domingo, 26 de janeiro de 2020

A história de dois polêmicos pioneiros do New Journalism




O documentário Breslin and Hamill: Deadline Artists (Breslin e Hamil: as vozes de Nova York), produzida pela HBO Documentary Films e dirigida por Jonathan Alter, John Block e Steve McCarthy, reúne imagens inéditas e entrevistas com os dois influentes jornalistas novaiorquinos da década de 60, Pete Hamill e Jimmy Breslin, considerados pioneiros do New Journalism, um estilo que fundia a produção de notícias com literatura, em textos de alta qualidade. Os dois escreveram crônicas e artigos primorosos com seu estilo polêmico para grandes jornais como New York Herald Tribune, New York Daily News, Newsday e New York Post.
O fato é que por um período de cinco décadas, os dois jornalistas de  origem irlandesa, parecidos em essência no estilo e diferentes ao mesmo tempo, contavam em suas colunas histórias de pessoas comuns, fazendo uma espécie de  literatura em tempo real e com prazos estabelecidos pelo fechamento dos jornais. Os seus textos tratavam de  questões como o racismo, a violência urbana e revelavam a tensão dos  conflitos sociais numa época em que o jornalismo impresso cativava leitores de todos os segmentos da população.
Mesmo trabalhando para jornais concorrentes e às vezes atuando nas mesmas redações, os dois  não tinham diplomas universitários, mas se impuseram a partir dos anos 60 na profissão por seu estilo opinativo, competência e se tornaram grandes amigos, embora se desafiassem mutuamente e se inspirassem de forma recíproca.
Os dois cobriram assuntos de repercussão internacional como os assassinatos dos Kennedy; as mortes de Bernhard Goetz,  que matou  a tiros quatro jovens os quais o abordaram no metrô, um assunto que foi tema da série de filmes Desejo de Matar, estrelado por Charles Bronson e do Filho de Sam (Son of Sam). As reportagens falavam de  dois psicopatas que agiam no submundo nova-iorquino. Breslin, no caso de Bernard Goetz, se expôs  no debate contrariando à opinião pública e à mídia, dizendo que se fosse atacado  pelos jovens revidaria, mas não atiraria nas vítimas pelas costas.
Breslin e Hamill acompanharam também a eclosão  da AIDS, e sua disseminação no mundo, bem como  falaram dos casos polêmicos como o do  Crown Heights e de uma corredora estuprada e morta  por jovens negros  no Central Park, além da cobertura  como jornalistas e  testemunhas oculares do ataques terroristas de 11 de setembro.
O filme mostra imagens e entrevistas com Hamill e Breslin, jornalista que morreu em 2017, depois da mulher e de duas filhas, incluindo o depoimento de pessoas que os conheceram muito bem, como familiares, jornalistas, artistas, políticos  e editores como Tom Wolfe, Guy Talese, Gail Collins, Gloria Steinem, Spike Lee, Colin Quinn, Robert De Niro, Shirley MacLaine ou Andrew Cuomo. Michael Rispoli narra os textos elegantes de Breslin, e Hamill, lê seus próprios trabalhos num filme  editado por Geof Bartz, e Angela Gandini. A direção de fotografia é assinada  por Steve McCarthy e a música é de Wendy Blackstone.  Em tempo: em 1988, o New York Daily News empregava 400 jornalistas e editores,  numero que caiu para 45 profissionais em 2018.(Kleber Torres)

domingo, 19 de janeiro de 2020

Uma vida dedicada à invenção e à arquitetura orgânica





O documentário  Frank Lloyd Wright – The man who built the America, dirigido por Ian Michael Jones, conta, em 58 minutos, a história do maior de todos os arquitetos americanos e teórico da arquitetura orgânica, com a proposta de integração da edificação à graça e à estrutura da paisagem de forma harmônica e sustentável para atender às necessidades individuais e coletivas. Wright, era um americano de origem galesa, filho de uma família religiosa unitarista, foi um gênio e ao mesmo tempo um homem que acreditava estar predestinado a redesenhar o mundo, criando tudo de novo e com novos conceitos, o que nos legou mais de 500 edificações entre templos, edifícios, museus e casas inovadoras.
Ele projetou ao longo dos seus 92 conturbados anos de vida, marcados por tragédias pessoais  - como a morte de sua mulher e dois filhos assassinados pelo mordomo da sua casa, três casamentos, sete filhos e com o envolvimento em escândalos -,  estruturas revolucionárias como clássica mansão do filme "Blade Runner", a Ennis House, em Los Angeles  - também imortalizada nos filmes "A Hora do Rush" e "Buffy, a Caça-Vampiros" -, que foi vendida por US$ 90 milhões. O projeto foi inspirado nas obras dos templos da civilização  Maia.
A lista inclui o espiralado Museu Guggenheim, em Nova York; o revolucionário Johnson Wasx Building; a Fallingwater – a célebre casa encravada numa cachoeira, a pedido do empresário Edgard Kaufmann; - , Unity Temple - a Igreja Unitária, considerada a primeira  moderna do mundo,  erigida em concreto e com formas geométricas austeras -  e Taliesin I e II, este último no deserto do Arizona, onde hoje funciona uma escola de arquitetura e urbanismo edificada pelos próprios alunos.
Frank Lloyd Wrighnt também projetou a casa Robbin, idealizada como um navio com vários conveses flutuando em diversas direções. O projeto da obra incluiu o design dos móveis - o que também executou em outras obras - e até da roupa da dona do imóvel e que seria  usado na festa de inauguração.
O filme narrado e apresentado pelo também arquiteto Johnathan Adams, também de origem galesa, nos mostra um painel das realizações arquitetônicas de Frank Lloyd Wright, como parte dos festejos do seu 150º aniversário em 2017, e que foram muitas vezes foram ofuscadas pela turbulência de vida daquele que  foi o maior arquiteto americano e um dos maiores do  mundo.
Já o projeto da Fallingwater, uma casa sobre uma cachoeira, que tem uma escada pairando sobre as águas, foi considerada a  casa mais incrível do século XX e é considerada um ícone na arquitetura ecológica.
Tudo começou quando a mãe de Wright emigrou com a família para a América, em 1844. Frank nasceu em 8 de junho de 1867 e cresceu numa comunidade unitária em Wiscosin, onde absorveu os valores que nortearam sua vida, como o amor pela natureza e a importância do trabalho árduo. A sua arquitetura tem como base estas crenças.
Em 1889, já formado Wright   construiu sua primeira casa, que é referenciada no filme. Em 1911, ele iniciou  a construção de sua casa no vale onde cresceu e batizou com o nome de um poeta bretão Taliesin, local ficou conhecido  como o bangalô do amor. A casa foi cenário de muitas aventuras e de um crime bizarro, quando  um mordomo enlouquecido mato sete pessoas, inclusive a  segunda mulher do arquiteto Mamah Channey e duas crianças, além de incendiar o imóvel.
Ele reconstruiu a edificação onde passou a morar com a terceira mulher, uma bailarina 30 anos mais jovem que o arquiteto, mas também criou no local uma comunidade: a Irmandade Taliesin, uma escola sem professores e sem alunos, onde ensinava sobre como construir um mundo melhor durante a crise após a quebra da Bolsa de Nova York, quando passou três anos sem receber nenhuma encomenda de projetos. O filme nos ensina  um dos conceitos centrais da obra de Frank Lloyd Wright [ de que o projeto deve ser individual, de acordo com sua localização e finalidade, afinal o homem vive e deve se integrar à natureza que o cerca.(Kleber Torres)

Ficha técnica:

Título : Frank Lloyd Wright -  The man who built the America / Frank Lloyd Wright – O homem que construiu a América

Direção e  roteiro : Ian Michael Jones  

Elenco : Jonathan Adams (narrador),  Frank Lloyd Wright, Wyn Thomas, Meryle Secrest, Alan Taylor e Richard Rogers
Edição : Oliver Baker
2017


domingo, 5 de janeiro de 2020

Uma teoria sobre o poder absoluto e imperial




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A teoria do poder unificado,  a mesma que  se aplica ao caso dos faraós, imperadores e ditadores, se ajusta em gênero, número e grau a Vice. O filme de 2010, dirigido por Adam McKay, conta de forma crítica,  a trajetória de Dick Cheney (Christian Bale), na juventude um universitário beberrão, que estudou ciências políticas em Yale e na Universidade de Wyoming  e teve problemas como trabalhador numa empresa de distribuição de energia onde se envolveu em bebedeiras e brigas, para se transformar no homem mais poderoso do mundo sem precisar chegar à presidência dos Estados Unidos.
Depois de receber um ultimato da mulher (Amy Adams), que teve participação e influência decisiva na sua carreira, Cheney se   aproximou do Partido Republicano e viu na política uma grande oportunidade de ascensão social. Assim, ele se integra à equipe de Donald Rumsfeld (Steve Carell), de quem se torna assessor direto e começa uma escalada para ocupar diversos cargos chaves no governo americano.
Sua ascensão se deu após a renúncia do ex-presidente Richard Nixon,  um advogado e político norte-americano eleito como o 37º Presidente dos Estados Unidos, no período de 1969 até 1974, quando se tornou o primeiro e único a renunciar ao cargo. Os poucos republicanos que não estavam associados ao seu governo ganham importância no governo de Gerald Ford e, com isso, tanto Cheney quanto Rumsfeld retornam à esfera de poder do partido, galgando postos chaves na área da administração federal.
Em 1978, Cheney foi eleito para a  Câmara dos Representantes por Wyoming de 1979 a 1989, sendo reeleito cinco vezes; em 1989 atuou como líder da minoria na Câmara. Ele  foi escolhido por George H.W. Bush para Secretário de Defesa, permanecendo no cargo de 1989 a 1993, tendo influenciado e supervisionado a Operação Tempestade no Deserto.
Com a eleição de Bill Clinton, ele se afastou da política e se dedicou aos negócios, se tornando presidente e CEO da petrolífera  Halliburton, da qual se afastou no 2000, para ser candidato à vice-presidência da República, recebendo uma polpuda indenização.
O fato é que com a decisão de George W. Bush (Sam Rockwell) em se lançar candidato à presidência, Cheney foi cortejado para assumir o posto de vice-presidente, mas aceita com uma condição:  que tenha amplos poderes dentro do governo.
Nos bastidores do governo, ele tirou de cena figuras influentes no governo do pai do novo presidente e colocou nos postos chaves de defesa, economia e política pessoas da sua mais estrita  confiança, tendo inclusive influenciado depois na demissão do amigo e protetor Donald Rumsfeld. Com o atentado de 11 de setembro de 2001 seus poderes foram ampliados. Ele recebia os e-mails destinados ao presidente e monitorava todos os seus passos, ações e decisões.
Cheney assumiu o comando do governo enquanto o presidente Bush estava fora de Washignton no dia do atentado e  foi um dos arquitetos da  Guerra Global ao Terrorismo e comandou a invasão do Iraque, que resultou na queda de Sadam Hussein. Também teve papel decisivo nas ações que envolviam políticas de espionagem sobre a população americana por parte da NSA e a na aprovação de "técnicas avançadas de interrogatório" um eufemismo para a prática da tortura em larga escala.
Cabe um elogio ao trabalho camaleônico da transformação sofrida pelo ator Christian Bale, que além de  engordar cerca de 20 quilos, assumiu ao mesmo tempo a postura simplória e o jeito de falar do personagem, que também tinha suas contradições: era, por questões de ordem familiar, defensor do casamento de pessoas do mesmo sexo, uma coisa impensável para o representante da direita da direita americana. O filme teve oito indicações ao Oscar de 2019.(Kleber Torres)

Ficha Técnica:

Título :  Vice
Direção e Roteiro: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell,  Sam Rockweel, Eddie  Marsan, Jessie Plemons, Jillian Armenant
Trilha Sonora: Nicholas Brittel