sexta-feira, 24 de março de 2023

Matrix e a Inteligência artificial num futuro ciberpunk distópico

Há quem diga que a história da cultura pop no mundo globalizado se divide em duas etapas: antes e depois de Matrix, filme rodado em 1999, transformado numa espécie de cult movie, sendo considerado um dos melhores filmes de ficção cientifica. Ele retrata um futuro ciberpunk distópico em que o real e o sonho se desdobram através da rede de computadores gerando fatos paralelos e açõesque se desdobram numa espécie de multiverso. O filme iniciou uma série exitosa sequenciada com Matrix Reloaded (2003), The Matrix Revolutions (2003) e The Matrix Ressurections (2021), mas também ganhou desdobramento em livros, jogos, animações e histórias em quadrinhos. Ele reúne referencias filosóficas e religiosas, com citações referentes aos livros Simulacros e Simulações, de Jean Baudrillard; Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll e à Alegoria da Caverna, de Platão, além de resgatar lutas de kung-fu e de inovar em técnicas cinematográficas, inclusive em termos de efeitos especiais. Tudo começa quando Thomas A. Anderson (Keanu Reeves) trabalha normalmente durante o dia como programador de uma empresa de tecnologia da informação e à noite, se transforma em Neo, um hacker que rouba dados estratégicos. Ele invade sistemas de computadores, cometendo crimes cibernéticos, uma atividade ilegal e contraria ao sistema político vigente, o qual controla informações e a vida da população com um forte aparato repressivo apoiado por um suporte tecnológico. Anderson/Neo vivia questionando sobre o que "O que é a Matrix?" e acaba recebendo um recado lacônico e enigmático pelo computador: “Matrix pegou você!”, o que o acaba levando aos caminhos de Morpheus (Laurence Fishburne), um personagem enigmático, o qual atua nos bastidores e usa a rede de computadores para enfrentar um governo autoritário, comandado por máquinas pensantes, as quais utilizam recursos da inteligência artificial para dominar a população humana mantida em hibernação. O sistema utiliza o calor dos seus corpos como fonte alimentadora de energia para os seus sistemas digitais, os quais operam conectando em tempo real o mundo real e o virtual habitado por avatares e complementado com os recursos da realidade aumentada. Depois de capturado por agentes do sistema e que investigavam as suas atividades consideradas subversivas, Neo se recusa em cooperar com seus captores, que o libertam após implantarem no seu um software eletrônico de vigilância para poderem monitorar os seus passos e chegarem a Morpheus. Posto em liberdade, Neo é contatado por Trinity (Carrie-Anne Moss), uma hacker atuante, que extrai o equipamento de monitoramento e o estimula a procurar a verdade sobre a Matrix, que está em todo o lugar e em tudo. Ela também o leva até Morpheus, considerado terrorista pelo governo e como o homem mais perigoso que existe. Morpheus mostra para Neo que ele tem duas opções: voltar a sua vida como Thomas Anderson e se omitir diante do sistema ou descobrir o que é a Matrix, que está em toda parte ou mesmo quando se faz qualquer coisa, e conclui: “não se pode explicar o que a Matrix, é preciso que se veja por si mesmo, o que se parece com o país de Alice no País das Maravilhas,“ numa alusão à obra de Lewis Carroll. Ele conclui perguntando se Neo já teve algum sonho que parecesse real e diz que ele é bem vindo ao mundo real, até porque Matrix é controle absoluto, formatando um mundo irreal controlado por computadores. Em síntese, Matrix é o sistema com toda a sua complexidade e poder. Neo aceita a segunda opção e toma um comprimido vermelho. Depois, ele desperta desorientado no tempo e no espaço, fragilizado, num e completamente sem pelos, com uma série de fios entranhados na sua pele ligados a cabos. Neo acaba ejetado da máquina e é resgatado por Morpheus e Trinity, que o transportam até a nave Nebuchadnezzar, onde é apresentado à equipe que trabalha em oposição ao sistema e trabalha no enfrentamento de Matriux. Morpheus revela a Neo que o mundo que ele conhece simplesmente não existe: é parte de uma simulação interativa neural, a que chamam de Matrix, um conceito muito parecido como o do multiverso, um conceito hodierno, que extrapola os limites da realidade objetiva. Ele também fala sobre a profecia de que um dia surgirá o Escolhido, que passaria a liderar a resistência e derrotar as máquinas num confronto decisivo. Para Morpheus, Neo seria esse homem predestinado e o alerta sobre os riscos desta luta, uma vez que a morte dentro da Matrix também leva de forma inexorável, à morte no mundo real. Por fim, Neo é levado para uma consulta ao Oráculo, que funciona como uma espécie de guia religioso com previsões que podem ajudar a encontrar o caminho e que orientam inclusive para os caminhos do autoconhecimento. No prognostico, ele diz que apesar de Neo ter o dom, ele não é o Escolhido mas, diz que em breve, um evento fará com que escolha entre sua vida e a de Morpheus. O evento previsto na consulta oracular foi a prisão de Morpheus, que passou a ser torturado pelo agente Smith (Hugo Weaving), um robô com forma humana e que considera o homem um predador tão danoso quanto um vírus, e outros prepostos do governo, os quais se vestem de forma similar aos homens de preto, uma lenda sobre uma agência secreta que monitora no mundo real a ação dos alienígenas na terra. Nos diálogos com Morpheus, o agente Smith tenta colher informações sobre o movimento antigoverno e também discute com ele sobre conceitos filosóficos como a diferença entre conhecer e trilhar um determinado caminho. Em companhia de Trinity, Neo traça uma estratégia para libertar o seu orientador, inclusive matando guardas no edifício do governo onde Morpheus estava preso e usando inclusive um helicóptero. Mas, enquanto Morpheus e Trinity fazem seu retorno ao mundo real após o exitoso ataque, Neo tenta escapar com eles, mas acaba enfrentando num duelo mortal ao agente Smith numa luta acirrada, ele acaba atingido mortalmente pelo antagonista. Ao ver a morte de Neo na Matrix, Trinity diz no ouvido: “Você não pode estar morto, porque eu o amo" . Com estas palavras Neo ressuscita e volta a enfrentar os agentes do governo, esquivando-se veloz dos tiros e revelando suas novas capacidades de combate, como a de parar as balas no ar, um efeito especial inovador no filme, que ficou conhecido como “bullet time”, em que embora o disparo do projétil ocorra em câmera lenta, ao mesmo tempo em que do ponto de vista do observador tudo parece ocorrer numa velocidade normal. Ao decifrar os códigos de Matrix e entrar na linguagem da máquina, Neo decifra os segredos do sistema –establhisment- e deixa uma mensagem de esperança para o futuro, destacando a importância luta por um mundo sem regras e livre, onde tudo é possível. Assim, o que haverá depois, no futuro, cabe a cada um decidir fazendo valer as prerrogativas do livre arbítrio e porque não da própria democracia, no seu sentido amplo e irrestrito.(Kleber Torres) Ficha técnica Título : Matrix Direção e roteiro: Andy e Larry Wachowski Elenco : Keanu Reeves, Lawrence Fishburne, Carrie-Anne Moss, Hugo Weaving, Joe Pantolino, Gloria Foster, Marcus Chong e Paul Goddard Música: Don Davis Direção Fotografia : Bill Pope Edição: Zach Staenberg Gênero : Ficção Estados Unidos Duração: 135 minutos 1999

quinta-feira, 23 de março de 2023

Uma dramédia instigante e anárquica com humor britânico

Anárquica e instigante, assim pode ser definida a dramédia – que uma espécie de drama e comédia - O Duque (The Duke) , filme dirigido com competência pelo experiente Roger Michell, que nos legou Um lugar chamado Notting Hill(1999), Amor para sempre(2004) e Vênus (2006). A obra é baseada na história real do motorista de ônibus sexagenário, Kempton Burton, que executou em 1961, o furto do quadro do Duque de Wellington, pintado por Francisco Goya, o qual estava exposto na Galeria Nacional, em Londres. O objetivo desta ação criminosa era cobrar do governo inglês melhor política e assistência aos idosos, o que incluía o acesso gratuito à televisão, sem necessidade do TV License. O filme é instigante e revela Kempton Bunton (Jim, Broadbent), como um homem simples, autodidata, que se rebela com a falta de atenção das autoridades para os idosos e por isso rouba a obra de arte em exposição em um museu britânico. Para devolver o quadro, ele começa a enviar cartas ao governo cobrando melhorias para a população dos idosos no Reino Unido, os textos são analisados por uma especialista que constrói o perfil do criminoso, como pessoa com participação ativa na comunidade e com mais de 50 anos. Um dos destaques do filme é a interpretação de Jim Broadbent, ganhador de um Oscar, em Iris (2001) e que atuou em Moulin Rouge e em filmes da série Harry Poter, como ArquyimeistreAmbrose e Helen Mirren(Dotrothy Bunton), que também conquistou um Oscar (2007), em A Rainha (The Queen), como Elizabeth II. Mirren interpreta a mulher de Bunton, uma senhora idosa, com os pés no chão e que acompanha com preocupação a trajetória do marido, que também foi preso anteriormente ao roubo por não pagar a taxa de televisão cobrada pelo governo inglês. Na prisão, ele escreveu várias peças teatrais que enviava sem sucesso a editoras e à própria televisão governamental. Bunton não só escrevia cartas cobrando assistência aos idosos, como acabou demitido de uma padaria comunitária por defender um asiático que era discriminado pelo chefe, citando Mahatma Gandhi. O filme tem dois pontos altos: o julgamento, em que ele se diz inocente das acusações, despertando a participação do público no recinto e acaba sendo absolvido pelos jurados, além do uso de uma cena do Satânico Dr. No (1962) . o primeiro filme de 007, com Sean Connery, que aparece numa cena de O Duque, com o quadro roubado. Quatro anos depois de absolvido, Kempton Button escreve uma carta à promotoria confessando o roubo e devolvendo a obra, sendo preso por três meses em função do desaparecimento da moldura da tela e escreve mais uma peça teatral. Ele morreu sem ter nenhuma obra publicada e nem encenada nos palcos britânicos, já a TV License , imposto obrigatório cobrado pelo governo inglês para quem tem televisão em casa, somente foi tornada gratuita para idosos com mais de 74 anos e com desconto para pessoas registradas como deficientes visuais, agora, no século XXI. Ficha técnica Título : O Duque (The Duke) Direção : Roger Michell Roteiro: Richard Bean e Clive Coleman Elenco : Jim Broadbent, Helen Mirren, Jake Whitehead, Ann Maxwell Martin, Fion Whitehead, Aimeé Kelly, Craig Craney, Simon Hubbard, Machael Adams, Cinematografia : Mike Elei Direção de Arte: Adam Tomlinson Música : George Fenton Duração : 96 minutos Reino Unido 2021