Uma obra-prima Uivo (Howl) é colocada
em julgamento polêmico por ser considerada pornográfica por moralistas de
plantão em São Francisco, 1957, dois anos após a sua publicação. O filme reconta este momento a partir de quatro
perspectivas diferentes: a do próprio texto do poema, que fala de sexo, drogas,
homossexualismo e da vida sem perspectivas dos marginalizados; dos tumultuados
eventos da vida que levaram o jovem Allen Ginsberg, um filho do pós guerra a
descobrir sua verdadeira voz como um artista; mostra a reação da sociedade conservadora em relação
à sua obra, e uma animação que reflete a originalidade do poema Howl em si
mesmo.
Em síntese as histórias se entrelaçam para contar o
nascimento de um dos marcos da contracultura americana dos anos 50, que ficou
conhecida como Beat Generation. Tudo começa em 1957, quando Allen Ginsberg,
interpretado por James Franco, fala em estilo documental sobre a sua obra, e o controle total da
poesia que conseguiu em algumas partes de Uivo, que começa com força expressiva:
“eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome,
histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada, em
busca de uma dose violenta de qualquer coisa”...
O filme volta então num flashback a 1955 para numa animação com música e poesia ao
iniciar a introdução do polemico poema e retorna em seguida ao cenário do
julgamento, com o editor Lawrence Ferlinghetti preso e julgado pela venda de
material obsceno: o livro por ele publicado numa pequena editora.
Em seguida, Mary-Louise Parker intrepretando Gail Potter se apresenta como
testemunha e diz que não vê no Uivo nenhum mérito literário, mas um trabalho em
linguagem vulgar. Ela quer aparecer e é dispensada pelo advogado de defesa. Em
contraponto, na sua entrevista documental, o personagem que interpreta Allan
Ginsberg diz que a geração beat não existe e que o livro é resultado da sua paixão
literária por Jack Kerouack, também como ele integrante da geração beat, com
quem aprendeu a linguagem livre e confessional e diz que escreveu o Uivo para Jack,
numa linguagem franca e coloquial como a de uma conversa ao pé do ouvido.
Um outro depoente Treat Williams (Mark Schorer) é questionado sobre o mérito literário
da obra. Ele diz que a entende uma obra
contemporânea, em linguagem poética e por isso metafórica sobre uma variedade de experiências sexuais e
drogas, comparando-a com um uivo de dor e um grito de angústia. Ele também fala
que entende as palavras e o contexto geral em que o poema se situa, alertando
que o julgamento vai servir para divulgar o livro, que até hoje no século XXI continua
entre os mais vendidos daquela editora.
No documentário inserido no filme,
Ginsberg fala da sua mãe louca e de sua internação por oito meses de um hospício,
de onde escapa se comprometendo a assumir uma postura heterosexual. Ali ele
conheceu um dos personagens a quem dedica o poema Carl Salomon, e complementa: “escrevi
poesias sobre as pessoas que amava e com quem convivi”.
O poeta também faz reflexões sobre a
composição do livro que visou atingir uma área do que considera a verdade
absoluta. Fala também como conheceu Peter Orlovsky, interpretado por Aaron Tveit,
com quem vive até o final da sua vida em 1997, quando morre aos 70 anos.
Orlovsky morre 13 anos depois.
Outro depoimento importante em defesa
da obra é a do David Kirk interpretado por Jeff Daniels, que o compara a Folhas da Relva, uma obra
prima de Walt Whitman, celebrando a vida infeliz de Carl Salomon, que não sabe
se um personagem real ou de ficção. Para ele, o livro revela a angústia e de
que tudo é criado para desespero do homem, levando em conta os três fatores da
sua composição: a forma, o tema e a oportunidade.
O advogado de defesa Jake Ehrlich (Jon
Hamm), alerta para o julgamento jogar mais lenha na fogueira da ignorância e
questiona o que é lascivo e para quem. Já o juiz Clayton Horn (Bob Balaban),
mesmo considertado conservador, considera que o livro é escrito em palavras
vulgares e lembra de que o mal está nos
olhos de quem vêm, concluindo que a obra tem um valor cultural importante e não
é obseceno, derrubando a argumentação da acusação.
Para Ginsberg, o poema é mal
interpretado como uma promoção e divulgação do homossexualismo,e termina
citando a quarta parte final do poema: “O mundo é sagrado! A alma é sagrada! A
pele é sagrada! O nariz é sagrado! ...Tudo é sagrado! toda a gente é sagrada!
todo o lado é sagrado! todo o dia está na eternidade! Todo o homem é um anjo! O
vadio é tão santo como o serafim! o louco é tão santo como tu minha alma é
santa! A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes
são santos a êxtase é santa! Sagrado Pedro sagrado Allen sagrado Solomon sagrado
Lucien sagrado Kerouac sagrado Huncke santo Burroughs sagrado Cassady sagrado o
desconhecido cansado e o pedinte sofredor sagrados os repugnantes anjos
humanos! Sagrada minha mãe no asilo insane! Sagrados os c. dos antepassados do
Kansas! Sangrado o saxofone que geme! O apocalipse bop! Sagradas as bandas de
jazz gementes marijuana hipsters paz peyote cachimbos & tambores!” (Kleber Torres)
Ficha
técnica:
Direção:
Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Roteiro:
Jeffrey Friedman e Rob Epstein
Elenco:
James Franco (Allen Ginsberg), Mary-Louise Parker (Gail Potter), Jon Hamm (Jake Ehrlich), Jeff Daniels ( David Kirk), David Strathairn (Ralph McIntosh), Alessandro Nivola (Luther Nichols), Treat Williams
(Mark Schorer), Bob Balaban (Juiz Clayton Horn), Aaron Tveit (Peter Orlovsky) e Allen Ginsberg em imagens de arquivo.
Gênero: Drama
Duração: 84 minutos
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