terça-feira, 30 de setembro de 2014

Apocalypse Now





Considerado uma obra prima do cinema mostrando a inutilidade e a irracionalidade de guerra, Apocalypse Now é um filme americano de 1979, dirigido por Francis Ford Coppola , tendo como referência a adaptação do romance Heart of Darkness – O Coração das Trevas - de Joseph Conrad  e cenário o sudeste asiático durante a Guerra do Vetnã. O filme foi rodado nas Filipinas e os cenários atingidos por um furacão que atrasaram as filmagens.
Estrelado por Marlon Brando, Robert Duvall e Martin Sheen, Apocalypse Now foi indicado para sete Oscars em 1980, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor (Francis Ford Coppola) e Melhor Ator Coadjuvante (Robert Duvall) , sendo premiado apenas nas categorias nas categorias de Melhor Fotografia, com Vittorio Storaro e Melhor Som, uma trilha produzida por Walter Murch, Mark Berger, Richard Beggs e Nathan Boxer. O filme também foi premiado no Festival de Cannes 1979 (França) e com o Globo de Ouro 1980 (EUA), bem como pela Academia Japonesa de Cinema 1981 (Japão).
Tudo começa num hotel de Hanói,  ao som de The End – que também se repete na sequência final do filme- ,   quando o alto comando do exército americano designa o Capitão Benjamin Willard (Martin Sheen) para procurar, localizar  e executar o Coronel Walter Kurtz (Marlon Brando), que havia supostamente enlouquecido e estava lutando a guerra à sua própria maneira liderando  um exercito pessoal  e um grupo de traficantes nas selvas do Camboja.
Subindo o rio num barco de patrulha pilotado por quatro soldados, Willard depara-se com situações inacreditáveis e absurdas geradas pela guerra, evidenciando a existência de um conflito abissal entre o racional e o irracional. Vale como referência o deslocamento de um efetivo da cavalaria americana agora com apoio de helicópteros para a prática do surf numa praia vietnamita com ondas de 1 metro e 80.
Os helicópteros também bombardeiam uma aldeia vietcong dançado ao som da Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner,  e numa das cenas, um oficial americano  Roberto Duvall, compara a destruição e o cheiro do napalm com o símbolo da vitória. Numa outra sequência de non sense,  soldados americanos drogados e sem hierarquia de comando constroem à noite uma ponte de Lung, sobre o rio do mesmo nome, que os vietcongs destroem durante o dia, para garantir ao comando a abertura de uma estrada estratégica ligando o nada a coisa nenhuma.
Neste cenário caótico, à  medida que se aproxima do destino e examina os documentos a respeito do coronel Kurt, um oficial de elite que poderia ter chegado a general, os  pensamentos de Willard  acerca do seu alvo e de sua missão vão se tornando cada vez mais conflitantes. Um fotógrafo, Dennis Hopper considera o coronel um filósofo.
O filme tem duas versões para o público. A primeira com 150 minutos, e a segunda, editada em 2001, Apocalypse Now Redux, tem 210 minutos, 60 minutos a mais de cenas adicionais.  O filme é baseado na obra Heart of Darkness, em que o alter-ego de Conrad, Marlow, curioso das terras inexploradas ou quase inexploradas da África, resolve empregar-se numa companhia belga de extração de marfim no Congo, onde decepciona-se com o tratamento desumano dispensado aos nativos pelos colonizadores, e com o estado de abandono da colônia.
Marlow  é designado, para acompanhar o grupo que partirá em busca de Kurtz, um homem cheio de ideais humanitários, dotado de excepcionais qualidades intelectuais e artísticas, que há meses não manda notícias de si  e nem do marfim.  No filme  e no livro, Kurtz parece ser o retrato da falência do humanitarismo sob interesses econômicos e o individualismo exacerbado.
O poema que o Coronel Kurtz lê, na presença de Willard, é The Hollow Men, de T.S. Eliot e na tomada de câmera revela que The Golden Bough era um dos livros preferidos do Coronel Kurtz. Marlon Brando lembrando que “somos homens loucos e empalhados com a cabeça cheia de palha”.  Diz também ao seu algoz que ele tem o direito de o matar, mas não o tem de julgá-lo, restando como opção apenas o horror.  
Brando aparece somente alguns preciosos minutos na parte final do filme, e  seu personagem é mostrado somente em tomadas com pouca luminosidade , a fim de disfarçar a sua obesidade, dando ao seu personagem, o Coronel Kurtz, um ar misterioso e enigmático. A morte de Kurtz é comparada com o abate de um touro através de uma fusão de imagens similar a que marca o início do filme com a superposição de bombardeios de florestas e alvos militares com bombas incendiárias de Napalm. (Kleber Torres)

Ficha Técnica
Titulo : Apocalypse Now
Direção:       Francis Ford Coppola
Elenco : Marlon Brando, Robert Duvall, Martin Sheen, Frederic Forrest, Sam Bottoms, Laurence Fishburne, Albert Hall, Dennis Hopper
Roteiro:        John Milius  e Francis Ford Coppola, baseado em O Coração das Trevas de Joseph Conrad
Gênero : Drama

Lançamento: 1979

Dois momentos da repressão



Os 20 anos de ditadura que prevaleceram após o golpe militar de 1964 não deixaram apenas um rastro de presos políticos,  dos quais pelo menos 1.843  foram torturados durante o período de 1964 a 1985 e mais de 400 mortos, além de  130 milhões de brasileiros insatisfeitos e frustrados. A repressão e a ditadura militar também geraram centenas de livros, discos, filmes, além de jornais censurados ou liberados.
No cinema “Prá Frente Brasil” e “Eles não usam Black Tie” aparecem como duas  sagas da ditadura com leituras diversas e enfrentando problemas com a censura. O primeiro, disseca numa ficção calcada na realidade de Operação Bandeirante, com  a institucionalização da tortura e que teve como um dos símbolos o delegado Fleury e a conquista do tricampeonato mundial no período de Garrastazu Médici .
O segundo filme de Leon Hirsman, adaptado a partir de uma peça de sucesso de Gianfancesco Guarnieri, também com excelente desempenho como ator, fazendo uma radiografia ampla do movimento operário brasileiro durante o regime de exceção. O filme tem fortes conotações políticas e ideológicas, chegando na sua essência a ser panfletário, mas sem perder a sua característica  de uma obra de arte universal ao transcender em termos de valores morais e do drama existencialmente humano dos seus personagens.
Por estas qualidades artísticas ele conquistou prêmios internacionais como o Leão de Ouro, um prêmio especial do júri no Festival de Cannes, em 1981 e o Prêmio Coral, no II Festival do Cinema Latino Americano, em Cuba e no Festival dos Três Continentes, na França. Ainda em 1981, ele recebeu o prêmio Air France de cinema como melhor filme, melhor diretor, melhor atriz e um prêmio especial para Guarnieri.  Dois anos depois, ele ainda voltou a ser premiado no festival de Cartagena, na Colômbia.
Os resultados exitosos do filme podem ser atribuídos a vários fatores a exemplo do texto primoroso adaptado para o cinema, bem como a competente direção de Leon Hirzman, que reuniu um elenco de primeiro time com Carlos lberto Ricelli (Tião), Bete Mendes (Maria), Fernanda Montenegro (Romana),  Gianfracesco Guarnieri (Otávio) e Milton Gonçalves (Bráulio).
Em síntese, o filme conta a história de uma família de operários convivendo com a pobreza, a falta de recursos e seus dramas. O pai, Otavio é um líder operário que havia passado três anos três anos na cadeia e que como torneiro mecânico de uma indústria de grande porte, assume a luta em defesa de melhores salários e por melhores condições de trabalho.
O seu filho Tião, por seu turno, segue um roteiro inverso, preocupado com o casamento imediato com Maria e se prestando a apontar colegas de trabalho, que demitidos  sumariamente facilitavam assim a sua ascensão e escalada na empresa, com promoção para outros cargos. Numa greve, Tião é desmascarado como dedo-duro e identificado como um fura greve. Ele acaba perdendo o apoio do pai e da própria namorada, além do emprego que abandona por falta de ambiente entre os colegas.
O filme termina com uma passeata no enterro do líder operário Bráulio, morto em um piquete diante da fábrica. Sua morte não foi acidental e acabou no filme como uma bandeira de luta para fortalecer o movimento  dos trabalhadores. Os diálogos secos e de poucas palavras deram densidade ao filme, que em seu conjunto nos leva a um questionamento  sobre o destino de um país depois de 15 anos de ditadura – período em que Eles não usam Black Tie foi produzido-, com a formação de uma geração apática e alienada, além de deixar um povo marcado pelo medo e pela insegurança, o que se reflete na violência urbana, uma outra face da mesma moeda.
Eles não usam Black-Tie também mostra com nitidez como funcionava a repressão  policial e uma batida  num bairro operário, na sua abertura e a caça sistemática de policiais fortemente armados com metralhadoras na captura de um marginal pé de chulé, que acaba morto com rajadas de metralhadoras caindo próximo a um grupo de trabalhadores indiferentes e que as vezes também são vitimas dos assaltos, mas também não estavam indenes à ação repressiva e coercitiva dos policiais.
Prá Frente, Brasil (1982) foi historicamente um dos primeiros filmes a tratar da questão da repressão durante e ditadura militar no Brasil, durante o período de  1964 a 1985 e por isso mesmo caiu nas malhas da censura e só foi liberado para exibição  no ano seguinte à sua produção. O filme conta a  história de Jofre (Reginaldo Farias), o homem de classe média sequestrado e torturado por engano sob acusação de subversão, um drama que afeta a ele, seus familiares e as pessoas que o cercam.
O drama tem também  como cenário o ano de  1970, na época dos anos de chumbo e do milagre econômico. Assim, enquanto o país vibra com a conquista do tricampeonato  mundial pela seleção brasileira de futebol, embalado pela música ufanista Prá Frente, Brasil, presos políticos eram torturados por agentes da repressão e até pessoas mesmo inocentes eram vítimas da violência oficial.
Jofre é preso ao dividir um táxi com um militante de esquerda, e acaba preso e submetido a inúmeras sessões de tortura. O seu irmão Miguel (Antônio Fagundes)  e sua mulher Marta (Elizabeth Savalla) tentam encontrá-lo através dos meios legais, mas se deparam com a omissão da polícia em investigar o caso. Miguel fica sabendo da atuação de um grupo de repressão política patrocinado por empresários e tenta inutilmente ajudar ao irmão desaparecido.
Jofre consegue fugir de seu cativeiro, mas é alcançado e morto pelos torturadores ao som dos gols do jogo da final entre Brasil x Itália e da marchinha "Pra frente, Brasil", que dá o nome ao filme. Vale salientar que é justamente  nas sequencias finais do filme, ao partir do suspense para a ação, inclusive com cenas de tortura e de vingança, que estão as melhores cenas de Prá Frente, Brasil, desde o cerco à casa onde estão os familiares de Jofre, com tomadas tradicionais de faroestes, e terminando em uma perseguição de carro numa autoestrada  no estilo dos road-movies. (Kleber Torres)


Ficha Técnica :
Pra frente, Brasil
Direção        : Roberto Farias
Roteiro: Roberto Farias
Elenco          Reginaldo Farias, Natália do Valle. Antônio Fagundes, Elizabeth Savalla, Carlos Zara, Cláudio Marzo, Neuza Amaral, Ivan Cândido, Flávio Migliaccio e Milton Moraes
Ano : 1982

Duração : 105 min 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Caminhos da vida e da morte






Caminhos Violentos (At close range) reúne uma gama de crimes e atentados calcados numa história real,  dirigida por James Foley e reunindo um elenco estrelado por Sean Penn, Christopher Walken, Chris Penn, com Mary Stuart Masterson e Crispin Glover em papéis coadjuvantes e com a canção-tema, Live to Tell, interpretada por Madonna. O enredo tem como base a vida de uma quadrilha liderada por Bruce Johnston que operou durante os anos 1960 e 1970 na Pensilvânia.
O filme revela  a história do crime organizado e dos seus tentáculos no território norte americano, onde o grupo chefiado por Brad Whitewood Senior (Walken) se envolve em atividades criminosas  de todos os níveis  desde pequenos furtos ao roubo de tratores e máquinas pesadas. A quadrilha opera com todo o poder de fogo usando galpões industriais para estocar os produtos dos roubos e operar a logística da sua distribuição.
Ele também não hesita em matar eliminando delatores e concorrentes, mantendo um rígido sistema de controle das relações para cada integrante da quadrilha, que deve seguir a uma serie de normas para não violar a segurança de um grupo, em que os assuntos e referências  pessoais são irrelevantes e no máximo tratados como questões secundárias. Nem os filhos ficam fora da violência do poderoso gangster, que estupra até a namorada do mais jovem como advertência.
Sean Penn interpreta Brad Whitehwood Jr., filho  e herdeiro natural do  chefão da quadrilha, que tinha um elevado padrão de vida, e fazia questão de se exibir a sua riqueza e poder com carros esportivos, aspecto jovial, mas exercendo mão de ferro o comandando de um verdadeiro império criminoso. Ele coordenava todo o processo operacional da quadrilha, desde o planejamento das ações, execução dos roubos e inclusive monitorando o sistema de comercialização final dos produtos roubados.
O conflito de interesses surge quando Júnior que  ingressou no grupo do pai, depois se afasta,  e pretende se estabelecer por conta própria, como concorrente, ao montar sua própria  quadrilha,  ocupando espaço e uma faixa própria no mercado do crime. Ele acaba preso e colocado fora de circulação,  mas os demais integrantes da sua gang e até mesmo o seu irmão mais novo, Tommy, acabam eliminados pelo grupo de Brad Whitehwood, o pai, que os executa pessoalmente sem clemência.
O chefão também fez a queima de arquivo até mesmo de integrantes do seu bando, porque temia que as investigações em andamento através do FBI acabassem culminando na possível desarticulação do seu grupo, sobre o qual Júnior e Tommy  tinham preciosas informações sobre a estrutura, modo de operação e canais de comercialização.  O fato é que mesmo com a prisão de Jr., os seus amigos continuaram a ser eliminados de um a um e ao ser solto, ele acaba vitima de um atentado planejado pelo pai.
 Ferido e temendo pela sua segurança pessoal, ele acaba se vingando entregando o pai à polícia, através do instituto da delação premiada  e não hesita em chaegar às barras de um tribunal para denunciá-lo, contribuindo diretamente para a sua condenação, protegido naturalmente por um forte e pesado esquema de segurança.(Kleber Torres)

 Ficha Técnica:
Titulo: Caminhos Violentos
Direção: James Foley
Roteiro: Elliott Lewitt e Nicholas Kazan (história)
Elenco:  Sean Penn, Christopher Walken,
Gênero            drama
Música Patrick Leonard
1986 • cor • 111 min

Lançamento    Alemanha Ocidental fevereiro de 1986 (Festival de Berlim)

A Lei de Murphy




          Sem nada a ver com a Lei de Murphy aquela que pressupõe que se algo pode dar errado, efetivamente dará, o filme a Lei de Murphy (The Murphy Law),  dirigido por J.Lee Thompson, narra uma bem urdida trama de vingança e loucura de uma mulher psicopata. Num roteiro que associa violência e ação o filme conta a historia de uma assassina em série que procura se vingar  de todas as pessoas a quem considere responsáveis pela sua prisão e posterior condenação.
Entre os possíveis culpados pela sua prisão estão o policial Jack Murphy, interpretado por Charles Bronson, cuja mulher Jan fora assassinada pela vingadora interpretada por Carrie Snodgress. A assassina ao planejar suas execuções faz um dossiê fotográfico e traça o perfil de cada uma das suas futuras vitimas a serem eliminadas sem nenhuma contemplação.
A mulher também executa um policial que fazia dupla com  detetive Jack Murphy, considerado um tira  de métodos muito duros, radicais, eficazes e heterodoxos. Ela também acaba executando um juiz, que a condenou, eliminado na piscina da sua casa. A lista inclui ainda um promotor do Ministério Público e a mais qualquer pessoa que se interpusesse ao seu caminho.
Mas o policial Murphy não tinha apenas de acompanhar os passos da mortal vingadora, como também enfrentava um grupo de mafiosos sedentos de sangue e que estavam na sua cola.  Ele havia provocado  o ódio de um dos chefes da máfia, Frank Vicenzo, e nesta trama vê-se pouco tempo depois acusado da morte da sua ex-mulher, Jan.
Murphy dirige-se a casa de Vicenzo para o forçá-lo a confessar a sua culpabilidade no crime, mas, apercebe-se de que o gangster não tem nada a ver com a morte da sua mulher. O fato é que perseguições, muitos crimes, além de uma violência crescente são incorporados a um roteiro ágil de 98 minutos, que culmina com o obvio: a vitória do bem na luta contra o mal, inclusive com a eliminação de policiais corruptos que haviam se envolvido com a Máfia. Ele também localiza e pune de forma exemplar a vingadora assassina, encerrando um ciclo de sangue e violência. (Kleber Torres)

Ficha Técnica
Título: Murphy´s Law
Direção:J. Lee Thompson
Com:Charles Bronson, Kathleen Wilhoite, Carrie Snodgress, Robert Lyons
Ano:1986

Duração:98 minutos

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Deus e o Diabo na Terra do Sol abre o Festival de Cinema de Brasília





A exibição do antológico  Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, que completa 50 anos de lançamento, marcou a abertura do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro na noite de terça-feira(16). A obra  considerada um clássico pelos críticos e foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1964.
Paloma Rocha, filha de Glauber, agradeceu a homenagem  em nome dos familiares do cineasta  declarando que  “ a recebo com carinho e orgulho. Acho que Deus e o Diabo abrir esse festival é uma honra”. Ela elogiou a retomada do antigo formato do festival, em que os filmes competem sem a separação em gênero, privilegiando a autoria, a invenção e a qualidade dos filmes que estão em competição.
Além da exibição  do filme, com  a apresentação de uma cópia inteiramente restaurada, quem esteve na abertura acompanhou a apresentação de uma orquestra de câmara integrada  por músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, que sob a regência do maestro Cláudio Cohen, interpretaram  a Bachiana nº 5, de Heitor Villa-Lobos e Perseguição, de Sergio Ricardo, que  integram a trilha sonora do filme.
Sinopse
O filme rodado na Bahia, conta a história do cangaceiro Manuel e sua mulher Rosa,que são obrigados a viajar pelo sertão, após ele ter matado o patrão. Em sua jornada, eles acabam cruzando com um Deus negro, um diabo loiro e um homem temível que seria um coronel que se recusava a perder o controle politico e econômico da comunidade onde vivia.
Deus e o Diabo na Terra do Sol é considerada uma obra-prima do polêmico Glauber Rocha, um dos mais importantes cineastas brasileiros da história,que considerava fundamental uma ideia na cabeça e uma câmara na mão. Ele também nos legou uma obra literária inclusive com o Riverão Susuarana, seu  único romance, onde  a procura reinventar numa aventura joyceana a língua portuguesa, criando vocabulários e uma nova sintaxe.(Kleber Torres)
Ficha técnica
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha
Gênero: Drama
Elenco: Othon Bastos , Geraldo Del Rey , Sonia Dos Humildes, Maurício do Valle, João Gama  e  Yoná Magalhães
Duração: 115 minutos


Programação

O coordenador-geral do festival, Miguel Ribeiro, lembrou que, nesta edição, as exibições e atividades do  47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ganharam novos espaços e mais quatro cidades do Distrito Federal participam da programação: Taguatinga, Gama, Sobradinho e Ceilândia.
A programação contempla a exibição de filmes das diferentes regiões do país, mostrando um panorama da produção atual do cinema brasileiro,com apresentação de seis longas-metragens e 12 curtas,além de abrir espaço para debates e seminários, sobre   O Papel das TVs Públicas e Privadas no Desenvolvimento de Políticas Locais, amanhã(18) e sobre a Produção Independente,na segunda feira (22).

Programação de hoje (17)
10h - Cine Brasília, CG do Gama, Sesc Ceilândia, Teatro da Praça-Taguatinga e Teatro de Sobradinho
Festivalzinho (filmes para crianças), para escolas agendadas - Programação I

14h30 - Museu Nacional da República, auditório II, entrada franca
Seminário - Políticas pública para o audiovisual
com Manoel Rangel (Diretor-presidente da Ancine) e Hamilton Pereira (Secretário de Estado de Cultura do DF).

15h30 - Museu Nacional da República, auditório II, entrada franca
Seminário - Financiamento de projetos e novos formatos
Palestrantes: Felipe Vogas (Superintendente de fomento - Ancine) e Mário Borgneth (Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura).

16h - Cine Brasília, entrada franca
Mostra Reflexos do Golpe: O caso dos irmãos Naves (1967), de Luiz Sérgio Person. Com Anselmo Duarte, John Herbert, Juca de Oliveira, Raul Cortez, Sérgio Hingst. Ficção, p&b, 85 min, 14 anos.

16h - CG do Gama, Sesc Ceilândia, Teatro da Praça de Taguatinga e Teatro de Sobradinho
Mostra Luta na Tela: Quase dois irmãos (2004), de Lúcia Murat. Com Caco Ciocler, Flávio Bauraqui, Werner Schünemann, Antônio Pompêo, Maria Flor. Ficção, cor, 102 min, 16 anos.

18h - Museu Nacional da República, auditório I, entrada franca
Mostra Eduardo Coutinho: Santo forte (1998). Documentário, cor, 80 min, 16 anos.

19h - Museu Nacional da República, auditório II, entrada franca
Mostra Horizonte Brasil: Porto das Caixas (1962), de Paulo Cezar Saraceni. Com Irma Álvarez, Margarita Rey, Paulo Padilha, Reginaldo Faria. Ficção, p&b, 80 min, 14 anos.

20h - Museu Nacional da República, auditório I, entrada franca
Mostra Continente Compartilhado – Coproduções latinas: Artigas - La Redota (Uruguai, Brasil, 2011), de Cesar Charlone. Com Jorge Esmoris, Yamandú Cruz, Franklin Rodríguez, Gualberto Sosa e Rodolfo Sancho. Ficção, cor, 118 min, 14 anos.

20h30 - Cine Brasília (R$ 6 e R$ 12)
Mostra competitiva de curta-metragem: Loja de répteis (PE), 2014, de Pedro Severien. Com Fransergio Araujo, Maeve Jinkings, Giordano Castro, Cintia Lima. Ficção, cor, 17 min, 16 anos. Bashar (SP), 2014, de Diogo Faggiano. Com Rami Jarrah Saleh Fekry. Documentário, cor, 18 min, 16 anos.
Mostra competitiva de longa-metragem: Sem pena (SP), 2014, de Eugênio Puppo. Documentário, cor, 87 min, 12 anos.

20h30 - CG do Gama, Sesc Ceilândia, Teatro da Praça-Taguatinga e Teatro de Sobradinho, entrada franca

Mostra competitiva de curta-metragem: Loja de répteis (PE), 2014, de Pedro Severien. Bashar (SP), 2014, de Diogo Faggiano. Mostra competitiva de longa-metragem: Sem pena (SP), 2014, de Eugênio Puppo.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Festival de Brasilia inclui a exibição de 60 filmes



Começa hoje (16) a 47ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Até o próximo dia 23, o público terá a oportunidade de acompanhar mais de 60 filmes que farão parte das mostras competitivas e paralelas. A  noite de abertura vai homenagear Glauber Rocha com a exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, que completa 50 anos. O evento, realizado para convidados, contará também com a apresentação da Orquestra de Câmara, formada por parte dos músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Os músicos vão interpretar a Bachiana nº 5, de Heitor Villa-Lobos, que faz parte da trilha sonora do filme.
O coordenador-geral do evento, Miguel Ribeiro, conta que essa descentralização é importante para levar o cinema a toda a cidade. “Estamos atuando diretamente com a formação do público e também dos profissionais que vão entrar no mercado de trabalho”. Além de levar as projeções para as escolas, o festival deste ano traz uma novidade: “Nesta edição, em vez da locação do equipamento, vamos adquiri-lo para que fique nas escolas. Estamos intensificando a nossa relação com a educação”, explica Miguel. Foram escolhidas instituições tradicionais da cidade: o Teatro da Praça de Taguatinga, o GC do Gama e o Teatro de Sobradinho.

Além da mostra competitiva de curtas e longas-metragens, outras cinco serão exibidas paralelamente. Filmes produzidos durante a ditadura militar relembram os 50 anos do golpe. Obras posteriores ao período mostram o debate atual do tema. As coproduções latinas também serão temas abordados, além de uma homenagem ao documentarista Eduardo Coutinho.


20h - Cine Brasília
Cerimônia de abertura, com apresentação de orquestra de câmara, com nove músicos, sob regência do maestro Claudio Cohen, interpretando arranjo armorial para Perseguição (composição de Sérgio Ricardo).
 Homenagem a Glauber Rocha, com a presença dos filhos Paloma Rocha e Henrique Cavalleiro, do ator Othon Bastos, e exibição de cópia restaurada de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964).

A advertência



O filme L’Avvertimento (A Advertência) pode ser analisado e compreendido a partir da sua própria sinopse: Itália 1980, o delegado Baresi (Giuliano Gemma) e o comissário Martorana (Martin Balsam) investigam a morte de um amigo comum, que seria uma das principais testemunhas em um inquérito  sobre bancos italianos e banqueiros internacionais, numa rede de negócios escusos e com uma clara referência ao caso rumoroso da P2 e do banco do Vaticano.
O filme segue a mesma linha dos policiais italianos, que têm sempre como pano de fundo o questionamento político e criticas contundentes à corrupção institucional e à Máfia. Isso faz com que de certa forma o filme perca a sua densidade psicológica, ganhando dimensão política em termos genéricos com questionamentos mais amplos sobre a própria realidade objetiva dos personagens e à sociedade em que vivem.
Como análise política do sistema, Damiani simplesmente diagnostica os problemas dos bastidores do complicado universo das negociatas e do mundo financeiro, o que envolve toda uma gama de interesses e fatores diversos mas, revela por trás da trama uma teia de corrupção, crimes, e violência institucionalizada com amplo respaldo político e financeiro. 
Tudo começa com um misterioso depósito de 100 milhões de dólares na conta de um modesto delegado de policia e acaba com uma surpresa interessante e que vale a pena descobrir.


Gênero: Policial
Direção: Damiano Damiani
Elenco: Giancarlo Zanetti, Giuliano Gemma, Laura Trotter, Martin Balsam
Duração: 111 min.
Ano: 1980
País: Itália

Cor: Colorido

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Mundo de Corman: Proezas de um Rebelde de Hollywood







          O Mundo de Corman: Proezas de um Rebelde de Hollywood é um rico documentário sobre a vida e a carreira de Roger Corman, um dos maiores produtores de filmes de baixo custo da história do cinema. Ele não só revelou atores como Jack Nicholson e Robert de Niro, como conviveu com diretores como Francis Ford Copolla e Martin Scorsese, tendo a seu crédito mais de 400 filmes e o legado de  um Oscar pelo conjunto da sua obra, como reconhecimento de sua contribuição ao cinema.
Roger William Corman nasceu em 5 de abril de 1926 e  inscreveu sua história no cinema como diretor, roteirista e produtor de filmes B, a maioria financiado pela American International Pictures de sua propriedade. Formado em engenharia pela Universidade de Stanford e ex-aluno de Literatura Inglesa em Oxford, ele se parecia mais um intelectual, um homem extremanente culto, educado, com um estilo pessoal e um faro para ganhar dinheiro com filmes baratos, que se pagavam e ainda financiavam produção subsequente.
Corman se consagrou entre os autores independentes de Hollywood, turbinando as carreiras de diversos diretores e atores hoje consagrados, entre os atores, como Robert de Niro, Vincent Price e Jack Nicholson, de quem era amigo pessoal e que reconhecem a sua criatividade e competência em reduzir custos. Entre os  diretores ele  conviveu com John Landis, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, James Cameron, Tim Burton, Ron Howard, Joe Dante, Peter Bogdanovich e Jonathan Demme, alguns dos quais chegou a financiar projetos.
Nos anos 60 ele também realizou uma série de adaptações para o cinema de oito filmes inspirados nos contos de Edgar Alan Poe, entre os quais no poema O Corvo, O Solar Maldito, A Orgia da Morte, O Túmulo Sinistro, escritos por roteiristas talentosos como Richard Matheson, Charles Beaumont, Robert Towne, e  empregando atores que andavam relegados ao esquecimento pela indústria cinematográfica, entre os quais, Peter Lorre e Boris Karloff. Ele também foi também responsável pela consagração do ator Vincent Price como protagonista de filmes de terror
Corman contava que teve prejuízo apenas com um único filme,  The Intruder – O Intruso, de 1962, uma história anti-racista estrelada por William Shatner interpretando Adam Cramer, baseado em um romance de Charles Beaumont. O filme de cunho social valeu pesadas criticas ao cineasta, que chegou a ser chamado de comunista numa América ainda sob o impacto da onda do Macartismo, um período de perseguição política que teve seu auge entre os anos 40 e 50. (Kleber Torres)



Ficha Técnica:
O Mundo de Corman: Proezas de um Rebelde de Hollywood  (Corman's World: Exploits of a Hollywood Rebel)   
Direção: Alex Stapleton
Elenco: Robert de Niro, Jack Nicholson, Scorsese, Paul W.S. Anderson, Allan Arkush, Eric Balfour, Peter Bogdanovich, David Carradine e
Roteiro: Alex Stapleton
Gênero: Documentário
Origem: Estados Unidos
Ano : 2011

Duração: 95 minutos

1984







“Quem controla o passado controla o futuro.   Quem controla o presente controla o passado”, esta frase que abre o filme 1984, baseado na obra homônima  de George Orwell, escrita em 1948 e publicada no ano seguinte, define a essência do autoritarismo e do exercício do poder absoluto pelos regimes autocráticos.
O filme também representa um libelo e um alerta contra o uso da tecnologia cada vez mais avançada a serviço dos regimes autoritários, revelando dois problemas dos nossos dias: a perda da privacidade das pessoas e a despersonalização do individuo transformado em um número estatístico ou numa não pessoa, apesar das fotos sorridentes no facebook e da proliferação de selfies.
1984 mostra a vida de Winston Smith (John Hurt) um funcionário burocrático que trabalha numa repartição de controle social. Ele atua reescrevendo a história, suprimindo ou trocando fotos e biografias ou mesmo falsificando as estatísticas, que mostram os avanços nem sempre reais de um sistema que sobrevive a partir de duas bases de sustentação: o poder da coerção exercido através do Grande Irmão, um computador que tudo sabe e tudo vê instalado nas casas, empresas e órgãos públicos, além do apoio da ação operacional da onisciente Polícia do Pensamento.
O erro de Winston foi reagir às manipulações de dados e informações  por um regime autoritário e belicoso, que se impõe pelo medo e através de uma linguagem dúbia: a Novilíngua e o duplipensar, que funcionam como fatores de coesão social interna contra um inimigo impessoal e invisível, que pode ser Oceania, Lestásia, Eurásia, ou outro país qualquer a depender da ocasião ou das circunstâncias. Outro inimigo anônimo e que está em todos os lugares é personificado por um personagem inexistente como Goldstein, uma peça de ficção do sistema para justificar a repressão aos seus opositores.
Winston também desafia o sistema comprando bagulhos em mãos de um antiquário, que vende de tudo, como uma centenária bola de vidro e até giletes velhas ou  aluga por quatro dólares um quarto fora da rede de um sistema impessoal, como também se apaixonando por uma mulher Julia (Suzanna Hamilton), numa sociedade que impõe a castidade e o medo institucional através da mera denúncia e da intimidação. A repressão sexual também é um instrumento de poder do Big Brother e os dois acabam flagrados pelo Grande Irmão no quarto onde realizavam encontros esporádicos.
O elenco reúne ainda Richard Burton, que morre no mesmo ano do filme, em 1984, aos 60 anos,  no papel de O’brien, que comanda a Policia do Pensamento e opera a tortura de Winston, a quem transforma numa impessoa, ou seja, pessoa não existente e outsider de um sistema em que o crime ideológico, o crime idéia é morte. Para ele, o poder é simplesmente a capacidade de infligir a dor e de humilhar, para impor a lealdade ao partido.
Um dos recursos de dominação do sistema comandado pelo Grande Irmão (Big Brother) é  a própria língua usada  de forma simplificada e redutível a palavras subvertidas, fundidas ou invertidas, num processo de institucionalização da mentira e da fraude. O sistema se impõe através da manipulação permanente de vocábulos, conceitos e informações, com a destruição diária de centenas de palavras, fotos e imagens, reduzindo a língua à sua expressão mais simples, rasteira e banal.
Quando Winston é detido encontra na prisão um amigo também preso depois de denunciado por um dos filhos, que faz a sua autocrítica e admite a sua culpa por crimes conta o governo, que prega a guerra e a paz, a liberdade e a escravidão, numa dialética louca, incompleta e logicamente incompreensível porque contraditória e esquizofrênica. O regime se sustenta também através da corrupção, com o acesso dos poderosos ao café a ao açúcar verdadeiro, coisas acima da imaginação dos proletários, num sistema em que a mentira se torna verdade e depois a verdade acaba virando uma mentira. 
Num sistema em que a questão não é mais a de se manter vivo, mas a de permanecer humano na sua essência, o filme 1984 leva o espectador a uma série de reflexões e análises sobre os dias hodiernos e a pós modernidade, que se impõe com uma avalanche de equipamentos sofisticados (gadgets) e o desenvolvimento tecnologia avançada, que põe em risco a privacidade do indivíduo. Alerta ainda para a questão da tecnologia com o fortalecimento de sistemas autoritários, que usam de forma crescente o controle da informação e a manipulação do fluxo de dados, como instrumento de manutenção do poder  para um partido único e centralizador.
Assim, uma das sequências mais dramáticas é da tortura de Winston,  comandada por O’Brien, que usa a dor como artifício e instrumento para a despersonalização do interrogado, que passa a duvidar até se dois mais dois são quatro ou os cinco dedos da mão do interrogador, ao impor que só a mente disciplinada pode ver e perceber a realidade subjacente. A tortura também coloca em cheque todos os seus valores e o seu universo que se dilui de forma gradativa, o que ocorre em paralelo à sua visível degradação física, moral e psicológica, fazendo Winston questionar: “como posso evitar o que meus olhos veem?” Talvez uma duvida supracartesiana.
            A obra de Orwell é uma metáfora mostrando o que pode representar  o controle da informação a serviço do aparelho do estado ou de grupos, que podem monitorar a vida e a realidade das pessoas, que são maleáveis e sensíveis. O’Brien diz à sua vitima ao levá-lo para a sala 101, onde está a pior coisa do mundo, ou seja, aquilo que ele sabe a vitima ter mais medo: “se você é um homem, será o último da sua espécie que foi extinta”.  Será?  (Kleber Torres)

Ficha técnica:
Titulo :1984
Direção: Michael Radford
Elenco: John Hurt; Richard Burton, Suzanna Hamilton, Cyril Cusack, Gregor Fisher
Roteiro: Jonathan Gems, baseado na obra de George Orwell
Música: Eurithmics e Dominic Muldowney
Duração: 113 minutos

Lançamento: (EUA) 1984

terça-feira, 9 de setembro de 2014

As ruas turbulentas de L.A.



Em The Streets of L. A. (Ruas de Los Angeles) a premiada Jeanne Woodward, ganhadora de um prêmio da Academia de Cinema, apresenta uma excelente performance dramática num filme dirigido por Jerrold Freedman, em que  narra os problemas da marginalização dos mexicanos numa cidade americana onde vive um grande contingente de latinos.
No filme Woodward interpreta uma corretora de imóveis, que ao flagrar três adolescentes furando os pneus novos do seu carro, descobre que a policia os deteve mas não os prendeu por considerar inadequado deter quem não cometeu nenhum furto ou roubo e apenas danificava um veiculo, abrindo as portas e janelas da impunidade.
Ele então solicita aos policiais uma relação com os nomes e endereços dos suspeitos, a quem passa a procurar e chega a uma constatação que a violência que a atingiu é reflexo apenas de uma sociedade injusta ou uma conseqüência circunstancial da pobreza e da marginalidade, o que não justifica nem o vandalismo, nem o crime e nem a violência pela violência.
Na sua trajetória investigativa, ela descobre porém o outro lado de uma rica e competitiva cidade americana, em que os migrantes ilegais vivem em condições adversas, marginalizados e explorados, num submundo de subemprego, de salários baixos e marginalização crescente. Sua maior e mais importante constatação é a de que os rapazes que danificaram o seu carro não são de todo maus, mas o filme não aponta para a solução do problema. (Kleber Torres) 

Ficha técnica?
Direção: Jerrold Freedman          Writing Credits (in alphabetical order) 
Elenco :Joanne Woodward, Robert Webber, Michael C. Gwynne, Audrey Christie, Isela Vega, Pepe Serna    e Cliff Emmich, Tom Trujillo e Tom Fitzpatrick



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O abutre






O Abutre  conquistou em 1983 o grande prêmio do Festival de Berlim e conta a história de Gyorgy Cserhalmi, intrepretando o papel de  Jospeh Simon, um engenheiro desempregado, divorciado, que busca uma nova opção como motorista de taxa, mas acaba roubado por duas mulheres e se envolve  num  caso policial que acaba destruindo a sua vida.
Dirigido por Adreas Feren o filme reúne um elenco integrado por Gyorgy Cserhalmi, Hédy Temessy, Zita Perczel e Maria Gladkpwska, para contar uma história aparentemente simples, mas que ganha complexidade para mostrar como um homem de índole pacifica se transforma num seqüestrador.
O filme começa quando duas ladras de luxo conseguem roubar através de um ardiloso golpe todas as economias do taxista e este resolve dar o troco engendrando uma vingança, um prato que se come frio, depois de esgotados os canais legais para recuperação do seu capital.
Simon primeiro procura os caminhos legais, a policia, para a solução do problema, que não só se omite de investigar o caso, como também sequer acredita na história do denunciante. Ele então começa a investigar o caso por conta própria e descobre uma pista que o leva às suas autoras, que vivem instaladas confortavelmente num bairro na área nobre da cidade, com o produto da exploração da boa fé de pessoas assalariadas e carentes.
Ele então resolve executar um plano para fazer justiça com as próprias mãos. Assim,  não só seqüestra o cachorro, como também a filha única de uma das ladras, uma mulher bonita, sofsticada, que nada sabe das atividades criminosas da própria  mãe.
O plano foi bem sucedido. Ele não só consegue o resgate desejado, o que divide com o filho, como também ao saber que estava sendo perseguido pela policia,  decide por uma opção  surpreendente e trágica. Neste sentido, o filme foge aos lugares comuns do happy end e encontra uma saída com inteligência e criatividade. (Kleber Torres)



Ficha técnica:
Título: Dögkeselyü (Original) – O Abutre (1982(
Direção:       Ferenc András
Duração:      115 minutos
Roteiro:  Ferenc András e Miklós Munkácsi
Elenco:  Ferenc Bács, György Cserhalmi, Hédi Temessy, Maria Gladkowska,  Péter Blaskó e Zita Perc

Hungria

sábado, 6 de setembro de 2014

O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar



O marinheiro que perdeu as graças do mar, baseado no romance de Yukio Mishima, aparece como uma alternativa inteligente e uma boa opção para o espectador através de um roteiro mais elaborado sobre o amor e o ódio. O filme dirigido por Lewis John Carlino, reúne no elenco Kris Kristofferson e  Sarah Miles.
Tudo se resume num tempestuoso e incestuoso triângulo, quando através de um pequeno buraco na parede do seu quarto  um rapaz de 13 anos, constrói  e enfrenta os ciúmes provocados pela relação da mãe, uma viúva atraente que se apaixona por um oficial da marinha mercante.
Por detrás deste cenário aparentemente ilusório e superficial esconde-se um drama complexo e mundo inteiro de contradições espirituais, um cosmos que o rapaz vai construindo interiormente, em oposição ao mundo real. O mar aparece como uma metáfora num quadro relações em que ele  funciona como símbolo do poder maior, o poder que destrói, através do ódio e vingança.
O filme revela o confronto do eu interior com o mundo e com a ideia de expiação do mundo pelo poder que destrói e é ao mesmo tempo dialeticamente  criador. No entanto, o confronto do adolescente com o amor carnal é o polo oposto e antítese do poder – revelando apenas  o lado fugaz e mesquinho do ser humano. Neste sentido matar se impõe como o ato supremo de exercício do poder em sua essência e a morte é o único  caminho para uma perfeição inexata.(Kleber Torres)

Ficha técnica:
O Marinheiro que perdeu as graças do mar -(The Sailor Who Fell from Grace with the Sea, 1976)
Direção: Lewis John Carlino
Roteiro: Lewis John Carlino (roteiro) a partir do romance de  Yukio Mishima
Elenco: Sarah Miles, Kris Kristofferson, Jonathan Kahn       Jonathan Osborne
• Gênero: Drama/Suspense
Origem: Reino Unido

• Duração: 105 minutos

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As pedras do dominó





Lavagem cerebral, condicionamento e uma misteriosa guerra de bastidores, em que a violência se sobrepõe a tudo e a todos, são os ingredientes básicos reunidos por Stanley Kramer , para construir com competência  As Pedras do Dominó. O filme é um policial de suspense, em que o crime está de tal forma consorciado ao poder político e econômico, servindo até mesmo como forma complementar e correlata ao seu exercício.
O elenco reúne Gene Hackman, o Popeye de Operação França, além de Candice Bergen, Mickey Rooney e Richard Widmark. A trama se desenvolve  a partir do recrutamento de um detento, um ex-combatente da guerra do Vietnã. condenado a 15 anos de prisão pelo assassinato do marido de sua amante para execução de um figurão do cenário político.
E aí começa uma grande aventura com ingredientes de suspense e muita ação. Ao sair da cadeia, o personagem principal, interpretado por Gene Hackman (Roy Tucker), recebe a proposta indecente de matar um político importante. Como ele se recusa a participar da execução, passa a ser sumariamente perseguido e vitima de um complô para a sua eliminação e das pessoas que estão no seu entorno. Na trama, a própria mulher  de Tucker é morta, e a partir de  então ele arquiteta um plano de vingança contra os assassinos.
Por outro lado, o grupo encarregado de coordenar a execução do político não hesita nem mesmo em eliminar  seus próprios membros e de cuidar que o pistoleiros recrutados num presídio também não tenham uma vida longa e sejam vitimas de  acidentes. O enredo se abstrai das questões éticas e morais, impondo sobretudo a ideia nietzcheana de que o crime não está apenas acima do bem e do mal, mas acima de qualquer contigência.
Vale também a canção principal do filme, Sunny Day Soon, de Billy Goldberg e Harry Shannon, interpretada por Shirley Eikhard, que é uma atração a parte. (Kleber Torres) 




FICHA TÉCNICA
As Pedras do Dominó - The domino principle
Pais:   Reino Unido, Estados Unidos
Gênero: Suspense
Direção: Stanley Kramer
Elenco : Candice Bergen,  Richard Widmark, Eli Wallach, Gene Hackman, Mickey Rooney
Roteiro: Adam Kennedy
Música Original: Billy Goldenberg
Fotografia:    Ernest Laszlo, Fred J. Koenekamp
Efeitos Sonoros:     David M. Ronne, Bernard F. Pincus, Gene Eliot

1977

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Def-Con4



A ficção cientifica sempre foi um tema abrangente e rico tanto em termos cinematográficos como literários. No cinema, uma opção  interessante  é o Defense Condition 4 – Def-Con4, dirigido por Paul Donovan. O elenco reúne Maury Chaykin,  Kate Lynch, Tim Choate e Leonnore Zann, numa história apocalíptica genuinamente trash e com efeitos especiais discutíveis.
O filme conta a história de três  astronautas que retornam à terra hora após a deflagração de uma guerra nuclear global envolvendo a Rússia e Estados Unidos. Aqui, eles descobrem que o mundo se transformou num imenso deserto pós-apocalíptico, onde os sobreviventes são caçados por mutantes canibais e pelos soldados de um novo e violento regime ditatorial, comandado por louco militarista que ainda possui uma ogiva nuclear para impor um clima de medo e mais destruição, o que poderia  significar o fim da humanidade.
Na sua estratégia de sobrevivência, a tripulação que aporta numa área costeira do Canadá deve escapar às zonas de radiação, evitar os canibais mutantes e também ao grupo liderado por um ex-aluno  de uma escola militar que se tornou um governante despótico e autoritário.
Jordan (Kate Lynch) acaba nocauteado com o impacto da nave com o solo. O astronauta Walker (John Walsch) sai da nave numa missão exploratória e acaba rapidamente morto pelos mutantes. Algumas horas depois, protegido pela escuridão da noite, Howe (Tim Choate) se aventura a sair em busca de socorro e de encontrar uma maneira de escapar, dando de cara com Vinny (Maury Chaykin), um sobrevivente que fortaleceu sua casa com armadilhas de arame farpado e detonadores.
À medida que a trama se desenvolve, Vinny, JJ (Lenore Zann) e Howe acabam capturados e levados para uma espécie de fortaleza improvisada construída de lixo e detritos, mas os três devem escapar antes da  explosão de uma ogiva nuclear em 60 horas, o que significa uma luta contra o tempo.
O filme caracteristicamente de classe B pressupõe um alerta para o estabelecimento do que seria uma paz definitiva, levando em conta os cinco prontos básicos do Defense Condition, ou seja, um protocolo que estabelece  os parâmetros para o caso de deflagração de uma guerra nuclear global, bem como para conflitos atômicos localizados e define  as condições para implementação do estado de alerta, atenção e para a própria paz, que seria o estágio cinco e é teoricamente possível.   

Ficha técnica
Def-Con4
Direção: Paul Donovan e Tony Randel (sem créditos)
Roteiro: Paul Donovan
Elenco: Lenore Zann, Maury Chaykin, Kate Lynch, John Walsch e Tim Choate
Lançamento: 1985
Duração:      88 minutos

País   Canadá

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Muito além do universo zumbi






Dois filmes, um brasileiro “A Capital dos Mortos” (2008) e outro cubano “Juan dos Mortos” (2011), tratam de um tema em comum, mas universalizado pelo cinema e pela literatura: os zumbis/mortos vivos. Os dois têm como foco as capitais dos países respectivos invadidas sem explicação por mortos vivos, com um enfoque de crítica política e social embutida no seu bojo como uma metáfora, sendo o primeiro como uma tragédia e o segundo como uma comédia de terror ou talvez como  um filme de humor negro deveras inteligente e irônico.
“A Capital dos Mortos” é um filme brasiliense totalmente independente, lançado pela produtora Vortex Filmes, e é historicamente o primeiro longa do cinema nacional a explorar o gênero zumbis. O projeto dirigido por Tiago Belotti,  só foi possível devido a um esforço coletivo e o apoio do trabalho voluntário de técnicos e atores durante 28 meses de trabalho, com a superação de dificuldades as mais diversas, tendo entre os cenários da capital federal a Ponte JK, o Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios.
O filme faz uma referência ao padre italiano Dom Bosco, que em 1883,  teve uma visão profética que a humanidade seria testada e que a cidade de Brasília, entre os paralelos 15 e 20  seria o palco de uma grande mudança. O visionário também viu sobre três gerações de sessenta anos e alertou para a terceira:  “aos filhos dessa terra, pois nesse dia, ela vomitará os seus mortos, que caminharão como bestas sem almas entre os vivos, e aquele que cair no domínio de um deles, um deles, se tornará”.
“A Capital dos Mortos Vivos” trata  da terceira geração, quando a cidade começa a ser tomada por zumbis e um grupo de amigos terá que fazer o possível e impossível para sobreviver quase sem chances, sem perspectivas e sem esperança.  Um deles conclui na parte final do filme, que “a vida é uma merda”, morrendo logo em seguida, ao ouvir a aproximação de um helicóptero que poderia salvá-lo se chegasse a tempo e depois de um contato com uma voz anônima pelo rádio.
Entre as curiosidades citadas pela produção está o fato de que a polícia foi acionada cinco vezes durante as filmagens de A Capital dos Mortos, sendo   a primeira delas numa cena no corredor de um prédio, onde a atriz gritou tanto, que uma vizinha achou que de fato alguém estava sendo assassinado. No filme foram utilizados cerca de 30 litros de sangue cenográfico durante a produção e os  150 zumbis  voluntários se alimentavam de forma intensa de pernas, braços, tripas, rins e das vísceras das vítimas tendo numa das cenas como pano de fundo um cartaz do McDonalds.
Já a sequência  da Ermida Dom Bosco foi considerada  a mais complicada e só foi concluída somente na quarta tentativa.  Na primeira choveu; na segunda não haviam zumbis  suficientes no elenco; e na terceira as atrizes que protagonizavam a cena não apareceram. O elenco reuniu Pablo Peixoto, Gustavo Serrate, Laura Moreira, Jean Carlo, Luísa Viotti, Angélica Ribeiro, Gino Evangelisti, Alice Stamato, Yana Borém, George Duarte, Diana Carneiro, Juliana Gregoratto, Lucas Pimenta, Irani Martins e Luís Machado, além de José Mojica Marins, com o refrão de que Brasília é a capital dos mortos.
Os efeitos especiais são assinados por Félix Rafael. A trilha sonora ficou a cargo de Renan Fersy  e o Device aparece como um dos destaques com as músicas Soul of Maggots e Kill You e o CDK com The Haunting, entre outros grupos. 

Já Juan dos Mortos é uma coprodução cubano-espanhola dirigida pelo argentino Alejandro Brugués. O filme conta a história de um grupo  amigos tem que lidar com o fato de todos a sua volta terem se infectando com um estranho vírus e se tornado zumbis, embora a mídia controlada pelo governo cubano ainda os tratasse como dissidentes financiados pelo governo imperialista dos Estados Unidos.

A ideia é excelente e mostra Juan Dias Villegas como o líder de grupo fora do sistema, que ainda arruma uma forma de ganhar dinheiro diante da tragédia, anunciando em panfletos escritos a mão e num telefone público gasto pelo tempo uma empresa especializadas em eliminar zumbis: "Matamos seus entes queridos". Tudo começa quando Juan e um amigo estão pescando numa jangada, pensando em remar até Miami e acabam matando ainda no mar o primeiro zumbi – um prisioneiro de Guantanamo com sua roupa laranja - com um tiro de arpão na cabeça.
Juan também se define como um sobrevivente  que resistiu em Mariel, em Angola e ao “período especial”, no caso a ditadura castrista, lembrando que é só ter uma chance que ele encontra um jeito e uma saída, com um sotaque bem brasileiro.  O filme como todas as comédias investe no non-sense para produzir críticas não só contra o sistema de governo do país, mas também contra os Estados Unidos e o cinema hollywoodiano, símbolos do imperialismo, mostrando como referências a Cuba o elevador que funciona de forma precária e com defeito por falta de manutenção, ou a vizinha reclamando do uso de medicamentos vencidos pelo marido que virou zumbi.
O filme valoriza a resistência e resiliência  do povo cubano, na superação  das  dificuldades cotidianas. A comédia faz referências  a Todo Mundo Quase Morto, com os personagens usando armas estilizadas como remos, tchaco e taco de basebol como instrumentos para matar os mortos vivos que infestam a cidade e destroem até mesmo um dos seus símbolos, que é igual ao capitólio de Washington.
Juan dos Mortos evita de forma inteligente o debate político e dribla a censura oficial, mas faz referências às burocráticas reuniões dos comitês de bairros, com seu hinário, tendo na agenda o roubo de toca-fitas nos carros estacionados na área e a ausência do líder da comunidade acometido de uma gripe e que depois chega matando varias pessoas já transformado num zumbi. A partir daí ruas de Havana acabam se transformado num cenário de filme de terror e terra arrasada, com muito sangue e corpos espalhados pelo chão, em  contraste com os painéis e as propagandas do regime destacando slogans nacionalistas  como "pátria ou morte", "revolução e morte" e "Havana livre".
Na rádio e televisão locais há informes de problemas de disciplina social em vários pontos da capital, atribuindo a ação a uma interferência do governo americano. Há ainda uma critica aos carros Ladas, que funcionam mal e o povio diexando a ilha em barco e balsas improvisadas e um americano Jones, que tinha um plano B, que não chega a explicar ao grupo de Juan e que os salva de uma chusma de zumbis.

O elenco tem a participação de Alexis Díaz de Villegas, Jorge Molina, Andrea Duro, Blanca Rosa Blanco, Antonio Dechent. Luis Alberto Garcia,Eliecer Ramires e Andros Perugorría e o filme é inteligente, leve, bem humorado, às vezes machista e mostra que a única saída da ilha é ainda o mar.

No final, Juan embarca a filha, o namorado, um amigo e uma criança em direção a Miami num carro transformado num barco, mas opta por continuar em Cuba resistindo aos zumbis como der e vier, tendo como pano de fundo  uma versão roqueira e meio punk de "My Way", clássico da música americana e universal imortalizado por Frank Sinatra, o que o coloca em sintonia com o brasileiro “A Capital dos Mortos”, que tem como referência o hardcore punk. (Kleber Torres)