Antecipando
os cenários da pandemia provocada pela covid-19, que registrou até agora em outubro de 2021 um
total de 220 milhões de casos e mais de 4,55 milhões de mortes no mundo, das
quais 601 mil no Brasil, o filme Vírus Fatal ( Fatal Contac : Bird Flu in América), dirigido em 2006 pelo
experimentado cineasta Richard Pearce,
trata de uma mutação do vírus H5N1 da gripe aviária transmissível entre humanos. A
obra de ficção começou, coincidentemente, na China e atingiu à população em escala planetária, com
a capacidade de matar até 300 milhões de pessoas, ou seja, um potencial cinco
vezes mais mortal que o da gripe espanhola, que há mais de um século dizimou 50
milhões de seres humanos, espalhando o pânico e deixando cidades inteiras em lockdown.
Tudo começa
com um executivo americano Ed Collins (John Atkinson) visitando as instalações
de uma empresa fornecedora na China, onde aparece um empregado tossindo e espalhando
no ar o virus H5N1, o mesmo que na vida real provocou um surto epidêmico em 1997, a partir de Hong Kong. O filme também mostra de forma didática, o
processo de transmissão do vírus de pessoa a pessoa o que ocorre no bar, num
hotel, num avião quando o paciente zero dos Estados Unidos voltou ao seu país
de origem daí a necessidade de cuidados como o uso de mascaras e
higienização, hoje enriquecida com o recurso
do álcool em gel.
Em Vírus
Fatal, 40 a 60% dos pacientes com a Sindrome
Respiratória Aguda Grave morrem com dores no corpo inteiro, com dificuldades de
respirar e tossindo tanto que rompem as cartilagens internas, se afogando em
seu próprio sangue. O filme revela também que nem todas as pessoas expostas ao vírus
adoecem, como ocorre nos dias hodiernos com a covid-19.
A reação
dos governos não foi imediata e marcada por indecisões, além de entraves burocráticos. Já governos que evitaram
falar de pandemia para não assustar à população, tiveram como primeira
preocupação assegurar a continuidade das lideranças e de comando para evitar o
caos social, estabelecendo medidas de isolamento social e de quarentena. Um
problema agravado por problemas logísticos que criaram dificuldades na produção
e distribuição de alimentos, produtos de limpeza e de medicamentos.
Numa cena
dramática uma mulher morre e o marido se suicida ao seu lado, deixando o filho
pequeno abandonado. Há também especulação generalizada, como uma elevação de
preços de mercadorias como o café sendo vendido a 17 dólares nos Estados Unidos
e com o estabelecimento de um comércio paralelo com a instauração de um mercado
negro, além de saques de mercados, o que não chegou a aconter no caso da
covid-19, o qual paralisou as economias em escala planetária, mas não impactou
à população com o desabastecimento de alimentos, um problema que afetou ao
setor de veículos e de eletroeletrônicos.
Outra
preocupação dos governos e cientistas em Vírus Fatal foi com as mutações no
vírus, bem como problemas com os antivírus que não funcionavam contra o H5N1,
daí a necessidade de investimentos em vacinas e definição de prioridades na
imunização para o pessoal da área da saúde e para as pessoas consideradas de
risco.
Collin Reed
(Stacy Keach), um dos gestores durante a pandemia provocada pelo H5N1, declarou
num dos diálogos do filme, que nunca pensou que uma gripe fosse algo tão
importante, isso em tempos que considerou tenebrosos. Virus Fatal mostra
hospitais lotados e cadáveres sem sepultura sendo cremados a céu aberto igual
ao cenário escatológico observado durante os picos da covid-19 dos nossos dias.
O filme
evidencia que não há uma resposta perfeita durante uma pandemia e que a melhor
alternativa seria a articulação de esforços entre instituições internacionais
com os governos nacionais, os quais devem atuar de forma integrada inclusive com
a iniciativa privada no enfrentamento de uma tragédia distópica e que marcou
também os nossos dias, quando as pessoas perderam o chão sob os deus pés e conheceram
uma sensação de vazio tendo de se reinventar diante do isolamento social, da
falência do sistema de saúde e de uma inevitável crise econômica com desemprego
e uma escalada inflacionária.
No filme,
nenhum herói falou de uma gripezinha e nem de remédios milagrosos ou chás para
sua prevenção, terminando com o registro de mais de 25 milhões de mortes ainda
com o contador girando na tela, mas também sem nenhuma CPI ou relatório final,
mostrando que a arte nem sempre antecipa a realidade, mas serve para prevenir.
O problema é que mesmo depois desta distópica covid-19, muitos cientistas ainda
esperam uma outra pandemia inevitável no futuro, o que exige que se não aprendemos
nenhuma lição com uma obra de ficção premonitória, melhor seria aprendermos com
este choque oferecido pela realidade, num mundo onde o que é ruim pode ainda,
segundo alguns escatologistas de plantão, piorar (Kleber Torres)
Ficha técnica
Título : Vírus Fatal ( Fatal Contac : Bird Flu
in América)
Direção :
Richard Pearce
Roteiro:
Ron McGee
Elenco:
Joely Richardson. Stacy Keach, Ann Cusak, Justina Machado, Scott Cohen. David
Ramsey, John Atkinson e Kodi Smit-Mcphee
Cinematografia :
Ian Strasburgg=
Music :
Mark Adler
Colorido
2006
90 minutos