O filme Nise - O coração da loucura (2015)
narra a trajetória da psicanalista Nise Silveira (Glória Pires), uma
psicanalista que cuidava dos pacientes do manicômio onde trabalhava como
clientes. Ele optou pela terapia ocupacional, como parte da estratégia para humanização
do tratamento psiquiátrico, substituindo a lobotomia e do eletrochoque, duas
terapias invasivas muito utilizadas nos hospícios do Brasil, onde os loucos
eram segregados da família e da sociedade, tornando-se objeto de manipulação em
pesquisas nem sempre adequadas para os pacientes e antiéticas.
Nise era uma leitora de
Jung e, juntamente com uma artista plástica e apoio de uma pequena equipe de colaboradores, trabalhou
na construção do projeto que que resultou na implantação do Museu do Inconsciente,
em 1952, reunido trabalhos de artistas plásticos esquizofrênicos e que evoluíam
tecnicamente na elaboração de quadros e esculturas, em que revelam o seu mundo
interior e a sua visão da vida.
Ela descobriu que os
clientes, termo que usava para os
pacientes, pintavam inicialmente quadros abstratos e depois com a evolução do
processo criativo construíam mandalas e obras figurativas com muitos círculos,
atraindo a atenção inclusive de críticos de artes plásticas com Mário Pedrosa (Charles
Frick), ganhando espaço na mídia
brasileira e reconhecimento pela socidade.
Os seus métodos para humanização
do tratamento eram questionados por outros psicanalistas com quem trabalhava, que
procuravam desconstruir o seu projeto,
acusando-a de comunista. Ela considerava
que os loucos estavam dissociados do pensamento racional e o importante no
tratamento era que se descobrisse a sua própria linguagem a partir da própria
realidade objetiva do cliente.
Ao ser questionada sobre o seu método de trabalho, ela respondeu
ao colega que a criticava: “você usa furador de gelo (instrumento usado na
lobotomia, cirurgia que deixava os pacientes em sua maioria incapazes de se comuncar, andar ou se
alimentar) e eu o pincel”, destacando as diferenças
irreconciliáveis entre os dois processos.
O filme não faz
referências a Arthur Bispo do Rosário,
considerado um gênio por alguns e louco por outros, um dos mais célebres
artistas plásticos conhecidos no grupo de internos manicomiais da época e chupa uma cena do filme Estranho no Ninho, baseado no romance
de Ken Kesey, considerado um dos clássicos da contracultura, em que os
pacientes eram levados no ônibus para um passeio fora do ambiente do manicômio.
No caso brasileiro, os pacientes foram ao Jardim Botânico.
Nise: O coração da loucura também nos ensina que de artista e louco cada
um de nós tem um pouco e que uma das funções principais da arte é revelar a
linguagem a linguagem do inconsciente, a qual temos o dever de se decifrar. No
final do filme, a psicanalista Nise Silveira, já idosa e usando óculos de grau potentes
declara que “há dez mil modos de pertencer a vida e lutar pela sua época”, uma
lição que deve ser aprendida por todos nós. (Kleber Torres)
Ficha
técnica
Título :
Nise – O coração da loucura
Diretor
: Roberto
Berliner
Roteiro :
Flávia Castro, Maurício Lissovki, Maria Camargo e Chris Alcazar
Elenco :
Glória Pires, Augusto Medeiros, Bernardo Marinho, Charles Frick, Cláudio Jaborandy,
Fabrício Boliveira, Felipe Rocha e Fernando Eiras
Diretor
de Fotografia : André Horta
Diretor
de arte : Daniel Flaksman
Brasil
2015
110 minutos
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