domingo, 16 de agosto de 2015

A fuga de um médico nazista para a América do Sul







Selecionado para representar a Argentina na disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2014, o filme Wakolda / O Médico Alemão resgata a questão da influência do nazismo na América do Sul, um tema já enfocado em filmes como Aleluia Gretchen(1976), de Sylvio Back e Os Meninos do Brasil (1978), de  Franklin J. Schaffner, a partir de um romance de Ira Levin, que foi um best-seller.
O filme tem como cenário a remota Patagônia, e conta a história de uma família que está voltando a Bariloche para assumir uma hospedaria recebida de herança e acaba conhecendo o médico alemão Helmut Gregor, interpretado por Alex Brandemühl, codinome usado por Josef Mengele, que era conhecido nos campos de concentração nazista como o Anjo da Morte e acaba se tornando o primeiro hóspede da pousada familiar.
O filme mostra o fugitivo nazista protegido por uma poderosa rede de colaboradores com base na Argentina –onde monta um laboratório médico e dá continuidade a suas pesquisas genéticas  com seres humanos e animais,- Paraguai e Brasil. Na pousada, ele mostra um interesse muito particular pela jovem Lilith (Florencia Bado), que tem um problema de nanismo e é discriminada pelos colegas na escola onde estudava como anã, a quem trata com hormônios para crescimento.
O tratamento tem o apoio da mãe da garota, que está grávida e estudou numa escola nazista na Argentina, a quem Gregor também começa a acompanhar numa  gestação de gêmeos, sua especialidade. O filme mostra a influencia do nazismo nas escolas argentinas que ensinavam alemão durante o período que antecede a segunda guerra e a sua continuidade mesmo no período do pós-guerra.
Narra ainda a ação do Mossad, serviço secreto israelense, que sequestra Adolfo Eichmann, outro carrasco nazista que também consegue abrigo em território argentino e o condena a morte em Israel num julgamento acompanhado por Hanna Artendt, que desenvolve o conceito da banalização do mal.
Mengele escapa ao cerco dos agentes israelenses mesmo monitorado por uma agente Nora(Elena Roger), que faz um documentário fotográfico sobre a sua presença na América do Sul e acaba tendo uma morte misteriosa na Europa, a qual é citada de passagem no final do filme.   O médico alemão tem um interesse todo especial pelos animais e seres humanos como cobaias de experimentos e anotações meticulosas, inclusive sobre a família que o hospeda em território argentino.
O grande mérito do filme está na trama  investigativa e mostra que a Cruz Vermelha e a própria Igreja Católica foram usados para encobrir os rastros dos nazistas na sua fuga da Europa até o continente sul-americano. O filme também mostra uma relação que chega aos limites da pedofilia   entre o médico e Lilith, bem como a capacidade do primeiro de se impor e ser seguido por ela, que é a narradora final de uma história que fica para sempre na sua memória.
Em Wakolda, o médico alemão diz que a genética é uma ciência complexa com explicações simples e plausíveis para os seus resultados e que o importante é procurar o efeito fundamental, ou seja, encontrar o padrão definitivo para a melhoria da raça e a eugenia, na construção do superhomem nazista, o que fazia medindo e pesando a tudo que o interessava, afinal “gosto do que é bonito”. Mengele morreu anônimo em Bertioga, no Brasil, onde faleceu em 7 de fevereiro de 1979, bafejado pelos ventos tropicais da impunidade. No seu caso, pelo menos e de certa forma, o crime contra a humanidade compensou.  (Kleber Torres)

Ficha Técnica
Wakolda / O médico Alemão
Direção: Lucia Puenzo
Elenco: Alex Brendemühl, Natalia Oreiro, Diego Peretti, Elena Roger, Guillermo Pfuening, Florencia Bado
Fotografia: Nicolas Puenzo
Música: Andrés Goldstein e Daniel Tarrab  
Gênero         Drama , Suspense , Histórico
Nacionalidade         França , Argentina , Espanha , Noruega
Lançamento: 12 de junho de 2014
Duração: 1h33min


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