sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

As metáforas e símbolos da luta pela vida em um mundo distópico

As metáforas e símbolos da luta pela vida em um mundo distópico Como nos filmes policiais do tipo noir, com uma atmosfera sombria, ambientação urbana, temática criminal e anti-heróis, a história de “Blade Runner – O Caçador de Andróides”(1982), de Ridey Scott, considerado um clássico da ficção científica, é narrada na terceira pessoa, a partir do ponto de vista de Rick Deckard (Harrison Ford). Ele é um caçador de andróides convocado para recolhimento, ou seja, eliminação sumária de quatro replicantes mais avançados, do tipo Nexus 6, considerados de útima geração, que escaparam de uma colônia espacial, cometeram uma série de assassinatos e voltaram para a Terra em busca do seu criador. O filme discute através de metáforas, diálogos instigantes e símbolos em profusão a questão da vida e a essência do medo, além de revelar as incertezas existenciais do amanhã e da própria morte. Blade Runner também revela o ponto de vista de Roy Batty (Rutger Hauer), um dos villões icônicos do cinema, que lidera os replicantes na busca para encontrar o seu criador para tentar prolongar a sua vida útil, que tem a duração limitada a um período médio de quatro anos. Mostrando como cenário uma Los Angeles futurista e decadente, a partir de novembro de 2019, o filme une técnicas expressionistas acentuadas pelo contraste entre luzes e sombras, tendo como pano de fundo uma atmosfera sombria, complementada com uma trilha sonora de música eletrônica de Vangelis, com uma mistura jazz, sintetizadores e elementos neoclássicos. O filme, baseado na novela “Do Androids Dream of Eletric Sheep” (Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas”, de Philip K. Dick, sobre um futuro distópico em que humanos convivem com replicantes num mundo caótico e em decadência apesar dos avanços e dos recursos tecnológicos disponíveis. Bade Runner não só utiliza efeitos fotográficos especiais, como também revela uma série de símbolos e metáforas que podem servir de pistas ao espectador para a compreensão da obra e mesmo com relação a mensagens e temas específicos, a exemplo do olho que emerge nas sequências iniciais ou mesmo do unicórnio, da chuva e os origamis. Tudo começa quando um ser humano artificial (replicante) detido pela polícia, Leon (Brion James) se rebela num teste de rotina e mata o seu examinador, que faz uma série de perguntas encadeadas para checar suas reações e identificar se o mesmo seria ou não, um ser humano. A crime faz com que o detetive Rick Deckard, um velho caçador de andróides, seja convocado por um oficial de polícia para a caça de um grupo de quatro replicantes que estão à solta nas ruas de Los Angeles, depois de sequestrarem uma nave que ia a uma colônia espacial, matando todos os passageiros e tripulantes. O poicial destaca para Deckard que quem não é da polícia, é da escória e estaria fora do sistema. Ele também apresenta os dossiês com informações do líder da rebelião Roy Batty, bem como de Leon, de Zhora (Joanna Cassidy), criados para trabalhos cansativos na mineração, não adequados aos humanos e Pris (Daryl Hannah), projetada como um modelo básico e prazer. No preparo para sua nova missão, Rick Deckard entrevista Rachel (Sean Young), uma suposta repicante, que questiona ao policial se ele não havia cometido erros ao confundir humanos com andróides. O teste em si envolve uma série de 20 a 30 perguntas com referências cruzadas, que devem ser respondidas de forma simples e objetiva. Ele acaba suspeitando que Raquel não seja, talvez, uma replicante, mas a dúvida fica no ar. Na tentativa de chegar ao seu criador, Roy encontra um técnico que produz os olhos dos replicantes e este lhe indica J.F.Sebastian (William Sanderson), especialista em robótica da Tyrell, empresa fabricante de andróides em laboratório e que opera em escala industrial. Ao mesmo tempo, Rick Deckard localiza Pris numa casa noturna, a quem se apresenta como integrante de uma comissão de investigação de assuntos éticos, ou seja, assédio moral, mas acaba matando-a com um tiro nas costas após uma perseguição nas ruas de LA. Observado em ação por Leon, o policial acaba atacado por ele dizendo: “acorde, é hora de morrer”. Leon fala sobre a essência do medo e, depois de uma luta intensa, acaba morto por Rick Deckard. Já Sebastian, que sofre da síndrome de Maqtusaém, a qual provoca o seu envelhecimento precoce, constata, no seu encontro com Roy e Zhora, que eles são diferentes e perfeitos, uma caracteristica do Nexus 6, a útima geração de replicantes. Roy lhe explica que eles não são computadores criados em laboratórios, mas seres vivos que querem a duração de suas vidas ampliadas e ele o leva ao desenvolvedor do projeto com quem joga xadrez online regularmente. No encontro com Roy, o doutor Eldon Tyrell, cientista responsável pela produção de andróides e lider do grupo empresarial que leva o seu sobrenome, pergunta qual é o problema que aflige ao replicante que responde: “a morte. Eu quero viver”. O cientista contrargumenta mostrando que o código genético não pode ser corrigido e os riscos decorrentes deste procedimento, o que envolve um debate acadêmico, observando: “você foi feito da melhor forma possível. Você é o fiho pródigo, é o prêmio... comemore o seu tempo. Você fez coisas extraordinárias, aproveite a vida”. Num gesto edipiano, Roy acaba cegando com as mãos e matando ao seu criador. Na sequência,Rick Deckard acaba eliminando Zhora e enfrenta a Roy numa luta violenta, mas decisiva. Inexplicavelmente, num lampejo humano, o replicante que confessa ter visto coisa que os humanos não acreditariam, acaba salvando o policial evitando que o mesmo caísse do prédio onde lutavam e acaba morrendo devido à extinção do seu ciclo de vida. Deckard conta quer não sabe porque foi salvo pelo andróide, talvez o seja porque ele amou a vida que queria viver. Talvez suspeitando que também seja um replicante, ele acaba indagando sobre quem é, para onde vai, ou quanto tempo de vida tem, mas lamentando, ser uma pena que ele (Roy) não vai viver, mas afinal, quem vive? Ao reencontrar com Raquel, ela questiona Deckard que se fugisse para o norte, ela seria seguida pelo policial ao que o mesmo respondeu: “não, porque você salvou a minha vida...Mas alguém iria”. Ela também indaga sobre os arquivos existentes sobre ela, com data de oigem, morfologia e outros dados pessoais, ao que o policial responde que são informações confidenciais. Ele também comenta que adora música e não sabia que ela tocava. Mesmo retrantando um mundo distópico e sombrio, Blade Ruinner tem na primeira das muitas cópias conhecidas um final feliz, com o policial e Raquel fugindo para uma terra bafejada pelo sol. Em tempo: quando os dois estão deixando LA, Deckard acha um origami de unicórnio, o que reforça a dúvida no ar de que ele também seja um replicante. Os críticos consideram que existem pelo menos três versões básicas do filme : a versão dos produtores, que foi aos cinemas em 1982; a versão do diretor, que foi lançada dez anos depois, e a versão final, editada pelo próprio Ridley Scott em 2007, com a sua versão pessoal. Mas ao que consta existem sete versões ao ongo do tempo. Ao espectador, cabe observar que cada versão apresenta diferenças pontuais na narração, mas, no final das contas e em essência, as mudanças de alguns detalhes da história não alteram a narrativa e o enredo, mostrando que existem diversas formas para narração e que são infinitos os limites da criação ou mesmo para fruição de uma obra de arte. Em 2017, o filme ganhou uma sequência Blade Runner 2049, dirigida por Denis Villeneuve e estrelada por Ryan Gosling e o próprio Harrison Ford, já envelhecido, 30 anos após o início da distopia e revelando um novo olhar sobre o caçador de andróides, quando o policial encarregado de caçar e eliminar replicantes levanta novas pistas sobre um segredo que pode mudar o destino da humanidade ou da própria história. Em essência, Blade Runner nos alerta sobre o futuro e os avanços tecnológicos, em função dos perigos do consumismo exagerado, da exploração intensiva dos recursos naturais e com o aumento da desigualdade social, gerando concentração da renda. O fime mostra uma Los Angeles poluída, superpovoada e violenta, onde os animais estão em extintos e as pessoas vivem em condições precárias. O filme também envolve um debate existencial sobre a função de ser e estar (vivo) num mundo com seus contrastes e circunstâncias, ampliando o debate sobre o que nos torna humanos e o que nos diferencia dos andróides, que não têm uma história de vida e ganham referenciais históricos através de informações fotográficas de outros viventes, que foram simplesmente implantadas em suas memórias. Blade Runner também nos faz refletir sobre o valor da vida e o respeito pelo outro, e quem sabe, sobre o amor ao próximo ou mesmo ao distante quando a trama envolve seres humanos e andróides, isso nnum tempo em que a inteligência artificial ganha vida, assume protagonismos e dá novos contornos a este vasto universo com todas as possibilidades. Todo este conjunto de fatores complexos nos convida a pensar sobre o papel da tecnologia e as suas consequências, afinal, neste contexto a memória, a história e a linguagem são construídas, manipuladas e fragmentadas, podendo ser implantadas ou simpesmente deletadas, colocando em cheque a própria realidade e a existência de cada um de nós como seres efêmeros e transitórios. (Kleber Torres) Ficha técnica : Título : Blade Runner (Bade Runner – O Caçador de Andróides) Direção : Ridley Scott Roteiro : Hampton Fancher e David Peoples Elenco : Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, M. Emmet Walsh, Daryl Hannah, William Sanderson, Brion James, Rian Gosling, Joe Turkel, Joanna Cassidy Diretor de fotografia : Jordan Cronemweth Visual Futurista : Syd Mead Supervisão de efeitos fotográficos especiais: Douglas Trumbull e Richard Yoricich Music : Vangelies Origem : Estados Unidos e Hong Kong Colorido 2 h e 3 minutos 1982

Nenhum comentário:

Postar um comentário