quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Uma coleção visível da crise do cacau e seus desdobramentos






O impacto da vassoura de bruxa, praga que dizimou as plantações de cacau do sul da Bahia e desestruturou a cadeia produtiva é o pano de fundo do filme A Coleção Invisível (2012), conquistando vários prêmios no Brasil e no exterior.  A crise afetou 250 mil trabalhadores rurais que ficaram desempregados e se deslocaram para a periferia das cidades,  gerando problemas de desestruturação familiar, prostituição e aumento da violência urbana.
A doença – que segundo alguns teria sido introduzida criminosamente na região, o que não é evidenciado no filme - , também empobreceu 30 mil produtores, como Samir Luedy, interpretado por Walmor Chagas, que tem uma excelente  interpretação no seu último filme, sob a direção do cineasta franco-baiano Bernad Atal, antes de uma morte abrupta e brutal.
Tudo começa quando Beto (Vladmir Brichta), um jovem atravessa uma crise pessoal e financeira familiar que o leva a viajar pela região cacaueira, mais precisamente em Itajuípe, em busca de colecionadores de obras de arte para ampliar o faturamento da loja de antiguidades da família. A sua vida muda partir do encontro com um velho colecionador de arte, Samir Luedy, que vivia recluso na velha e decadente fazenda Mundo Novo, a qual vai se transformando num monte de ruínas,  mudando a sua visão da realidade.
Apesar das barreiras para chegar ao fazendeiro, criadas pela mulher e pela filha do colecionador Ludmila Rosa (Saada) acaba se desenvolvendo uma relação de amizade entre Beto e Samir, que vivem um intervalo de tempo entre duas gerações que se interpõem e se completam. Beto irá descobrir um segredo guardado no tempo e Samir, um cacauicultor empobrecido e que mantém uma fortuna preciosa de desenhos de grandes artistas, a exemplo de raridades de Cicero Dias, o que fará reencontrar-se com sua própria história familiar como vendedor de obras de arte e com o amor.
A crise do cacau é retratada numa fala de Saada ao lembrar que em função da praga tudo começou a desaparecer da fazenda, que foi ficando vazia, perdendo os lustres, as coisas da casa, bem como cristais e porcelanas, por certo vendidos para garantir o sustento da família e o pagamento dos trabalhadores que restaram. Já Samir, na sua decadência descobriu o óbvio: nunca fora um agricultor, mas um colecionador de gravuras e constata que o colecionador ainda é pior que os artistas, porque nunca estão satisfeitos e nem realizados.
O filme também trata do impacto ambiental mostrando o perígo do desmatamento na Mata Atlântica em conseqüência do avanço da praga e aponta a saída para a produção de cacau orgânico. O  roteiro da Coleção Invisível, é assinado Sergio Machado, Iriane Mascarenhas e pelo diretor Bernard Atal,  é inspirado no conto homônimo do Stefan Zweig, escritor que se refugiou no Brasil no final dos anos trinta, após o avanço do nazismo  e é autor de “Brasil, país do futuro”.
As sequências de  Coleção Invisível foram filmadas em Salvador, Itajuípe e em fazendas na região do cacau, que chegou a produzir 400 mil toneladas de cacau e a exportar nos anos 80 do século passado mais de US$ 1 bilhão. A decadência começa após a eclosão da vassoura de bruxa, uma praga devastadora que arruinou as  plantações e criou situações dramáticas na vida dos habitantes da região, gerando mortes, suicídios, perdas de fazendas para bancos e aumentando as invsões de terras, agravando os conflitos fundiários. (KLeber Torres)

Ficha técnica:
Titulo : A Coleção Invisível
Direção : Bernard Atal
Roteiro : Sergio Machado, Iriane Mascarenhas e Bernard Atal a partir de um conto de Stefan Zweig
Elenco : Vladmir Brichta (Beto),Walmor Chagas (Samir), Ludmila Rosa (Saada), Conceição Sena (Dona Iolanda), Clarissa Abujamra (Dona Clara), Paulo César Pereio (locutor de rádio)

Ano : 2011