sábado, 30 de maio de 2020

Um retrato de um Brasil ingênuo e que mudou com a televisão

 

 

Considerado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos,  Bye Bye Brasil é uma comédia  dirigida por Cacá Diegues, que revela o Brasil do período pós 64, com a ótica escrachada do humor e do non sense, mostrando um país em mudança com a construção da Transamazônica, descoberta de riquezas minerais e a integração cultural pela televisão que chega aos rincões mais distantes com antenas do tipo espinhas de peixe.

O filme  nos ensina pelo menos uma coisa fundamental para o Lorde Cigano, magistralmente interpretado pelo hilário José Wilker, misto de mágico, vidente, proxeneta e até um bem sucedido homem de negócios, que enriquece com o contrabando e aspira novos negócios para a sua Caravana Rolidei que enriquece com um y no fim: “a sacanagem tem de ser bem administrada.”

Bye Bye Brasil  reúne uma troupe de artistas mambembes formada pelo Lorde Cigano, Salomé(Bety Faria)  e Andorinha(José Maria Lima)  que cruzam o país com a Caravana Rolidei, fazendo apresentações na periferia das grandes cidades ou mesmo nas localidades de pequeno porte e sem acesso à televisão. O filme tem ainda uma participação especial enriquecedora de Zé da Luz (Jofre Soares) como dono de um cinema itinerante, outra espécie em extinção naquele período.

Ao grupo se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Júnior) e sua mulher, Dasdô (Zaira Zambelli), com os quais a caravana atravessa a Transamazônica para chegar até Altamira, então uma cidade em franca expansão, com acesso por via terrestre, aéreo e por embarcações, e depois até Belém do Pará, onde o casal se separa do Lorde e de Salomé, fazendo uma opção por Brasília, onde se estabelecem por conta própria.

O filme também tem em seu credito uma primorosa seleção musical dos anos 60, reunindo  Bye Bye Brasil, de Chico Buarque de Hollanda e Roberto Menescal; “Toada de Ciço - Forró da Feira, de Dominguinhos;  “Pra Cima, Pra Baixo”, com The Fevers ; “Radinho de Pilha”, de Genival Lacerda); White Christmas de Irving Berlin, interpretada por Bing Crosby; além de  “Para Vigo Me Voy”  de Ernesto Lecuona, Al Stillman, e Lubon) e “Duerme”  de Miguel Prado, interpretadas por Xavier Cugat.

A viagem musical é complementada ainda com “Aquarela Amazonense”, de Chico da Silva e Venâncio; “Depois da Chuva”, de Pinduca e Deuza; “Surucuá”  de Pinduca e Carlos Santos; "Bye Bye Love", de Boudleaux e Felice Bryant, interpretada pelos The Everly Brothers e  terminando com a “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, o que nos permite a reconstrução bem humorada de um período da nossa história e de um país continental com uma vasta riqueza cultural a ser preservada. (Kleber Torres)

 

 

Ficha técnica:

Título: Bye Bye Brasil

Direção: Carlos Diegues

Roteiro: Carlos Diegues e Leopoldo Serran

Elenco: José Wilker, Bety Faria, Fábio Júnior, Zaira Zambelli e Jofre Soares

Música: Chico Buarque, Roberto Menescal e Dominguinhos

Cinematografia: Lauro Escorel

Direção de arte: Anísio Medeiros

Género: comédia

Ano : 1979


domingo, 17 de maio de 2020

A Má Educação e o roubo não são produtos genuinamente brasileiros


 

A corrupção não é um produto genuinamente brasileiro, mas uma praga pandêmica  e globalizada, o que pode decepcionar os nossos nacionalistas mais extremados e aos fãs de Macunaíma, nosso herói ficcional tupiniquim sem nenhum caráter. Um exemplo é Bad Education (Má Educação), filme disponível na plataforma HBO GO, dirigido por Cory Finley, que trata de um caso real ocorrido em 2004: o desvio US$ 11,2 milhões (cerca de R$ 65 milhões)  de recursos de uma escola, considerado o epicentro de um maiores escândalos da educação nos Estados Unidos e consequentemente no mundo.

 

A história tem como personagem central, o envolvente superintendente da Roslyn,  uma escola pública de Long Island, Frank Tassone (Hugh Jackman), um homem elegante, que veste ternos de grife, cuida com detalhes da sua aparência  submetendo-se a cirurgias plásticas, usando de perfumes caros, maquiagem ou cuidando dos cabelos, mas que  leva uma vida dupla também no campo sentimental  com dois discretos casos homossexuais.  

 

No trabalho ele se apresenta um profissional detalhista, perfeccionista e atencioso, que decora os nomes dos alunos, dos seus auxiliares e de todos no seu entorno. Como gestor, ele  trabalha para que sua escola seja uma  das melhores do país e portanto, uma referência em educação, o que o torna respeitado na comunidade de pais, alunos e professores, além de comandar a controladoria, influenciando na decisões do conselho fiscal  e nas instâncias  para a aprovação de projetos como o da construção de uma passarela, naturalmente, com custos superfaturados.

 
Ele tem como parceira de maracutaia Pamela Gluckin (Allison Janney), com quem divide parte dos recursos desviados. Enquanto  Tassone usava o dinheiro do escola para investir em ternos caros, carros, cirurgias cosméticas, viagens e no conforto dos parceiros sentimentais. ela agia como uma nova rica emergente, que investia em reformas e ampliação da casa onde morava, em festas ou em gastos supérfluos com a família e na ajuda a parentes, uma das quais empregava na escola onde trabalhava.

 
Diferente da história real, em que tudo é desvendado através de uma carta anônima, no filme Má Educação, a casa cai através de uma reportagem da aluna Rachel (Geraldine Viswanathan) ao tentar produzir uma matéria sobre a obra de uma passarela na escola onde estudava.  Incomodado com perguntas impertinentes da estudante sobre o projeto e os seus custos, Tassone chega aconselha a jovem a buscar boas histórias, estimular ações comunitárias ou incentivar o trabalho voluntário.

 

O problema, é que ao investigar os números da obra monumental ela percebe que as contas não fecham e que recursos eram desviados de finalidade  para produtos supérfluos como a compra de uma máquina de pizza, o que apontou para o rombo nos supostos investimentos em Roslyn. Os desvios incluíram mais de US$ 30 mil apenas para lavagem dos caros ternos do superintendente.

 

O furo de reportagem em um jornal escolar ganhou repercussão nacional nas televisões e jornais. Integrantes do  conselho se revoltam e passam a questionar Tassone, que antes os envolvia com atenções e benesses especiais. Para escapar, ele arma uma trama para demitir Pam, a quem acusa inicialmente pelo desvio de US$ 250 mil e um número que cresce ainda mais de acordo com o controlador, cuja missão não era monitorar os gastos, mas maquiar os gastos contábeis e acobertar a fraude.


Má educação mostra  uma série de personagens convincentes e bem construídos com o suporte de uma trama articulada. O filme termina informando que Pamela Gluckin foi presa por cinco anos e morreu em 2017. Frank Tassone foi preso em 2006 e colocado em liberdade condicional no período de 2010 até 2018, mas em função de uma brecha na legislação recebe uma pensão de US$ 170 mil por ano, talvez evidência de que o crime ainda compensa. Ele só não pode ocupar cargos públicos.

 

Ficha técnica

Título: Bad Education (Má Educação)


Direção: Cory Finley


Roteiro: Mike Makowsky

 

Elenco: Hugh Jackman, Geraldine Viswanathan, Allison Janney, Annaleigh Ashford e Rafael Casal


Música: Michael Abels





sexta-feira, 15 de maio de 2020

Yesterday: o resgate criativo do universo dos Beatles



A ficção é tão rica e  abrangente, que permite até a produção de um filme sobre The Beatles sem a participação de George Harrison/Ringo Star/John Lennon/Paul McCartney e isso foi possível na comédia romântica britânica Yesterday (2019), dirigido por Danny Boyle  a partrir de um roteiro assinado com competência e criatividade por Richard Curtis tendo como pano de fundo o resgate das músicas que celebrizaram o quarteto fabuloso de Liverpool com a deflagração da beatlemania. 
No filme, Jack Malik (Himesh Patel) é um músico que divide o tempo entre um emprego formal e apresentações ocasionais em bares ou casas noturnas e, que após sofrer um  acidente  ao ser atropelado por um ônibus, acorda sem alguns dentes depois do apagão e numa espécie de amnésia reversa, se tornando a única pessoa que se lembra das músicas dos Beatles. Essa memória o  torna uma celebridade no universo da música,  como um cantor e compositor que  escreve e interpreta suas músicas. 
 Como cantor e compositor anônimo de Lowestoft, Malik tem como produtora, fã incondicional e amiga de infância Ellie Appleton (Lily James), que  o incentiva de forma incondicional. a não desistir de seus sonhos. Ao sair do coma, ele faz uma apresentação onde canta "Yesterday" para seus amigos e descobre que eles nunca ouviram falar dos The Beatles em casa, ele apresenta para os pais e um amigo distraídos "Let it be", outro sucesso da banda inglesa. 
Ao perceber que as pessoas desconhecem The Beatles, ele começa a interpretar suas músicas e depois de uma apresentação numa emissora de televisão, Malik é convidado pelo pop star Ed Sheeran, que interpreta ele mesmo,  para a abertura de um show  em Moscou, onde o músico até então desconhecido agrada o público e acaba desafiado para um duelo  com o seu concorrente, vencendo a parada interpretando "The Long and Winding Road". 
Com as portas abertas para o show business, Malik acaba assinando com uma gravadora iniciando uma escalada para uma carreira global. Nesta trajetória, ele reconstitui a trajetória dos Beatles, visitando Liverpool, a sua cidade natal e visitando pontos de referência de músicas como Strawberry Field, Penny Lane e o túmulo de Eleanor Rigby's. Uma sequência interssante nesta carreira meteórica do novo astro é a reunião com os publicitários no brain storm para o lançamento do seu álbum sem os conceitos de marketing que levaram The Beatles para o estrelado e que batizam o disco com o insosso título de One Man Only.
Afastado de Ellie, Malik conquista  o público e se prepara para lançar o álbum em um concerto em Gorleston, uma cena que tem como referência  o Rooftop Concert (Concerto do Telhado), que marcou a última apresentação pública dos The Beatles. Antes do show, ele é abordado nos bastidores por dois fãs que eles sabem que ele plagiou as músicas da banda inglêsa. Os dois misteriosos fãs lhe dão o endereço de John Lennon, que sobreviveu ao atentatado e chegou à velhice longe dos holofotes e da fama.  Lennon o aconselha a perseguir o que ele ama e sempre dizer a verdade, sinalizando para um surpreendente final feliz de uma hiostória de música e amor.
Yesterday também nos ensina e deixa uma lição fundamental , que não deve ser esquecida: o mundo sem The Beatle seria um mundo infinitamente pior.(Kleber Torres)

Ficha técnica
Título :  Yesterday 
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Richard Curtis
Elenco: Himesh Patel, Lily James, Kate McKinnon, Ed Sheeran, Ana de Armas, Lamorne Morris, Sophia Di Martino e Joel Fry 
Cinematografia: Christopher Ross
Música: Daniel Pemberton
Gênero: musical/comédia
Reino Unido
Ano : 2019   
Colorido   
116 min