quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A vida e as múltiplas mortes do rei do rock


 




“O que matou Elvis segundo os médicos, foi o coração; outros médicos dizem que foram os comprimidos;  alguns dizem que fui eu. Vou te contar o que matou Elvis: foi o amor. O  seu amor por vocês”, estas declarações  do coronel Tom Parker (Tom Hanks) explica em parte na cinebiografia Elvis,  a trajetória de a ascensão e decadência  do roqueiro Elvis Presley interpretado por Austin Butler. Um drama humano que envolveu sexo, drogas e rock’n roll, que rendeu aos seus produtores US$ 286 milhões.

O filme evidencia a parceria tóxica  entre o cantor de origem humilde e pouco instruído,  com o seu empresário  que se apresentava como coronel Tom Parker -ninguém sabe se este é efetivamente o seu nome-, que ao longo de mais de duas décadas, cuidou de contratos nem sempre favoráveis ao rei do rock. Ele o submetia a ações de marketing meramente comerciais sem agregar valor à carreira do artista, inclusive com a produção de filmes de classe B, colocando o astro do rock como vendedor de gadgets e eletrodomésticos além de outros produtos vendáveis  para uma sociedade de consumo.

O filme tem como contraponto a expansão dos  EUA como potência econômica e militar hegemônica  e os conflitos pessoais de Elvis ao longo dos anos como cantor branco, mas profundamente influenciado pelo jazz, o blues e pela música gospell. A cinebiografia mostra também a relação de Elvis com a mulher Priscilla Presley (Olivia DeJonge), com quem teve uma filha e que tentava influenciá-lo positivamente,  tentando dar um rumo para sua carreira como artista e inspirando-o na tomada de decisões que o tornaram um referencial para outros artistas brancos e negros os quais o sucederam após a sua morte  em 1977 aos 42 anos..

Dirigido por Baz Luhrmann de "Moulin Rouge", "O Grande Gatsby" e "Romeu e Julieta", que assinou o roteiro juntamente  com Sam Brommell, Craig Pearce e Jeremy Doner, Elvis tem uma narrativa a partir do ponto de vista Tom Parker, que assume o comando da história e até o protagonismo da história deixando em segundo plano o biografado. Mostra também como um empresário circense e inescrupuloso, que  descobre a sua mina de ouro a partir de um jovem branco, interiorano e o qual começava a se apresentar em eventos dançando como um negro e cantando rock.

Ao assumir o controle da carreira do artista emergente e que acabou se tornando uma superestrela do rock, levando suas fãs ao êxtase e deixando os seus críticos irados, o coronel Parker investe em contratos lesivos visando quitar suas dívidas de jogo nos cassinos e manter um elevado padrão de vida. Em paralelo à trajetória de Elvis o filme tem inserções sobre seu relacionamento com artistas negros como BB King e Little Richards, que o  inspiravam bem como a autores de estilos variados como  rap e o hip hop nos dias de hoje, apresentando como pano de fundo os grande eventos que marcaram a história num mundo dividido pela guerra fria, pela guerra do Vietnã, pela contracultura e até com o surgimento dos Beatles.   

Além da relação conturbada entre Elvis e o seu antagonista, o filme também mostra a sua relação do artista com a mãe, Gladys (Helen Thomson) e o pai, Vernon (Richard Roxburgh), com a mulher e com os amigos que o cercavam na mansão de Graceland, em Memphis, no Tenesse, onde nasceu e morreu. A influência das drogas e seu afastamento  gradual de Priscila, também revela a deterioração da saúde física e mental de Elvis, que acaba sucumbindo ainda jovem.

A direção do filme também investiu com esmero no resgate dos cenários da época e em  sequências antológicas em Las Vegas, onde  Elvis passou a se  apresentar em shows nos cassinos  final  já no estágio final de sua carreira. O filme é de certa forma lento, tenta mostrar um Elvis ingênuo, mas a história do rei do rock é de certa forma roubada pela força do seu antagonista o coronel Parker, numa excelente interpretação de Tom Hanks, experiente ganhador de dois Óscares em Forrest Gump e Philadelphia,  que deverá ser indicado para a disputa do troféu pela sexta vez

A atuação Austin Butler é convincente  e pode também leva-lo à disputa do Óscar em 2023, sendo reforçada pela  trilha sonora estruturada por Elliott Wheeller, que além de incluir sucesso do próprio  Elvis, teve ainda de lambuja a participação de artistas como Doja Cat, Måneskin, Eminem e CeeLo Green. A lição que fica é que apesar da sua morte física, Elvis não morreu. Ele revive nas telas do cinema e até em teorias conspiratórias tão em voga nestes tempos de fake News. Há quem diga que ele teria sumido da vida pública por diversos motivos, o que poderia ser tema de outro filme ou quem sabe, de até um romance, pois se o Rei está morto, Viva ao Rei!(Kleber Torres)