terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O círculo tecnológico do fim da privacidade



A questão do fim da privacidade em um mundo cada vez mais tecnologizado é o tema central do filme O Círculo, sobre uma organização dirigida por Eamon Bailey (Tom Hanks), um empresário sem escrúpulos e acusado de violar a Lei Antitruste, que limita o poder monopolístico em setores da economia. A empresa tem como  principal produto o SeeChange, uma pequena câmera digital que permite aos usuários compartilharem detalhes de suas vidas com o mundo e em tempo real, colocando a cheque a sua privacidade e a sua vida particular.

Tudo começa com Mae (Emma Watson), uma universitária com futuro promissor, que realiza o sonho de trabalhar naquela que é considerada maior empresa de tecnologia do mundo, O Círculo. Mas ela vê sua vida mudar completamente de ponta a cabeça ao ser  contratada pelo grupo econômico, o qual  passa a monitorar e documentar sua vida em tempo integral, sempre com cobranças crescentes e exigindo inclusive de sua maior participação em eventos noturnos e nos finais de semana.

Para a empresa, a participação dos colaboradores é importante para sua integração no grupo e maior motivação para o trabalho, melhorando o rendimento pessoal do profissional a ela vinculado. Mae também é convidada para uma avaliação médica com uma especialista em esclerose múltipla e que também gostaria de coletar dados sobre o seu pai, que estava doente. A jovem se envolve no projeto True You (você é verdade) bancado pela empresa, em que tudo é gravado, visto, transmitido e analisado, com isso cada passo e respiração da pessoa monitorada acaba armazenada pelo Círculo.

As coisas se complicam quando seu namorado é ameaçado de morte, mas Mae não deixa a empresa, que mantém um rígido sistema de vigilância com o argumento de que ”nós nos importamos com as pessoas que são importantes para nós”. Ela conclui que segredos são mentiras que tornam os crimes possíveis e promete levar uma câmera do SeeChange para onde fosse, com isso, em três semanas ganhou  milhões de seguidores e visibilidade na rede mundial de computadores se transformando numa celebridade, mas como o circulo vicioso, ele precisa ser inteiro, para isso o ideal seria colocar todas as informações da pessoa no sistema agregando até titulo de eleitor, carteira de motorista e registro civil.

A empresa no seu conceito de poder considerava que em função do seu suporte tecnológico,  o governo precisava mais dela, do que ela das atenções governamentais e em sua expansão 22 nações operavam eleições através do Círculo, que pelo sistema de soul search, também tem contribuições na área da saúde ou segurança, podendo localizar uma pessoa desaparecida ou fugida em 20 minutos através de um complexo sistema de reconhecimento facial. Um exemplo de eficiência, foi o caso de uma mulher na Inglaterra, que foi presa depois de matar os três filhos e que ao fugir da cadeia foi localizada em apenas 10 minutos e 21 segundos.

O que Mae não imaginava, no entanto, é que toda essa exposição teria um preço, não só para ela, mas também para todos ao seu redor. Assim, para tentar consertar o erro,  sai da casa dos pais e volta para o Circulo na tentativa de consertar o sistema a partir do seu bojo, atuando no contrafluxo  dentro de uma organização que investia continuamente na melhoria dos serviços, porque afinal, tudo é negócio e informação é poder,  o que pode dar lucro.

Alegando que não queria viver desconectada, Mae tenta o contragolpe contra o sistema ao propor uma conexão ininterrupta, que começasse desde a empresa, com a transparência das ações dos seus líderes, através da exposição de suas vidas e rotinas. O próprio Eamon Bailey descobre ao ficar exposto que, “estamos ferrados”, porque, não tinha  mais segredos e a privacidade acabou e lamenta tragicamente: “nós não vivemos mais na sombras e as luzes se apagam”, apontando que na hora de mudança, ela tem de ser imediata até porque o futuro não espera e o feitiço acaba virando, às vezes, contra o feiticeiro.(Kleber Torres)

 

Ficha técnica:

Título : O Círculo

Diretor : James Ponsoldt

Roteiro: James Ponsoldt e Dave Eggers

Elenco : Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Katen Gila, Ellar Coltrane, Patton Oswalt e Glenne Headly

Cinematografista: Matthew Libalique

2017

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