domingo, 27 de novembro de 2016

Afinal onde começa o crime e termina a repressão política ?



O filme O Clã (2015), uma produção argentina e espanhola baseada na história real de uma das gangues mais conhecidas da Argentina, liderada por Arquimedes Puccio, interpretado Guillermo Francella, um empresário em ascensão e um zeloso pai de família,  narra as ações de uma quadrilha que ficou conhecida na década de 1980 por sequestrar, extorquir  e depois matar várias vítimas mantidas em cativeiro. A história envolve um ex-integrante da repressão política argentina, que passou usando a sua experiência policial passou a investir no comando do sequestro de pessoas ricas, simulando ações de supostos grupos terroristas.
O clã era comandado pelo pai da família, Arquímedes, além dos seus dois filhos, Maguila (Gatson Cocchiarale) e Alejandro (Peter Lanzani), juntamente com um militar aposentado Rodolfo Franco e mais dois amigos, Roberto Oscar Díaz e Guillermo Fernández Laborde, que integravam o sistema operacional da quadrilha. O grupo atuava nos estertores da ditadura militar na Argentina e aproveitava as brechas de um regime decadente para impor o terror e a morte às suas vitimas.
O filme, que alcançou recordes de bilheteria na Argentina, foi lançado no      Festival de Veneza de 2015, conquistando  o Leão de Prata e concorreu ao  Oscar de melhor filme estrangeiro em 2016, sem lograr nenhuma premiação, foi dirigido com competência e sem exageros. Arquimedes Puccio usava a sua casa em Buenos Aires como cativeiro e com isso envolveu a mulher e as filhas na sua rede de crimes e abusos.
O filme não revela Arquimedes, uma figura central da trama, apenas como um chefe de quadrilha que cuidava de todos os detalhes de cada sequestro, como também o negociador duro que intimidava os familiares das vitimas e fazia questão de acompanhar cada passo do pagamento dos resgates. Ele também era o pai amoroso e tirano, que cobrava dos filhos reciprocidade no crime e não media gastos para promovê-los no mundo empresarial e esportivo.
O filme revela ainda cenas em que ao mesmo tempo em que era cometida mais uma execução pelo grupo criminoso, eram mostradas sequencias intercaladas de sexo entre Alejandro e a namorada em um dos carros da família, que também eram usados nos sequestros. O final termina de forma trágica, com a prisão e esfacelamento do grupo e com a tentativa de suicídio de um dos filhos que se joga do quinto andar de uma repartição do judiciário. (Kleber Torres)

Ficha Técnica:
Título : El clan / O Clã  
 Direção:   Pablo Trapero
Roteiro: Pablo Trapero, Esteban Student e Julian Loyola
Produção:     Hugo Sigman, Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar
Elenco : Guillermo Francella, Peter Lanzani, Lili Popovich, Gastón Cocchiarale, Giselle Motta, Franco Masini, Antonia Bengoechea, Stefanía Koessl e Fernando Miró
Argentina/ Espanha
Ano 2015 •  cor   

106 minutos 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A 5ª Onda ou uma distopia com gosto de apocalipse








Quem conhece a história bíblica das sete pragas do Egito tem no filme A 5ª Onda, uma espécie de distopia apresentando  como pano de fundo uma disputa entre humanos contra alienígenas e híbridos formatados através da mistura dos materiais genéticos deles pelo domínio do mundo, uma reprise com gosto de apocalipse. O fato é que após quatro ondas consecutivas de ataques sucessivos e cada vez mais mortais, os quais dizimaram boa parte do planeta Terra, os novos dominadores tentam na fase final a extinção dos seres humanos.
Tudo começa com um flash da primeira onda de ataques, quando um pulso eletromagnético retira a eletricidade do planeta, deixando as pessoas sem acesso à eletricidade, o que elimina os canais de comunicação eletrônicos, paralisa hospitais, postos de gasolina, elevadores e inviabiliza a vida nas cidades. A supressão da energia também imobiliza carros, navios e provoca acidentes graves como a queda de aviões que se chocam com áreas urbanizadas e grandes edifícios.
Já a segunda onda, com gosto absoluto de cinema catástrofe, provoca um tsunami gigantesco que mata 40% da população mundial e provoca a destruição de edifícios e cidades, mostrando através de efeitos especiais computadorizados pessoas lutando pela vida. Na terceira onda, os pássaros passam a transmitir um vírus mortal que mata 97% das pessoas que resistiram aos ataques anteriores.
Mais adiante, ba quarta onda, os próprios alienígenas se infiltram entre os humanos restantes através de elementos híbridos e robôs, espalhando o medo e a desconfiança entre os sobreviventes. O golpe final seria dado com uma quinta onda, com a possibilidade distópica de exterminação definitiva da raça humana através de um processo de eliminação seletivo que visava matar da forma mais eficiente possível aos quer conseguiam sobreviver a todas às  condições adversas enfrentadas até então.
É neste cenário  escatológico,  que a adolescente Cassie Sullivan, interpretada por Chloe Grace Moretz. Ela tenta proteger seu irmão mais novo e descobrir num mundo de incertezas e dúvidas em quem finalmente pode confiar. A jovem se envolve então numa corrida desesperada para tentar escapar e se possível, salvar seu irmão menor. Nesta luta, ela se associa  à um jovem  que pode ser sua esperança  se acaso ao menos ela pudesse confiar no aliado e escapar aos invasores, que eram denominados de ‘Os Outros’.
A Cassie  do filme uma personagem  coerente e típica com as das jovens  das famílias da classe média americana contemporânea, ou seja, uma garota que vai a escola, frequenta festas na casa de seus amigos e vive a expectativa de namorar um colega ou um jogador  de futebol americano. Com a invasão a expectativa se reverte, e ela  assume uma postura diferenciada, pegando em armas e lutando como uma guerreira circunstancial na luta pela sobrevivência.
Embora a 5ª Onda seja um filme de aparência juvenil e dirigido para um publico de adolescentes, ele tenta também  conquistar o  público adulto, com cenas muitas vezes dinâmicas e  sequências recheadas de violência, complementadas por palavrões tão comuns no cinema americano e nas  insinuações sexuais. No conjunto, o filme revela uma certa superficialidade e é piegas em termos afetivos ao revelar a disputa de dois jovens pelo coração da guerreira adolescente, que acaba fazendo no final do filme a sua escolha e opção pessoal por um personagem hibrido, mas que se diz favorável à causa dos humanos.
A 5ª Onda nos deixa apenas uma lição que vai além das sequências de efeitos especiais computadorizados e da falta de propostas para um problema ligado à sobrevivência do homem numa possível disputa com alienígenas:  mostra que a nossa esperança é que nos torna humanos, mas que isso não é tudo, afinal o apocalipse pode eclodir em qualquer momento ou lugar, quando vivemos num universo liquido e rico das incertezas nossas de cada dia.(Kleber Torres)
Ficha técnica:
Título : The 5th Wave / A 5ª Onda
Direção: J Blakeson
Roteiro: Susannah Grant, Akiva Goldsman, Jeff Pinkner
Elenco: Chloë Grace Moretz, Nick Robinson, Alex Roe
Música: Henry Jackman e Marco Beltrami

Lançamento : 2016

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

a decadência e o ocaso de um artista





Baseado numa história real sobre o tempo, a velhice e a decadência, o filme ‘The Great Buck Howard’, que no Brasil foi batizado como  ‘A Mente que Mente’ é narrado a partir de Troy Gable (Colin Hanks), um jovem desiludido com a vida acadêmica na faculdade de Direito e que pretendia ser um escritor. Nesse ínterim, mesmo com a desaprovação do pai (Tom Hanks), ele busca um emprego como produtor artístico e passa a trabalhar com Buck Howard (John Malkovich), que se apresenta como mentalista de sucesso nos anos 70, mas que depois de 40 anos nos palcos, sobrevive fazendo pequenos shows e apresentações mambembes  em pequenas cidade e nos bairros no ocaso de sua carreira.
Howard ainda vive da fama de mais de 60  aparições no programa Tonight Show, com Johnny Carson, onde não aparece nos últimos 10 anos e como estrela de shows em Las Vegas. Ao acompanhar o mentalista,  Troy  passa como seu gerente de produção a descobrir a  magia da  vida e a mentira  por trás dos palcos, onde o artista mesmo em decadência tem de manter as aparências e o glamour do estrelato, o Buck Howard faz com o uso clichês, de frases feitas e com um peculiar e balançado aperto de mãos.
O filme revela que Howard numa primorosa interpretação de Malkovich não  usava a expressão mágico, e se apresentava  como um mentalista, um artista eclético, que misturava em seus shows uma espécie de stand up  sem muito humor associado com números de magia e um faro especial para saber onde estava o dinheiro recebido pelo espetáculo e que era escondido por uma pessoa do público.Ele também fazia hipnose e adivinhava números.
‘A Mente que Mente” foi em realidade baseado numa história real  de um mentalista, George Joseph Kresge, que ficou conhecido nos anos 70 como The Amazing Kreskin. Kreskin a comandar um programa de televisão que foi ar entre 1971 e 1975, e que era conhecido como The Amazing World of Kreskin. Já personagem Troy Gabel é o alter ego do próprio diretor e roteirista Sean McGinly, que foi, durante algum tempo diretor e assistente de produção do fantástico Kreskin quando transitava justamente da fama para o ocaso e a quem o filme também é dedicado. Tanto Kreskin como Howard negavam que usavam ponto para saber onde estava o dinheiro escondido no palco.
O super astro Tom Hanks faz uma pequena participação e investiu na produção do filme. Ele interpreta o pai do assistente de produção, só que na vida real os dois também são pai e filho. Outro destaque na trama é Emily Blunt, que interpreta uma assessora de imprensa que cuida da agenda de comunicação  de Howard, o qual fez com que dezenas de pessoas dormissem  hipnotizadas durante uma grande apresentação.

Mas o espetáculo se frustra em consequência de um acidente de carro com uma figura importante da cidade, atraindo a todos os jornalistas presentes no espetáculo de mentalista e como depois do espetáculo Haward sofreu um mal estar e teve de ser internado, um filme num smartphone com a apresentação chega ás televisões e ele volta a ser convidado para entrevistas na televisão e para shows em Las Vegas, onde pela primeira vez em mais de cinco mil apresnetações não descobre onde está o dinheiro que ganhou, voltando a se apresentar no semi anonimato pelo interior dos Estados Unidos.
No filme aparecem  ainda homenagens e referências a estrelas do passado como Leonard Nimoy, Garu Oldman, Shirley MacLeine, Tom Arnold,  Johnny Carson, entre outros nomes famosos,  além da participação de George “Sr. Sulu” Takei, celebrizado e, Jornada das Estrelas, cantando "What the World Needs Now is Love", de Burt Bacharach e acaba confraternizando com Howard diante das câmeras de uma emissora de televisão, diante da eterna ilusão dos 15 minutos de fama na vida de cada um.(Kleber Torres)

Ficha Técnica

Título: The Great Buck Howard/A Mente que Mente
Gênero: Comédia Dramática
Direção: Sean McGinly
Roteiro: Sean McGinly
Elenco: John Makovich,Colin Hanks, Emily Blunt, Griffin Dune, Tom Hanks, Steve Zahn
Produção: Gary Goetzman, Tom Hanks
Fotografia: Tak Fujimoto
Trilha Sonora: Blake Neely
Duração: 90 minutos

Ano: 2008