domingo, 17 de maio de 2020

A Má Educação e o roubo não são produtos genuinamente brasileiros


 

A corrupção não é um produto genuinamente brasileiro, mas uma praga pandêmica  e globalizada, o que pode decepcionar os nossos nacionalistas mais extremados e aos fãs de Macunaíma, nosso herói ficcional tupiniquim sem nenhum caráter. Um exemplo é Bad Education (Má Educação), filme disponível na plataforma HBO GO, dirigido por Cory Finley, que trata de um caso real ocorrido em 2004: o desvio US$ 11,2 milhões (cerca de R$ 65 milhões)  de recursos de uma escola, considerado o epicentro de um maiores escândalos da educação nos Estados Unidos e consequentemente no mundo.

 

A história tem como personagem central, o envolvente superintendente da Roslyn,  uma escola pública de Long Island, Frank Tassone (Hugh Jackman), um homem elegante, que veste ternos de grife, cuida com detalhes da sua aparência  submetendo-se a cirurgias plásticas, usando de perfumes caros, maquiagem ou cuidando dos cabelos, mas que  leva uma vida dupla também no campo sentimental  com dois discretos casos homossexuais.  

 

No trabalho ele se apresenta um profissional detalhista, perfeccionista e atencioso, que decora os nomes dos alunos, dos seus auxiliares e de todos no seu entorno. Como gestor, ele  trabalha para que sua escola seja uma  das melhores do país e portanto, uma referência em educação, o que o torna respeitado na comunidade de pais, alunos e professores, além de comandar a controladoria, influenciando na decisões do conselho fiscal  e nas instâncias  para a aprovação de projetos como o da construção de uma passarela, naturalmente, com custos superfaturados.

 
Ele tem como parceira de maracutaia Pamela Gluckin (Allison Janney), com quem divide parte dos recursos desviados. Enquanto  Tassone usava o dinheiro do escola para investir em ternos caros, carros, cirurgias cosméticas, viagens e no conforto dos parceiros sentimentais. ela agia como uma nova rica emergente, que investia em reformas e ampliação da casa onde morava, em festas ou em gastos supérfluos com a família e na ajuda a parentes, uma das quais empregava na escola onde trabalhava.

 
Diferente da história real, em que tudo é desvendado através de uma carta anônima, no filme Má Educação, a casa cai através de uma reportagem da aluna Rachel (Geraldine Viswanathan) ao tentar produzir uma matéria sobre a obra de uma passarela na escola onde estudava.  Incomodado com perguntas impertinentes da estudante sobre o projeto e os seus custos, Tassone chega aconselha a jovem a buscar boas histórias, estimular ações comunitárias ou incentivar o trabalho voluntário.

 

O problema, é que ao investigar os números da obra monumental ela percebe que as contas não fecham e que recursos eram desviados de finalidade  para produtos supérfluos como a compra de uma máquina de pizza, o que apontou para o rombo nos supostos investimentos em Roslyn. Os desvios incluíram mais de US$ 30 mil apenas para lavagem dos caros ternos do superintendente.

 

O furo de reportagem em um jornal escolar ganhou repercussão nacional nas televisões e jornais. Integrantes do  conselho se revoltam e passam a questionar Tassone, que antes os envolvia com atenções e benesses especiais. Para escapar, ele arma uma trama para demitir Pam, a quem acusa inicialmente pelo desvio de US$ 250 mil e um número que cresce ainda mais de acordo com o controlador, cuja missão não era monitorar os gastos, mas maquiar os gastos contábeis e acobertar a fraude.


Má educação mostra  uma série de personagens convincentes e bem construídos com o suporte de uma trama articulada. O filme termina informando que Pamela Gluckin foi presa por cinco anos e morreu em 2017. Frank Tassone foi preso em 2006 e colocado em liberdade condicional no período de 2010 até 2018, mas em função de uma brecha na legislação recebe uma pensão de US$ 170 mil por ano, talvez evidência de que o crime ainda compensa. Ele só não pode ocupar cargos públicos.

 

Ficha técnica

Título: Bad Education (Má Educação)


Direção: Cory Finley


Roteiro: Mike Makowsky

 

Elenco: Hugh Jackman, Geraldine Viswanathan, Allison Janney, Annaleigh Ashford e Rafael Casal


Música: Michael Abels





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