O Pacto entre Holywood e o nazismo – como o
cinema americano colaborou com a Alemanha de Hitler, de Ben Urwand, revela aspectos políticos e
econômicos dos bastidores de um acordo informal e tácito entre os estúdios
americanos – Metro-Goldwyn-Mayer MGM, Twentieth Century Fox, Paramount,
Universal Pictures e Columbia Pictures -, controlados por empresários judeus, para
continuar a fazer negócios na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder e com
a instauração do nazismo. Em função de interesses comerciais, os empresários do
setor cinematográfico concordaram em não fazer filmes que atacassem os nazistas
ou que condenassem a perseguição aos judeus na Alemanha.
Ben Urwand revela que esse acordo de colaboração envolveu um rico elenco de personagens que ia
desde conhecidos líderes alemães, como Joseph Goebbels, homem que comandava a
comunicação nazista, até ícones de Hollywood, como o todo-poderoso Louis B.
Mayer, diretor-fundador da MGM, além de diplomatas, políticos e empresários que
cuidavam da produção e da distribuição de filmes. O livro, de 366 páginas, é
dividido em seis capítulos e um epílogo, com referência ao pós-guerra e uma
viagem dos empresários americanos ao território germânico, o que incluiu uma
visita a um dos campos de concentração usado para o extermínio em massa de
judeus.
No centro da história de Urwand está o próprio Adolf Hitler, que tinha
obsessão por filmes (tema do primeiro capítulo) e que todas as noites, antes de ir para a
cama, assistia a um filme, escolhido por ele, que após o jantar conduzia
convidados para o seu cinema particular na chancelaria do Reich ou em Berghof.
O ditador nazista reconhecia plenamente o grande poder do cinema em moldar a opinião pública e considerava os
americanos com conhecedores dos recursos da propaganda que gostaria de fazer no
seu pais.
Um aspecto destacado no Pacto
entre Holywwod e o nazismo é que Hitler via a guerra em dois fronts: o
primeiro, era o campo físico de batalha, em que julgava que os alemães seriam
vencedores, com o uso da tática ação relâmpago e fulminante envolvendo uma ação
conjunta da força aérea, com o
deslocamento dos blindados e tropas motomecanizadas com apoio maciço da
artilharia. Já o segundo front era o da propaganda, no qual insistia que o
governo alemão havia fracassado e invejava a eficiência do cinema americano em
termos de narrativa, imagens e emoções transmitidas ao público.
Hitler também dizia e acreditava que os livros não serviam para nada,
porque o veículo de mudança era a palavra falada, que foi a sua principal arma
de convencimento e catequese do povo alemão e que o levou a uma guerra em escala
global. O livro lembra que em dezembro de 1930, o partido nazista promoveu
manifestações de rua contra a projeção em Berlim do filme Nada de novo no
front, o que desencadeou uma malfadada série de eventos e decisões que
terminaram depois, no pacto entre o regime nazista e os grandes estúdios
americanos.
O livro dedica três capítulos para mostrar os filmes que o ditador nazista
os criticava de forma sumária e minimalista, usando os adjetivos “bom”, para os
que gostava, uma categoria que incluiu um filme cômico do Gordo e o Magro; ruim,
para os que não gostava, como o filme de Tarzan, o filho das selvas. Os
nazistas também proibiram a exibição dos filmes de terror, alegando que os
mesmos tinham um efeito moral ameaçador
para a população.
Um dado interessante desta simbiose entre o cinema holywwodiano e o
nazismo está no fato de que a Paramount e Twentieth Century-Fox não só exibiam
filmes na Alemanha, como produziam noticiários germânicos, investindo
localmente capital em câmeras e filmes, pessoal técnico para captar imagens
sobre os eventos nazistas. Neste trabalho, eles filmaram o primeiro monumento do
Movimento Nacional Socialista, em Bayreuth e a celebração dos trabalhadores da
nação alemã, documentários noticiosos apresentados antes da exibição de filmes
nos cinemas. No final de 1936, o chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels
aboliu a critica de cinema na Alemanha e ordenou aos jornalistas que passassem
a fornecer apenas a sinopse, com a mera descrição dos filmes.
Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra os estúdios
americanos produziram entre 1942 a 1945, cerca de 1,5 mi longas-metragens, dos
quais 800 diziam diretamente respeito à guerra e deste total, 242 referiam-se
explicitamente aos nazistas e 190, a Hitler. Entre as vozes mais atuantes
contra o nazismo, estava o roteirista Ben Hecht, que também escreveu o roteiro
final do clássico E o vento levou, em que criticava a omissão dos estúdios diante
do Holocausto e não poupou nem mesmo o presidente Roosevelt.
O fato é que com receio de perder acesso ao mercado da Alemanha e depois,
dos países ocupados pelos nazistas, todos os estúdios de Hollywood fizeram
concessões ao governo alemão. Tudo começou quando Hitler chegou ao poder, em 1933, e os
estúdios, muitos deles chefiados por judeus, passaram a negociar diretamente
com seus representantes. O livro envolveu uma pesquisa minuciosa de documentos
nunca antes examinados e que eram desconhecidos do público, e levanta a cortina
de um episódio nebuloso da história de Hollywood e dos Estados Unidos, que até
agora ficara oculto e colocado discretamente embaixo do tapete. (Kleber Torres)
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