Em “Que estranho chamar-se Federico / Che strano
chiamarsi Federico – Scola racconta Fellini” o cineasta Ettore Scola, que
também se consagrou como autor de “Nós que nos amávamos tanto”, de 1974; “Um
dia muito especial”, de 1977 e “O Baile”, de 1983, retrata a vida e obra de Federico Fellini,
num filme que transita além do mero documentário e que faz um mergulho no
estranho universo felliniano além de explorar as afinidades e similaridades
entre os dois cineastas italiano.
O filme produzido em 2012, coincide com o vigésimo
aniversário da morte de Federico Fellini, marca uma das justas homenagens no
70º Festival de Veneza para o grande mestre italiano de cinema, que deixou o
seu nome na cinematografia mundial. Ele reúne imagens de arquivo dos filmes de
Fellini e faz uma retrospectiva da sua obra desde a estreia do cineasta em
1939, como jovem cartunista da revista
satítica Marc’ Aurélio, onde também conheceu Scola, até seu quinto Oscar em 1993, o filme é feito
de fragmentos, impressões e momentos reconstruídos através da imagem.
O “Que estranho chamar-se Federico”, tem o roteiro
assinado por Ettore, Paola e Silvia Scola, começando por uma sequencia
inteiramente felliniana em que desfilam à noite diante da cadeira do diretor de
cinema na beira da praia uma mulher dançando, um mágico, um palhaço tocando
trompete, um engolidor de fogo e um personagem onírico fazendo bolas de sabão
para um menino, aparecendo por fim o próprio Fellini jovem descendo numa
estação de trem romana nos idos de 1939.
Em Roma, o cineasta, então com 20 anos, passa a trabalhar
numa revista de humor onde aprende com o editor que as palavras voam, mas as
escritas ficam e permanecem. Numa outra cena, um oficial fascista visita a
redação do Marc’ Aurélio, o que se contrapõe a cenas de filmes fillinianos como
Satyricon e Amarcord e se complementa depois com a chegada de Ettore Scola à
redação e seus projetos comuns para o teatro, rádio e para o cinema.
Outra referência do filme é o Estúdio 5 da Cinecittà onde
o cineasta comandava todos os seus projetos. Mostra também um Fellini boêmio,
que dormia tarde e lia todas as criticas
que saiam sobre o seu trabalho. També deixa evidente a relação entre Federico e
Scola que gostavam de desenhar, não chutavam bola de futebol e nem sabiam
nadar, mas ligados por uma afinidade e respeito intelectual. Scola convocou
Fellini como ator de um dos seus filmes,
Nós que nos amávamos tanto.
O filme também nos permite conhecer o pensamento de
Fellini que considerava as mulheres um planeta desconhecido e a vida como uma
festa que traduzia nas imagens oníricas dos seus filmes. Como artista, ele era
considerado um mentiroso diferente, que transformava tudo em fantasia e cores através
das sequências de 24 fotogramas por minuto.
Como filho de um pai que o queria médico e uma mãe que
sonhava em ter na família um cardeal,
ele se tornou um artista irônico e criativo, que retratou a repressão da
sua juventude sobre o signo e as sombras do fascismo e ao mesmo tempo revelou
um mestre que resgatou no cinema a beleza da memória em imagens, porque ela (a
memória) nos devolve a vida. O filme inclui ainda cenas da morte e do velório
de Fellini, que neste ano de 2016 ganhou
em janeiro, a companhia do amigo e discípulo Ettore Scola para uma outra festa
no céu. (Kleber Torres)
Ficha Técnica:
Título : “Que
estranho chamar-se Federico / Che strano chiamarsi Federico – Scola racconta
Fellini”
Direção : Ettore Scola
Roteiro : Ettore, Paola e Silvia Scola
Fotografia : Luciano Tivoli
Elenco: Sergio Rubini como Madonnaro, Vittorio Viviani como Narrador e um
personagem que interligava todas as cenas, Tommaso Lazotti como Fellini
(jovem), Giacomo Lazotti como Scola (jovem), Emiliano De Martino como Maccari,
Antonella Attili como Prostituta Wanda, Fabio Morici como Mosca, Andrea Salerno
como Steno, Sergio Pierattini como De Bellis, Giovanni Candelari como Avô
cego, Carlo Luca De Ruggieri como De
Torres, Pietro Scola Di Mambro como Attalo, Andrea Mautone como Metz, Ernesto
D'Argenio como Barbara, Giulio Forges Davanzati como Scarpelli.
Música: Andrea Guerra
Itália
2013
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