Um retrato da
vida tumultuada do lendário do compositor e bandeonista Astor Piazzolla, filho
de Italianos e que se vivo o fosse, hoje
teria mais de 100 anos, é o resultado do filme Piazzolla: os anos do tubarão, dirigido por Daniel Rosenfeld, que
também participou da elaboração do roteiro ao lado de Fernando Regueira. O documentário foi construído a partir de
imagens e registros de áudio inéditos, descobertos pelo filho Daniel Piazzolla,
o que permite uma visão da música e da sua arte revolucionária mudando em
definitivo os rumos da história do tango ao incorporar referências do jazz e da
música clássica, além de mostrar a intimidade do músico com a família, amigos e
os seus projetos pessoais.
Piazzolla
aprendeu bandeon no Bronx, onde sua família passou a residir num bairro judeu
depois de se mudar da Argentina para os Estados Unidos. Ali ele também começou
a lutar box e aprendeu uma regra básica e que aplicou de certa forma na vida
prática: “nunca espere ninguém bater primeiro”. Como musico, ele fez três apresentações
num hospício, onde o conheceu o poeta
Jacobo Fijman, que passou 24 anos
internado e não queria sair porque não tinha ninguém lá fora, para quem tocou Balada para um louco fazendo com que os
pacientes rissem e chorassem nas execuções do tango.
Ainda
em formação, Piazzolla também estudou música clássica para aprender teoria e
composição. Como exercício, fez adaptações da música de Bach para o bandeon com
sucesso. Ele também conheceu Carlos Gardel, que na época precisava de um garoto
entregador de jornal na filmagem do El dia em que me quieras, em 1935. Gardel
ficou impressionado com o jovem e o convidou para tocar em sua casa, elogiando o seu
desempenho. Ele também o convidou para a mesma turnê em que Gardel acabou
morrendo num acidente aéreo.
Em
1936, Piazzolla começa a tocar numa orquestra de tango integrada por 13 músicos
e começou a aprender piano com o compositor erudito argentino Alberto
Ginastera. Esta experiência lhe permitiu incorporar os conhecimentos da música clássica
e do jazz para o tango, fazendo uma música para as pessoas que pensam.
Ele se
casa e monta a sua primeira orquestra própria em 1946, mas não atraia o público
para as casas noturnas em que se apresentava. Então, ele decidiu não mais tocar
num cabaré e compôs a Sinfonia de Buenos Aires – uma rapsódia portenha, que lhe
valeu um prêmio internacional para estudar composição e orquestração com Nadine
Boulanger, em Pris, levando seu bandeon e lá desenvolve um conceito do tango
novo. Boulanger também orientou celebridades da música como Burt Bacarath,
Egberto Gismonti, Igor Stravinsky e Quincey Jones.
Após o
curso na Europa, ele volta para a Argentina onde foi lutar como um gladiador em
busca do reconhecimento estético da sua música. Ele também assistiu ao mesmo
tempo em Buenos Aires, a queda do ditador Juan Domingo Peron e a crise do
tango, que perdia espaço para o rock, que conquistava os jovens portenhos.
Em
1955, desenvolve a proposta do tango para ouvir, com uma banda com oito
instrumentistas, num período em que a música era o que mais lhe interessava na
vida. Piazzolla também sentia que os jovens não mais queriam dançar o tango,
que era complicado e desenvolveu uma teoria do tango progressivo, com o octeto de
Buenos Aires associando-o ao jazz e ao clássico.
Sem
apoio, ele decide deixar Buenos Aires na busca de novos rumos e em dificuldades
financeiras aceitou um emprego de tradutor no Banco da Argentina, em Nova York,
onde passou a viver. Neste período, compôs em 30 minutos Adeus Nonino, dedicado
ao seu pai morto, o que considerou um momento especial na sua vida e passou a
comandar um quinteto e a banda Nova Guarda, dando continuidade ao projeto para
uma mudança harmônica e rítmica mais emocionante, mas sem perder a essência do
tango, com uma música nova e que atraia a atenção dos amantes do jazz.
Nesse interim,
ele se separa da mulher e começa a fazer sucesso com o quinteto, abocanhando na
época um prêmio de US$ 2,5 mil em um concurso num festival de música e dança com a Balada do Louco. Em
seguida, inicia uma parceria exitosa com o saxofonista Jerry Mulligam, no
período quando passou a ser conhecido internacionalmente e aplaudido pelo
publico.
Em
1978, Piazzolla retorna para a Argentina e volta a tocar com o quinteto. A sua
filha, que fazia oposição ao governo militar na Argentina, não perdoou o seu
almoço com o general Vidella. Mas o músico continuou a sua trajetória de
sucesso considerando que a sua música continuava em evolução e atual, “tem um
pouco de tango, mas é o mundo de Piazzola, uma música romântica e com muita ternura. Estou no período do
tubarão: pesco um dia e no outro componho.”
Em 1988
, ele se apresenta no Teatro Cólon e depois foi operado do coração, sendo aconselhado
a deixar os palcos se dedicando apenas a compor, mas obstinado,[ não obedeceu
às ordens médicas e continuou se apresentando. No filme, ele confessa que foi o
filho que Nonino queria ter: “ele lutou
muito por mim,” mas acaba doente e paralitico, e passa paralítico o último ano
de sua vida sem pescar tubarões e sem compor, conhecendo a profundidade e os
limites absolutos da solidão e da morte.(Kleber Torres)
Ficha
técnica :
Título Piazolla: los años del tiburón (Piazolla : os anos
do tubarão)
Direção: Daniel Rosenfeld
Roteiro : Daniel Rosenfeld/Fernando Regueira
Elenco : Astor Piazolla, Daniel Piazolla, Alejandro
Varillo Penovi
Produção : Frabnçoise Grazi
Gênero : documentário
Duração : 90 minutos
Ano : 2018
País : Argentina / França
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