“Eu sou a que no
mundo anda perdida/eu sou a que na vida não tem norte” estes dois versos da
poetisa e jornalista Florbela Espanca, uma das referencias da poesia portuguesa
no século XX, abrem o filme Florbela, lançado em 2012 e ganhador de diversos prêmios
internacionais. O filme narra os seus últimos
anos da artista marcados por três casamentos fracassados, dois abortos, uma
ligação incestuosa com um irmão, o qual morre tragicamente num acidente aéreo, bem
como por uma depressão profunda, seguida de tentativas de suicídio e uma morte
adredemente anunciada.
O filme faz uma rica
reconstituição da segunda metade dos anos 20 e é entrecortado por flashes de fenômenos
oníricos ou não mas ao mesmo tempo poéticos, mas não escapa ao sabor melodramático
de uma época conturbada e que tem como pano de fundo a opressiva ditadura
salazarista. Um dos personagens diz a Florberla, interpretada por Dalila Carmo:
“este não é um país para você. É um país sem futuro”, o que leva a poetisa a
admitir que a poesia só lhe trouxe problemas.
Florberla também conta com diálogos bem construídos e
que revelam um mundo em mudança após o fim da primeira guerra mundial e às vésperas
do crash da bolsa de Nova York, com as pessoas sem perspectivas. Um tempo em que
há dias que não se repetem e erros que não
se perdoam, como explica outro personagem.
Mas a inquieta Florbela, depois de se casar pela terceira vez
com o médico Mário Lago (Albano Jerónimo), não consegue conciliar a vida de
dona de casa e esposa na monotonia da província,
onde não consegue escrever e bem se
conforma com a rotina de uma vida domestica confortável, mas limitada.
Assim, ela larga tudo
apos receber uma carta do seu irmão Apeles (Ivo Canelas), piloto de um
hidroavião da Aviação Naval, partindo para Lisboa uma cidade que considera mãe para quem
está longe e madrasta para quem fica, em busca de inspiração. Ali, ela volta a
conviver com a vida boemia, com festas animadas pelo ragtime, estilo de música
sincopada, em voga no início do século XX, originário do folclore
negro-americano e de música de dança dos brancos, sendo importante elemento
formador do jazz, sempre cercada por amigos, amantes que surgem da noite, festas
e revoltas populares contra um regime autoritário.
O marido tente
resgatá-la e levá-la para Matosinhos,
mas tudo se complica com a morte do seu
irmão num acidente aéreo, e cujo corpo jamais foi encontrado. A partir
daí ela escreveu o conjunto de contos em As Máscaras do Destino, publicado
postumamente em 1931, mas a sua saúde mental doença se complica. Ela chegou a
ser internada em função de uma depressão e de um edema pulmonar, a partir daí teria tentado o suicídio por duas vezes no
final de 1930, morrendo aos 36 anos e tem suas obras póstumas publicadas em
dezembro do mesmo ano, quando foi lançada aquela que é considera sua obra-prima,
Charneca em Flor. (Kleber Torres)
Ficha
técnica
Direção: Vicente Alves do Ó
Elenco: Dalila Carmo, Albano Jerónimo, Ivo
Canelas, José Neves, Antonio Fonseca, Carmen Santos
Fotografia: Luís
Branquinho
Gênero Drama / Biografia
Nacionalidade Portugal
2012
1 hora e 55 minutos
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