domingo, 20 de dezembro de 2020

Pode a tecnologia garantir a continuidade da vida após a morte?

 



 

O homem sempre sonhou com a vida após a morte e a eternidade, mas pode a tecnologia garantir a continuidade da vida após a morte? Em 2013, o milionário russo Dmitri Itskov promoveu um simpósio internacional com neurocientistas, engenheiros, médicos e especialistas de diversas áreas do conhecimento, inclusive a construção de robôs, que foram ouvidos sobre a possibilidade de transferência de memórias e informações cérebro humano para um computador. Ele sonhava nesta interface, com a possibilidade de uma  vida eterna, tendo como suporte os recursos oferecidos pelo avanço das ciências e da tecnologia.

 Há quem considere isso perda de tempo, mas o assunto foi tema de um programa, O Imortalista, documentário exibido recentemente no  Realidade CNN. O empresário conta que na infância queria ser um cosmonauta, mas acabou se transformando  num magnata da internet e gastou parte da fortuna acumulada financiando o projeto cibernético para a imortalidade, uma ideia cujo custo não foi revelado.

Para Dmitri Itskov a imortalidade das lembranças é inútil para o indivíduo, pois a verdadeira imortalidade está na extensão de sua jornada nesta vida: “todo o resto é inútil para alguém cujo mundo está morrendo com ele”. Para o empresário russo, a verdadeira tecnologia da imortalidade deveria gerar algo para evitar morte garantindo a perpetuidade do ser humano.

A princípio, a ideia seria evitar o envelhecimento, o que passa pela proposta de reconstruir o corpo, usando peças de reposição e, depois, pelo controle do corpo  robótico, usar o poder da mente incorporando neste conjunto as características da personalidade do indivíduo.

Em Osaka, no Japão, o cientista Hiroshi Ishiguro, para quem o antológico filme Blade Runner é um Idílio, a ciência e a tecnologia abrem a cada dia novos horizontes para o homem. Ele construiu inicialmente o robô B, um protótipo montado com câmeras, microfones e sensores, que cumpria tarefas básica.  Agora, ele se dedica à construção de um  androide, Érica, que dialoga e interage com humanos, com apoio dos recursos da inteligência artificial. 

O sonho de Ishiguro é poder um falar um dia  sobre a alma de um androide, um projeto que deve mudar o conceito da morte  e a própria ideia do futuro com a construção de androides com memória e informações de pessoas reais. A ideia central do projeto seria a réplica robótica de seres humanos.

O pesquisador Rafael Yuste defende um projeto para mapear o cérebro humano, uma ideia que não é nova; Ele cita o primeiro neurocientista, Santiago Ramon Cajal, que estudou no século 19 os neurônios conectados em circuitos complexos.  Hoje, já se sabe que o cérebro humano reúne 86 bilhões de neurônios integrados num sistema de células interconexas e de alta complexidade, que funciona como uma espécie de computador.

A reportagem cita o caso de Erick Sarto, que levou um tiro na juventude e ficou tetraplégico total. Na tentativa de recuperar os movimentos, mesmo de forma mecânica, ele participa de estudos para ligar o seu cérebro a um braço robótico  conectado a um computador. 

O projeto prevê a criação de uma janela para o cérebro de sarto, a partir de dois conjuntos com 96 elétrodos e 4 milímetros cada um. Segundo o cientista Charles L. Liu pensamentos e cores são usados no treinamento para ativar os neurônios e calibrar os computadores  para controle de  tarefas.  Neste esforço Eric Sarto já conseguiu tomar inclusive uma garrafa de cerveja com a mente ativando o braço robótico através de cores e pensamentos.

Outro pesquisador, Richard Anderson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia pesquisa a  interface do computador com o cérebro humano, mas a meta final dos estudos tem sido com relação à possibilidade da  transferência do pensamento e  memórias de uma pessoa para um computador.

Como as informações podem ser copiadas e armazenadas em computadores, o cientista  Randal Koene considera que se considerado tudo isso, as perspectivas são animadoras e o céu é o limite, tudo a partir de um conjunto de ações que levem em conta a estrutura do cérebro, suas funções como algo que entra e sai – inputs e outputs- , ao lado de dados funcionais e estruturais, o que pode permitir no final das contas desenvolver um modelo matemático e a criação de chips de inteligência artificial para implementação do roteiro.

Na pesquisa das borboletas da alma uma metáfora sugerida pelo pai da neurociência Santiago Ramon Cajal para um mergulho nos pontos recônditos do cérebro humano, será  possível e viável  fazer o upload de uma mente no computador, uma tarefa impossível nos dias e com a tecnologia atual. Hoje, o trabalho de mapeamento levaria dois anos para um estudo completo do cérebro de uma mosca.

Kenneth Hayworth acredita que é possível reunir informações que podem ser codificadas num sistema binário, compatibilizando estrutura e função. Ele cita a iniciativa Brain, lançada por Obama, com um custo de US$ 3 bilhões para mapeamento do cérebro humano em dez anos, visando  ajudar a descobrir tratamentos para curar ou prevenir doenças cerebrais atualmente incuráveis, além do Alzheimer, o Parkinson e a epilepsia, assim como enfrentar traumatismos crânio-encefálicos e patologias psiquiátricas.

Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke. que desenvolve exoesqueletos computadorizados para pacientes com dificuldades de locomoção, não é tão otimista com relação à transferência  do cérebro humano para um computador. Ele rejeita a ideia de que o cérebro humano funcione como uma CPU, o que considera uma metáfora num tempo em que os computadores ganharam muito poder e são usados cada vez mais nas diversas áreas da atividade humana.

Para ele, o cérebro humano é mais complexo e está em permanente mudança, o seu funcionamento seria comparado também como metáfora, com uma orquestra sinfônica que toca sincronizada, com peças independentes entre si,o que é inteiramente diferente das peças eletrônicas.

A ideia dos andróides nos remete ao clássico filme Westworld – ninguém tem alma (1973), de Michael Crichton, onde em que os robôs em pane acabam entrando em confronto com os seres humanos,  colocando a criatura contra o seu criador e olhe que a lei da robótica elaborada por Isaac Assimov  prevê, no seu primeiro parágrafo, que nenhum robô pode ferir ou permitir que um ser humano sofra algum mal, o problema é que a lei pode ser desrespeitada e nós temos muitos exemplos no nosso dia a dia. (Kleber Torres)

domingo, 13 de dezembro de 2020

Documentário mostra uma vida lyncheana dedicada à arte sem concessões

 


 

 

O documentário David Lynch : uma vida de artista, dirigido por Jon Nguyen narra de forma intimista a trajetória  do cineasta David Lynch,  desde sua infância na pequena cidade de Missoula, em Montana até as ruas escuras da Filadélfia, considerada uma espécie de Nova York proletária, onde estudou na Academia de Belas Artes da Pensilvânia.

 

Lynch narra  os eventos que contribuíram para a sua formação, assim como para o seu estilo cinematográfico considerado surrealista, misturando imagens e sonhos, com ingredientes de violência explicita no drama das suas telas e o projeto cinematográfico iniciado com o curta metragem The Alphabet, marcado por uma experiência onírica e terror.

 

Ele conta que até a nona série era um aluno que não gostava de estudar preferindo festas e encontros com amigos. A coisa muda quando descobre o universo das artes plásticas através de um amigo cujo pai era artista. A 10ª série marcou, segundo Lynch, a grande virada na sua vida, quando tomou gosto pelos estudos e passou a investir em artes plásticas alugando um estúdio pequeno em conjunto com Jack Fisk.

 

Depois de formado, ele se muda para Boston, onde frequentou o curso de artes plásticas, que abandonou para investir num período de aperfeiçoamento em Salzburgo, na Áustria, onde viveu por três anos. Na volta passa a cursar a Academia de Belas Artes da Pensilvânia.

 

Ele conta que na Filkadelfia havia um medo espesso no ar e período em que desenvolveu a ideia da pintura em movimento, o que marca o início da sua ligação com o cinema. Em 1967, ele se muda para Aspen, casa com Peggy, com que tem uma filha Jennifer e começa a trabalhar com multitelas, com 60% do espaço marcado pelo movimento. Lynch tem na sua vida o histórico de outros três casamentos que não são relatados no documentário.

 

A partir daí ele se inscreve para uma bolsa no American Film Institute, concorrendo com cineastas conhecidos.  No AFI ele produz e dirige The Grandmother e acaba indicado para estágio no Center of Advanced Film Studiesn  que lhe abriu as portas para a Greystone Mansion, onde iniciou o projeto para o seu primeiro filme longa metragem The eraserhead (1977), um filme de terror surrealista e que se tornou uma espécie de cult-movie.

 

O documentário David Lynch : uma vida de artista não fala da sua trajetória no cinema com o filme de ficção científica Dune (1984), que foi um fracasso de crítica e de bilheteria, mas que foi seguido de Veludo Azul (Blue Velvet) um filme noir também considerado um cult movie e que lhe valeu uma indicação para o Oscar, prêmio que um dia pode receber pelo conjunto da sua obra.

 

David Lynch também criou uma série de televisão Twin Peaks e tem outros filmes no seu currículo como Wild at heart (1990) e The Straight Story, mas sem deixar num segundo plano as artes plásticas e a poesia nela implícita em quadros que unem imagens, movimento e palavras que lhes dão um sentido e uma nova forma conceitual.

 

 

Ficha técnica:                     

Título : David Lynch : The Art Life (David Lynch : Uma vida de artista)

Diretor : Jon Nguyen

Roteiro : Matt Lutz

Cinematografista : Jason Scheuneman

Música : Jonatan Bengta

2016

100 minutos

Inglês

Colorido