A insanidade, que ocupou espaço nas letras através do ensaio Elogio à Loucura, de Erasmo de Roterdã;
do romance primoroso D. Quixote de La
Mancha, de Miguel de Cervantes e no teatro shakespeariano, com Hamlet, que
fingia-se de alucinado, justificando que “não estou louco de verdade, estou
louco por astúcia” para vingar a morte do pai, chegou às telas dos cinemas com
o filme A luz da lua (1990), do cineasta Federico Fellini, tendo
como base o romance Il poema dei
lunatici, de Ermano Cavazzoni. O
filme é considerado uma alegoria e ao
mesmo tempo uma parábola sobre as visões e as vozes da interiores que só os loucos e os
vagabundos são capazes de ver, ouvir e
compreender, porque como disse um dos personagens, se a gente fizesse
silêncio talvez entendesse algo.
Tudo começa quando Ivo Salvbini (Roberto Benigni), se apaixona depois
de sair de um hospital psiquiátrico e tenta conquistar com artifícios a loura Aldina Ferruzzi (Nadia Ottaviani), uma musa distante e
indiferente, que atrai a atenção e os olhares dos outros homens da cidade onde
vive. Ivo recorre a imagens do poeta italiano Giacomo Leopardi, para quem a lua
pousa nos telhados e nas hortas e a compara igualmente a sua amada à lua ao
questionar “o que faz no seu silêncio a lua. Minha dileta lua”
A Voz da lua é também uma história
de amor e que tem como referências não
só a tentativa de Ivo Salvini em conquistar a sua amada, como o coloca emparelhado
como outros loucos de plantão, a exemplo de Nestore (Angelo Orlando) que se
casa e depois se separa de Marisa (Marisa Tomazi), que o deixa levando todos os
móveis, deixando no apartamento vazio uma vassoura e lavadora de roupas.
Salvini também encontra
na sua busca do amor, um oboísta
aloprado (Sim) que vive no cemitério local, que usa acordes da música erudita gerados
a partir do quinto grau da escala maior e um homem cujo passatempo é meditar sobre telhados, além de se
relacionar com Gonnella (Paolo Villagi), um ex-prefeito com um parafuso a menos, com mania de
perseguição e que ama uma misteriosa mulher,
com quem só ele conversa, vê e até dança Also
sprach Zarathustra, de Robert Strauss, que foi incluída no filme 2001 Odisseia
no Espaço, de Stanley Kubrick..
Gonnella torna Salvini seu braço direito na investigação de uma
rede de conspirações naturalmente inexistente. Os dois vagueiam pelos campos da
loucura e da infância felliniana passando pelo universo do noticiário e dos comerciais de televisão, pelo poder político e pelo
fascismo, ou mesmo na realização de concursos de beleza, como a Festa do Gnocchi
(a Nhocada), passando por lendas e contos de fadas, com Salvini experimentando o
sapato de Aldina, mas que se ajusta ao pé de cada Cinderela que ele aborda.
O filme também trata de questões religiosas
como o catolicismo, mostrando poder da Igreja e influência da igreja ou até por
um belo ritual pagão com mulheres africanas cantando ao luar. Numa metáfora à própria
história, A voz da lua passa até mesmo pela conquista da lua
recontada por três lunáticos italianos, os irmãos Micheluzzi, usando
equipamentos agrícolas de grande porte para chegar ao solo lunar, o que gerou
uma série de incidentes e com ampla repercussão na mídia, o que leva Salvini a
reflexões como: “porque a nós razoáveis, ninguém entende” e porque haveria? (Kleber Torres)
Ficha
Técnica
Título:
La
Voce della luna (A voz da lua)
Direção :
Federico Fellini
Roteiro
:
Federico Fellini e Tullio Pinelli, baseado no romance Il poema de lunatici, de
Ermano Gavazzoni
Elenco :
Roberto Benigni, Paolo Villagio,Nadia Ottaviani, Angelo Orlando,Marisa Tomasi,
Sim e Suzi Blady
Música;
Nicola Piovani
Cinematografista :
Tonino Delli Colli
Itália
1990
120 minutos
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