O filme No Direction Home (2005), com 208
minutos de duração, é um rico documentário de Martin Scorsese, que conta a
trajetória de Bob Dylan e seu impacto na música popular americana, bem como
revela um perfil da cultura e da contracultura na segunda metade do conturbado
século XX. O filme mostra o início da carreira
e a tumultuada ascensão do cantor e compositor ao estrelato no curto
período entre 1961 a 1966.
Em essência, o filme revela como um cantor de
protesto, que se inspirava em Woody Guthrie, um compositor folk e autor de
Bound for Glory, um livro que mudou a sua visão de mundo, se tornou a voz de
uma geração e influenciou a cultura americana. No Direction Home, revela ainda
a transição de Dylan (que adotou este segundo nome em homenagem ao poeta Dylan
Thomas) do folk e da country music, com suas características acústicas para o
rock, com acompanhamento de uma bateria, o que exigia maior volume de som dos
instrumentos, lhe valendo vaias e o desagrado dos fãs e de muitos críticos
musicais em todo o mundo.
Dylan, que nasceu Roberto Zimmerman, um neto de
judeus russos de Duluth, no Minessota, conta aprendeu sozinho a tocar gaita,
piano e guitarra, deixou a pequena empresa da família para se dedicar à musica
. O filme faz referências a muitos artistas a exemplo do escritor Jack
Kerouack, a uma das suas primeiras namoradas e musas Echo, ao trio formado por
Peter, Paul & Mary, além das cantoras Maria Maldur e a sua ex-mulher Joan
Baez, um relacionamento curto e que acabou em 1965 e que ele explica
lacônicamente: “não dá para ser inteligente e apaixonado ao mesmo tempo”.
No documentário aparecem filmes com Bob Dylan e
depoimentos do artista falando da sua fase em Nova York, onde percebeu que foi
ao lugar certo para quem buscava a escalada do sucesso e que tocou em várias
casas noturnas como o Fred Neil, onde os artistas tocavam de graça e ganhavam o
que rendia a cesta que passavam para o público.
Bob Dylan também conta do choque que levou a
visitar o seu ídolo Guthrie, um homem envelhecido, trêmulo, internado em um
manicômio. Já o seu primeiro álbum vendeu 2,5 mil cópias e a sua carreira
começa a deslanchar com a participação em festivais como de New Port. O cantor
fala ainda da importância da palavra, que tem significado próprio e que muda
com o tempo, ganhando nova dimensão num período de dez anos.
Uma referência de destaque do filme é com
relação ao álbum Bringing it All Back Home, já da fase de transição para o rock
e que inclui a antológica Maggie’s Farm, que foi vaiada num festival junto com
Like a Rolling Stone, com caudalosos 50 versos, por um publico que não aceitava
a entrada de Dylan no universo barulhento do rock.
Já Maggie’s Farm faz referências a uma mulher
de 68 que dizia ter 54 anos e começava dizendo: Eu nunca mais vou trabalhar na
fazenda da Maggie/ Não, eu não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie/ Bem, eu
acordo de manhã/ Cruzo minhas mãos e rezo por chuva./Eu tenho a cabeça cheia de
ideias/ que estão me deixando louco/ É uma vergonha o jeito como ela me faz
esfregar o chão./Eu não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie”, que alguns
ainda traduzem com um sonoro só que não, reforçando a afirmação da negação.
O documentário também faz referências a Don't
Look Back, um filme gênero show musical dirigido por D. A. Pennebaker, lançado
em 1967, quando Dylan alçava voo em direção definitiva do estrelado e também
mostra uma entrevista em que ele antevê uma explicação da polêmica sobre Prêmio Nobel agora em 2016. Ao ser
questionado por um jornalista se considerava cantor ou poeta, ele respondeu
simplesmente: “me considero um malandro.” E olhe que ele não conhecia o Urubu
Malandro do nosso Pixinguinha, mas isso é outra história. (KLeber Torres)
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