terça-feira, 2 de setembro de 2014

Abraço corporativo ?






Considerado uma critica ao jornalismo e à forma produção de notícias requentadas de releases e de informações mal digeridas, o filme Abraço Corporativo, dirigido e roteirizado por  Ricardo Kauffman, um profissional da área de comunicação, revela os bastidores de rádios, jornais e revistas, bem como incursiona na picaretagem no mundo corporativo.
Tudo começou com a criação Confraria Britanica do Abraço Corporativo registrada em cartório, com endereço na internet e que culminou com um filme, com o personagem Ari Itnem (mentira de trás para frente) Whintaker (nome de fantasia para dar mais credibilidade ao personagem) interpretado pelo ator Leonardo Camillo, que também dizia ostentar títulos acadêmicos. 
O filme questiona a maneira como a mídia funciona submetida à lógica da velocidade da informação e em tempo de produção em escala industrial, obedecendo aos horários de fechamento das edições. Ele também propõe uma reflexão sobre a vulnerabilidade do jornalismo frente ao imenso aumento  dos canais de comunicação ao longo dos últimos anos, inclusive a proliferação de blogs e sites.  
 Vale observar que no contexto do fragmentarismo do espaço público  a mídia vive um cenário  em que as coisas são colocadas, mas não são debatidas e nem checadas. Além do mais como tudo é produzido na dimensão do espetáculo, as pessoas produzem para acontecer, mas não realizam, em síntese: há a canonização da mentira e do engodo, com a prevalência da mentira que acaba se institucionalizando no mundo empresarial e no político.
O documentário, de 75 minutos, conta a história do consultor de RH Ary Itnem Whintaker, e de "teoria do abraço" desenvolvida pela Confraria Britânica do Abraço Corporativo, ou CBAC, que seria uma franchising de um movimento similar na Inglaterra – o que não era verdade -  e de como ela pode combater uma séria doença que afeta as pessoas ou empresas pelo Brasil e pelo mundo: a "inércia do afastamento", talvez um subproduto da falta de comunicação provocada pelo uso excessivo das novas tecnologias nas corporações, problema responsável pelo cada vez menos frequente mas sempre saudável diálogo interpessoal.
No filme foi informado que  site da CBAC na internet, omitia a existência de possíveis clientes do consultor Ary Itnem e indicava aos  interessados em mais informações sobre a confraria e sua teoria do abraço que visitasse um cartório de registro de notas da capital paulista. O fato é que ninguém foi ao cartório, e apenas um repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" chegou a desistir da matéria sobre o consultor quando não conseguiu do entrevistado o nome de qualquer cliente disposto a falar o assunto.
Neste projeto desenvolvido passo a passo  Ari Itnem bombou inicialmente em  2006,  na internet,  quando pediu  abraços em plena Avenida Paulista, recebendo muitas adesões de incautos. A façanha foi filmada e depois colocada no YouTube, num filmete assistido por mais de 650 mil pessoas. Por conta desse desempenho, ele virou figurinha carimbada na mídia nacional, dando entrevistas sobre relacionamento interpessoal nas empresas e sobre a teoria do abraço corporativo para praticamente todos os grandes veículos nacionais, numa delas fazendo jogging e abraçando até uma árvore.
Esse foi o passaporte para o acesso a entrevistas com Heródoto Barbeiro, da rádio CBN, e Gilberto Dimenstein, da "Folha de S. Paulo". O assunto também ganhou espaço em revistas e jornais. A experiência mostrou como os profissionais  de veículos de comunicação influentes, sem tempo ou paciência para checar dados e informações, simplesmente aceitam como fato tudo o que lhes é apresentado com aparência de verdade.
Vale salientar que rádios, jornais e revistas são sempre procurados por pessoas sérias e também por picaretas vendendo ideias e projetos os mais diversos, entre os quais cabe a proposta afetuosa do abraço corporativo num mundo mecanizado e robotizado.
O filme exigiu seis anos de trabalho de Ricardo Kaufmann e toda uma equipe  de voluntários, que reuniu outros amigos jornalistas e das duas empresas coprodutoras trabalhando. O Abraço Corporativo questiona  o chamado jornalismo de tese, ou seja, aquele em que a matéria já sai pronta e acabada da redação, cabendo a produtores de TV e repórteres apenas preencher a reportagem com um bom personagem, boas imagens ou frases de efeito ensaiadas.
Além de contar a farsa de Ary Itnem, o filme inclui  depoimentos de especialistas em comunicação entre os quais os jornalistas Juca Kfouri, Bob Fernandes e Eugênio Bucci, o psicanalista Contardo Calligaris, e o professor de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Carlos Chaparro e até o ex-governador paulista Cláudio Lembo e Heródoto Barbeiro, este último admitindo que errou em não investigar a fonte das informações transmitidas numa entrevista ao vivo.



Ficha técnica:
Título: O Abraço Corporativo
Diretor: Ricardo Kauffman
Roteiro: Ricardo Kauffman
Elenco: Leonardo Camillo, Heródoto Barbeiro, Prof. Dr. Manuel Chaparro, Prof. Dr. Mauro Wilton, Juca Kfouri, Bob Fernandes, entre outros
Ano: 2009

País: Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário