sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Miles Davis une jornalismo e música num filme autobiográfico



Ao tentar  publicar uma matéria exclusiva sobre o trompetista Miles Davis (Don Cheadle), um dos mais influentes músicos do século XX, que estava afastado dos palcos há cinco anos em função do uso intensivo de drogas e medicamentos, o repórter Dave Braden (Ewan McGregor) não respeita o seu isolamento e tenta resgatar a história do músico numa reportagem para a Rolling Stone, uma revista mensal americana, com foco na música, política e cultura popular, o que resulta numa inesperada aventura marcada por flashbacks. O resultado é o resgate da trajetória de artista sem limites e a revelação das diversas facetas controvertidas de um maiores dos astros do jazz.
Tudo começa quando Davis, que estava afastado há anos do circuito musical, faz uma intervenção em um programa de uma emissora americana e pede que não chamem a sua música de jazz, mas simplesmente de música da alma, complementando: “se vai contar uma história, conte com atitude, não me venha com papo furado”.
No mesmo programa o trompetista  faz referências a So What,  no álbum Kind of Blue, uma  álbum gravado em 1958, com a participação de monstros como o pianista Bill Evans, o baterista Jimmy Cobb, o baixista Paul Chambers e os saxofonistas John Coltrane e Julian “Cannonball” Adderley. O álbum tem sido aclamado pela critica como o mais bem-sucedido trabalho de Miles Davis e a obra de jazz mais vendida ao longo do tempo.
Davis pede ainda que o apresentador do programa toque Solea, um dos destaques do álbum Sketches os Spain, de 1959, onde também aparecem como destaques "Concierto de Aranjuez" , de Joaquim Rodrigo; “Will of the Wisp”, de Manuel Falla; “The Pan Piper” de Gil Evans, que também assina Saeta e Solea.
Para o jornalista Dave Braden, Davis define sua história de vida em duas linhas: “ nasci e mudei para Nova York, conheci uns caras, compus umas música, usei umas drogas (coca e heroína), compus ainda mais e até você aparecer na minha casa.” O filme fala da relação conturbada de Davis com a dançarina Cicely Tyson, que o ajudou numa das fases a superar o vício em heroína e que o deixa em definitivo em 1988.
Com  o objetivo de conseguir a entrevista desejada o repórter promete a Davis a melhor cocaína da cidade e ele acaba autografando na casa do traficante diversos álbuns que o mesmo colecionava. Ao jornalista, Davis, que era filho de uma família de recursos, também conta que acordou negro e sabendo tocar  e diz acreditar que a música que não evolui está morta e sepultada.
O filme é marcado por muitos flashbacks da vida do artista, com incursões na sua vida sentimental, nas festas que fazia, nos cuidados em guardar gravações, na relação conturbada com as gravadoras e que foi também vítima de prisões forjadas quando um policial o ameaça e espanca injustamente.
O filme mostra o lado humano de um artista completo, que teve muitos altos e baixos como todos os seres humanos, mas deixou imortalizada uma obra gigantesca, e que em 1944, tocou no  grupo de Billy Eckstine, em St. Louis, onde se apresentou ao lado de lendas vivas como Dizzy Gillespie e de Charles Parquer, The Bird, ao substituir  Buddy Anderson, entrando como terceiro trompetista por algumas semanas, mas acabou ficando em definitivo, sendo incorporado ao elenco da banda.
Alguns críticos questionam a qualidade do filme em função dos cortes rápidos e de veracidade da história, com o trompetista e o repórter em busca de cocaína e de receber US$ 20 mil que lhe eram devidos por uma gravadora, nas fica a ligeira sensação de que faltava algo mais, inclusive em termos de músicas de um artista com um legado tão expressivo e de qualidade reconhecida internacionalmente. (Kleber Torres)

Ficha técnica

Títulos : Miles Ahead (Miles Davis)
Direção: Don Cheadle
Elenco: Don Cheadle, Ewan McGregor, Emayatzy Corinealdi  
Gênero: Drama e Biografia  

Estados Unidos

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