quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Um mergulho no estranho universo felliniano





Em “Que estranho chamar-se Federico / Che strano chiamarsi Federico – Scola racconta Fellini” o cineasta Ettore Scola, que também se consagrou como autor de “Nós que nos amávamos tanto”, de 1974; “Um dia muito especial”, de 1977 e “O Baile”, de 1983,  retrata a vida e obra de Federico Fellini, num filme que transita além do mero documentário e que faz um mergulho no estranho universo felliniano além de explorar as afinidades e similaridades entre os dois cineastas italiano.
O filme produzido em 2012, coincide com o vigésimo aniversário da morte de Federico Fellini, marca uma das justas homenagens no 70º Festival de Veneza para o grande mestre italiano de cinema, que deixou o seu nome na cinematografia mundial. Ele reúne imagens de arquivo dos filmes de Fellini e faz uma retrospectiva da sua obra desde a estreia do cineasta em 1939, como jovem  cartunista da revista satítica Marc’ Aurélio, onde também conheceu Scola,  até seu quinto Oscar em 1993, o filme é feito de fragmentos, impressões e momentos reconstruídos através da imagem.
O “Que estranho chamar-se Federico”, tem o roteiro assinado por Ettore, Paola e Silvia Scola, começando por uma sequencia inteiramente felliniana em que desfilam à noite diante da cadeira do diretor de cinema na beira da praia uma mulher dançando, um mágico, um palhaço tocando trompete, um engolidor de fogo e um personagem onírico fazendo bolas de sabão para um menino, aparecendo por fim o próprio Fellini jovem descendo numa estação de trem romana nos idos de 1939.
Em Roma, o cineasta, então com 20 anos, passa a trabalhar numa revista de humor onde aprende com o editor que as palavras voam, mas as escritas ficam e permanecem. Numa outra cena, um oficial fascista visita a redação do Marc’ Aurélio, o que se contrapõe a cenas de filmes fillinianos como Satyricon e Amarcord e se complementa depois com a chegada de Ettore Scola à redação e seus projetos comuns para o teatro, rádio e para o cinema.
Outra referência do filme é o Estúdio 5 da Cinecittà onde o cineasta comandava todos os seus projetos. Mostra também um Fellini boêmio, que dormia tarde  e lia todas as criticas que saiam sobre o seu trabalho. També deixa evidente a relação entre Federico e Scola que gostavam de desenhar, não chutavam bola de futebol e nem sabiam nadar, mas ligados por uma afinidade e respeito intelectual. Scola convocou Fellini como ator de um dos seus filmes,  Nós que nos amávamos tanto.
O filme também nos permite conhecer o pensamento de Fellini que considerava as mulheres um planeta desconhecido e a vida como uma festa que traduzia nas imagens oníricas dos seus filmes. Como artista, ele era considerado um mentiroso diferente, que transformava tudo em fantasia e cores através das sequências de 24 fotogramas por minuto.
Como filho de um pai que o queria médico e uma mãe que sonhava em ter na família um cardeal,  ele se tornou um artista irônico e criativo, que retratou a repressão da sua juventude sobre o signo e as sombras do fascismo e ao mesmo tempo revelou um mestre que resgatou no cinema a beleza da memória em imagens, porque ela (a memória) nos devolve a vida. O filme inclui ainda cenas da morte e do velório de Fellini, que neste ano de 2016  ganhou em janeiro, a companhia do amigo e discípulo Ettore Scola para uma outra festa no céu. (Kleber Torres)

Ficha Técnica:
Título :  “Que estranho chamar-se Federico / Che strano chiamarsi Federico – Scola racconta Fellini”
Direção : Ettore Scola
Roteiro : Ettore, Paola e Silvia Scola
Fotografia : Luciano Tivoli
Elenco: Sergio Rubini como Madonnaro,  Vittorio Viviani como Narrador e um personagem que interligava todas as cenas, Tommaso Lazotti como Fellini (jovem), Giacomo Lazotti como Scola (jovem), Emiliano De Martino como Maccari, Antonella Attili como Prostituta Wanda, Fabio Morici como Mosca, Andrea Salerno como Steno, Sergio Pierattini como De Bellis, Giovanni Candelari como Avô cego,  Carlo Luca De Ruggieri como De Torres, Pietro Scola Di Mambro como Attalo, Andrea Mautone como Metz, Ernesto D'Argenio como Barbara, Giulio Forges Davanzati como Scarpelli.
Música: Andrea Guerra
Itália

2013

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