domingo, 24 de janeiro de 2016

O curto espaço entre a vida e a morte através da eutanásia



A questão da ética e da eutanásia é o tema central do filme You Don't Know Jack  (Você Não conhece o Jack), um telefilme norte-americano  de 2010, dirigido por Barry Levinson e exibido pelo canal HBO, que voltou a reprisá-lo nos últimos dias. O  filme, que conquistou vários prêmios,  mostra a luta de Jack Kevorkian, o Doctor Death (Doutor Morte), um profissional de origem armênia e da área da saúde, em defesa da eutanásia assistida por um médico, mas que acaba condenado por homicídio, um tema polêmico e que diz respeito a pacientes em estágio terminal que poderiam optar entre a continuação das dores de vida sofrida ou pela a morte como descanso ? .
Na vida real, o médico coordenou a morte assistida para mais de 130 pacientes que sofriam de extrema dor ou estavam em estado terminal, a quem ajudou de forma direta a cometer suicídio, por meio de metodologia engendrada por ele com o uso de medicações e gases provocando uma morte sem dor e sem traumas por parada respiratória e falência múltipla dos órgãos. As ações eram acompanhadas sempre por familiares das vítimas e documentadas criteriosamente pelo médico.
O filme que tem o sabor de um documentário,  não só revela os bastidores do embate judicial – como também a mobilização de grupos religiosos contra a eutanásia  e a  repercussão do caso na mídia,- com ênfase para as estratégias da acusação, que ao invés de tentar condená-lo por indução ao suicídio assistido, optou no final  pela acusação de assassinato, o que resultou na sua condenação a oito anos de prisão.
Também mostra o advogado do Doutor Morte, que ganha fama com o caso e se afasta do cliente movido por ambições políticas, deixando para o médico os cuidados da sua autodefesa numa luta contra o sistema, quando o mesmo  alegou que morrer não é crime, “dying is not a crime”.
Cabe lembrar ainda, que no Estado do Michigan,  onde  se desenrola a ação do filme, a indução ao suicídio não era enquadrado como crime, o que de certa forma facilitou a defesa de Kervorkian até o momento em que passou a ser acusado de homicídio e acabou sentenciado por uma juíza parcial, que impediu depoimentos de testemunhas.
 O próprio médico, que na época do julgamento tinha 70 anos e lamentava a perda da sua companheira, a irmã,  também errou na sua defesa ao não incluir no processo como co-autores do homicídio e possível crime os familiares das vitimas, que haviam acompanhado a morte de um dos pacientes por ele assistidos.
Al Pacino  foi  premiado por seu desempenho no papel de Kevorkian com um Emmy Award. O filme teve várias indicações inclusive para o diretor Barry Levinson, sendo indicado para quinze prêmios Emmy, vencendo em melhor ator (Al Pacino) e melhor roteiro (Adam Mazer). Pacino também foi premiado com o Globo de Ouro, SAG e Satellite Awards. Neste último, a atriz Brenda Vaccaro, que desempenhou o papel da sua irmã,  foi premiada como melhor atriz coadjuvante e tendo como outra protagonista Susan Sarandon, com um excelente desempenho dramático.
Cabe lembrar ainda que You Don't Know Jack  foi baseado em fatos reais, e que parte do roteiro foi extraída do livro “Between the Dying and the Dead: Dr. Jack Kevorkian's Life And The Battle To Legalize Euthanasia" de Neal Nicol, assistente de Kevorkian e que no filme foi interpretado por John Goodman. (Kleber Torres)


Ficha técnica
Título : You Don't Know Jack  (Você Não conhece o Jack),
Direção: Barry Levinson
Roteiro : roteiro (Adam Mazer
Elenco Al Pacino, John Goodman, Brenda Vaccaro,  Susan Sarandon, Danny Huston, Cotter Smith, David Wilson Barnes, Eric Lange e Rondi Reed
Origem : EUA

Ano : 2010

sábado, 16 de janeiro de 2016

Quando o crime compensa e pode ser até premiado









Sim, o crime compensa, pelo menos em Colour Me Kubrick (Totalmente Kubrick), um filme franco-britânico de 2006, estrelado pelo excelente  John Malkovich no papel de Alan Conway, aliás Eddie Alan Jablowsky, um estelionatário que se passava pelo cineasta Stanley Kubrick aplicando golpes continuados em pessoas incautas, que estavam em busca do sucesso e da fama. O fato em comum entre todas as vitimas é que ninguém se arriscava a denunciar ou admitir a fraude para não passar como otário, com medo da repercussão negativa do noticiário, o que  provocaria o seu descrédito diante do público, com danos à própria imagem pessoal.
Considerado uma  comédia dramática dirigida com competência por Brian  Cook, e assinada pelo roteirista Anthony Frewin, conta a história verdadeira de um homem que se passava pelo diretor Stanley Kubrick durante a produção  do seu último filme, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), ocorridas em Londres no período de 1998 e 1999,  a despeito de saber muito pouco sobre o seu trabalho e não saber quase nada sobre a sua vida pessoal.
O fato é que Conway fingindo ser o recluso diretor Stanley Kubrick, entrava em festas, restaurantes e badalados clubes noturnos da capital inglesa, onde circulava com desenvoltura num crescendo de golpes sucessivos. O caso começou a ser investigado por um jornalista que tentava desmascarar o golpista e chegou a informar ao cinesta e à polícia, que começou a investigar o caso, mas esbarrava na barreira de silêncio das vitimas.
Alcoolatra e homossexual, Conway  conseguia ludibriar motoristas de taxi, integrantes de uma banda de hard-rock, pequenos e médios empresários a quem prometia aval e facilidades de investimentos, além de artistas a que se propunha a promover, mas sempre seguindo a lei máxima de Gérson para levar vantagem em tudo. O estelionatário descobre porém uma saída, alegando não saber quem era, buscando apoio nas asas da psiquiatria e da psicanálise, o que lhe vale citação num estudo em revista especializada de psiquiatria e até internação numa clinica para celebridades, que recebia ricos e famosos.
Cabe salientar ainda, que este foi o primeiro longa dirigido por Brian Cook, que foi diretor assistente de Kubrick em diversas produções, como "Barry Lyndon", "O Iluminado" e "De olhos bem fechados". No filme  ele faz propositadamente  uma série de referências à obra de seu mestre, incluindo trilha sonora de seus filmes mais conhecidos, fechando em chave de ouro  com um final compatível  de um filme com a assinatura de Kubrick.
Conway faleceu apenas poucos meses depois de Kubrick em 1999 e só não continuou a sua farsa porque foi desmascarado numa matéria com ampla repercussão da revista Vanity Fair. Na vida real, ele  assumiu as mentiras num programa de tv chamado The Lying Game, o jogo da mentira?  (Kleber Torres)


Ficha Técnica
Título : Colour Me Kubrick  / Totalmente Kubrick
Direção  - Brian W. Cook 
Roteiro : Anthony Frewin
Elenco -  John Malkovich, Jack Ryan, James Dreyfus, Leslie Phillips, Linda Bassett, Marisa Berenson, Robert Powell, Sam Redford, Tom Allen
Produção: Brian W. Cook, Michael Fitzgerald
Fotografia: Howard Atherton
Trilha Sonora: Bryan Adams
Duração: 86 min.

Origem – Inglaterra e França

A violência da Laranja Mecânica












 A violência sem limites envolvendo questões como a delinquência juvenil, gangues de rua e o poder do estado, com os seus problemas econômicos, sociais e políticos numa sociedade futurista, mas atuando através seus instrumentos de controle e repressão totalitários estão no cerne de Laranja Mecânica (Clockwork Orange),  um filme anglo-americano de 1971, escrito, produzido e dirigido pelo perfeccionista Stanley Kubrick, adaptado do romance distópico de Anthony Burgess, com o mesmo nome e publicado uma década antes. O filme também utiliza imagens violentas e perturbadoras  relacionadas com experiências comportamentalistas (behavioristas) e à lavagem cerebral.
Laranja Mecânica mostra a vida do sociopata Alex DeLarge, interpretado por Malcolm McDowell), como líder  carismático de uma quadrilha de delinqüentes juvenis, que não trabalha, mas tem entre as suas preferências ouvir música clássica, praticando em profusão os roubos, o estupro e violência pela violência, com o uso de um taco de beisebol ou da sua inseparável bengala. A gang é integrada por Pete (Michael Tarn), Georgie (James Marcus) e Dim (Warren Clarke) a quem ele chama de drugues como  resultado da fusão da palavra russa друг, que é equivalente a amigo, brother ou camarada.
A história começa mostrando uma sequência de crimes hediondos praticados pela quadrilha de Alex em uma Londres futurista e sombria. Os quatro amigos depois de se intoxicarem com "leite-com" (leite com drogas), se envolvem em mais uma noite de violência pela violência, ora espancando um sem-teto idoso ou depois brigando com uma gangue rival liderada por Billyboy.
Depois, o grupo rouba um carro, e vai até a  casa do escritor Frank Alexander (Patrick Magee), no fim de uma estrada vicinal, a quem agridem com violência deixando-o inválido e para sempre em numa cadeira do rodas. Alex em seguida estupra a sua mulher, que morre algum tempo depois em conseqüência da agressão, enquanto canta Singin' in the Rain, tema musical de Cantando na Chuva, com Genny Kelly.
Alex é depois visitado por seu conselheiro correcional, que o adverte sobre a sua saga de crimes e dos riscos de voltar à prisão. Logo depois, ele vai a uma loja de discos onde encontra duas garotas, Sonietta e Marty,  a quem convida para uma bacanal no apartamento da sua família. À noite, após  um desentendimento com os sócios descontentes com a sua liderança e cobrando uma maior participação na partilha dos crimes, Alex se impõe mais uma vez pela violência e o grupo parte para assaltar uma mansão.
Enquanto seus companheiros permanecem na porta da frente atraindo a atenção da vitima, Alex invade o imóvel por um acesso lateral e mata a mulher com uma estátua fálica, numa cena de apelo sexual e de violência exacerbada. Ao pressentir a chegada  da polícia, Alex ainda tenta fugir, mas um dos parceiros o fere com garrafa de leite jogada no seu rosto, o que o deixa atordoado e sangrando. Ao ser julgado ele foi condenado a 14 anos de prisão.
A história é narrada em Nadsat, um calão que reúne um conjunto de gírias dos adolescentes formadas por corruptelas de idiomas eslavos, em especial do russo, misturado com o  inglês e o cockney, um dialeto dos moradores da zona leste de Londres. Assim, a expressão Clockwork Orange, não implica apenas na tradução literal  Laranja Mecânica, mas de um homem mecânico um robô, uma vez que no Nadsat, orange significa duplamente laranja e homem.
Outro destaque do filme antológico e que concorreu a quatro Oscars em 1972, ficando com o de melhor diretor para Stanley Kubrick e conquistando dois Globos de Ouro do mesmo ano, sendo um para o diretor inglês e o de melhor ator para Malcolm McDowell, fica para a rica  trilha sonora, considerada um dos pontos altos da Laranja Mecânica, reunindo uma ampla seleção de músicas clássicas e composições com sintetizador Moog produzidas por  Wendy Carlos.
Durante o  cumprimento de sua sentença, Alex encontra com o Ministro do Interior vai  à prisão em busca de cobaias para uma terapia experimental visando a reabilitação de criminosos contumazes dentro de duas semanas, através do tratamento não hortodoxo do Ludovico. Na tentativa de reduzir a pena e ganhar as ruas Alex  se candidata a um  processo de lavagem cerebral com o uso de drogas sensibilizantes, enquanto o paciente ficava amarrado em uma cadeira, com os olhos abertos – o equipamento é similar aos usados nas cirurgias oftálmicas-,  assistindo a sessões continuas e intermináveis de cenas de violência em campos de concentração, nos campos de batalha, em revoluções, ou meso através de homicídios e estupros isolados, mas tendo como fundo musicas selecionadas entre as preferidas do paciente.
Ao ser solto após o tratamento Ludovico, ele descobre que seus bens foram confiscados pela polícia para ajudar a pagar a indenização das suas vítimas, e que até seus pais tinham alugado o seu quarto visando melhorar a sua renda familiar. A partir de então  Alex acaba tendo um encontro como todas as suas vitimas, que se aproveitam para uma possível vingança depois de reconhecê-lo formalmente.
Assim, sem teto e sem rumo, ele vagueia pelo campo e chega à casa do escritor Frank Alexander, que não o reconhece e o vê  como uma vitima de um sistema autoritário e como uma arma política para atacar o governo  ao qual se opõe. Ao ouvir Alex cantando no banheiro Singin' in the Rain ele acaba reconhecendo o algoz, de quem se vinga  tocando  Nona Sinfonia de Beethoven. Desesperado com a música que passou a odiar e que ao ouvir se sentia mal, Alex  acaba se jogando pela janela do primeiro andar e acaba ferido, ao ser removido para um hospital do governo, onde recebe um tratamento cinco estrelas, para recuperação das fraturas e sendo submetido a um tratamento de reversão, que o deixa  completamente curado fechando o ciclo dialético do  filme.
Em sua essência, Laranja Mecânica aparece como uma critica social e ao mesmo tempo como um alerta para a questão da violência, seja na sua dimensão institucional ou não, exigindo mecanismos de controle social e uma ação efetiva do estado. A história tem ainda como pano de fundo as disputas entre  conservadores e liberais, que  são iguais quando utilizam as pessoas para os fins meramente políticos, embora nem sempre os meios justifiquem tais ações ou propósitos.
O filme revela ainda ou fato preocupante: a própria imoralidade e a amoralidade de Alex, um personagem acima do bem e do mal, indiferente ao convívio social e à realidade do outro, como  reflexos  de uma sociedade doente e em crise, que aceita  a corrupção, o jeitinho, a impunidade e o uso do próprio sistema com objetivos eleitorais ou demagógicos para preservação do poder e do status quo. O filme, assim como o próprio livro, também é distópico  no seu alerta contra o totalitarismo e as facetas invisíveis de um estado gigantesco e que emerge como um Leviatã hobbesiano. (Kleber Torres)

Ficha técnica
Titulo – Laranja Mecânica / Clokwork Orange
Direção : Stanley Kubric
Música : Wendy Carlos
Elenco: Malcolm McDowell — Alex DeLarge, Patrick Magee — Sr. Alexander,
Warren Clarke — Dim, Adrienne Corri — Sra. Mary Alexander, Miriam Karlin — Mulher-Gato, James Marcus — Georgie, Sheila Raynor — Mãe,  Anthony Sharp — Ministro do Interior, Philip Stone — Pai, Pauline Taylor — a psiquiatra Dra. Taylor, Michael Tarn — Pete, Richard Connaught — Billyboy, Líder de gangue
Ano : 1971

Origem : EUA – Inglaterra

Quando o crime compensa e é até premiado







Sim, o crime compensa, pelo menos em Colour Me Kubrick (Totalmente Kubrick), um filme franco-britânico de 2006, estrelado pelo excelente  John Malkovich no papel de Alan Conway, aliás Eddie Alan Jablowsky, um estelionatário que se passava pelo cineasta Stanley Kubrick aplicando golpes continuados em pessoas incautas, que estavam em busca do sucesso e da fama. O fato em comum entre todas as vitimas é que ninguém se arriscava a denunciar ou admitir a fraude para não passar como otário, com medo da repercussão negativa do noticiário, o que  provocaria o seu descrédito diante do público, com danos à própria imagem pessoal.
Considerado uma  comédia dramática dirigida com competência por Brian  Cook, e assinada pelo roteirista Anthony Frewin, conta a história verdadeira de um homem que se passava pelo diretor Stanley Kubrick durante a produção  do seu último filme, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), ocorridas em Londres no período de 1998 e 1999,  a despeito de saber muito pouco sobre o seu trabalho e não saber quase nada sobre a sua vida pessoal.
O fato é que Conway fingindo ser o recluso diretor Stanley Kubrick, entrava em festas, restaurantes e badalados clubes noturnos da capital inglesa, onde circulava com desenvoltura num crescendo de golpes sucessivos. O caso começou a ser investigado por um jornalista que tentava desmascarar o golpista e chegou a informar ao cinesta e à polícia, que começou a investigar o caso, mas esbarrava na barreira de silêncio das vitimas.
Alcoolatra e homossexual, Conway  conseguia ludibriar motoristas de taxi, integrantes de uma banda de hard-rock, pequenos e médios empresários a quem prometia aval e facilidades de investimentos, além de artistas a que se propunha a promover, mas sempre seguindo a lei máxima de Gérson para levar vantagem em tudo. O estelionatário descobre porém uma saída, alegando não saber quem era, buscando apoio nas asas da psiquiatria e da psicanálise, o que lhe vale citação num estudo em revista especializada de psiquiatria e até internação numa clinica para celebridades, que recebia ricos e famosos.
Cabe salientar ainda, que este foi o primeiro longa dirigido por Brian Cook, que foi diretor assistente de Kubrick em diversas produções, como "Barry Lyndon", "O Iluminado" e "De olhos bem fechados". No filme  ele faz propositadamente  uma série de referências à obra de seu mestre, incluindo trilha sonora de seus filmes mais conhecidos, fechando em chave de ouro  com um final compatível  de um filme com a assinatura de Kubrick.
Conway faleceu apenas poucos meses depois de Kubrick em 1999 e só não continuou a sua farsa porque foi desmascarado numa matéria com ampla repercussão da revista Vanity Fair. Na vida real, ele  assumiu as mentiras num programa de tv chamado The Lying Game, o jogo da mentira?  (Kleber Torres)


Ficha Técnica
Título : Colour Me Kubrick  / Totalmente Kubrick
Direção  - Brian W. Cook  
Roteiro : Anthony Frewin 
Elenco -  John Malkovich, Jack Ryan, James Dreyfus, Leslie Phillips, Linda Bassett, Marisa Berenson, Robert Powell, Sam Redford, Tom Allen
Produção: Brian W. Cook, Michael Fitzgerald
Fotografia: Howard Atherton
Trilha Sonora: Bryan Adams
Duração: 86 min.
Origem – Inglaterra e França

Ano - 2006