O documentário Alice
Guy-Blaché – uma história não contada resgata a trajetória de uma cineasta pouco conhecida e quase nunca citada
na história do cinema, em que pese a sua contribuição pioneira desde o final do
século XIX. O filme dirigido por Pamela
B.Green e narrado por Jodie Foster reúne imagens de arquivo e entrevistas com familiares
da cineasta, atores e grandes nomes do
cinema, além de mostrar algumas obras da
cineasta considerada uma grande artista, mas que acabou esquecida apesar da sua
contribuição à história do cinema.
Alice Guy-Blaché nasceu na França, viveu sua juventude no
Chile, retornou à Europa e depois viveu por longos anos em New Jersey (USA),
onde produziu, dirigiu, roteirizou e atuou em centenas de filmes, muitos deles
preservados hoje na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e no museu
Eastman. No documentário, a cineasta conta que queria ser artista, mas o pai não deixou.
A sua ligação com o cinema começou ao se empregar como estenografa numa produtora francesa.
Ela destaca que não sabia nada de fotografia e teve de
aprender tudo sobre cinema na prática do dia a dia. Seu primeiro filme foi A
Fada do Repolho, uma metáfora que combinava
conto de fadas e o folclore, foi construído sem um roteiro definido e uma
história que foi criada com a própria sequência das filmagens. Ela também
dirigiu uma versão de O Corcunda de Notre Dame no Estúdio Esmeralda, de
Gaumont, onde também trabalhou como chefe de produção.
Um fato observado em Alice
Guy-Blaché – uma história não contada é que os seus filmes eram sofisticados,
experimentais e poderiam ser considerados
similares aos curtas exibidos nos dias atuais no youtube. Eram filmes que
tinham sempre uma conclusão, num tempo em que também ocorriam problemas com os
filmes, as câmeras e mesmo a revelação.
Nos Estados Unidos ela fundou a Solax, uma produtora cinematográfica
que comandou como uma mulher de negócios astuta e que teria produzido filmes de
cowboy e sobre a Guerra de Secessão. Os seus biógrafos acreditam que ela
dirigiu mais de 200 filmes.
Como pioneira na história do cinema, a cineasta também foi diretora da primeira comédia, O
Colchão Epiléptico e teria influenciado inclusive Serguei Eisenstein na direção de Outubro. Ela
também foi pioneira em seriados, com a direção e produção de 25 episódios de A
Paixão de Cristo, bem como no uso de efeitos especiais. Alice também teria
influenciado Alfred Hitchcok, com o uso do espaço, ritmo das sequências e movimentação de câmeras.
São do período americano filmes como Comédia de erros,
Parsons Sue, Tramp Strategy, Hys mother hymn, Two little Rangers e Fight in the
Dark, filmes que falam sobre fragmentos da vida e que de certa forma registraram
a vida da sociedade americana no século XX. Em A full and his Money, narra a
história de um cara idiota que acha uma carteira de dinheiro, compra um carro e
passa a ser cortejado por todos que no passado ignoravam , quando era
socialmente invisível. Os seus filmes também tratavam da condição da mulher na
sociedade, inclusive como personagem central em filmes de faroeste, além de
falar da discriminação racial.O ciclo
americano foi encerrado com o final da
primeira guerra mundial.
Alice Guy-Blaché teve
seus filmes exibidos na Universidade de Columbia e foi afetada pala perda de
dinheiro na bolsa e pelo incêndio do seu estúdio, o que a deixou fora do
mercado. Em 1918 com a eclosão da
pandemia provocada pela gripe espanhola, ela voltou para a França com os
filhos, tendo realizado seu último filme
em 1922.
O documentário sobre ela a mostra como Alice Guy-Blaché como
a mulher que ajudou a inventar o cinema, num roteiro assinado por Pamela B. Green e Joan Simon, baseado no livro
Alice Guy-Blaché lost visionary of the cinema, de Alison McMahan, uma obra que
também merece ser lida. (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título : Be natural: the untold story of Alice Guy-Blaché (Alice
Guy-Blaché – uma história não contada)
Direção : Pamela B.Gree
Roteiro: Pamela Green
e Joan Simon
Narração : Jodie Foster
Documentário
103 min
Estados Unidos
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