No momento em que o ex-metalúrgico Luis Inácio Lula da
Silva, que esteve preso num processo de corrupção e tenta voltar pela terceira
vez à presidência da República, um filme interessante e que serve de espelho
para a sua trajetória política é Walesa, de 2012, dirigido por Andrzej Wajda. O
filme tem como base narrativa entrevistas do ex-presidente polonês Lech Walesa no período de 1990 a 1995, à
jornalista italiana Oriana Fallacci
interpretada pela atriz Maria Rosaria Omaggio, famosa pela cobertura de
guerras e revoluções, além de autora de entrevistas antológicas com vários líderes
mundiais e que lhe deram projeção internacional.
Lech Walesa (Robert Wieckiewicz) aparece como um político
tarimbado, que começou a vida como eletricista e empregado de um estaleiro
de Gdansk, propõe à entrevistada uma
série de perguntas para saber se a entrevistas
seria positiva ou negativa para a imagem da sua pessoa. O filme tem como
cenário desde os anos 70 com a Polônia conflagrada em um clima de revolta da
população irritada com o aumento de 30% no aumento dos preços da cesta básica e
dos serviços públicos.
O filme também traça à trajetória de Walesa, que se
tornou líder do partido Solidariedade e ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Tudo
começa quando ele sai da sua casa em 1971, para pegar um carro de bebê para o
filho e acaba detido levando panfletos no meio de uma série de confrontos entre
a população e a policia. O operário acaba detido e forçado a colaborar como
informante com as forças de segurança.
Como eletricista ele acaba se revelando como uma liderança entre os
operários ao cobrar máscaras de proteção para os trabalhadores do porto e do
estaleiro. Posteriormente, numa reunião do partido comunista que controlava o
país, ele se manifesta em defesa dos
trabalhadores, depois promete ligar a eletricidade para um amigo que estava sem
luz em casa, mas acabou demitido.
Ao ser questionado por Oriana Fallaci sobre quem o ensinou
a agir, Walesa declarou: “sou um homem com muita raiva. E preciso viver com
raiva.” O fato é que desempregado, ele acabou precisando procurar um novo
emprego, arruma vários bicos e recebe
panfletos na rua, que o levam ao comitê
dos trabalhadores onde criticou o
estágio da luta por direitos da categoria por considerar em seu discurso que
“as intenções são boas, mas o resto é lixo.”
O filme revela que a policia vai à casa de Walesa no
mesmo dia da visita do Papa João XXIII ao país, em 2 de junho de 1971, quando
ele é novamente preso mais uma vez e declara aos seus interrogadores : “antes
eu falava porque não tinha escolha” e se recusa a colaborar com os órgãos de
segurança afirmando também que não iria abandonar a sua filiação ao sindicato.
Na entrevista, ele declara à jornalista italiana que foi preso várias vezes e
que a prisão era um bom lugar para pensar.
Pai de seis filhos, ele confessa à repórter que a sua
mulher não apenas suportou as suas detenções, como o ajudou muito contirbuindo
na sua escalada política e o apoiando nas demissões que teve de enfrentar,
sempre procurando trabalhos alternativos, inclusive trabalhando no conserto de
carros. Contou ainda que em 18 de dezembro
de 1979, participou de um comício onde falou da sua demissão, sendo preso mais
uma vez pelo serviço secreto polonês, no momento em que o país vivia uma nova crise
de desabastecimento.
Ao sair da prisão, ele emerge como um dos lideres do
greve nos estaleiros, em 14 de agosto de 1980, que começou com uma grade mobilização,
mas sem a presença de Walesa, que chega após
a eclosão do movimento, depois de
escapar a um cerco policial pulando um muro. Antes de sair da sua casa, ele havia
entregue à mulher o relógio e aliança, com a recomendação para que os colocasse
à venda caso ele não voltasse.
Nesta época, os grevistas reivindicavam aumento de salário
para dois mil ztoty e redmissão dos
trabalhadores demitidos, além da construção de um monumento aos trabalhadores
mortos na greve de 1970. Para Walesa, “eles aceitaram a nossas exigências. Mas
depois alegaram que não mais aceitavam as negociações, nós estávamos em greve
por solidariedade”. Com a população da
cidade aderindo à paralisação do estaleiro e do porto, os grevistas ampliaram a
pauta de reivindicação propondo a realização de eleições livres e a lista
passou a contar com nada menos que 21 exigências.
Num outro questionamento, Oriana Fallaci pergunta a
Walesa o que significa ser líder e ele
destaca entre valores de liderança: “ser destemido e não se dobrar, além do
mais, sei o que falar com as massas”. Ele desatacou que o sucesso do
solidariedade estava no apoio de artistas e intelectuais, enquanto os russos
pressionavam as autoridades polonesas para a repressão aos grevistas, no
momento em que a paralidação ganhava adesões em todo o pais”
A greve termina em 31 de agosto de 1980 e o filme mostra
Walesa sendo carregado nos braços pelos trabalhadores. Ele comemora a anistia e
a soltura dos presos políticos e declara que “a vitória não foi minha, mas da
união de todos.” Numa outra entrevista em sua casa, deitado na cama, o líder
polonês diz à jornalista que “não me adapto á regras do jogo”, enquanto sua
mulher colocava visitas e sindicalistas para fora de casa.
Walesa também confessa na entrevista que serviu para o
roteiro do filme, que não lia livros, comprou até alguns, mas não lia mais que
cinco páginas. Em 13 de dezmebro de 1981, o secretário do partido e o prefeito
de Gdansk vão à casa de Lech Walesa informando que o governo havia decretado
lei marcial. Assim, ele volta à militância sindical e diz num encontro com
policiais que o abordaram com ameaças: “um dia vocês ainda vão me pedir
trabalho”.
O líder do Solidariedade contou ainda na entrevista, que
foi sequestrado pelos comunistas e em
11 maio de 1982 condenado à 18 anos de
prisão, mas acabou convidado a ir para a televisão para tentar encerrar uma nova paralisação dos trabalhadores. Ele
fala da repressão politica depois da ocupação da Polônia pela União Soviética, da sua participação como colaborador do
regime e das mudanças com a morte de Leonid Brejnev, ex-secretário geral
do partido comunista soviético em 10 de novembro de 1982. Bem como da festa com a soltura de Walesa, o qual declara
a Oriana Fallaci que “o país está prestes a explodir e eu sei mudar isso com
calma e paciência.”
No mais tudo culmina com as eleições que o levaram à presidência
da Polônia em 1989 e no mesmo ano, em 9 de novembro. cai o muro de Berlim, num
filme que revela uma história baseada em fatos
reais, e como a voz e a ação de um homem ganharam repercussão num mundo
globalizado e em constante mudança.(Kleber Torres)
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