sábado, 10 de abril de 2021

O vinculo nem sempre sutil entre o poder e o crime organizado



 

Il Divo – la spettacolare vita de Giulio Andreotti  é um filme biográfico que traça a trajetória  política do primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, interpretado por Toni Servillo, um dos líderes da Democracia Cristã, indicado sete vezes para a presidência do conselho de ministros e outras 25 para integrar o ministério. Tudo começa partir de sua última eleição em 1992 e revela as ligações de Andreotti com o crime organizado inclusive promovendo assassinatos políticos, como o que resultou na morte do jornalista Mino Pecorelli, em 1979 um dos seus críticos mais ferozes.

Ele manteve um grupo de seguidores fieis e sua vinculação com a máfia foi revelada através de depoimentos e denúncias  de diversos mafiosos presos como Tommaso Buscetta (Gaetano Balisteri),  que foi preso no Brasil em 1983 e cujas informações causaram prejuízos para a Cosa Nostra na Itália e nos Estados Unidos, onde morreu 17 anos depois.

O filme que tem uma narrativa lenta também revela  um suposto encontro de Andreotti, que era chamado pelos seus críticos de O Divo, Primeira Letra do Alfabeto, Corcunda, Raposo, Salamandra, Moloch, Papa Negro, Homem das Trevas e Belzebu, com o chefe Totó Riina citado nos vários processos do ex-primeiro ministro italiano, que chegou a ser absolvido em alguns deles por falta de provas.

A história relata o período compreendido desde a restauração da democracia italiana  no pós-guerra, entre 1946 e 1992,  com sua indicação por sete vezes para a chefia do governo italiano e para composições ministeriais. Giulio Andreotti aparece como um político hábil, articulado e de comportamento heterodoxo, indo sempre à Igreja, mas usando práticas escusas para se manter no poder a qualquer preço até mesmo com o custo de vidas humanas.

Il Divo revela a ação da loja maçônica P2, que atuava nos bastidores do poder em conjunto com a Democracia Crista, que teve entre as suas peças chaves Amintore Fanfani, Giulio Andreotti e Aldo Moro, executado depois de permanecer 55 dias em poder da Brigada Vermelha   e que em cartas escritas no cativeiro, denunciava as práticas heterodoxas da DC.

Para exemplificar a sua capacidade de sobrevivência Andreotti conta no filme, que um médico lhe deu seis meses de vida e ao retornar para nova consulta, quem tinha falecido foi o médico. No filme, ele sai à noite andando em companhia de seguranças pelas ruas de Roma para verificar in loco pichações que o denunciavam por massacres e conspirações. Ele também ia a igreja regularmente durante a madrugada e foi comparado pelo pároco que o recebeu, com o primeiro ministro Alcide de Gasperi. “que falava com Deus, enquanto ele falava com os padres,” justificando ironicamente que fazia assim porque os padres votam.

Ele também dizia que não acreditava no acaso, mas na vontade de Deus e não se queixava dos críticos, porque considerava que tinha um senso de humor, mas tinha também em seu poder um grade arquivo dos aliados e desafetos. Andreotti destacava ainda que “a ironia é a melhor forma de cura para não morrer, mas as curas para os que vão morrer são atrozes”.  

 

Isolado e abandonado por aliados que também respondiam a processos por corrupção, ele se defende no julgamento dizendo que os seus acusadores “não fazem ideia sobre os delitos que tive cometer para garantir o bem-estar e o desenvolvimento do país durante muitos anos. Eu fui o poder e vivi a monstruosa invisível contradição de perpetrar o mal para garantir o bem estar coletivo”, com um custo de 236 mortos e 817 feridos em diversos incidentes numa estratégia de tensão a  de sobrevivência com o uso da força, da violência e da intimidação. (Kleber Torres)

 

Ficha técnica

Título : Il Divo – la spettacolare vita de Giulio Andreotti  / O Divo

Diretor e Roteirista : Paolo Sorrentino

Elenco : Toni Servillo, Ana Bonaiuto, Flávio Bucci, Carlo Bucciroso, Piera Degli Esposti, Paolo Graziosi, Giulio Bosetti, Massimo Popolizio, Giorgio Colangeli,  Alberto Cracco, Lorenzo Gioielli e Gaetano Balistreri

Música : Teho Teardo

Cinematografia : Luca Bigazzi

120 minutos

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