Estrelado por Takashi Shimura, um
médico alcoólatra e consumidor de saquê que trata sem anestesia a um jovem
mafioso ligado à yakuza Matsunaga
(Toshiro Mifune) depois de uma briga com uma gang rival. O médico suspeita
que ele esta tuberculoso, e além
de pedir um exame raio-x tenta
convencê-lo a começar um
tratamento à base de repouso e superalimentação.
Os dois se tornam amigos até que o
chefe do mafioso prisão e tenta reunir seu grupo novamente, promovendo festas e
bebedeiras, o que deixa Matsunaga ainda mais fraco e cada vez mais
debililitado. O paciente para de seguir o tratamento orientado pelo amigo, que
ameaça até de morte, enquanto o mafioso vem sendo preterido e abandonado pelos
amigos e ex-aliados, que o isolam
Para Kurosawa este foi o primeiro
filme que pode dirigir sem a tutela oficial do governo, dando assim vazão a um
projeto pessoal para retratar a
sociedade japonesa no pós guerra e ao
mesmo tempo fazendo uma reflexão sobre a violência e as suas conseqüências,
afinal mudar as pessoas com uma abordagem razoável, é o melhor remédio para a
vida. O filme também retrata em preto e branco os bastidores do submundo do crime e da própria sociedade
japonesa mostrando a força da máfia num país em crise, empobrecido e que teve de fazer muitos sacrifícios
inúteis, como justifica um dos seus personagens.
O filme também realça um protagonista como uma espécie de anti-heroi e um bad-boy, que
tenta a conquista e o domínio machista das mulheres. Ele marca o início de uma
rica parceria do cineasta com Toshirō Mifune, então um egresso do exército
imperial nipônico, que interpretou o homem emagrecido pela tuberculose.
Kurosawa consegue fundir a ação característica de um filme de gangsteres no
estilo dos filmes noir americanos tendo como pano de fundo a luta pela
sobrevivência e a liberdade, num país que conviveu na primeira metade do século
20 com um aumento dos casos de tuberculose e enfrentou problemas com o fim de uma guerra sangrenta e com muitas perdas
humanas.
Num determinado momento em que
discute com o paciente o médico diz: “o homem doente e a criança não têm
honra”, numa alusão ao código de honra da yakuza, que tem como anteparo a lenda
dos samurais, mas que é desprezado pelos mafiosos que jogam uns trocados para o
ex-sócio e investem na expectativa da sua morte em função de uma doença
debilitante.
O anjo embriagado termina numa luta
ente Matsunaga, debilitado pela doença e um mafioso covarde, que quase entrega
os pontos quando percebeu o adversário armado com uma faca. Como o filme era em
p & b, Kurozawa os faz rolar sobre uma tinta cor branca durante uma luta no hall da entrada de um apartamento
dando uma maior dramaticidade e movimentação à própria sequência.
Mas, Matsunaga acaba ferido
mortalmente e agoniza numa varanda, o
que simboliza a sua saída
definitiva do mundo do crime e ao mesmo tempo a sua libertação.
O filme termina com o médico reassumindo
a sua vida e o seu trabalho, junto a uma jovem estudante que se prepara para
atuar na área de saúde e uma mulher que se afasta do crime e do lamaçal. O filme também tem uma cena interessante e
primitiva de um efeito especial onírico, em que Matsunaga era perseguido pela
sua própria sombra ou alter-ego. (Kleber Torres - do livro Princípio das
Ideias)
Ficha técnica
Direção: Akira
Kurosawa
Roteiro: Akira
Kurosawa e Keinosuke Uegusa
Elenco: Takashi
Shimura, Toshirô Mifune e Reisaburo Yamamoto
Gênero –
drama/suspense
Música: Fumio
Hayasaka
País Japão
98 minutos
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