segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A reinvenção diante da possibilidade inevitável da morte





Last Word (Últimas Palavras) conta a história de uma empresária  bem sucedida da área da publicidade Harriet Lawler (Shirley MacLaine), que depois de tentar suicídio tomando vinho com tranquilizantes e diante da eminência da morte em função da idade avançada, decide escrever seu obituário, mostrando os  seus e feitos ações positivas ao longo da vida.
Ela contrata com este objetivo uma jornalista, Anne Sherman (Amanda Seyfried), mas não fica satisfeita com o rascunho e nem com o roteiro que lhe é apresentado, mostrando-a como uma mulher difícil para a filha, para o ex-marido e pessoas que viviam no seu entorno. Havia quem a visse como uma megera.
De posse das informações pinçadas pela jornalista, Harriet Lawler começa a ler obituários nos jornais e resolve partir daí promover uma grande reinvenção  para reescrever sua história de vida antes que seja tarde. Para isso, ela  leva Anne Sherman a tiracolo, surgindo daí uma amizade inesperada e respeitosa entre as duas mulheres.
A empresária decide mudar de vida e rever o seu obituário a partir de quatro pontos fundamentais que considera fundamentais a partir das suas leituras: ser amada pelos familiares; ter o respeito e ser querida pelos colegas e amigos;  tocar a vida de uma pessoa mudando-a radicalmente (neste caso a estudante rebelde Brenda interpretada pela jovem atriz Ann Jewell Lee Dixon) e por fim, para fechar com chave de ouro para descrever a sua vida,  inserir um fator surpresa que serviria de gancho e de manchete principal para o obituário.
Nas suas andanças buscando referencais  a empresária vai uma escola para um contato com alunos, servindo de modelo para jovens no futuro como empreendedora é ela que se inspira na aluna rebelde, Brenda, uma das pessoas a quem pretendia tocar.
Na trajetória da sua reivenção, a empresária  redescobre a sua antiga paixão pelo jazz e pelo rock, assim, se propõe de forma gratuita a  ser Disc Jockey de  emissora de rádio local,  a quem doa sua  coleção de discos.
Harriet Lawler entendeu que quando você não tem nada de bom para falar de uma pessoa, o melhor não dizer nada e toda a história do filme é  centrada na reinvenção. Nesta viagem ela também  rememora o esforço para  tentar salvar a própria agência publicidade  que controlava e da qual foi afastada por um golpe baixo de seus asssociados, os quais deixam o L do seu nome na logomarca da empresa e se vinga arrancando a letra com a ajuda de um reboque de automóveis.
Para a jornalista, ela passa a se mostrar como uma visionária e uma pessoa  que adora rock'n'roll, vivendo num mundo complexo e bem mais difícil do que sonhamos. Na sua busca pela reinvenção, a empresária tenta um reencontro com a filha médica  que a considera como a mesma pessoa superprotetora que conheceu e a diagnóstica com transtorno obsessivo compulsivo recomendando que procure uma terapia adequada. Ela também se reaproxima do marido de quem havia se separado há duas décadas e que apreciava a sua forma decidida.
Ao  voltar para sua casa, Harriet Lawler  descobre que tem um problema cardíaco e mesmo doente procura, com a ajuda da jornalista concluir o seu obituário e ao morrer acaba homenageada com a leitura emocionada de sua biografia por Anne Sherman, que também se redescobre  dando uma guinada na sua vida e se reinventa abandonando o jornalismo e enveredando pelos caminhos da criação  literária o que a realiza como pessoa.. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Título  The Last Word (Últimas Palavras)
Direção : Mark Pellington
Roteiro : Srtuart Ross Fink
Elenco : Shirley Maclaine, Amanda Seyfield, Anne Heche, Thomas Sadoski, Ann Jewell Lee Dixon
Ano produção:        2017
Duração:      108 minutos

domingo, 19 de agosto de 2018

Uma história que transcende os limites do cangaço






O documentário Zé de Julião muito além do cangaço,  dirigido, roteirizado e produzido por Hermanno Penna, nos conta em 72 minutos, através depoimentos, a história de um dos cabras de Lampião que sobreviveu à chacina de Angico, em 28 de julho de 1938. Ele se tornou um empresário bem sucedido na área construção civil com obras no Rio de Janeiro e em Brasília durante a implantação da capital federal, optando por voltar para Poço Redondo onde acabou assassinado ao se envolver na disputa da prefeitura local.
A história, que  havia  sido  retratada de forma ficcional pelo cineasta em Aos Ventos Que Virão (2014), foi retomada dois anos depois,  num documentário com base em depoimentos de familiares e pessoas com quem Zé  Julão conviveu. Ele nasceu de uma família abastada e ainda jovem aderiu, como a maioria dos rapazes de sua terra Poço Redondo ao cangaço, se tornando a região de origem da maioria dos integrantes do bando de Lampião.
Depois da morte de Lampião e com o esfacelamento do bando, Zé de Julião conseguiu escapar à perseguição das volantes e se transferiu para o Rio de Janeiro onde trabalhou como mestre de obra e depois dono de uma construtora. Capitalizado depois de participar da construção de Brasília, ele retorna a Poço Redoando, e ingressa na política candidatando-se a prefeito, mas ao enfrentar aos poderosos e grandes proprietários acaba assassinado.
Os depoimentos falam  de fraudes numa eleição  para prefeito na qual foi acabou impedido de assumir o cargo do executivo municipal e que acabou resultando na sua morte. O  documentário tem como contraponto notícias de jornais da época, mostrando  os intrincados bastidores de jogo político mortal até para quem lutou no cangaço e enfrentou as volantes, mas tomba enfrentando aos senhores da vida e da morte, que estão acima do bem e do mal. (Kleber Torres)