segunda-feira, 30 de abril de 2018

Uma história que transcende as barreiras e da essência do jornalismo










Uma aula de jornalismo e uma lição de vida assim pode ser definida a essência o documentário The newspaperman: the life and times de Bem Bradlee  (O Homem do Jornal: A Vida de Ben Bradlee), de John Maggio, com duração de 90 minutos e narrado pelo próprio jornalista. O filme revela a história de um controvertido  profissional em imprensa que foi  aluno de uma das melhores universidades americanas,  oficial da Marinha americana com oito condecorações, correspondente internacional, privou da amizade do presidente John Kennedy, que durante 29 anos foi editor do Washington Post e personagem interpretado por Jason Robards e Tom Hanks, em Todos os Homens do Presidente, de Alan Pakula, e do  The Post - A Guerra Secreta.
Com uma série de depoimentos da mulher, dos filhos e amigos, o filme revela a história de um homem de  família conservadora e que esteve incluído num estudo sobre lideres da Universidade de Havard nos anos 40. Ele conta que casou com a primeira jovem que namorou e no mesmo dia passou a atuar por oito anos na Marinha dos Estados Unidos, revelando sua capacidade de liderança e de resiliência no Pacífico durante a II Guerra Mundial.
Uma mostra desta capacidade foi o fato que na adolescência foi acometido poliomielite e superou as sequelas dedicando-se ao esporte com  ajuda e incentivo decisivos do pai. Ele  conseguiu seu primeiro emprego como jornalista em 1948 e acabou  consolidando a sua carreira quando convidado para ser  correspondente da revista Newsweek em Paris, onde conheceu a segunda mulher Tony.
O filme revela todas as facetas do jornalista, que viveu em festas e happenings de uma sociedade glamorosa,  flertando com mulheres cativanetes e cultivando amizade íntima com os Kennedys, em especial com John Kennedy que foi eleito presidente dos Estados Unidos e não perdoava nem mesmo a mulher do amigo.
Bradlee teve participação decisiva como  editor do The Washington Post na  divulgação dos Papéis do Pentágono, que resultou  numa vitória da liberdade de imprensa na Suprema Corte  - sequenciando uma cobertura iniciada pelo New York Times, que foi impedido de divulgar uma sequência de reportagens de documentos secretos sobre a guerra do Vietnã, através e uma decisão favorável ao governo americano – e que abalou o governo de Richard Nixon e o Caso Watergate acabou por derrubá-lo depois de reeleito para presidência dos Estados Unidos.
O problema é que os próceres do governo no caso de Watergate ao invés de admitirem os erros do presidente, botavam a culpa do escândalo na imprensa como ocorre no âmbito tupiniquim com os nossos corruptos envolvidos na Operação Lava Jato.
Os dois casos que tiveram repercussão mundial e são narrados no filme pelo próprio Bem Bradlee, como  também por seus protagonistas, como os repórteres Bob Woodward e Carl Berstein, que levaram com o seu aval até o fim a apuração do caso do Watergate, que a princípio seria um roubo conduzido por cinco ladrões desastrados, mas desmascarados pelos seus vínculos com a CIA e consequentemente com o governo americano. O presidente Nixon era vingativo e gravava costumeiramente as conversas com aliados e inimigos políticos, chegando a banir da Casa Branca a presença dos jornalistas do Washington Post.
No documentário que inclui depoimentos de familiares, amigos, jornalistas e políticos, o ex-secretário de Estado, Henry Kissinger fala do estilo jornalístico de Bradlee que criou uma coluna sobre gente revelando o dia a dia dos poderosos de platão, como um profissional que tinha uma preocupação com boas histórias e a verdade.
Revela ainda as duas facetas do editor, que se desculpou e assumiu um erro por uma série de reportagens indicadas para o Pulitzer – o maior prêmio jornalístico da imprensa americana-   que, comprovou-se, haviam sido forjadas pela repórter  Janet Cooke ao narrar a história fictícia – uma Fake News – de um menino de oito anos viciado em heroína desde os cinco anos. 
Bradlee assumiu o engano com uma histórica  matéria de capa seguida de quatro páginas internas, num exemplo louvável de humildade e de transparência, coisa de quem sabe separar o joio do trigo e por experiência pessoal,  avançar e recuar no momento preciso, o que aprendeu nas artes da guerra e que aplicou com sabedoria na vida.(Kleber Torres)