Considerado
uma critica ao jornalismo e à forma produção de notícias requentadas de releases
e de informações mal digeridas, o filme Abraço Corporativo, dirigido e
roteirizado por Ricardo Kauffman, um
profissional da área de comunicação, revela os bastidores de rádios, jornais e
revistas, bem como incursiona na picaretagem no mundo corporativo.
Tudo
começou com a criação Confraria Britanica do Abraço Corporativo registrada em
cartório, com endereço na internet e que culminou com um filme, com o
personagem Ari Itnem (mentira de trás para frente) Whintaker (nome de fantasia
para dar mais credibilidade ao personagem) interpretado pelo ator Leonardo
Camillo, que também dizia ostentar títulos acadêmicos.
O
filme questiona a maneira como a mídia funciona submetida à lógica da
velocidade da informação e em tempo de produção em escala industrial,
obedecendo aos horários de fechamento das edições. Ele também propõe uma
reflexão sobre a vulnerabilidade do jornalismo frente ao imenso aumento dos canais de comunicação ao longo dos
últimos anos, inclusive a proliferação de blogs e sites.
Vale observar que no contexto do fragmentarismo
do espaço público a mídia vive um
cenário em que as coisas são colocadas,
mas não são debatidas e nem checadas. Além do mais como tudo é produzido na
dimensão do espetáculo, as pessoas produzem para acontecer, mas não realizam,
em síntese: há a canonização da mentira e do engodo, com a prevalência da
mentira que acaba se institucionalizando no mundo empresarial e no político.
O
documentário, de 75 minutos, conta a história do consultor de RH Ary Itnem
Whintaker, e de "teoria do abraço" desenvolvida pela Confraria
Britânica do Abraço Corporativo, ou CBAC, que seria uma franchising de um
movimento similar na Inglaterra – o que não era verdade - e de como ela pode combater uma séria doença
que afeta as pessoas ou empresas pelo Brasil e pelo mundo: a "inércia do
afastamento", talvez um subproduto da falta de comunicação provocada pelo
uso excessivo das novas tecnologias nas corporações, problema responsável pelo
cada vez menos frequente mas sempre saudável diálogo interpessoal.
No
filme foi informado que site da CBAC na
internet, omitia a existência de possíveis clientes do consultor Ary Itnem e
indicava aos interessados em mais
informações sobre a confraria e sua teoria do abraço que visitasse um cartório
de registro de notas da capital paulista. O fato é que ninguém foi ao cartório,
e apenas um repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" chegou a
desistir da matéria sobre o consultor quando não conseguiu do entrevistado o
nome de qualquer cliente disposto a falar o assunto.
Neste
projeto desenvolvido passo a passo Ari Itnem
bombou inicialmente em 2006, na internet, quando pediu abraços em plena Avenida Paulista, recebendo
muitas adesões de incautos. A façanha foi filmada e depois colocada no YouTube,
num filmete assistido por mais de 650 mil pessoas. Por conta desse desempenho, ele
virou figurinha carimbada na mídia nacional, dando entrevistas sobre
relacionamento interpessoal nas empresas e sobre a teoria do abraço corporativo
para praticamente todos os grandes veículos nacionais, numa delas fazendo
jogging e abraçando até uma árvore.
Esse
foi o passaporte para o acesso a entrevistas com Heródoto Barbeiro, da rádio
CBN, e Gilberto Dimenstein, da "Folha de S. Paulo". O assunto também
ganhou espaço em revistas e jornais. A experiência mostrou como os
profissionais de veículos de comunicação
influentes, sem tempo ou paciência para checar dados e informações,
simplesmente aceitam como fato tudo o que lhes é apresentado com aparência de
verdade.
Vale
salientar que rádios, jornais e revistas são sempre procurados por pessoas
sérias e também por picaretas vendendo ideias e projetos os mais diversos,
entre os quais cabe a proposta afetuosa do abraço corporativo num mundo
mecanizado e robotizado.
O
filme exigiu seis anos de trabalho de Ricardo Kaufmann e toda uma equipe de voluntários, que reuniu outros amigos
jornalistas e das duas empresas coprodutoras trabalhando. O Abraço Corporativo
questiona o chamado jornalismo de tese, ou
seja, aquele em que a matéria já sai pronta e acabada da redação, cabendo a
produtores de TV e repórteres apenas preencher a reportagem com um bom
personagem, boas imagens ou frases de efeito ensaiadas.
Além
de contar a farsa de Ary Itnem, o filme inclui depoimentos de especialistas em comunicação entre
os quais os jornalistas Juca Kfouri, Bob Fernandes e Eugênio Bucci, o
psicanalista Contardo Calligaris, e o professor de Jornalismo na Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Carlos Chaparro e até o
ex-governador paulista Cláudio Lembo e Heródoto Barbeiro, este último admitindo
que errou em não investigar a fonte das informações transmitidas numa
entrevista ao vivo.
Ficha
técnica:
Título:
O Abraço Corporativo
Diretor:
Ricardo Kauffman
Roteiro:
Ricardo Kauffman
Elenco:
Leonardo Camillo, Heródoto Barbeiro, Prof. Dr. Manuel Chaparro, Prof. Dr. Mauro
Wilton, Juca Kfouri, Bob Fernandes, entre outros
Ano: 2009
País: Brasil
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