O filme “Meu filho, olha o
que fizeste!/”My Son, My Son, What Have Ye Done”(2009) de Werner Herzog, com
indicações para um Leão de Ouro, no Festival Internacional de Cinema de Veneza,
trata de um tema trágico: o matricídio e
tem como base uma história da vida real, quando um Brad Mc Callum (Michael
Shannon) depois de ouvir um misterioso chamado divino mata a mãe
com um golpe de espada sem motivos aparentes. Ele também teria sido influenciado
pela tragédia Electra, de Sófocles, que ensaiava em um grupo de teatro amador
ou teria cometido uma insanidade?
A história real aconteceu
em 1979 e serviu de inspiração para este longa de Werner Herzog, que procura
desnudar os tênues fios entre a sanidade e a loucura com seus contornos
absurdos e surreais, afinal o que leva um filho a matar a própria mãe? Assim, o
foco do filme é penetrar na mente de assassino e captar aspectos que o
levaram a agir deflagrando uma tragédia, tarefa que cabe a uma equipe de
detetives da San Diego, liderada por Hank Havenhurst (William Dafoe), que procura reconstruir um verdadeiro quebra-cabeça ouvindo depoimentos de testemunhas e pessoas
próximas ao assassino e à vitima.
Tudo começa a partir de uma
viagem de Brad Mc Cullum ao Peru, onde também depois de ouvir a um chamado
misterioso, acaba desistindo de
participar de um ‘rafting’ para a descida corredeiras com uma equipe
utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança. Os integrantes do grupo
morreram nesta aventura radical e apenas ele escapa, mas volta diferente para a
sua terra, onde assumiu também o nome muçulmano de Farouk e mudou o seu
comportamento.Numa das cenas, ele diz que
“às vezes a gente não sabe quem é pior, se a polícia ou os malditos bandidos”.
Também na reconstrução da tragédia, fica evidenciado que a sua mãe dominadora o
cercava de mimos: lhe deu um piano que ele nunca tocou e uma bateria, em que se
sentava estático, sem tocar nenhuma vez.
Em uma conversa com a
namorada Ingrid (Chloe Sevigni), com quem ouvia música no quarto, ele lhe disse
que viu Deus. Mesmo sem ter nenhuma atividade
econômica produtiva e nenhuma fonte de renda, ele falou de forma desconexa
também para a namorada em comprar uma casa e depois propôs morar na lua. Também contou que gostava de
velocidade e que atravessou uma ponte a 210 quilômetros por hora e em seguida
inventa visitar pacientes no Hospital Naval, coisas sem nenhuma relação
racional e sem conexão com a realidade.
O diretor de teatro amador
do grupo que participava no ensaio da tragédia grega em que Orestes mata a
própria mãe, Lee Meyers (Udo Kier), informou aos policiais que Brad lhe
telefonou pedindo ajuda às seis horas da
manhã no dia do crime e metaforicamente, se comparou com um trem fora de
controle. Ele também falou da peça e falou da maldição de Tântalo, informando que Brad ficou obcecado pela espada obtida na
casa de um tio que criava avestruzes, para quem esse negócio de teatro não era
coisa de gente séria.
O conflito que resultou no
assassinato da mãe de Brad estaria de um lado vinculado à adoração que ele supostamente tinha por sua
mãe, mas poderia muito bem ser confundida com um sentimento de submissão
emocional em função da sua dependência financeira ou até mesmo uma reação ao
seu comportamento controlador. A mãe também fiscalizava o namoro do filho e
demonstrava um desprezo pela futura nora. Mc Culllum confessou que um pássaro
foi o maior animal que matou, antes de assassinar a sua mãe.
O filme também transita no
universo simbólico e uma das referências está numa bola de basquete que Brad
deixou numa árvore do Parque Balboa e na doação de uma mochila para um jovem
que brincava com os amigos na mesma praça. Ela também manifestava uma aversão
às máquinas e a tecnologia, por isso desligou o relógio, a geladeira da casa
onde morava e começou a bater no carro.
A própria namorada ficou
intimidada com o olhar de Brad, cuja mãe teria contado a amigas antes de morrer
que o filho teria tentado sufocá-la com um travesseiro. Ao ser convidado para
tomar chá com estas amigas e testemunhas oculares da tragédia, ele foi buscar a
sua caneca e demorou nesta tarefa dez minutos, voltando também com a espada em
seguida, deu um taco de basebol à vizinha ordenando que esta o matasse antes
que algo pior e terrível acontecesse, depois, ele fere a mãe com um golpe e ela
apenas pergunta: “Meu filho, olha o que fizeste”.
Depois de cercado pela
policia por várias horas, numa ação que mbilizou até a swat e anunciar que
tinha reféns na casa onde estava, Brad acaba se rendendo e ao ser preso pede para ser deixado no
deserto, dizendo que encontrou a sua verdadeira vocação para o comércio justo, uma
sequencia complementada com uma cena de nuvens e de avestruzes correndo.
O filme apresenta trilha
predominantemente latina e com refinados instrumentais, tendo como base no
início e no fim a música Gabino Barrera, de Antonio Aguillar, que fala de um
revolucionário parecido com Zapata e que lutava pela reforma agrária no México.
Numa outra cena, em bg, aparece voz de Caetano Veloso, num filme complexo que
funde as técnicas de Werner Herzog, uma das expressões do Novo Cinema Alemão,
cujos personagens são sempre heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos
únicos em áreas obscuras e do produtor o cineasta David Lynch, que assinou Homem Elefante e o cult movie Veludo Azul, filmes
marcados pelo surrealismo e pelo non-sense. (KLeber Torres)
Ficha técnica:
Meu filho, olha o que fizeste!/”My Son, My Son, What Have Ye Done
Direção : Werner Herzog
Elenco: Michael Shannon, William Dafoe, Chloe Sevigni, Udo Kiel e Grace
Zabriskie
Diretor de fotografia :
Peter Zeitlinger
Música : Ernest Reijseger
Roteiro: Herbert Golder e Werner Herzog
Produção executiva : David
Lynch
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