segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Uma festa em louvor da morte ou a favor da vida



O filme israelense  Mita Tova/ Festa de Despedida(2015)  transita entre o tênue fio que separa a comédia de humor negro e a  tragédia, com a proposta de discutir a questão complexa da eutanásia - ato de proporcionar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis - e ao fazer ao mesmo uma reflexão sobre a vida, a velhice, a sexualidade e homossexualidade na terceira idade, o abandono, o sofrimento e a própria morte, como um direito e uma escolha do individuo.
A questão não é nova e foi abordada com sabedoria pelo filósofo Sêneca, que morreu no ano 65 depois de Cristo, forçado ao suicídio pelo imperador Nero. Para ele, todos  nós navegamos pela vida e”o bom não é viver, mas viver bem”. Ele pensava na qualidade de vida e não na sua duração que é breve em relação ao tempo e ao infinito do universo, a questão é viver enquanto se tiver esperança e um alento.
Tudo começa quando um grupo de amigos que vivem numa confortável casa de repouso em Jerusalém e constroem uma máquina de auto-eutanásia, a fim de ajudar um amigo em estado terminal.  A traquitana - que tem como referência  equipamentos já utilizados nos Estados Unidos e Austrália – era equipada com uma maleta com um controle remoto a ser usado pelo paciente para liberar um sedativo à base de ópio na veia e em seguida culminaria com a aplicação de uma dose letal de cloreto de potássio, o que não deixaria vestígios uma vez que em Israel não se faz necropsia de doentes  terminais.
A ideia é desenvolvida  pelo  engenheiro Yehezekel, interpretado por Ze'ev Revach, o qual vivia no asilo com a mulher Levana ( Levana Finkelstein), que apresentava lapsos crescentes  e cada vez mais graves de memória. Ele  se dedicava  a desenvolver equipamentos eletrônicos, entre os quais um misturador de voz para imitar um telefonema de Deus para Zelda, uma paciente terminal de quem era amigo e até um memorizador para a mulher se lembrar dos dias da semana e das mínimas tarefas cotidianas.
O problema é que depois da morte de Max (Shemel Wolf), casado com Yana  (Alisa Rosen) e autora da proposta de criação do equipamento, porque não aguentava mais, “e a  solução bastava uma dose de medicamentos para acabar com isso”, a existência da   máquina começa a se espalhar  e outras pessoas começam a se interessar pela ideia de partir dessa para uma melhor. Isso leva  o grupo de amigos se questionar se o que estão fazendo é a coisa certa ou cometendo um crime. Um dos personagens defende a ideia alegando que com os tratamentos de hoje ninguém sabe do futuro. Havia no grupo um personagem pouco ético, que estava vendendo os favores letais, recebendo um trocado por fora.
Numa outra cena, os cinco integrantes do grupo, inclusive Levana, que era radicalmente contra a ideia do marido e o projeto se preocupam com um idoso que os procurara para por fim ao sofrimento da mulher e no dia seguinte vêm a na televisão a noticia  de um homem de 80 anos, que matou a companheira e depois se suicidou.
No dia seguinte, eles encontram o homem que os procurara vivo e este os ameaça. Desta vez a vitima é Clara Linberg, que deixa gravada uma mensagem dizendo que quer morrer com dignidade depois de cinco anos de sofrimentos atroses.
Numa cena comovente os amigos saem de carro e cantam o réquiem terra do nunca, sendo autuados por um policial rodoviário e numa outra são supreendidos por uma burocrata da clinica onde viviam que os surpreende posando nus para uma fotografia, fumando maconha medicinal e tomando vinho.Eles são defendidos por Levana lembrando que todos no fundo são crianças e que apenas o corpo físico é que cresceu.
Como a situação da mulher se agrava, Yehezekel a leva para outro centro médico onde os pacientes são dopados e vivem como robôs apáticos e sem vida, concluindo que “aquele não é um lugar para você”. A própria  mulher sentia num dos diálogos com o marido que a cada dia ia perdendo um pouco de si e qual seria a solução, o caminho para uma vida vegetativa ou a morte?
Afinal, a quem cabe a decisão, que muitas vezes até o paciente pode escolher, quem tem razão Sêneca ou o Dr. Morte, Jack Kevorkian, que matou mais de 130 pacientes terminais e foi personagem do filme You Don´t Know Jack (2010), mas isso é outra ou a síntese mesma história ou de uma tragédia infinitamente humana?   (Kleber Torres) 


Título original Mita Tova/ Festa de Despedida
Data de lançamento  2015 
Direção:  Tal Granit, Sharon Maymon
Roteiro : Tal Granit, Sharon Maymon
Elenco: Ze’ev Ravach,  Levana Finkelstein, Alisa Rosen, Dan, Raffi Tavor e Idit Tepefson
Gênero: Comédia / Drama
Nacionalidade : Alemanha/Israel

93 minutos 

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