sábado, 5 de junho de 2021

Uma história de pioneirismo e esquecimento no mundo do cinema



 

O documentário Alice Guy-Blaché – uma história não contada  resgata a trajetória de uma  cineasta pouco conhecida e quase nunca citada na história do cinema, em que pese a sua contribuição pioneira desde o final do século  XIX. O filme dirigido por Pamela B.Green e narrado por Jodie Foster reúne imagens de arquivo e entrevistas com familiares da cineasta, atores e  grandes nomes do cinema, além de mostrar  algumas obras da cineasta considerada uma grande artista, mas que acabou esquecida apesar da sua contribuição à história do cinema.

Alice Guy-Blaché nasceu na França, viveu sua juventude no Chile, retornou à Europa e depois viveu por longos anos em New Jersey (USA), onde produziu, dirigiu, roteirizou e atuou  em centenas de filmes, muitos deles preservados hoje na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e no museu Eastman. No documentário, a cineasta  conta que queria ser artista, mas o pai não deixou. A sua ligação com o cinema começou ao se empregar  como estenografa numa produtora francesa.

Ela destaca que não sabia nada de fotografia e teve de aprender tudo sobre cinema na prática do dia a dia. Seu primeiro filme foi A Fada do Repolho,  uma metáfora que combinava conto de fadas e o folclore, foi construído sem um roteiro definido e uma história que foi criada com a própria sequência das filmagens. Ela também dirigiu uma versão de O Corcunda de Notre Dame no Estúdio Esmeralda, de Gaumont, onde também trabalhou como chefe de produção.

Um fato observado em Alice Guy-Blaché – uma história não contada  é que os seus filmes eram sofisticados, experimentais  e poderiam ser considerados similares aos curtas exibidos nos dias atuais no youtube. Eram filmes que tinham sempre uma conclusão, num tempo em que também ocorriam problemas com os filmes, as câmeras e mesmo a revelação.

Nos Estados Unidos ela fundou a Solax, uma produtora cinematográfica que comandou como uma mulher de negócios astuta e que teria produzido filmes de cowboy e sobre a Guerra de Secessão. Os seus biógrafos acreditam que ela dirigiu mais de 200 filmes.

Como pioneira na história do cinema, a cineasta  também foi diretora da primeira comédia, O Colchão Epiléptico e teria influenciado inclusive  Serguei Eisenstein na direção de Outubro. Ela também foi pioneira em seriados, com a direção e produção de 25 episódios de A Paixão de Cristo, bem como no uso de efeitos especiais. Alice também teria influenciado Alfred Hitchcok, com o uso do espaço, ritmo das sequências  e movimentação de câmeras.

São do período americano filmes como Comédia de erros, Parsons Sue, Tramp Strategy, Hys mother hymn, Two little Rangers e Fight in the Dark, filmes que falam sobre fragmentos da vida e que de certa forma registraram a vida da sociedade americana no século XX. Em A full and his Money, narra a história de um cara idiota que acha uma carteira de dinheiro, compra um carro e passa a ser cortejado por todos que no passado ignoravam , quando era socialmente invisível. Os seus filmes também tratavam da condição da mulher na sociedade, inclusive como personagem central em filmes de faroeste, além de falar  da discriminação racial.O ciclo americano foi  encerrado com o final da primeira guerra mundial.

Alice Guy-Blaché  teve seus filmes exibidos na Universidade de Columbia e foi afetada pala perda de dinheiro na bolsa e pelo incêndio do seu estúdio, o que a deixou fora do mercado. Em  1918 com a eclosão da pandemia provocada pela gripe espanhola, ela voltou para a França com os filhos, tendo realizado seu último filme  em 1922.

O documentário sobre ela a mostra como Alice Guy-Blaché como a mulher que ajudou a inventar o cinema, num roteiro assinado por    Pamela B. Green e Joan Simon, baseado no livro Alice Guy-Blaché lost visionary of the cinema, de Alison McMahan, uma obra que também merece ser lida. (Kleber Torres)

 

 

Ficha técnica

 

Título : Be natural: the untold story of Alice Guy-Blaché (Alice Guy-Blaché – uma história não contada)

Direção : Pamela B.Gree

Roteiro:  Pamela Green e Joan Simon

Narração : Jodie Foster

Documentário

103 min

 Estados Unidos

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