Construído
no formato de documentário com seis episódios exibidos inicialmente em 2019 e
depois reprisados posteriormente através do canal Investigação Discovery (ID),
a série Crime.com, revela para o
espectador golpes e crimes digitais inimagináveis que aconteceram na internet
brasileira, com
repercussão e desdobramentos inclusive em outros países. Cada caso é
complementado com depoimentos de pessoas envolvidas em cada um dos casos apresentados.
Cada
episódio, com 45 minutos de duração em média, envolve três casos diferentes, narrados
pelo ator e locutor Luiz Guilherme Deliberador Favati, o qual explica
didaticamente aspectos fundamentais dos crimes cometidos com a ajuda dos
recursos e das tecnologias digitais, mas com impacto na vida real das vítimas.
Uma preocupação evidenciada no projeto está em revelar como pensam e atuam os na prática os autores de fraudes digitais seja através de
píshing, uma técnica de engenharia social usada para enganar as vítimas e obter
informações pessoais sobre as mesmas, com acesso a informações sobre senhas, arquivos
pessoais, cartões de crédito utilizados e depósitos bancários, ou mesmo de
outras modalidades operacionais.
"Crimes.com" tem também como
proposta evidenciar a vulnerabilidade
das pessoas ou de empresas aos golpes virtuais
através do acesso à rede mundial de computadores ou mesmo por telefone. Tudo
isto é facilitado pela crescente
exposição individual através às muitas plataformas digitais, as quais
sempre são monitoradas por criminosos com acesso ao crescente uso de
aplicativos usados largamente nos dias
de hoje para diversas finalidades.
De forma
complementar, série inclui ainda depoimentos
de personagens envolvidos nos casos, como delegados, investigadores, advogados,
técnicos, consultores e vítimas que aparecem em cada história, em que são
apresentadas as reencenações dos crimes e fraudes. Estes ingredientes conferem
maior dramaticidade e veracidade à série, que deveria ser ampliada no futuro,
porque as modalidades de crimes se multiplicam e se desdobram em inovações como,
por exemplo, o surgimento de quadrilhas especializadas no roubo através de transferências
de recursos pelo pix ou oferecendo lucros mirabolantes através da operação com
criptomoedas.
Uma das
histórias da série teve como referência a atuação de um dos maiores hackers do
Brasil, que se apresenta como Daniel Nascimento e foi cooptado por um outro
operador identificado como Fênix, o qual usava carros de luxo e evidenciava um
elevado padrão de vida. Os dois invadiam computadores através do sistema de
pishing e ganhavam dinheiro para si e para clientes beneficiados pelas fraudes.
O caso foi investigado pela Polícia Federal que acabou chegando aos operadores
do golpe e hoje, o jovem hacker teria abandonado as atividades criminosas, passando a operar do outro lado do balcão.
Agora, atua no mercado como consultor na área de cibersegurança.
O segundo
caso mostrado pelo Investigação Discovery foi uma fraude contra uma empresa
produtora de aplicativos, que tinha seus produtos copiados integralmente por
uma concorrente e lançado antes da desenvolvedora, com mudanças apenas nas
cores dos apps. O caso também foi investigado pela polícia, consultores e
advogados da empresa, que começaram apurando as formas possíveis de vazamentos
das informações que deveriam ser sigilosas.
Os
policiais começaram primeiramente a
monitorar os equipamentos da empresa e
as rotinas dos servidores, os quais foram submetidos a perícia. Gustavo
Batistuzzo conta que as pistas apontavam inicialmente para o diretor de
tecnologia de informação da empresa, Sérgio Andrade, e, assim, foi solicitado
em paralelo um mandado de busca e apreensão nos computadores e telefones dos
trabalhadores da empresa.
Resultado:
foi descoberto que todos os sócios da suposta empresa concorrente, que teve a
venda dos softwares piratas suspensos pela Justiça, eram empregados da empresa lesada
nos seus direitos autorais e de
propriedade tecnológica.
O
terceiro caso começa com um suposto sequestro de um homem, que em seguida corre
sozinho numa rua com ferimentos na testa e hematomas no corpo. Ele cai no
passeio e é socorrido desmaiado. A vítima é nada menos que um empresário bem
sucedido, que comandava um Clube de Empreendedorismo, especializado em investir
no mercado de apostas esportivas no mercado internacional e que funcionava em
realidade como uma pirâmide financeira.
A policia
apurou que o golpe movimentou mais de R$
200 milhões. Uma das vitimas tinha R$ 77 mil aplicados na conta de gerenciamento do saldo digital de
investimento, um capital que era monitorado através de um aplicativo que
registrava os ganhos diários na operação. Posteriormente, ela foi notificada que devido a problemas
virtuais e operacionais os saques seriam suspensos por um período de 40 dias.
O
empresário de sucesso e que vivia um elevado padrão de vida marcado pela
ostentação, com carros de luxo e viagens internacionais, acalmou os
investidores em lives nas redes sociais, fazendo o que a policia considerou uma
espécie de jogo de cena, através de
golpes estimulados pela ilusão e pela esperteza. Nas investigações também ficou
constatada a inexistência na bolsa de Londres de qualquer cadastro da
Chutehold, a sua empresa, que tinha sua base teórica na Inglaterra.
O
delegado da PF, identificado como Fernando Pires Branco, considero que a Chutehold
foi estruturalmente o projeto de uma pirâmidade que começou a ruir e que era
mantido por informações de clientes nas
redes sociais, um dos quais contando que em três meses de operação ganhou R$
400 mil. O delegado também considera que o sistema era mantido artificialmente
através de muita ostentação e de uma
vasta rede de contatos conseguidos pelo fraudador cujo aplicativo sumiu
juntamente com a plataforma após a divulgação do golpe.