O filme israelense Mita Tova/ Festa de Despedida(2015) transita entre o tênue fio que separa a comédia de humor negro e a tragédia, com a proposta de discutir a questão complexa da eutanásia - ato de proporcionar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis - e ao fazer ao mesmo uma reflexão sobre a vida, a velhice, a sexualidade e homossexualidade na terceira idade, o abandono, o sofrimento e a própria morte, como um direito e uma escolha do individuo.
A questão não é nova e foi abordada com sabedoria pelo
filósofo Sêneca, que morreu no ano 65 depois de Cristo, forçado ao suicídio
pelo imperador Nero. Para ele, todos nós navegamos pela vida e”o bom não
é viver, mas viver bem”. Ele pensava na qualidade de vida e não na sua duração
que é breve em relação ao tempo e ao infinito do universo, a questão é viver
enquanto se tiver esperança e um alento.
Tudo começa quando um grupo de amigos que vivem numa
confortável casa de repouso em Jerusalém e constroem uma máquina de
auto-eutanásia, a fim de ajudar um amigo em estado terminal. A traquitana
- que tem como referência equipamentos já utilizados nos Estados Unidos e
Austrália – era equipada com uma maleta com um controle remoto a ser usado pelo
paciente para liberar um sedativo à base de ópio na veia e em seguida
culminaria com a aplicação de uma dose letal de cloreto de potássio, o que não
deixaria vestígios uma vez que em Israel não se faz necropsia de doentes
terminais.
A ideia é desenvolvida pelo engenheiro
Yehezekel, interpretado por Ze'ev Revach, o qual vivia no asilo com a mulher
Levana ( Levana Finkelstein), que apresentava lapsos crescentes e
cada vez mais graves de memória. Ele se dedicava a desenvolver
equipamentos eletrônicos, entre os quais um misturador de voz para imitar um
telefonema de Deus para Zelda, uma paciente terminal de quem era amigo e até um
memorizador para a mulher se lembrar dos dias da semana e das mínimas tarefas
cotidianas.
O problema é que depois da morte de Max (Shemel Wolf),
casado com Yana (Alisa Rosen) e autora da proposta de criação do
equipamento, porque não aguentava mais, “e a solução bastava uma dose de
medicamentos para acabar com isso”, a existência da máquina começa
a se espalhar e outras pessoas começam a se interessar pela ideia de
partir dessa para uma melhor. Isso leva o grupo de amigos se questionar
se o que estão fazendo é a coisa certa ou cometendo um crime. Um dos
personagens defende a ideia alegando que com os tratamentos de hoje ninguém
sabe do futuro. Havia no grupo um personagem pouco ético, que estava vendendo
os favores letais, recebendo um trocado por fora.
Numa outra cena, os cinco integrantes do grupo, inclusive
Levana, que era radicalmente contra a ideia do marido e o projeto se preocupam
com um idoso que os procurara para por fim ao sofrimento da mulher e no dia
seguinte vêm a na televisão a noticia de um homem de 80 anos, que matou a
companheira e depois se suicidou.
No dia seguinte, eles encontram o homem que os procurara
vivo e este os ameaça. Desta vez a vitima é Clara Linberg, que deixa gravada
uma mensagem dizendo que quer morrer com dignidade depois de cinco anos de
sofrimentos atroses.
Numa cena comovente os amigos saem de carro e cantam o
réquiem terra do nunca, sendo autuados por um policial rodoviário e numa outra
são supreendidos por uma burocrata da clinica onde viviam que os surpreende
posando nus para uma fotografia, fumando maconha medicinal e tomando vinho.Eles
são defendidos por Levana lembrando que todos no fundo são crianças e que
apenas o corpo físico é que cresceu.
Como a situação da mulher se agrava, Yehezekel a leva
para outro centro médico onde os pacientes são dopados e vivem como robôs
apáticos e sem vida, concluindo que “aquele não é um lugar para você”. A
própria mulher sentia num dos diálogos com o marido que a cada dia ia
perdendo um pouco de si e qual seria a solução, o caminho para uma vida
vegetativa ou a morte?
Afinal, a quem cabe a decisão, que muitas vezes até o
paciente pode escolher, quem tem razão Sêneca ou o Dr. Morte, Jack Kevorkian,
que matou mais de 130 pacientes terminais e foi personagem do filme You
Don´t Know Jack (2010), mas isso é outra ou a síntese mesma história
ou de uma tragédia infinitamente humana? (Kleber Torres)
Título original Mita Tova/ Festa de Despedida
Data de lançamento 2015
Direção: Tal
Granit, Sharon Maymon
Roteiro : Tal Granit,
Sharon Maymon
Elenco: Ze’ev Ravach, Levana Finkelstein,
Alisa Rosen, Dan, Raffi Tavor e Idit Tepefson
Gênero: Comédia / Drama
Nacionalidade : Alemanha/Israel
93 minutos
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