Um filme que serve como reflexão num tempo de pandemia e
isolamento social é o documentário A
Solidão de uma Era (The Age of Loneliness) , produzido e dirigido por Sue Bourne, que
partiu da constatação de que 30% das pessoas já sentiram a aspereza da solidão,
um problema que atinge a jovens e idosos. Hoje, na Inglaterra, 7,6 milhões de
pessoas vivem sós em suas residências.
A
Solidão de uma Era constata uma epidemia de solidão, que não tem
cheiro e nem cor, mas é apenas sentida e percebida pelas pessoas isoladas nos
quatro cantos deste vasto mundo. A outra constatação ainda mais dramática do
filme é que é difícil admitir para os outros que se está solitário e isso fica
oculto nas redes sociais, onde as pessoas postam os seus melhores momentos,
fotos alegres, uma coisa distante e de certa forma dissociada da própria vida
real com seus dramas e contradições.
No filme, é apresentada a experiência de voluntários que assistem a
idosos não visitados e abandonados por parentes. Uma das entrevistadas conta
que nunca pensou que chegaria aos 100
anos, teve uma vida maravilhosa e um marido que era tudo para ela, mas ele
morreu há cinco anos e ela acabou sozinha. Hoje, ela é acompanhada por uma
cuidadora, mas não tem nenhuma conexão, pois não quer morar com parentes, mas
tem medo de morrer sozinha.
Um outro depoimento é de um idoso de 72 anos, que faz um jornal numa
rádio comunitária e acredita que as pessoas solitárias, que não fazem nada e
não têm nenhuma atividade, acabam degenerando muito rápido. Outro entrevistado
de 93 anos, não se considera um velho, mas admite em contrapartida, que nada
pode substituir o que perdeu, inclusive guarda as cinzas da mulher falecida, a
quem preferia ter viva e em sua companhia, mesmo com Alzheimer.
Uma idosa fala do isolamento e
da sensação do abandono: “há a sensação de que ninguém nos ama e nem precisa de
nós.” Outra idosa vive numa casa em companhia de cachorros, que encheram um
imóvel vazio: ”você não recebe recados, estou solitária e sinto falta de um
amor na minha vida,” diz com nostalgia de um coração solitário. Ela constata
com tristeza, que ninguém precisa dela, o que aumenta a sensação de abandono e
isolamento.
O filme faz uma outra constatação com base em pesquisas: 25% dos pais
britânicos se sentem isolados e solitários. Uma dona de casa mãe de filhos fala
que sente falta de convivência com
adultos, pois toda a sua vida girou em torno dos três filhos e o marido
falecido, hoje, ela combina passeios com as amigas e os filhos través das redes
sociais. Outra correlação observada no
filme é que a solidão se complementa com
depressão, solidão e tristeza.
Um divorciado que vive com filhos de 13 e 15 anos, não tem namorada e
nem vida social. Para compensar a solidão, ele faz caminhadas, corre com os
filhos, mas não vê e nem conversa com adultos por noites seguidas. Também para
compensar o isolamento ele acabou virando escritor, pois não há uma cura e nem
uma receita de 10 passos para a solidão, mas sonha “quando tiver 65 anos, quero
ter uma pessoa comigo”, complementou.
Uma mulher de 40 anos também se sente solitária e fala da falta de uma conexão
com alguém especifico, como saída, às vezes, ela entra na internet e isso piora
ainda mais a sua sensação de isolamento: “uma coisa que não pode ser assim todo
o tempo”. O seu medo maior é de ficar sozinha pelo resto da vida, mesmo tendo bens
materiais e autonomia financeira.
Um homem de 72 anos, casado, contou
que se sente solitário 24 horas por dia, mesmo com a casa cheia de gente. Já um
escritor que vive no campo, compensa o isolamento ao constatar a grande beleza
do lugar onde vive e o silêncio da fazenda, “hoje estou mais feliz do que nunca”.
Fica também evidente em A Solidão da uma era, que o isolamento é cada vez mais
inevitável e uma mulher de 72 anos, com quatro filhos espalhados na Inglaterra,
diz que é melhor ficar sozinha, do que solitária numa relação. Ela conta que
devido a solidão tem depressão, mas deixou de tomar remédios para praticar
exercícios.
O seu filho
também vive isolado, os dois se falam uma vez por semana por telefone e se veem
apenas duas vezes por anos. O rapaz tem ansiedade e depressão, não namora, já
passou em casa duas semanas sem ver ninguém e seu dia começa às 16 horas,
vivendo numa espécie de circulo vicioso de depressão e solidão.
O drama de um executivo também foi revelado no filme: ele se sentia
solitário e fracassado, mas não podia conversar com colegas e amigos que era um
solitário. Ele foi acometido de depressão, chegou a tentar suicídio e, para
tentar resolver o problema, deixou a casa, a mulher e foi a uma clínica onde
discutiu com uma enfermeira sobre seus planos de suicídio, mas acabou internado
para uma terapia. Hoje, ele passa mais tempo com a mulher, que o ajudou juntamente com seu chefe na
recuperação.
Por fim, A Solidão da uma era nos ensina a lição fundamental de que
devemos aproveitar o que pudermos da vida, pois ela é passageira,e fugaz. Uma
das personagens entrevistadas morreu cinco semanas depois das filmagens, em
casa, sozinha, mostrando que na maioria das vezes a solidão não tem cura e pode
ser letal.
Ficha técnica:
Título: A Solidão da uma era (Rhe Age of
Loneliness)
Direção : Sue Bourn
Fotografia : Danieel Dewsbury
Música : Steve Isles
2016
BBC
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