domingo, 9 de agosto de 2020

Uma reflexão sobre a era dos corações solitários

 

 

 

Um filme que serve como reflexão num tempo de pandemia e isolamento social é o documentário A Solidão de uma Era (The Age of Loneliness) , produzido e dirigido por Sue Bourne, que partiu da constatação de que 30% das pessoas já sentiram a aspereza da solidão, um problema que atinge a jovens e idosos. Hoje, na Inglaterra, 7,6 milhões de pessoas vivem sós em suas residências.

 

A Solidão de uma Era constata uma epidemia de solidão, que não tem cheiro e nem cor, mas é apenas sentida e percebida pelas pessoas isoladas nos quatro cantos deste vasto mundo. A outra constatação ainda mais dramática do filme é que é difícil admitir para os outros que se está solitário e isso fica oculto nas redes sociais, onde as pessoas postam os seus melhores momentos, fotos alegres, uma coisa distante e de certa forma dissociada da própria vida real com seus dramas e contradições.

 

No filme, é apresentada a experiência de voluntários que assistem a idosos não visitados e abandonados por parentes. Uma das entrevistadas conta que nunca pensou que chegaria  aos 100 anos, teve uma vida maravilhosa e um marido que era tudo para ela, mas ele morreu há cinco anos e ela acabou sozinha. Hoje, ela é acompanhada por uma cuidadora, mas não tem nenhuma conexão, pois não quer morar com parentes, mas tem medo de morrer sozinha.

 

Um outro depoimento é de um idoso de 72 anos, que faz um jornal numa rádio comunitária e acredita que as pessoas solitárias, que não fazem nada e não têm nenhuma atividade, acabam degenerando muito rápido. Outro entrevistado de 93 anos, não se considera um velho, mas admite em contrapartida, que nada pode substituir o que perdeu, inclusive guarda as cinzas da mulher falecida, a quem preferia ter viva e em sua companhia, mesmo com Alzheimer.

 

Uma  idosa fala do isolamento e da sensação do abandono: “há a sensação de que ninguém nos ama e nem precisa de nós.” Outra idosa vive numa casa em companhia de cachorros, que encheram um imóvel vazio: ”você não recebe recados, estou solitária e sinto falta de um amor na minha vida,” diz com nostalgia de um coração solitário. Ela constata com tristeza, que ninguém precisa dela, o que aumenta a sensação de abandono e isolamento.

 

O filme faz uma outra constatação com base em pesquisas: 25% dos pais britânicos se sentem isolados e solitários. Uma dona de casa mãe de filhos fala que sente falta de convivência  com adultos, pois toda a sua vida girou em torno dos três filhos e o marido falecido, hoje, ela combina passeios com as amigas e os filhos través das redes sociais.  Outra correlação observada no filme  é que a solidão se complementa com depressão, solidão e tristeza.

 

Um divorciado que vive com filhos de 13 e 15 anos, não tem namorada e nem vida social. Para compensar a solidão, ele faz caminhadas, corre com os filhos, mas não vê e nem conversa com adultos por noites seguidas. Também para compensar o isolamento ele acabou virando escritor, pois não há uma cura e nem uma receita de 10 passos para a solidão, mas sonha “quando tiver 65 anos, quero ter uma pessoa comigo”, complementou.

 

Uma mulher de 40 anos também se sente solitária e fala da falta de uma conexão com alguém especifico, como saída, às vezes, ela entra na internet e isso piora ainda mais a sua sensação de isolamento: “uma coisa que não pode ser assim todo o tempo”. O seu medo maior é de ficar sozinha pelo resto da vida, mesmo tendo bens materiais e autonomia financeira.

 

Um homem de 72 anos,  casado, contou que se sente solitário 24 horas por dia, mesmo com a casa cheia de gente. Já um escritor que vive no campo, compensa o isolamento ao constatar a grande beleza do lugar onde vive e o silêncio da fazenda, “hoje estou mais feliz do que nunca”.

 

Fica também evidente em A Solidão da uma era, que o isolamento é cada vez mais inevitável e uma mulher de 72 anos, com quatro filhos espalhados na Inglaterra, diz que é melhor ficar sozinha, do que solitária numa relação. Ela conta que devido a solidão tem depressão, mas deixou de tomar remédios para praticar exercícios.

 

O seu filho também vive isolado, os dois se falam uma vez por semana por telefone e se veem apenas duas vezes por anos. O rapaz tem ansiedade e depressão, não namora, já passou em casa duas semanas sem ver ninguém e seu dia começa às 16 horas, vivendo numa espécie de circulo vicioso de depressão e solidão.

 

O drama de um executivo também foi revelado no filme: ele se sentia solitário e fracassado, mas não podia conversar com colegas e amigos que era um solitário. Ele foi acometido de depressão, chegou a tentar suicídio e, para tentar resolver o problema, deixou a casa, a mulher e foi a uma clínica onde discutiu com uma enfermeira sobre seus planos de suicídio, mas acabou internado para uma terapia. Hoje, ele passa mais tempo com a mulher,  que o ajudou juntamente com seu chefe na recuperação.

 

Por fim, A Solidão da uma era nos ensina a lição fundamental de que devemos aproveitar o que pudermos da vida, pois ela é passageira,e fugaz. Uma das personagens entrevistadas morreu cinco semanas depois das filmagens, em casa, sozinha, mostrando que na maioria das vezes a solidão não tem cura e pode ser letal.

 

 

Ficha técnica:

 

Título: A Solidão da uma era (Rhe Age of Loneliness)

Direção : Sue Bourn

Fotografia : Danieel Dewsbury

Música : Steve Isles

2016

BBC

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