A corrupção
não é um produto genuinamente brasileiro, mas uma praga pandêmica e globalizada, o que pode decepcionar os
nossos nacionalistas mais extremados e aos fãs de Macunaíma, nosso herói ficcional
tupiniquim sem nenhum caráter. Um exemplo é Bad Education (Má Educação), filme
disponível na plataforma HBO GO, dirigido por Cory Finley, que trata de um caso
real ocorrido em 2004: o desvio US$ 11,2 milhões (cerca de R$ 65 milhões) de recursos de uma escola, considerado o
epicentro de um maiores escândalos da educação nos Estados Unidos e
consequentemente no mundo.
A história tem
como personagem central, o envolvente superintendente da Roslyn, uma escola pública de Long Island, Frank
Tassone (Hugh Jackman), um homem elegante, que veste ternos de grife, cuida com
detalhes da sua aparência submetendo-se
a cirurgias plásticas, usando de perfumes caros, maquiagem ou cuidando dos
cabelos, mas que leva uma vida dupla
também no campo sentimental com dois
discretos casos homossexuais.
No trabalho
ele se apresenta um profissional detalhista, perfeccionista e atencioso, que decora
os nomes dos alunos, dos seus auxiliares e de todos no seu entorno. Como gestor,
ele trabalha para que sua escola seja uma
das melhores do país e portanto, uma
referência em educação, o que o torna respeitado na comunidade de pais, alunos
e professores, além de comandar a controladoria, influenciando na decisões do
conselho fiscal e nas instâncias para a aprovação de projetos como o da construção
de uma passarela, naturalmente, com custos superfaturados.
Ele tem como parceira de maracutaia Pamela Gluckin (Allison
Janney), com quem divide parte dos recursos desviados. Enquanto Tassone usava o dinheiro do escola para investir
em ternos caros, carros, cirurgias cosméticas, viagens e no conforto dos
parceiros sentimentais. ela agia como uma nova rica emergente, que investia em
reformas e ampliação da casa onde morava, em festas ou em gastos supérfluos com
a família e na ajuda a parentes, uma das quais empregava na escola onde
trabalhava.
Diferente da história real, em que tudo é desvendado através
de uma carta anônima, no filme Má Educação, a
casa cai através de uma reportagem da aluna Rachel (Geraldine Viswanathan) ao tentar
produzir uma matéria sobre a obra de uma passarela na escola onde estudava. Incomodado com perguntas impertinentes da
estudante sobre o projeto e os seus custos, Tassone chega aconselha a jovem a buscar
boas histórias, estimular ações comunitárias ou incentivar o trabalho
voluntário.
O problema, é
que ao investigar os números da obra monumental ela percebe que as contas não
fecham e que recursos eram desviados de finalidade para produtos supérfluos como a compra de uma
máquina de pizza, o que apontou para o rombo nos supostos investimentos em
Roslyn. Os desvios incluíram mais de US$ 30 mil apenas para lavagem dos caros ternos
do superintendente.
O furo de
reportagem em um jornal escolar ganhou repercussão nacional nas televisões e
jornais. Integrantes do conselho se revoltam
e passam a questionar Tassone, que antes os envolvia com atenções e benesses
especiais. Para escapar, ele arma uma trama para demitir Pam, a quem acusa inicialmente
pelo desvio de US$ 250 mil e um número que cresce ainda mais de acordo com o
controlador, cuja missão não era monitorar os gastos, mas maquiar os gastos
contábeis e acobertar a fraude.
Má educação mostra uma
série de personagens convincentes e bem construídos com o suporte de uma trama
articulada. O filme termina informando que Pamela Gluckin foi presa por cinco anos
e morreu em 2017. Frank Tassone foi preso em 2006 e colocado em liberdade
condicional no período de 2010 até 2018, mas em função de uma brecha na
legislação recebe uma pensão de US$ 170 mil por ano, talvez evidência de que o
crime ainda compensa. Ele só não pode ocupar cargos públicos.
Ficha técnica
Título: Bad Education (Má Educação)
Direção: Cory Finley
Roteiro: Mike Makowsky
Elenco: Hugh Jackman, Geraldine
Viswanathan, Allison Janney, Annaleigh Ashford e Rafael Casal
Música: Michael Abels
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