sábado, 15 de agosto de 2020

O tudo ou nada de um jogador muito louco e carismático

 

O Realidade CNN  exibiu a série documental em três capítulos O Carisma Obscuro de Hitler (The Dark Charisma of Adolf Hitler), que narra a trajetória de um ex-cabo e mensageiro do exército  alemão na Primeira Guerra Mundial, o que lhe valeu uma condecoração, e que de um pintor frustrado e depressivo, acabou se metendo na política e acaboi comandando a Alemanha levando o mundo a uma guerra entre 1939 a 1945, que custou a vida de 60 milhões a 85 milhões de pessoas. Ele era um jogador que apostava no tudo ou nada e fazia prevalecer o caos.

O estranho nesta história é que o líder nazista, considerado um dos  maiores vilões da história, ao lado de figuras como Joseph Stalin, Mao Tse Tung e Genghis Khan, entre outros personagens matadores no atacado e no varejo. O fato é que apesar de ser responsável milhões de mortes e de engendrar a ideia da solução final para extermínio do povo judeu e que lutava pela erradicação do comunismo,  ainda era amado e idolatrado por seu povo, que mantinha mobilizado com o apoio da propaganda, confiando na sua palavra e no seu carisma. 

Com um  discurso de ódio, essencialmente antissemita – culpava os judeus pela derrota da Alemanha na I Guerra Mundial e pelos problemas econômicos do seu país -,  racista e misógino, ele não aceitava conselhos e nem ouvia conselhos, mas convenceu uma nação inteira a entrar numa guerra sem fronteiras, que deixou a Europa em ruínas. Ele também usou a tecnologia a seu favor – falando teatralmente em comícios, usando emissoras de rádio, filmes e percorreu toda a Alemanha de avião na tentativa de se eleger para a chefia do governo germânico.

A série mostra o líder nazista como um homem movido essencialmente pelo ódio, incapaz de estabelecer relacionamentos humanos normais –no filme ele empurra uma mulher que o afagava e tentava beijá-lo-, o que o tornaria  um líder improvável. Ele também era contrário a reuniões e a debates políticos, mas, no entanto, conseguiu um apoio gigantesco, ao propor um partido único num país em havia 33 agremiações partidárias de todos os matizes.

O documentário escrito pelo historiador e documentarista Laurence Rees para a BBC, fala das raízes do Holocausto,  do plano expansionista dos nazistas que invadiram a Áustria, onde foram recebidos com rosas e flores pela população, uma ação seguida da ocupação da Tchecoslováquia e da Polônia, onde matou toda a oficialidade do exército no massacre de Katyn e implantou os primeiros campos de extermínio de judeus, deflagrando o estopim da Segunda Guerra e que foi ampliada como um conflito global com a invasão da França e  de outros países europeus, até o rompimento do pacto de não agressão com Stálin, que resultou na invasão da  União Soviética, com a abertura simultânea de  três frentes de combate, o que contribuiu para acelerar a derrota dos alemães e de seus aliados do eixo.

O fato é que  todos esses acontecimentos catastróficos do século XX e que marcaram negativamente a história, podem ser atribuídos a Adolfo Hitler, que  foi, sem sombra de dúvida, um criminoso de guerra sem precedentes em termos histórico. Ele também foi responsável pela Noite dos Cristais, em novembro de 1938, com a consequente  prisão e morte de milhares de judeus, servindo de embrião para  implantação de campos de concentração.

O aparente carisma de Hitler lhe  garantia o apoio  em todas as esferas de poder nas forças armadas, onde os grupos contrários eram aniquilados a ferro e fogo. Como consequência de um atentado frustrado em que saiu com ferimentos leves, mais de 200 oficiais foram condenados e executados, alguns deles sumariamente e sem defesa. Apesar das derrotas sofridas ao longo do tempo, depois de uma série de vitórias consideradas esmagadoras e com as tropas estimuladas por anfetamina do chocolate Panzer, mesmo ele ainda era capaz de exercer uma grande influência nas pessoas que encontrava e a quem convencia com seus discursos e afagos, às vezes pegando demoradamente nas mãos do interlocutor de quem dependia algum favor ou uma missão.

Rees, mostra com imagens e depoimentos colhidos ao longo  mais de duas décadas de pesquisas com pessoas que conviveram ou foram vitimas do líder nazista, revelando que por trás da natureza aparentemente atrativa de Hitler, havia  um suposto carisma que o levou aos meandros do poder e aos caminhos da morte.

Ele foi estimulado talvez pelo psiquiatra que o tratou de uma depressão, quando o pintor medíocre foi recusado para frequentar uma escola  de artes plásticas no começo dos anos 20 do século passado e daí, derivou suas pulsões  para o sucesso no mundo político e militar, como caminhos naturais para o poder conseguido a qualquer custo, mas que também o levou, ao seu país e o mundo a um final trágico, num jogo impossível, em que valia o tudo ou nada, mas cujo epílogo é conhecido, com o custo absurdo  e injustificado da perda de milhões de vidas humanas e incalculáveis prejuízos materiais.(Kleber Torres)

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