quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Sem nenhuma direção, mas na rota do sucesso e da malandragem





O filme No Direction Home (2005), com 208 minutos de duração, é um rico documentário de Martin Scorsese, que conta a trajetória de Bob Dylan e seu impacto na música popular americana, bem como revela um perfil da cultura e da contracultura na segunda metade do conturbado século XX. O filme mostra o início da carreira  e a tumultuada ascensão do cantor e compositor ao estrelato no curto período entre 1961 a 1966.
Em essência, o filme revela como um cantor de protesto, que se inspirava em Woody Guthrie, um compositor folk e autor de Bound for Glory, um livro que mudou a sua visão de mundo, se tornou a voz de uma geração e influenciou a cultura americana. No Direction Home, revela ainda a transição de Dylan (que adotou este segundo nome em homenagem ao poeta Dylan Thomas) do folk e da country music, com suas características acústicas para o rock, com acompanhamento de uma bateria, o que exigia maior volume de som dos instrumentos, lhe valendo vaias e o desagrado dos fãs e de muitos críticos musicais em todo o mundo.
Dylan, que nasceu Roberto Zimmerman, um neto de judeus russos de Duluth, no Minessota, conta aprendeu sozinho a tocar gaita, piano e guitarra, deixou a pequena empresa da família para se dedicar à musica . O filme faz referências a muitos artistas a exemplo do escritor Jack Kerouack, a uma das suas primeiras namoradas e musas Echo, ao trio formado por Peter, Paul & Mary, além das cantoras Maria Maldur e a sua ex-mulher Joan Baez, um relacionamento curto e que acabou em 1965 e que ele explica lacônicamente: “não dá para ser inteligente e apaixonado ao mesmo tempo”.
No documentário aparecem filmes com Bob Dylan e depoimentos do artista falando da sua fase em Nova York, onde percebeu que foi ao lugar certo para quem buscava a escalada do sucesso e que tocou em várias casas noturnas como o Fred Neil, onde os artistas tocavam de graça e ganhavam o que rendia a cesta que passavam para o público.
Bob Dylan também conta do choque que levou a visitar o seu ídolo Guthrie, um homem envelhecido, trêmulo, internado em um manicômio. Já o seu primeiro álbum vendeu 2,5 mil cópias e a sua carreira começa a deslanchar com a participação em festivais como de New Port. O cantor fala ainda da importância da palavra, que tem significado próprio e que muda com o tempo, ganhando nova dimensão num período de dez anos.
Uma referência de destaque do filme é com relação ao álbum Bringing it All Back Home, já da fase de transição para o rock e que inclui a antológica Maggie’s Farm, que foi vaiada num festival junto com Like a Rolling Stone, com caudalosos 50 versos, por um publico que não aceitava a entrada de Dylan no universo barulhento do rock.
Já Maggie’s Farm faz referências a uma mulher de 68 que dizia ter 54 anos e começava dizendo: Eu nunca mais vou trabalhar na fazenda da Maggie/ Não, eu não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie/ Bem, eu acordo de manhã/ Cruzo minhas mãos e rezo por chuva./Eu tenho a cabeça cheia de ideias/ que estão me deixando louco/ É uma vergonha o jeito como ela me faz esfregar o chão./Eu não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie”, que alguns ainda traduzem com um sonoro só que não, reforçando a afirmação da negação.

O documentário também faz referências a Don't Look Back, um filme gênero show musical dirigido por D. A. Pennebaker, lançado em 1967, quando Dylan alçava voo em direção definitiva do estrelado e também mostra uma entrevista em que ele antevê uma explicação da polêmica sobre  Prêmio Nobel agora em 2016. Ao ser questionado por um jornalista se considerava cantor ou poeta, ele respondeu simplesmente: “me considero um malandro.” E olhe que ele não conhecia o Urubu Malandro do nosso Pixinguinha, mas isso é outra história. (KLeber Torres)

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Uma festa em louvor da morte ou a favor da vida



O filme israelense  Mita Tova/ Festa de Despedida(2015)  transita entre o tênue fio que separa a comédia de humor negro e a  tragédia, com a proposta de discutir a questão complexa da eutanásia - ato de proporcionar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis - e ao fazer ao mesmo uma reflexão sobre a vida, a velhice, a sexualidade e homossexualidade na terceira idade, o abandono, o sofrimento e a própria morte, como um direito e uma escolha do individuo.
A questão não é nova e foi abordada com sabedoria pelo filósofo Sêneca, que morreu no ano 65 depois de Cristo, forçado ao suicídio pelo imperador Nero. Para ele, todos  nós navegamos pela vida e”o bom não é viver, mas viver bem”. Ele pensava na qualidade de vida e não na sua duração que é breve em relação ao tempo e ao infinito do universo, a questão é viver enquanto se tiver esperança e um alento.
Tudo começa quando um grupo de amigos que vivem numa confortável casa de repouso em Jerusalém e constroem uma máquina de auto-eutanásia, a fim de ajudar um amigo em estado terminal.  A traquitana - que tem como referência  equipamentos já utilizados nos Estados Unidos e Austrália – era equipada com uma maleta com um controle remoto a ser usado pelo paciente para liberar um sedativo à base de ópio na veia e em seguida culminaria com a aplicação de uma dose letal de cloreto de potássio, o que não deixaria vestígios uma vez que em Israel não se faz necropsia de doentes  terminais.
A ideia é desenvolvida  pelo  engenheiro Yehezekel, interpretado por Ze'ev Revach, o qual vivia no asilo com a mulher Levana ( Levana Finkelstein), que apresentava lapsos crescentes  e cada vez mais graves de memória. Ele  se dedicava  a desenvolver equipamentos eletrônicos, entre os quais um misturador de voz para imitar um telefonema de Deus para Zelda, uma paciente terminal de quem era amigo e até um memorizador para a mulher se lembrar dos dias da semana e das mínimas tarefas cotidianas.
O problema é que depois da morte de Max (Shemel Wolf), casado com Yana  (Alisa Rosen) e autora da proposta de criação do equipamento, porque não aguentava mais, “e a  solução bastava uma dose de medicamentos para acabar com isso”, a existência da   máquina começa a se espalhar  e outras pessoas começam a se interessar pela ideia de partir dessa para uma melhor. Isso leva  o grupo de amigos se questionar se o que estão fazendo é a coisa certa ou cometendo um crime. Um dos personagens defende a ideia alegando que com os tratamentos de hoje ninguém sabe do futuro. Havia no grupo um personagem pouco ético, que estava vendendo os favores letais, recebendo um trocado por fora.
Numa outra cena, os cinco integrantes do grupo, inclusive Levana, que era radicalmente contra a ideia do marido e o projeto se preocupam com um idoso que os procurara para por fim ao sofrimento da mulher e no dia seguinte vêm a na televisão a noticia  de um homem de 80 anos, que matou a companheira e depois se suicidou.
No dia seguinte, eles encontram o homem que os procurara vivo e este os ameaça. Desta vez a vitima é Clara Linberg, que deixa gravada uma mensagem dizendo que quer morrer com dignidade depois de cinco anos de sofrimentos atroses.
Numa cena comovente os amigos saem de carro e cantam o réquiem terra do nunca, sendo autuados por um policial rodoviário e numa outra são supreendidos por uma burocrata da clinica onde viviam que os surpreende posando nus para uma fotografia, fumando maconha medicinal e tomando vinho.Eles são defendidos por Levana lembrando que todos no fundo são crianças e que apenas o corpo físico é que cresceu.
Como a situação da mulher se agrava, Yehezekel a leva para outro centro médico onde os pacientes são dopados e vivem como robôs apáticos e sem vida, concluindo que “aquele não é um lugar para você”. A própria  mulher sentia num dos diálogos com o marido que a cada dia ia perdendo um pouco de si e qual seria a solução, o caminho para uma vida vegetativa ou a morte?
Afinal, a quem cabe a decisão, que muitas vezes até o paciente pode escolher, quem tem razão Sêneca ou o Dr. Morte, Jack Kevorkian, que matou mais de 130 pacientes terminais e foi personagem do filme You Don´t Know Jack (2010), mas isso é outra ou a síntese mesma história ou de uma tragédia infinitamente humana?   (Kleber Torres) 


Título original Mita Tova/ Festa de Despedida
Data de lançamento  2015 
Direção:  Tal Granit, Sharon Maymon
Roteiro : Tal Granit, Sharon Maymon
Elenco: Ze’ev Ravach,  Levana Finkelstein, Alisa Rosen, Dan, Raffi Tavor e Idit Tepefson
Gênero: Comédia / Drama
Nacionalidade : Alemanha/Israel

93 minutos 

A tragédia e os tênues limites do absurdo



O filme “Meu filho, olha o que fizeste!/”My Son, My Son, What Have Ye Done”(2009) de Werner Herzog, com indicações para um Leão de Ouro, no Festival Internacional de Cinema de Veneza,  trata de um tema trágico: o matricídio e tem como base uma história da vida real, quando um Brad Mc Callum (Michael Shannon)  depois de  ouvir um misterioso chamado divino mata a mãe com um golpe de espada sem motivos aparentes. Ele também teria sido influenciado pela tragédia Electra, de Sófocles, que ensaiava em um grupo de teatro amador ou teria cometido uma insanidade?
A história real aconteceu em 1979 e serviu de inspiração para este longa de Werner Herzog, que procura desnudar os tênues fios entre a sanidade e a loucura com seus contornos absurdos e surreais, afinal o que leva um filho a matar a própria mãe? Assim, o foco do filme  é penetrar  na mente de assassino e captar aspectos que o levaram a agir deflagrando uma tragédia, tarefa que cabe a uma equipe de detetives da San Diego, liderada por Hank Havenhurst  (William Dafoe), que procura  reconstruir  um  verdadeiro quebra-cabeça  ouvindo depoimentos de testemunhas e pessoas próximas ao assassino e à vitima.
Tudo começa a partir de uma viagem de Brad Mc Cullum ao Peru, onde também depois de ouvir a um chamado misterioso, acaba  desistindo de participar de um ‘rafting’  para a descida corredeiras com uma equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança. Os integrantes do grupo morreram nesta aventura radical e apenas ele escapa, mas volta diferente para a sua terra, onde assumiu também o nome muçulmano de Farouk e mudou o seu comportamento.Numa das cenas, ele diz que “às vezes a gente não sabe quem é pior, se a polícia ou os malditos bandidos”. Também na reconstrução da tragédia, fica evidenciado que a sua mãe dominadora o cercava de mimos: lhe deu um piano que ele nunca tocou e uma bateria, em que se sentava estático, sem tocar nenhuma vez.
Em uma conversa com a namorada Ingrid (Chloe Sevigni), com quem ouvia música no quarto, ele lhe disse que viu Deus. Mesmo sem ter nenhuma  atividade econômica produtiva e nenhuma fonte de renda, ele falou de forma desconexa também para a namorada em comprar uma casa e depois propôs  morar na lua. Também contou que gostava de velocidade e que atravessou uma ponte a 210 quilômetros por hora e em seguida inventa visitar pacientes no Hospital Naval, coisas sem nenhuma relação racional e sem conexão com a realidade.
O diretor de teatro amador do grupo que participava no ensaio da tragédia grega em que Orestes mata a própria mãe, Lee Meyers (Udo Kier), informou aos policiais que Brad lhe telefonou  pedindo ajuda às seis horas da manhã no dia do crime e metaforicamente, se comparou com um trem fora de controle. Ele também falou da peça e falou da maldição de Tântalo, informando  que Brad ficou obcecado pela espada obtida na casa de um tio que criava avestruzes, para quem esse negócio de teatro não era coisa de gente séria. 
O conflito que resultou no assassinato da mãe de Brad estaria de um lado vinculado  à adoração que ele supostamente tinha por sua mãe, mas poderia muito bem ser confundida com um sentimento de submissão emocional em função da sua dependência financeira ou até mesmo uma reação ao seu comportamento controlador. A mãe também fiscalizava o namoro do filho e demonstrava um desprezo pela futura nora. Mc Culllum confessou que um pássaro foi o maior animal que matou, antes de assassinar a sua mãe.
O filme também transita no universo simbólico e uma das referências está numa bola de basquete que Brad deixou numa árvore do Parque Balboa e na doação de uma mochila para um jovem que brincava com os amigos na mesma praça. Ela também manifestava uma aversão às máquinas e a tecnologia, por isso desligou o relógio, a geladeira da casa onde morava e começou a bater no carro.
A própria namorada ficou intimidada com o olhar de Brad, cuja mãe teria contado a amigas antes de morrer que o filho teria tentado sufocá-la com um travesseiro. Ao ser convidado para tomar chá com estas amigas e testemunhas oculares da tragédia, ele foi buscar a sua caneca e demorou nesta tarefa dez minutos, voltando também com a espada em seguida, deu um taco de basebol à vizinha ordenando que esta o matasse antes que algo pior e terrível acontecesse, depois, ele fere a mãe com um golpe e ela apenas pergunta: “Meu filho, olha o que fizeste”.
Depois de cercado pela policia por várias horas, numa ação que mbilizou até a swat e anunciar que tinha reféns na casa onde estava, Brad acaba se rendendo  e ao ser preso pede para ser deixado no deserto, dizendo que encontrou a sua verdadeira vocação para o comércio justo, uma sequencia complementada com uma cena de nuvens e de avestruzes correndo.  
O filme apresenta trilha predominantemente latina e com refinados instrumentais, tendo como base no início e no fim a música Gabino Barrera, de Antonio Aguillar, que fala de um revolucionário parecido com Zapata e que lutava pela reforma agrária no México. Numa outra cena, em bg, aparece voz de Caetano Veloso, num filme complexo que funde as técnicas de Werner Herzog, uma das expressões do Novo Cinema Alemão, cujos personagens são sempre heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos únicos em áreas obscuras e do produtor o cineasta David Lynch, que assinou  Homem Elefante e o cult movie Veludo Azul, filmes marcados pelo surrealismo e pelo non-sense.  (KLeber Torres)
Ficha técnica:
Meu filho, olha o que fizeste!/”My Son, My Son, What Have Ye Done
Direção : Werner Herzog
Elenco: Michael Shannon, William Dafoe, Chloe Sevigni, Udo Kiel e Grace Zabriskie
Diretor de fotografia : Peter Zeitlinger
Música : Ernest Reijseger
Roteiro: Herbert Golder e Werner Herzog

Produção executiva : David Lynch  

sábado, 8 de outubro de 2016

Uma questão de imigração e da globalização da violência





Cansado de lutar e  matar em defesa do Tigres do Tamil, organização armada separatista na guerra civil no Sri Lanka (Ceilão), Deephan, um ex-guerrilheiro
interpretado por Antonythasan Jesuthasan  imigra  para a França, com documentos falsos em companhia de Yalini (Kalievari Srinivan) e da pequena Illayaal (Claudine Vinasithamby), uma orfã de nove anos , fazendo-se fpassar por uma família convencional.
Sem dominar o idioma francês e vivendo num ambiente cultural totalmente diferente do Ceilão, os refugiados vão morar em um conjunto habitacional nos arredores de Paris habitado por árabes, africanos e franceses de baixa renda, que vivem num ambiente dominado por gangs de traficantes, que controlam o tráfego das pessoas diante de um estado omisso e impotente diante do crime organizado.
Assim, Deephan passa a trabalhar como zelador no conjunto onde vive e Yalini como  doméstica e cuidadora de um idoso árabe, tio de um dos chefes do tráfico na periferia de Paris. Os dois mesmo mal se conhecendo e com um relacionamento meramente formal, sem laços afetivos, tentam construir uma vida em comum num ambiente hostil e em condições adversas para quem não domina o francês.
Cabe lembrar que o filme foi  vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes-2015 e aborda um dos temais mais polêmicos do nosso tempo – a questão imigração de refugiados de guerra de vários países, em especial a Síria para a Europa-, num projeto coordenado pelo cineasta Jacques Audiard autor de O Profeta (2013) e Ferrugem e Osso(2014), que procurou adaptar o roteiro à realidade cotidiana dos personagens.
Um outro detalhe: os atores que formavam o núcleo central do filme tinham apenas pouca experiência teatral e a garota, Illayaal (Claudine Vinasithamby),  nunca trabalhara como atriz. Numa das cenas a menina não se ajusta à vida da escola e acaba agredindo uma colega, aparentemente sem motivos e por se sentir rejeitada pelo seu novo grupo plurirracial  na escola.
Assustada com a violência dos traficantes do bairro após um intenso tiroteio e de uma ação típica de guerrilha comum no seu país de origem, Yalini questiona Dheepan se estes grupos seriam iguais aos bandidos das gangues Vanilla e Minnal, da sua terra e ele responde com agudeza que sim, “só que menos perigosos”.
O filme também revela o outro lado do racismo e o estranhamento dos estrangeiros que migram para um país europeu e isso fica evidente numa piada não politicamente correta em que o personagem diz: “advinha porque não tem árabes na Jornada das Estrelas ?” E tem como resposta: “porque se passa no futuro”, sinalizando  simplesmente que estariam extintos.
Além de viver num ambiente hostil e adverso, o casal e a filha também tem de conviver com ameaças e intimidações de grupos ligados ao próprio Ceilão, mesmo frequentando os templos e rituais religiosos. Assim, aparece um coronel do exercito tâmil, cobrando de Dheepan consiga R$ 100 mil dólares para uma guerrilha que este  considerava que acabou, pelo menos para ele e por isso acaba agredido a socos e pontapés.
Yalini lembra em outra cena, que na sua cultura se a pessoa cair e se machucar, ela sorri, mas as pessoas que vivem na Europa riem até demais. A família também acaba sendo ameaçada por traficantes, Dheepan se rebela contra a violência e estabelece uma zona livre de tiro e que seria desmilitarizada, o que resulta num conflito e numa reação sem precedentes do ex-tigre tâmil com sua experiência numa guerra sem quartel contra um governo socialista que queimava escolas e era implacável com os inimigos.
O filme termina aparentemente com um final feliz, com a família se integrando na Inglaterra e com a chegada de um filho. Seria um marco de um novo tempo ou da continuidade de uma saga de sangue e violência globais talvez sem começo e sem fim, distante do bom senso e da racionalidade? (Kleber Torres)


Ficha Técnica
DHEEPAN – O Refúgio
DireçãoJacques Audiard
Roteiro: Noé Debré/Thomas Bidegain
Elenco: Antonythasan Jesuthasan, Kalievari Srinivan,  Claudine Vinasithamby, Vincent Rottiers e Marc Zinga
Música: Nicolas Jaar
Drama
105 minutos
França, 2015