode ser letal.

 

 

Ficha técnica:

 

Título: A Solidão da uma era (Rhe Age of Loneliness)

Direção : Sue Bourn

Fotografia : Danieel Dewsbury

Música : Steve Isles

2016

BBC

sábado, 8 de agosto de 2020

Um circuito de silêncio e sombras na história do cinema

 

O Pacto entre Holywood e o nazismo – como o cinema americano colaborou com a Alemanha de Hitler, de Ben Urwand, revela aspectos políticos e econômicos dos bastidores de um acordo informal e tácito entre os estúdios americanos – Metro-Goldwyn-Mayer MGM, Twentieth Century Fox, Paramount, Universal Pictures e Columbia Pictures -, controlados por empresários judeus, para continuar a fazer negócios na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder e com a instauração do nazismo. Em função de interesses comerciais, os empresários do setor cinematográfico concordaram em não fazer filmes que atacassem os nazistas ou que condenassem a perseguição aos judeus na Alemanha.

Ben Urwand revela que esse acordo de colaboração  envolveu um rico elenco de personagens que ia desde conhecidos líderes alemães, como Joseph Goebbels, homem que comandava a comunicação nazista, até ícones de Hollywood, como o todo-poderoso Louis B. Mayer, diretor-fundador da MGM, além de diplomatas, políticos e empresários que cuidavam da produção e da distribuição de filmes. O livro, de 366 páginas, é dividido em seis capítulos e um epílogo, com referência ao pós-guerra e uma viagem dos empresários americanos ao território germânico, o que incluiu uma visita a um dos campos de concentração usado para o extermínio em massa de judeus.

No centro da história de Urwand está o próprio Adolf Hitler, que tinha obsessão por filmes (tema do primeiro capítulo)  e que todas as noites, antes de ir para a cama, assistia a um filme, escolhido por ele, que após o jantar conduzia convidados para o seu cinema particular na chancelaria do Reich ou em Berghof. O ditador nazista reconhecia plenamente o grande poder do cinema  em moldar a opinião pública e considerava os americanos com conhecedores dos recursos da propaganda que gostaria de fazer no seu pais.

Um aspecto destacado no Pacto entre Holywwod e o nazismo é que Hitler via a guerra em dois fronts: o primeiro, era o campo físico de batalha, em que julgava que os alemães seriam vencedores, com o uso da tática ação relâmpago e fulminante envolvendo uma ação conjunta da força aérea,  com o deslocamento dos blindados e tropas motomecanizadas com apoio maciço da artilharia. Já o segundo front era o da propaganda, no qual insistia que o governo alemão havia fracassado e invejava a eficiência do cinema americano em termos de narrativa, imagens e emoções transmitidas ao público.

Hitler também dizia e acreditava que os livros não serviam para nada, porque o veículo de mudança era a palavra falada, que foi a sua principal arma de convencimento e catequese do povo alemão e que o levou a uma guerra em escala global. O livro lembra que em dezembro de 1930, o partido nazista promoveu manifestações de rua contra a projeção em Berlim do filme Nada de novo no front, o que desencadeou uma malfadada série de eventos e decisões que terminaram depois, no pacto entre o regime nazista e os grandes estúdios americanos.

O livro dedica três capítulos para mostrar os filmes que o ditador nazista os criticava de forma sumária e minimalista, usando os adjetivos “bom”, para os que gostava, uma categoria que incluiu um filme cômico do Gordo e o Magro; ruim, para os que não gostava, como o filme de Tarzan, o filho das selvas. Os nazistas também proibiram a exibição dos filmes de terror, alegando que os mesmos  tinham um efeito moral ameaçador para a população.

Um dado interessante desta simbiose entre o cinema holywwodiano e o nazismo está no fato de que a Paramount e Twentieth Century-Fox não só exibiam filmes na Alemanha, como produziam noticiários germânicos, investindo localmente capital em câmeras e filmes, pessoal técnico para captar imagens sobre os eventos nazistas. Neste trabalho, eles filmaram o primeiro monumento do Movimento Nacional Socialista, em Bayreuth e a celebração dos trabalhadores da nação alemã, documentários noticiosos apresentados antes da exibição de filmes nos cinemas. No final de 1936, o chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels aboliu a critica de cinema na Alemanha e ordenou aos jornalistas que passassem a fornecer apenas a sinopse, com a mera descrição dos filmes.

Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra os estúdios americanos produziram entre 1942 a 1945, cerca de 1,5 mi longas-metragens, dos quais 800 diziam diretamente respeito à guerra e deste total, 242 referiam-se explicitamente aos nazistas e 190, a Hitler. Entre as vozes mais atuantes contra o nazismo, estava o roteirista Ben Hecht, que também escreveu o roteiro final do clássico E o vento levou, em que criticava a omissão dos estúdios diante do Holocausto e não poupou nem mesmo o presidente Roosevelt.

O fato é que com receio de perder acesso ao mercado da Alemanha e depois, dos países ocupados pelos nazistas, todos os estúdios de Hollywood fizeram concessões ao governo alemão. Tudo começou  quando Hitler chegou ao poder, em 1933, e os estúdios, muitos deles chefiados por judeus, passaram a negociar diretamente com seus representantes. O livro envolveu uma pesquisa minuciosa de documentos nunca antes examinados e que eram desconhecidos do público, e levanta a cortina de um episódio nebuloso da história de Hollywood e dos Estados Unidos, que até agora ficara oculto e colocado discretamente embaixo do tapete. (Kleber Torres)

domingo, 2 de agosto de 2020

Um lição para compreender os que ouvem a voz da lua

 

 

A insanidade, que ocupou espaço nas letras através do ensaio Elogio à Loucura, de Erasmo de Roterdã; do romance primoroso D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes e no teatro shakespeariano, com Hamlet, que fingia-se de alucinado, justificando que “não estou louco de verdade, estou louco por astúcia” para vingar a morte do pai, chegou às telas dos cinemas com o filme A luz da lua (1990), do cineasta Federico Fellini, tendo como base o romance Il poema dei lunatici, de Ermano Cavazzoni. O filme é considerado uma alegoria e  ao mesmo tempo uma parábola sobre as visões  e as vozes da interiores que só os loucos e os vagabundos são capazes de ver, ouvir e  compreender, porque como disse um dos personagens, se a gente fizesse silêncio talvez entendesse algo.

Tudo começa quando Ivo Salvbini (Roberto Benigni), se apaixona depois de sair de um hospital psiquiátrico e tenta conquistar com artifícios a loura  Aldina Ferruzzi  (Nadia Ottaviani), uma musa distante e indiferente, que atrai a atenção e os olhares dos outros homens da cidade onde vive. Ivo recorre a imagens do poeta italiano Giacomo Leopardi, para quem a lua pousa nos telhados e nas hortas e a compara igualmente a sua amada à lua ao questionar “o que faz no seu silêncio a lua. Minha dileta lua”

A Voz da lua é também uma história de amor e que tem como referências  não só a tentativa de Ivo Salvini em conquistar a sua amada, como o coloca emparelhado como outros loucos de plantão, a exemplo de Nestore (Angelo Orlando) que se casa e depois se separa de Marisa (Marisa Tomazi), que o deixa levando todos os móveis, deixando no apartamento vazio uma vassoura e  lavadora de roupas.

Salvini  também encontra na sua busca do amor,  um oboísta aloprado (Sim) que vive no cemitério local, que usa acordes da música erudita gerados a partir do quinto grau da escala maior e um homem cujo passatempo é meditar sobre telhados, além de se relacionar com Gonnella (Paolo Villagi), um ex-prefeito  com um parafuso a menos, com mania de perseguição e que ama  uma misteriosa mulher, com quem só ele conversa, vê e até dança Also sprach Zarathustra, de Robert Strauss, que foi incluída no filme 2001 Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick..

Gonnella torna Salvini seu braço direito na investigação de uma rede de conspirações naturalmente inexistente. Os dois vagueiam pelos campos da loucura e da infância felliniana passando pelo universo do noticiário e dos comerciais de televisão, pelo poder político e pelo fascismo, ou mesmo na realização de concursos de beleza, como a Festa do Gnocchi (a Nhocada), passando por lendas e contos de fadas, com Salvini experimentando o sapato de Aldina, mas que se ajusta ao pé de cada Cinderela que ele aborda.

O filme também trata de questões religiosas como o catolicismo, mostrando poder da Igreja e influência da igreja ou até por um belo ritual pagão com mulheres  africanas cantando ao luar. Numa metáfora à própria história, A voz da lua  passa até mesmo pela conquista da lua recontada por três lunáticos italianos, os irmãos Micheluzzi, usando equipamentos agrícolas de grande porte para chegar ao solo lunar, o que gerou uma série de incidentes e com ampla repercussão na mídia, o que leva Salvini a reflexões como: “porque a nós razoáveis, ninguém entende” e porque haveria? (Kleber Torres)

 

Ficha Técnica

 

Título: La Voce della luna (A voz da lua)

Direção : Federico Fellini

Roteiro : Federico Fellini e Tullio Pinelli, baseado no romance Il poema de lunatici, de Ermano Gavazzoni

Elenco : Roberto Benigni, Paolo Villagio,Nadia Ottaviani, Angelo Orlando,Marisa Tomasi, Sim e Suzi Blady

Música; Nicola Piovani

Cinematografista : Tonino Delli Colli

Itália

1990

120 minutos


sábado, 1 de agosto de 2020

O Coringa ou melhor o dono da chave do caos


 

 

Ganhador do Leão de Ouro no 76º Festival de Cinema em Veneza, em agosto de 2019 e com 11 indicações para a 92ª edição do Oscar agora em 2020, conquistando com méritos o prêmio de melhor ator para Joaquin Phoenix, com uma atuação magistral e de melhor banda e trilha sonora para Hildur Guônadttir, o filme Coringa (Joker) retrata a trajetória de um dos vilões mais conhecidos dos gibis e do cinema, mergulhando transversalmente na mente conturbada de um psicopata. O filme também nos ensina nestes tempos conturbados da pandemia de coronavírus, uma lição do Coringa de que "não leve a vida muito a sério, porque você não vai sair vivo dela" e teorizou sobre o medo como a chave absoluta do caos.

O filme de suspense dirigido por Todd Phillips, que também assinou Cães de Guerra e a trilogia do Se beber não case, conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um palhaço e comediante fracassado de stand-up, que nos idos de 1981 trabalhava para uma agência especializada em eventos, e era monitorado por uma psicóloga do serviço de assistência social, em decorrência problemas mentais, além de viver uma mãe instável, Penny (Francis Conroy), com quem vive num pequeno apartamento. Os seus problemas foram agravados por uma agressão sofrida,  que lhe provocou uma possível lesão craniana e agudizou os seus múltiplos problemas mentais.

 

Após ser demitido, depois de  fazer armado com um revólver uma apresentação num hospital infantil, Fleck mata, quando voltava para casa,  três executivos da Wayne Enterprises no  metrô de Gotham City.  Os crimes deflagram uma série de protestos contra a elite da cidade em decadência, e um dos focos da insatisfação era o empresário Thomas Wayne (Brett Cullen), pai de um Bruce Wayne (Dante Pereira Olsen) ainda uma criança e de quem o Coringa se julgava irmão em função das narrativas fantasiosas de sua mãe, sobre um suposto caso com o milionário.

 

O crime de Arthur Fleck ganha repercussão e  os manifestantes protestavam nas ruas fantasiados de palhaços tal qual o assassino não identificado, que vinha sendo caçado pela polícia. A coisa se complica quando o palhaço desempregado descobre que os recursos para programas sociais foram cortados e ele vai ficar sem remédios, o que aumenta a sua insatisfação.

Numa noite, sua vizinha e presumível namorada ,Sophie (Zazie Beetz)  vai ao seu show de stand-up, que fracassa pela falta de humor e pelo excesso de  risos despropositados do humorista, que acaba ganhando espaço no talk-show de um dos seus ídolos, o apresentador Murray Franklin (Robert de Niro). Neste interim, sua mãe acaba internada num hospital com um acidente vascular cerebral, depois de interrogada por  dois policiais que suspeitavam do envolvimento de Arthur Fleck com a chacina  no metrô de Gotham City.

Arthur confronta Thomas Wayne ao penetrar num evento frequentado pelo empresário, que lhe diz que Penny tem problemas mentais e não é seu pai biológico, além dos mais ele havia sido adotado ainda na infância, em seguida os dois discutem e o empresário aplica um soco do no comediante fracassado, Arthur Fleck rouba no Asilo Arkan a extensa ficha da sua mãe e descobre que foi adotado por ela ainda bebê, pois fora uma criança abandonada. Ele vai ao hospital onde ela está internada e mata a própria mãe adotiva. Como tudo é sonho e ilusão, o Coringa descobre, ao ir na casa de Sophie, que o possível caso entre  dois nunca existiu e era produto de sua imaginação e de uma mente doentia,

Quando começa  a se preparar para ir ao programa de TV ao qual fora convidado, ele foi visitado por dois ex-colegas de trabalho. Arthur mata um deles, mas poupa o anão, pois este o tratava bem no passado recente. No caminho para o estúdio, ele é perseguido pelos dois detetives num trem cheio de manifestantes fantasiados de palhaços. Arthur cria um tumulto e foge,

 

Ao escapar ele comemora dançando numa escada, em uma sequência  antológica, tão mágica  quanto a de Dançando na Chuva, uma cena clássica de Gene Kelly, que viralizou nas redes sociais, sendo imitada pelos turistas que visitam o Bronx. Na dança, os passos do ator e dançarino homicida combinam com os sons do fundo musical.

Na TV, ele pede a Murray que o apresente como Coringa e no ar passa a contar piadas de humor negro, em seguida,  confessa  a chacina  no trem e expressa sua raiva sobre o deboche de Murray em relação a sua pessoa, a quem acaba matando, sendo preso logo em seguida e  levado ao manicômio judiciário onde prepara a sua fuga para uma carreira ainda mais sanguinária,o que é uma deixa para uma sequencia do Coringa 2, que pode restituir a verdadeira versão do vilão do Batman, o que é uma outra história..

 

Outro destaque do filme além do desempenho de Joaquin Phoenix, são as reflexões filosóficas de Arthur Fleck ao dizer numa das cenas, que “nunca fui feliz nenhum minuto na p* da minha vida” ou “eu ´pensava que a vida era uma comédia, mas descobri que é uma p* tragédia”.

Ele também sabia  que o seu dia iria chegar e “eu vou esfregar na cara de quem um dia duvidou de mim,“ numa referência às vítimas que liquidou, o que é normal para algum que dizia que não se pode confiar em ninguém ultimamente,  e que a loucura é como a gravidade, só precisa de um empurrãozinho ou sabia que a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo e que a chave do caos é o medo (icha 



Ficha Técnica 


Título : Coringa (Joker)


Diretor : Todd Phillips 

Roteiro : Todd Phillips, Scott Silver

 

Elenco : Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz, Francis Conroy, Brett Cullen, Shea Whigham, Bill Camp, Gleen Fleshler, Dante Pereiora Olson e Carrie Louise Putrello

 

Cinematografia : Lawrence Sher~

 

Música : Hildur Gudnadótic

 

2019