terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Qual a lógica e os limites entre ficção e realidade ?





Qual o limite ficção e  realidade é o tema de In the Mouth of Madness (À Beira da Loucura ), um filme de terror  por dirigido por John Carpenter e que mergulha no roteiro de Michael de Luca no universo abismal e caótico de H.P.Lovercraft, um escritor americano que revolucionou o gênero de terror, atribuindo-lhe elementos fantásticos típicos dos gêneros de fantasia e ficção científica.
A história começa quando um investigador, John Trent (Sam Neill) é contratado para localizar Sutter Cane ( Jürgen Prochnow), um escritor de livros de terror que, após terminar seu último livro, desapareceu misteriosamente e sem deixar rastros. Mesmo desconfiando que isso não passa de uma jogada publicitária de marketing para divulgação do livro alavancando as vendas, ele aceita o trabalho de investigação.
Sem pistas definidas, ele começa a ler os livros do escritor desaparecido, buscando identificar  um local onde o Cane possa estar escondido, o que o leva à loucura. O problema é os livros de terror de Cane são essencialmente violentos e, após sua leitura, os leitores começam a agir de modo bizarro, provocando incidentes e mortes.
No início do filme,  as cenas se concentram num paciente, Trent internado num manicômio e que nega ser louco, pede um cigarro ao psiquiatra e depois, numa outra sequência manifesta sinais de já admitir a prevalência da loucura. Como investigador, ele  procurava ao mesmo tempo seguir a rota de pagamentos ao escritor, Sytter Cane considerado o profeta louco das palavras impressa, cuja ficção se tornou uma espécie de religião, um processo que culmina com a publicação do livro The Mouse of Madness, que dá titulo ao filme.
O problema é que em paralelo ao sumiço do escritor, cuja obra em seu conjunto tem um valor estimado de U$S 1 bilhão,  o seu agente literário fica louco e acaba contido à bala, o que coloca em xeque a ideia de um golpe publicitário para divulgação do novo best-seller. Também fica evidenciado para o investigador John Trent é que um ano antes do desaparecimento de Cane o seu trabalho havia se tornado cada vez mais estranho e bizarro, considerando que ele refletia não a ficção, mas a própria realidade, o que é um dos temas centrais do filme que tem um desenho noir.
O detetive, que parece um cético, acredita que  o efeito dos livros no comportamento dos leitores e do próprio agente literário seria fruto de uma espécie de histeria coletiva. Mas, o desenrolar do filme é marcado ainda por noticias sobre uma escalada de violência e mesmo da morte de policiais, enquanto o detetive Trent começa a devorar  os livros do escritor descobrindo criaturas sinistras que vivem na escuridão ou gente que enlouquece e vira monstro.
Trent também  sonha vendo um policial que ia lhe bater virar monstro, além de ver mortos vivos e corpos sangrando. No filme não há violência explicita, mas sugerida por cortes providenciais. Assim, enquanto o detetive  continua devorando os livros de Cane, ele romonta a sua capa, construindo um mapa em que colocando Hobb’s End, um lugar imaginário e cenário do romance   In the Mouse of Madness na Nova Inglaterra (New England).
A editora Linda Styles(Julie Carmen) propõe que o detetive a acompanhe até a Nova Inglaterra. Na viagem em um carro que passeia entre nuvens, eles passam por um estranho garoto de bicicleta e depois Styles atropela um velho que viajava na direção inversa à sua  e que acaba morrendo. Mas em Hobb’s End, onde chegam, tudo é insólito: as ruas estão vazias, há uma casa de antiguidades e num hotel, uma velha senhora seria a personagem do romance de Cane e que teria matado o marido, os hospeda. Na viagem, Trent e Styles também conversam sobre a relação entre realidade/ficção e sanidade/insanidade, mas quais os limites da razão e do bom senso?
Na cidade e no seu entorno, as cenas de violência se seguem em sequências diversas em que aparecem cães rottweiler agressivos, crianças violentas e homens armados que também procuram por Cane, abrigado numa espécie de catedral gótica. Em essência tudo parece indicar que o fim do mundo se iniciava em Hobbs End.
Styles deixa o detetive no hotel e  tenta escapar do labirinto de Hobb’a End sonzinha, mas o dono de um bar onde vai lhe diz que a cidade não é para turistas, depois, ela vai a uma Igreja onde uma criança a chama de mãe e em seguida encontra Cane  protegido pelos cachorros.  Ao voltar ao hotel a editora vê o quadro do hotel mudar de forma e descobre que a realidade é relativa e o que aparentemente é não existia.
Trent também tenta deixar a cidade cuja população parece enlouquecida e encontra Sutter Cane que pede para que ele o deixasse porque seria bom para o livro e que levasse os seus originais para o editor. O detive destrói os originais e apresenta o seu relato ao CEO da editora, Charlton Heston, que le informa sobre a publicação já editada e o filme que está chegando aos cinemas;
Mas À Beira da Loucura prossegue com cenas estranhas e neste ínterim a cidade convive com nova onda de violência e de crimes, numa escalada sem precedentes e o filme termina com o hospício destruído e com os móveis quebrados, com Trent ganhando as ruas, enquanto no prenúncio de uma espécie de  apocalipse uma voz numa emissora de radio informa  que vai continuar a transitir enquanto  puder aguentar. Um cinema abandonado e em meio ao cenário caótico ostenta cartazes e a exibição do In the Mouse of Madness, mostrando o caos e a boca escancarada da loucura.


Ficha Técnica

Titulo : À Beira da Loucura (In the Mouse of Madness)
Direção : John Carpenter
Roteiro : Michael de Luca
Elenco: Sam Neil, Jurgen Prochnow, David Warner, Charlton Heston, Julie Carmen
Gênero : Terror
Origem : EUA
Ano : 1995

95 minutos 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Miles Davis une jornalismo e música num filme autobiográfico



Ao tentar  publicar uma matéria exclusiva sobre o trompetista Miles Davis (Don Cheadle), um dos mais influentes músicos do século XX, que estava afastado dos palcos há cinco anos em função do uso intensivo de drogas e medicamentos, o repórter Dave Braden (Ewan McGregor) não respeita o seu isolamento e tenta resgatar a história do músico numa reportagem para a Rolling Stone, uma revista mensal americana, com foco na música, política e cultura popular, o que resulta numa inesperada aventura marcada por flashbacks. O resultado é o resgate da trajetória de artista sem limites e a revelação das diversas facetas controvertidas de um maiores dos astros do jazz.
Tudo começa quando Davis, que estava afastado há anos do circuito musical, faz uma intervenção em um programa de uma emissora americana e pede que não chamem a sua música de jazz, mas simplesmente de música da alma, complementando: “se vai contar uma história, conte com atitude, não me venha com papo furado”.
No mesmo programa o trompetista  faz referências a So What,  no álbum Kind of Blue, uma  álbum gravado em 1958, com a participação de monstros como o pianista Bill Evans, o baterista Jimmy Cobb, o baixista Paul Chambers e os saxofonistas John Coltrane e Julian “Cannonball” Adderley. O álbum tem sido aclamado pela critica como o mais bem-sucedido trabalho de Miles Davis e a obra de jazz mais vendida ao longo do tempo.
Davis pede ainda que o apresentador do programa toque Solea, um dos destaques do álbum Sketches os Spain, de 1959, onde também aparecem como destaques "Concierto de Aranjuez" , de Joaquim Rodrigo; “Will of the Wisp”, de Manuel Falla; “The Pan Piper” de Gil Evans, que também assina Saeta e Solea.
Para o jornalista Dave Braden, Davis define sua história de vida em duas linhas: “ nasci e mudei para Nova York, conheci uns caras, compus umas música, usei umas drogas (coca e heroína), compus ainda mais e até você aparecer na minha casa.” O filme fala da relação conturbada de Davis com a dançarina Cicely Tyson, que o ajudou numa das fases a superar o vício em heroína e que o deixa em definitivo em 1988.
Com  o objetivo de conseguir a entrevista desejada o repórter promete a Davis a melhor cocaína da cidade e ele acaba autografando na casa do traficante diversos álbuns que o mesmo colecionava. Ao jornalista, Davis, que era filho de uma família de recursos, também conta que acordou negro e sabendo tocar  e diz acreditar que a música que não evolui está morta e sepultada.
O filme é marcado por muitos flashbacks da vida do artista, com incursões na sua vida sentimental, nas festas que fazia, nos cuidados em guardar gravações, na relação conturbada com as gravadoras e que foi também vítima de prisões forjadas quando um policial o ameaça e espanca injustamente.
O filme mostra o lado humano de um artista completo, que teve muitos altos e baixos como todos os seres humanos, mas deixou imortalizada uma obra gigantesca, e que em 1944, tocou no  grupo de Billy Eckstine, em St. Louis, onde se apresentou ao lado de lendas vivas como Dizzy Gillespie e de Charles Parquer, The Bird, ao substituir  Buddy Anderson, entrando como terceiro trompetista por algumas semanas, mas acabou ficando em definitivo, sendo incorporado ao elenco da banda.
Alguns críticos questionam a qualidade do filme em função dos cortes rápidos e de veracidade da história, com o trompetista e o repórter em busca de cocaína e de receber US$ 20 mil que lhe eram devidos por uma gravadora, nas fica a ligeira sensação de que faltava algo mais, inclusive em termos de músicas de um artista com um legado tão expressivo e de qualidade reconhecida internacionalmente. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Títulos : Miles Ahead (Miles Davis)
Direção: Don Cheadle
Elenco: Don Cheadle, Ewan McGregor, Emayatzy Corinealdi  
Gênero: Drama e Biografia  

Estados Unidos