quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Um Cavalo de Tróia que pode estar no bolso de cada um

Com duração de 60 minutos, “Sob Vigilância"(Surveilled), exibido pelo HBO, é um documentário impactante e preocupante dirigido por Ronan Farrow, que mergulha profundamente na complexa indústria de espionagem cibernética, denunciando o uso de spyware que permitem acesso a fotos, mensagens, arquivos e diálogos das pessoas monitoradas jogando por terra a ideia da privacidade e cidadania. Farrow é um jornalista conhecido por seu trabalho investigativo premiado internacionalmente e neste documentário nascido a partir de uma reportagem para o New Yorker, com o título “The Survillance State,” expõe as ameaças silenciosas que a espionagem cibernética representa tanto para democracias quanto para indivíduos comuns. O documentário destaca como tecnologias de spyware, como o Pegasus, desenvolvido pelo NSO Group, uma empresa israelense especializada na produção de programas de segurança e espionagem, mas que são usadas por governos autoritários e democráticos para monitorar cidadãos, muitas vezes violando direitos constitucionais, com o uso de GPS para rastreamento dos seus alvos. Farrow apresenta uma narrativa convincente e alarmante através de entrevistas com técnicos e diretores da empresa desenvolvedora do sistema, especialistas em segurança e pessoas monitoradas em vários países, mostrando um painel crítico sobre a proliferação dessas tecnologias e os riscos associados a elas. A direção de Matthew O'Neill e Perri Peltz, que também assinaram o roteiro com Ronan Farrow, complementa a investigação proporcionando uma visão clara e perturbadora da realidade da espionagem moderna, que utiliza programas avançados capazes de transformar o celular num espião no bolso da vítima, que tem todos os seus passos monitorados em tempo real. O documentário é uma chamada urgente à ação, alertando sobre a necessidade de regulamentação e proteção contra abusos tecnológicos e revela como o software foi usado para a prisão de traficantes como El Chapo, no México, além de servir para monitorar jornalistas, políticos e defensores de direitos humanos inclusive em países do continente europeu. Além de transportar o telespectador para o cenário do “velho oeste” digital, sem lei e sem alma, o filme mostra Israel como um dos países que lidera os sistemas de vigilância digital numa escala global, usando os conflitos com o Hamas e o Hezbollah – que teve sua cúpula liquidada com o uso de spywares. Hoje, estes sistemas são usados por países europeus desde 2025 e são usados também pelos governos da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes, Kuwait e de vários países africanos com governos de viés autoritário para o combate a atividades criminosas e ao terrorismo. “Sob Vigilância” também oferece pistas para identificação e enfrentamento dos spywares. O filme, de 2024, cita o caso de pelo menos 11 diplomatas americanos que tiveram seus aparelhos telefônicos ou computadores hackeados, alertando sobretudo para os riscos e impactos destrutivos destas tecnologias digitais. O fato concreto é que o spyware veio para ficar e a indústria do setor, em plena expansão, continua crfescendo, tendo lucros e se sofisticando cada vez mais. Assim, o único caminho para quem não quiser se expor ou se tornar vulnerável é simplesmente ficar sem celular. (Kleber Torres)

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