Uma aula de
jornalismo e uma lição de vida assim pode ser definida a essência o
documentário The newspaperman: the life and times de Bem
Bradlee (O Homem do Jornal: A Vida de Ben Bradlee),
de John Maggio, com duração de 90 minutos e narrado pelo próprio jornalista. O
filme revela a história de um controvertido profissional em imprensa
que foi aluno de uma das melhores universidades
americanas, oficial da Marinha americana com oito condecorações,
correspondente internacional, privou da amizade do presidente John Kennedy, que
durante 29 anos foi editor do Washington Post e personagem interpretado por
Jason Robards e Tom Hanks, em Todos os Homens do Presidente, de
Alan Pakula, e do The Post - A Guerra Secreta.
Com uma série
de depoimentos da mulher, dos filhos e amigos, o filme revela a história de um
homem de família conservadora e que esteve incluído num estudo sobre
lideres da Universidade de Havard nos anos 40. Ele conta que casou com a
primeira jovem que namorou e no mesmo dia passou a atuar por oito anos na
Marinha dos Estados Unidos, revelando sua capacidade de liderança e de
resiliência no Pacífico durante a II Guerra Mundial.
Uma mostra desta
capacidade foi o fato que na adolescência foi acometido poliomielite e superou
as sequelas dedicando-se ao esporte com ajuda e incentivo decisivos
do pai. Ele conseguiu seu primeiro emprego como jornalista em 1948 e
acabou consolidando a sua carreira quando convidado para
ser correspondente da revista Newsweek em Paris,
onde conheceu a segunda mulher Tony.
O filme revela
todas as facetas do jornalista, que viveu em festas e happenings de uma
sociedade glamorosa, flertando com mulheres cativanetes e cultivando
amizade íntima com os Kennedys, em especial com John Kennedy que foi eleito
presidente dos Estados Unidos e não perdoava nem mesmo a mulher do amigo.
Bradlee teve
participação decisiva como editor do The Washington Post na divulgação
dos Papéis do Pentágono, que resultou numa vitória da liberdade
de imprensa na Suprema Corte - sequenciando uma cobertura iniciada pelo New York
Times, que foi impedido de divulgar uma sequência de reportagens de documentos
secretos sobre a guerra do Vietnã, através e uma decisão favorável ao governo
americano – e que abalou o governo de Richard Nixon e o Caso Watergate acabou
por derrubá-lo depois de reeleito para presidência dos Estados Unidos.
O problema é
que os próceres do governo no caso de Watergate ao invés de admitirem os erros
do presidente, botavam a culpa do escândalo na imprensa como ocorre no âmbito
tupiniquim com os nossos corruptos envolvidos na Operação Lava Jato.
Os dois casos
que tiveram repercussão mundial e são narrados no filme pelo próprio Bem
Bradlee, como também por seus protagonistas, como os repórteres Bob
Woodward e Carl Berstein, que levaram com o seu aval até o fim a apuração do
caso do Watergate, que a princípio seria um roubo conduzido por cinco ladrões
desastrados, mas desmascarados pelos seus vínculos com a CIA e consequentemente
com o governo americano. O presidente Nixon era vingativo e gravava
costumeiramente as conversas com aliados e inimigos políticos, chegando a banir
da Casa Branca a presença dos jornalistas do Washington Post.
No documentário
que inclui depoimentos de familiares, amigos, jornalistas e políticos, o
ex-secretário de Estado, Henry Kissinger fala do estilo jornalístico de
Bradlee que criou uma coluna sobre gente revelando o dia a dia dos
poderosos de platão, como um profissional que tinha uma preocupação com boas
histórias e a verdade.
Revela ainda as
duas facetas do editor, que se desculpou e assumiu um erro por uma série de
reportagens indicadas para o Pulitzer – o maior prêmio jornalístico da imprensa
americana- que, comprovou-se, haviam sido forjadas pela
repórter Janet
Cooke ao
narrar a história fictícia – uma Fake News – de um menino de oito anos viciado
em heroína desde os cinco anos.
Bradlee assumiu
o engano com uma histórica matéria de capa seguida de quatro páginas
internas, num exemplo louvável de humildade e de transparência, coisa de quem
sabe separar o joio do trigo e por experiência pessoal, avançar e
recuar no momento preciso, o que aprendeu nas artes da guerra e que aplicou com
sabedoria na vida.(Kleber Torres)