segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Howl / Uivo




Uma obra-prima Uivo (Howl) é colocada em julgamento polêmico por ser considerada pornográfica por moralistas de plantão em São Francisco, 1957, dois anos após a sua publicação. O filme  reconta este momento a partir de quatro perspectivas diferentes: a do próprio texto do poema, que fala de sexo, drogas, homossexualismo e da vida sem perspectivas dos marginalizados; dos tumultuados eventos da vida que levaram o jovem Allen Ginsberg, um filho do pós guerra a descobrir sua verdadeira voz como um artista; mostra  a reação da sociedade conservadora em relação à sua obra, e uma animação que reflete a originalidade do poema Howl em si mesmo.
Em síntese as  histórias se entrelaçam para contar o nascimento de um dos marcos da contracultura americana dos anos 50, que ficou conhecida como Beat Generation. Tudo começa em 1957, quando Allen Ginsberg, interpretado por James Franco, fala em estilo documental  sobre a sua obra, e o controle total da poesia que conseguiu em algumas partes de Uivo, que começa com força expressiva: “eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada, em busca de uma dose violenta de qualquer coisa”...
O filme volta então num flashback  a 1955 para numa animação com música e poesia ao iniciar a introdução do polemico poema e retorna em seguida ao cenário do julgamento, com o editor Lawrence Ferlinghetti preso e julgado pela venda de material obsceno: o livro por ele publicado numa pequena editora.
Em seguida, Mary-Louise Parker  intrepretando Gail Potter se apresenta como testemunha e diz que não vê no Uivo nenhum mérito literário, mas um trabalho em linguagem vulgar. Ela quer aparecer e é dispensada pelo advogado de defesa. Em contraponto, na sua entrevista documental, o personagem que interpreta Allan Ginsberg diz que a geração beat não existe e que o livro é resultado da sua paixão literária por Jack Kerouack, também como ele integrante da geração beat, com quem aprendeu a linguagem livre e confessional e diz que escreveu o Uivo para Jack, numa linguagem franca e coloquial como a de uma conversa ao pé do ouvido.
Um outro depoente Treat Williams  (Mark Schorer) é questionado sobre o mérito literário da obra. Ele  diz que a entende uma obra contemporânea,   em linguagem poética e por isso metafórica  sobre uma variedade de experiências sexuais e drogas, comparando-a com um uivo de dor e um grito de angústia. Ele também fala que entende as palavras e o contexto geral em que o poema se situa, alertando que o julgamento vai servir para divulgar o livro, que até hoje no século XXI continua entre os mais vendidos daquela editora.
No documentário inserido no filme, Ginsberg fala da sua mãe louca e de sua internação por oito meses de um hospício, de onde escapa se comprometendo a assumir uma postura heterosexual. Ali ele conheceu um dos personagens a quem dedica o poema Carl Salomon, e complementa: “escrevi poesias sobre as pessoas que amava e com quem convivi”.
O poeta também faz reflexões sobre a composição do livro que visou atingir uma área do que considera a verdade absoluta. Fala também como conheceu Peter Orlovsky, interpretado por Aaron Tveit, com quem vive até o final da sua vida em 1997, quando morre aos 70 anos. Orlovsky morre 13 anos depois.
Outro depoimento importante em defesa da obra é a do David Kirk interpretado por Jeff Daniels,  que o compara a Folhas da Relva, uma obra prima de Walt Whitman, celebrando a vida infeliz de Carl Salomon, que não sabe se um personagem real ou de ficção. Para ele, o livro revela a angústia e de que tudo é criado para desespero do homem, levando em conta os três fatores da sua composição: a forma, o tema e a oportunidade. 
O advogado de defesa Jake Ehrlich (Jon Hamm), alerta para o julgamento jogar mais lenha na fogueira da ignorância e questiona o que é lascivo e para quem. Já o juiz Clayton Horn (Bob Balaban), mesmo considertado conservador, considera que o livro é escrito em palavras vulgares  e lembra de que o mal está nos olhos de quem vêm, concluindo que a obra tem um valor cultural importante e não é obseceno, derrubando a argumentação da acusação.
Para Ginsberg, o poema é mal interpretado como uma promoção e divulgação do homossexualismo,e termina citando a quarta parte final do poema: “O mundo é sagrado! A alma é sagrada! A pele é sagrada! O nariz é sagrado! ...Tudo é sagrado! toda a gente é sagrada! todo o lado é sagrado! todo o dia está na eternidade! Todo o homem é um anjo! O vadio é tão santo como o serafim! o louco é tão santo como tu minha alma é santa! A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes são santos a êxtase é santa! Sagrado Pedro sagrado Allen sagrado Solomon sagrado Lucien sagrado Kerouac sagrado Huncke santo Burroughs sagrado Cassady sagrado o desconhecido cansado e o pedinte sofredor sagrados os repugnantes anjos humanos! Sagrada minha mãe no asilo insane! Sagrados os c. dos antepassados do Kansas! Sangrado o saxofone que geme! O apocalipse bop! Sagradas as bandas de jazz gementes marijuana hipsters paz peyote cachimbos & tambores!” (Kleber Torres)



Ficha técnica:
Direção: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Roteiro: Jeffrey Friedman e Rob Epstein
Elenco:  James Franco  (Allen Ginsberg),  Mary-Louise Parker  (Gail Potter), Jon Hamm  (Jake Ehrlich),  Jeff Daniels ( David Kirk),  David Strathairn  (Ralph McIntosh), Alessandro Nivola  (Luther Nichols),  Treat Williams  (Mark Schorer),  Bob Balaban  (Juiz Clayton Horn),  Aaron Tveit (Peter Orlovsky) e Allen Ginsberg          em imagens de arquivo.
 Gênero: Drama

 Duração: 84 minutos

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