Considerado
como um experimento social inovador com a participação de influenciadores
digitais, o filme Fake Famous:
influência e fama na era digital, dirigido por Nick Bilton e exibido pela
HBO, tem como referenciais o fato de
que em todo o mundo 40 milhões de pessoas têm mais de um milhão de seguidores
nas redes sociais e que outros 100 milhões têm em média mais de 100 mil
seguidores, sendo considerados celebridades no complexo e disputado universo
digital. O experimento envolve três jovens de Los Angeles, com o número de
seguidores relativamente pequeno, que são turbinados com a compra de seguidores falsos e apoio de um
exército invisível de robots, conhecidos como bots.
A filme exibido este ano tem como pressuposto que a fama é uma coisa
obscura e estranha, pois no passado as pessoas eram famosas em função da suas
habilidades artísticas ou esportivas, hoje, pela sua capacidade de influenciar as
pessoas através da redes sociais, tendência se acentuou a partir da pandemia
provocada pela covid-19. Ele também
reúne depoimentos de Taylor
Lorenz, que é repórter de tecnologia do The New
York Times); da influenciadora Liz Eswein; da jornalista Sarah
Frier, do Bloomberg e da escritora
Justine Bateman, autora do livro Fame: The
Hijacking of Reality) e diversos especialistas em comunicação
digital.
Fake Famous tem como contraponto o novo coronavirus, pandemia que forçou as pessoas ao isolamento e
distanciamento ampliando o seu acesso às redes sociais, as quais extrapolaram a
sua dimensão de meros aplicativos para postagem de fotos e mídias diversas,
fomentando uma indústria que movimenta milhões de dólares em escala global
através de negócios e campanhas de vendas.
Além de discutir o que é e qual a função de um influenciador digital, Fake Famous,
o filme mostra o desempenho de três personagens:
Dominique Druckman, uma atriz de filmes sobre adolescentes rebeldes e que vivia
na expectativa de sua grande chance no
cinema; Chris Bayley estilista e cantor que sonhava se impor no mundo da moda
com peças únicas e aplicava sua arte em roupas de segunda mão.
O terceiro elemento no experimento foi Wylie Heiner, assistente imobiliário, destacando no filme que a
experiência como influenciador digital foi exaustiva e competitiva o que acabou resultando na sua desistência
do processo em que afinal todo o mundo conhece alguém famoso no Instagram. Em
termo de expectativas, ele espera atuar em um outro filme e na vida real,
prosseguir seus estudos para trabalhar
em projetos educacionais com outros grupos marginalizados.
Partindo do pressuposto de que os influenciadores digitais
ganham seguidores por meio de curtidas, compartilhamentos e patrocínios, um processo
que pode ser inflado com o suporte de um verdadeiro exército de bots – robôs - contratado para gerar engajamento e motivar a
participação de pessoas, elevando artificialmente os perfis e o status do
influenciador digital. Hoje, a estimativa é de que 48% das atividades nas redes
sejam realizadas através de pessoas e o restante por robôs, que aceleram as
curtidas, gerando tráfego e retorno financeiro aos envolvidos neste negócio.
O projeto começou com uma produção e investimentos nos três personagens
do experimento que ganharam novo corte de cabelo, um novo look no seu visual,
além, naturalmente da compra de seguidores falsos, os mesmos que são usados
através de robôs para a criação de
pessoas falsas e noticias idem. Depois destes preparativos, os três influenciadores
passaram por uma bem cuidada sessão de fotos, como a de uma outra profissional
desta área, que comodamente fez uma “viagem” a Bali, passando com sua equipe de
produção apenas por uma sofisticada loja de departamentos.
O dado observado na pesquisa é que a compra de seguidores tem
de ser feita de forma discreta com a aquisição gradual de 7,5 mil adesões num dia para não alertar
aos algoritmos das operadoras das redes sociais. As adesões, falsas ou
verdadeiras servem de padrão para a
obtenção do patrocínio de produtos ou empresas que operam no mercado real.
A ideia da pesquisa foi forjar viagens, caminhadas,
hospedagem em hotéis e mansões – alugadas por uma diária inferior a mil dólares
– ou mesmo viagens de primeira classe em jatinhos fakes, cujas cabines são
alugadas por menos de 100 dólares por hora, com excelentes resultados. Quem
pretende um custo menor nestas viagens em jato executivo pode usar
criativamente até uma tampa de vaso sanitário para imitar a janela de um avião,
com custo de apenas uma dezena de dólares.
Uma estatística apresentada no filme é que mais de 60% dos
likes de pessoas famosas, consideradas celebridades nas redes sociais são
movimentadas por bots falsos. Já a socialite Kim Kardashian, uma celebridade no
mundo dos influenciadores digitais, cobra, por exemplo, 500 mil dólares por uma postagem no Instagram
e em média, um profissional posta em média três a quatro informações por dia.
O
diretor Nick Bilton, um jornalista experimentado, atinge o objetivo proposto pelo projeto do
filme ao questionar a fama e a
influência na era digital, num mundo em
que as pessoas estão em busca do sucesso e do reconhecimento nas redes sociais.
O processo envolve bilhões de seres humanos em escola planetária, num universo onde
140 milhões de pessoas, o equivalente a metade da população dos Estados Unidos
têm mais 100 mil seguidores.
A aspirante
a atriz Dominique Druckman começou a receber produtos e passou a ser procurada por empresas quando superou a marca
dos 100 mil seguidores. Também foi convidada para uma viagem com influenciadores
para Las Vegas promovida por uma indústria de roupas, com direito a uma parada
para fotos no deserto e até um parque aquático abandonado.
Ela
conta no filme que a experiência de uma semana em tempo integral de dedicação à
atividade de influenciadora digital serviu para definir uma nova meta para chegar a 250 mil seguidores.
Mas mesmo com a pandemia, ela continuou a receber presentes e produtos,
inclusive de uma joalheria.
Wylie
Heiner teve uma experiência
interessantes, com 165 curtidas e muitos comentários num curto espaço de tempo
após uma postagem turbinada por bots. O fato é que cada um dos envolvidos na
pesquisa passa a ter experiências
totalmente diferentes à medida que seus falsos seguidores construídos por
hackers, com base em pessoas existentes na base de dados da rede mundial de computadores
, crescem aos milhares a cada dia, quando a própria realidade se confronta com
os sonhos.
O
estilista Chris Bayley, desiste
do projeto por considerar que pretendia ser famoso por ser autêntico, mas sem a
ajuda de bots e não como Dominique Druckman, que virou uma outra pessoa e
ganhou até férias grátis e patrocinada, mas com a pandemia passou a perceber
que tudo é falso, com influenciadores se exibindo em praias de biquíni num
período de distanciamento social, enquanto cantores de ópera e artistas cantavam
em varandas levando alegria para as pessoas em isolamento e afetadas por uma
pandemia que custou a vida de mais de cinco milhões de pessoas em todo o mundo.
“No
meu caso,eu não preciso ser repaginado”, destacou Chris Bayley que optou por deixar o projeto
junto com Wilei Heiner. Também foi constatado que apesar da pandemia os
influenciadores digitais aumentaram o número de seguidores reais, uma provável consequência
dos isolamento das pessoas.
Fake
Famous revela por fim como o mundo online perpetua uma falsa sensação de
glamour, mas que está cada vez mais distante da realidade das pessoas e mesmo de
toda uma geração que sofre de depressão, ansiedade e vício nas mídias sociais,
num contraponto a um período de crise agravado pela pandemia da covid-19, o que
nos leva a refletir sobre a realidade e sobre a possibilidade de construção de
um mundo inteiramente fake, onde tudo é falso, como uma simples peça de ficção e de pronta
reposição. (Kleber Torres)
Ficha
técnica
Título: Fake Famous: influência e fama na era digital
Direção : Nick Bilton
Direção de fotografia : Barney Broomfield
Música : Michael Abels
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