Cansado de lutar e matar em defesa do Tigres do Tamil,
organização armada separatista na guerra civil no Sri Lanka (Ceilão), Deephan,
um ex-guerrilheiro
interpretado por Antonythasan
Jesuthasan imigra para a França, com documentos falsos em
companhia de Yalini (Kalievari Srinivan) e da pequena
Illayaal (Claudine Vinasithamby), uma orfã de nove anos , fazendo-se fpassar por uma família convencional.
Sem dominar o idioma francês e
vivendo num ambiente cultural totalmente diferente do Ceilão, os refugiados vão
morar em um conjunto habitacional nos arredores de Paris habitado por árabes,
africanos e franceses de baixa renda, que vivem num ambiente dominado por gangs
de traficantes, que controlam o tráfego das pessoas diante de um estado omisso
e impotente diante do crime organizado.
Assim, Deephan
passa a trabalhar como zelador no conjunto onde vive e
Yalini como doméstica e cuidadora de um
idoso árabe, tio de um dos chefes do tráfico na periferia de Paris. Os dois mesmo
mal se conhecendo e com um relacionamento meramente formal, sem laços afetivos,
tentam construir uma vida em comum num ambiente hostil e em condições adversas
para quem não domina o francês.
Cabe lembrar que o
filme foi vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes-2015 e aborda um dos temais
mais polêmicos do nosso tempo – a questão imigração de refugiados de guerra de
vários países, em especial a Síria para a Europa-, num projeto coordenado pelo cineasta
Jacques Audiard autor de O Profeta (2013) e Ferrugem e Osso(2014), que procurou
adaptar o roteiro à realidade cotidiana dos personagens.
Um outro detalhe: os atores que formavam o núcleo central do filme tinham
apenas pouca experiência teatral e a garota, Illayaal
(Claudine Vinasithamby), nunca trabalhara como atriz. Numa das cenas a
menina não se ajusta à vida da escola e acaba agredindo uma colega,
aparentemente sem motivos e por se sentir rejeitada pelo seu novo grupo plurirracial
na escola.
Assustada com a violência dos traficantes do bairro após um intenso tiroteio
e de uma ação típica de guerrilha comum no seu país de origem, Yalini questiona
Dheepan se estes grupos seriam iguais aos bandidos das gangues Vanilla e Minnal,
da sua terra e ele responde com agudeza que sim, “só que menos perigosos”.
O filme também revela o outro lado do racismo e o estranhamento dos
estrangeiros que migram para um país europeu e isso fica evidente numa piada
não politicamente correta em que o personagem diz: “advinha porque não tem árabes
na Jornada das Estrelas ?” E tem como resposta: “porque se passa no futuro”,
sinalizando simplesmente que estariam
extintos.
Além de viver num ambiente hostil e adverso, o casal e a filha também tem
de conviver com ameaças e intimidações de grupos ligados ao próprio Ceilão,
mesmo frequentando os templos e rituais religiosos. Assim, aparece um coronel
do exercito tâmil, cobrando de Dheepan consiga R$ 100 mil dólares para uma
guerrilha que este considerava que
acabou, pelo menos para ele e por isso acaba agredido a socos e pontapés.
Yalini lembra em outra cena, que na sua cultura se a pessoa cair e se
machucar, ela sorri, mas as pessoas que vivem na Europa riem até demais. A
família também acaba sendo ameaçada por traficantes, Dheepan se rebela contra a
violência e estabelece uma zona livre de tiro e que seria desmilitarizada, o
que resulta num conflito e numa reação sem precedentes do ex-tigre tâmil com
sua experiência numa guerra sem quartel contra um governo socialista que
queimava escolas e era implacável com os inimigos.
O filme termina aparentemente com um final feliz, com a família se
integrando na Inglaterra e com a chegada de um filho. Seria um marco de um novo
tempo ou da continuidade de uma saga de sangue e violência globais talvez sem
começo e sem fim, distante do bom senso e da racionalidade? (Kleber Torres)
Ficha Técnica
DHEEPAN – O Refúgio
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Noé Debré/Thomas Bidegain
Elenco: Antonythasan Jesuthasan, Kalievari Srinivan, Claudine Vinasithamby, Vincent Rottiers e Marc Zinga
Roteiro: Noé Debré/Thomas Bidegain
Elenco: Antonythasan Jesuthasan, Kalievari Srinivan, Claudine Vinasithamby, Vincent Rottiers e Marc Zinga
Música:
Nicolas Jaar
Drama
105 minutos
França, 2015Drama
105 minutos
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