A verdadeira história
que serviu de inspiração para clássico Moby Dick, do genial Herman Melville, considerado uma das obras de
referência na literatura universal e que também serviu de base para o
roteiro do filme “No Coração do Mar (In the Heart of the Sea)” lançado
em 2015, com excelentes efeitos especiais, é o livro No Coração do Mar
cujo titulo original em inglês é “In the Heart of the Sea: The Tragedy
of the Whaleship Essex” do
historiador americano Nathaniel Philbrick. Ele retoma a história real a partir de uma série
de levantamentos de dados sobre os detalhes da tragédia do navio baleeiro Essex,
afundado em 1820 depois de abalroado por uma baleia no Oceano
Pacifico.
O filme resgata a trágica viagem da baleeira e os seus desdobramentos, especialmente no que diz
respeito ao destino dos tripulantes, que tentaram sobreviver ao naufrágio da
embarcação em botes com poucos mantimentos e quase sem água, chegando a
praticar canibalismo, Tudo isso ocorreu depois que uma baleia branca de grande
porte, com alabastro e mais de 30 metros de comprimento, não apenas afundou a
embarcação como perseguiu os
sobreviventes numa espécie de vingança, que seria comum aos seres considerados ‘inteligentes’ como os humanos.
"No Coração
do Mar" começa com o escritor
Melville, que acaba virando personagem da historiam, buscando entrevistar um dos sobreviventes do
Essex, Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) que evita falar sobre a tragédia marítima. Ele
guarda um segredo dos sobreviventes
sobre a prática do canibalismo durante os 90 dias em que ficaram à deriva no
mar, sem mantimentos.
Os náufragos enfrentam o que seria uma tempestade
perfeita, com condições climáticas adversas, fome, medo e desespero, fatores
associados que os levaram a rever
valores e as condições da própria existência humana e os conceitos do mundo
civilizado. Thomas que vive bêbado diz no primeiro momento que só vai falar
quando for preciso.
Em seguida, Melville, para quebrar a resistência do
entrevistado, conta que também embarcou uma vez em uma baleeira e acaba dobrando
o marujo, um homem idoso, que considera que a história
do Essex é a história de dois homens antagônicos entre si: o capitão George
Pollard (Benjamin Walker), sem experiência no mar e que descende de uma estirpe
de marinheiros e o seu primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth), um
marujo experiente,que almeja ser capitão
e quer superar a meta traçada por seu
empregador processando dois mil barris de óleo na sua volta a Nantucket, seu
porto de origem.
Com uma tripulação que composta por marujos experientes e
muitos marinheiros de primeira viagem, que têm dificuldades para içar velas, o
imediato coloca em dúvida a competência dos
tripulantes, inclusive Henry Coffin (Frank Dillane) embarcado por ser primo do capitão George Pollard,
como a do próprio capitão que manda içar velas durante uma tempestade. Vale
lembrar que superstições à parte, Coffins, em inglês significa caixão de
defunto.
Eles navegam por 12 meses na caça de baleias e o relacionamento
antagônico entre o capitão e o imediato
piora cada vez mais. Num porto do pacifico, ele descobrem um marujo maltrapilho
Clemente de Palaez, que fala do afundamento do navio Santa Maria por uma
baleia, mas tudo muda quando se deparam com uma ameaça imprevista: uma gigantesca baleia branca que irá lutar por
sua sobrevivência e acabará atacando o navio Essex e acaba perseguindo de forma
sanguinolenta à sua tripulação.
À deriva em três pequenos botes os sobreviventes da
tragédia se abrigam numa ilha deserta. Ali, encontram restos de náufragos mortos
e que não conseguiram sair por falta de socorro. O capitão filosofa sobre o
privilégio de saber sobre a própria morte futura sem chances de sobrevivência e
é desafiado pelo imediato para um acerto de contas, acreditando que o que
estavam passando em condições adversas era por ter ofendido a Deus com a sua
arrogância.
A tripulação volta ao mar e deixa três homens mais fracos
na ilha para um futuro resgate, depois de 40 dias à deriva. Em seguida um dos três
barcos que retoma a viagem desaparece.
Nas duas embarcações restantes, com a
morte de um dos tripulantes que seria jogado ao mar, o imediato lembra: “nenhum
marinheiro em são consciência descarta o que poderia salvá-lo”.
Thomas Nickerson, que vive em companhia da mulher em uma
casa modesta, conta com detalhes que os tripulantes prepararam o corpo do morto
separando as partes moles (órgãos), depois desossaram os mesmos e separaram braços e pernas, fechando o corpo e
jogando os restos mortais no mar. Primeiro, eles comiam o coração dos mortos e
depois fígado, rins e por fim a carne.
Ele confessa que guardou este segredo macabro por décadas
e não teria coragem nem mesmo de contar à mulher, “que por certo não me amaria
sabendo das abominações que cometi”. A mulher nega e diz que a força do jovem
que o alimentou ainda vive em Thomas na
sua velhice.
No mar, ele conta que os sobreviventes sorteavam quem iria
viver ou morrer para a continuidade da viagem macabra e assim, um dos marujos
se suicida para não matar o capitão.
O grupo acaba encontrando um porto depois de 90 dias à
deriva. Eles chegam à Más Afuera, no Chile, onde recebem roupas, água e alimentos,
que têm dificuldade de digerir e só três meses depois chegam em casa, no
Nantucket Harbor, onde desembarcam em 21 de junho de 1921. Ali foram recebidos
como assombrações, mas ninguém nada questionou sobre a prática de canibalismo,
embora parecesse que todos sabiam do enredo desta história trágica.
O capitão e o imediato foram ouvidos pelas autoridades náuticas,
que engendraram uma outra história que não a de um navio afundado por uma
baleia, mas de uma nau que encalhou no vasto oceano, para tentar receber com
facilidade o seguro com uma estória pelo menos verossímil, no que foram
contestados pelos dois oficiais que mantiveram a versão real dos fatos.
No fim, o capitão George Pollard voltou ao mar e tentou
se vingar da baleia branca como o capitão Ahab, de Moby Dicjk, com sua perna de
pau, mas acabou duas vezes amaldiçoado, desta vez com o navio encalhado num
oceano longínquo. Já o imediato Owen volta ao mar, não mais numa baleeira, mas
como capitão da marinha mercante.
No fim fica a lição do velho Hermann Melville no filme ao
falar “da coragem para ir onde você não quer ir”, numa obra de ficção e
ao mesmo tempo numa história com base na realidade e que as vezes é mais áspera
e pior que a ficção.(Kleber Torres)
Ficha técnica
Título: No Coração do Mar (In the Heart of the Sea)
Direção: Ron Howard
Roteiro: Charles Leavitt, Rick Jaffa e Amanda Silver, baseado
em No Coração do Mar, de Nathaniel
Philbrick
Elenco: Chris
Hemsworth, Benjamin Walker, Cillian Murphym Tom Holland, Ben Whishaw, Brendan
Gleeson e Michelle Fairley
Gênero: Drama
Música : Roque Baños
Direção de arte: Neal
Callow, Dean Clegg, Nick Gottschalk, Christian Huband e Niall Moroney
Cinematografia: Anthony Dod Mantle