domingo, 16 de agosto de 2020

Tudo é possível quando se abre uma janela para o Cosmos


 

Instigante, assim pode ser definida a série "Cosmos: Mundos Possíveis", exibida pela National Geographic, que a  transmite para milhões de pessoas  em 172 países, inclusive o Brasil e em 43 idiomas, como uma janela aberta para a compreensão da vida e do universo. A obra tem como base um projeto iniciado há 40 anos pelo astrônomo Carl Sagan (1934-1996), o qual também narrava cada episódio da série anterior e nos legou um livro sobre o tema, que ganha continuidade agora, numa produção coordenada pela sua mulher, agora viúva, Ann Druyan.

A nova série revela, nesta temporada curiosidades, inclusive biográficas e reflexões pertinentes sobre o avanço da ciência e a história da humanidade, com incursões no campo da filosofia e mesmo da política. Em termos didáticos, Cosmos: Mundos Possíveis compara a história do universo, criado há cerca de 14 bilhões de anos,  com um ano terrestre – a terra tem estimados 4,5 bilhões de anos de existência – segundo o calendário cósmico,  uma escala de tempo elaborada por Sagan, com o objetivo de resumir metaforicamente em um ano, com seus 12 meses e 365 dias, toda a história do universo, desde o início do Big Bang aos dias atuais. Nesta escala de tempo, cada segundo equivale a 500 anos terrestres.

 

Neste calendário, os dois últimos minutos do ano registram o acumulo de todos os avanços conhecidos e realizados pelo homem ao longo da história da humanidade. A série também nos faz refletir sobre o Big-bang e sobre os efeitos da expansão do universo, que pode ser circular ou plano, a partir de uma visão a partir da ótica da física quântica, a mesma que nos leva a pensar sobre a hipótese de muitos mundos.

A interpretação de muitos mundos (IMM) é um conceito  da mecânica quântica que propõe a existência de múltiplos "universos paralelos", neste espaço, tudo oque possa acontecer  já aconteceu em um cosmos paralelo ao nosso, mas inacessível para nós humanos, mortais, finitos e formados por células e partículas, as mesmas que foram e são o conteúdo do universo.

Assim, o que pode acontecer ou vai acontecer agora ou no futuro, já ocorreu num mundo paralelo, como numa espécie de superdeterminismo, em que cada evento foi previamente determinado no início dos tempos, há justos 14 bilhões de anos, ou seja, no primeiro momento do universo. O problema é que segundo esta teoria, nós estamos sujeitos às mesmas leis que vigoram no universo quântico.

Numa análise  mais fria deste processo, isso significa que nós estamos viajando no automático, seguindo mecanicamente um movimento iniciado há bilhões de anos, num universo em que ainda discutimos se o fóton e a luz são partículas ou uma onda, uma questão que divide os cientistas nos nossos dias, os quais buscam uma explicação sobre a origem do universo e da própria vida.

A esse conceito, Albert Einstein, pai da lei da relatividade, desenvolveu o conceito que denominou de ação assustadora à distância, ou seja,  a interação contínua entre fótons distantes entre si. Essa interação é possível graças ao entrelaçamento ou emaranhamento quântico dessas partículas – se entrelaçadas, qualquer mudança experimentada por uma delas afetará imediatamente a outra infinitamente.

Neste caso, se as correlações são realmente definidas desde o momento do big-bang, a grande explosão que deu origem ao universo ou aos universos, tudo está definido e foi previamente pré-ordenado. Isso também justificaria o princípio da razão suficiente, discutido por Leibniz, Kant e Schopenhauer para explicar que tudo o que acontece tem uma razão suficiente para ser assim e não de outra forma, em outras palavras, tudo tem uma explicação precípua e suficiente.

Além de imagens poderosas com auxilio de telescópios e o suporte da computação gráfica, a série também conta a história de filósofos, inventores  e cientistas que pesquisaram sobre a luz, fizeram estudos  que permitiram o homem viajar até a lua ou colocaram as suas vidas em risco ou salvar a humanidade da fome.

Num destes cenários aparece Nikolai Ivanovich Vavilov, agrônomo e geneticista russo,  conhecido por ter identificado os centros de diversidade de plantas cultivadas, o primeiro cientista a compreender a complexidade da biodiversidade e que dedicou sua vida ao estudo e melhoramento do trigo, milho e outros grãos essenciais para a alimentação da população, selecionando 250 mil variedades de sementes, realizando grandes avanços em relação às teorias de  Charles Darwin e de Gregor Mendel, sobre a hereditariedade.

Ele que idealizou e iniciou uma pesquisa mundial para criar um banco mundial de sementes visando erradicar  a fome no mundo, e tentava solucionar um problema que matou mais de 100 milhões de pessoas na China, no século XIX; na Irlanda, forçando a imigração de dois milhões de pessoas e mesmo no Brasil, durante os idos de 1877/1879, numa seca que matou mais de 400 mil pessoas esfomeadas, o que representava a metade da população do Nordeste, mas acabou preso e torturado pelos asseclas de Stálin, que também promoveu o extermínio pela fome de milhões de agricultores russos, com um projeto de coletivização de fazendas.

Vavilov acabou preso e  submetido a tortura, que o deixaram incapaciutado para andar, depois de exposto a mais de 1700 horas de interrogatório excruciante em mais de 400 sessões de terror. Ele acabou morto por inanição pelos seus algozes, um final trágico para quem sonhava eliminar a fome do mundo.

Aos seus interrogadores, que o acusavam de espionagem e de atividades antissoviéticas, em função do seu prestígio internacional, ele confessou que seu único crime foi divergir profundamente de uma opinião científica. Ele discordava de Trofim Lysenko, pai do Lysenkoismo, um método também usado metaforicamente para descrever a manipulação ou a distorção do processo científico, como uma maneira de se chegar a uma conclusão pré-determinada em conformidade com um viés ideológico,  geralmente relacionada a objetivos políticos ou sociais, o que agradava ao todo poderoso camarada Joseph Stálin.

Em tempo, o nome de Lysenko hoje é lembrado como o de um exemplo de pseudocientista e Nicolai Ivanovich Vavilov, deu seu nome ao principal centro de pesquisas agrícolas da Rússia e reconhecido como um dos país da teoria biodiversidade. Seu nome ficou e perdura no panteão da história. (Kleber Torres)

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