quarta-feira, 30 de abril de 2025

Quando a vingança pode terminar com um jeitinho brasileiro

Lançado inicialmente como Favela, Falcon Rising, que seria o marco inicial de uma franquia de ação sobre Codinome Falcon, o filme Falcon Rising, recebeu no Brasil o título de Vingança Fatal (2014) e é estrelado por Michael Jai White, interpretando John 'Falcon' Chapman, um ex-fuzileiro naval americano que enfrenta traumas psicológicos em consequência de suas experiências em combate, e depois de informado sobre um atentado, vai em busca de justiça para sua irmã Cindy (Laila Ali) brutalmente atacada por um grupo mafioso envolvido no tráfico humano e exploração sexual. O filme, rodado na Costa Rica, é dirigido por Ernie Barbarash, a partir de um roteiro de Y.T.Parazi, com uma trama que se desenrola no Rio de Janeiro, no Brasil, do qual aparecem apenas cenas referenciais do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar, mas onde Chapman descobre um submundo de corrupção, tráfico de drogas e de pessoas, com exportação e exploração sexual de menores. Na busca pelos autores do atentado, Chapman conta com o apoio de um ex-colega que trabalha para a CIA no consulado dos Estados Unidos e que o apresenta a policiais brasileiros, os quais poderiam ajudar na investigação em uma favela dominada pelo tráfico, que mantém em lugar do estado omisso serviços de saúde, educação e assistência social para famílias carentes do morro. O filme também revela uma relação e parcerias heterodoxas entre policiais e criminosos como ocorre em muitas cidades brasileiras e em casos já noticiados pela mídia nacional. Michael Jai White entrega uma performance sólida, trazendo intensidade e ação ao papel de Chapman. As cenas de luta marcadas pela violência são bem sincronizadas, destacando as habilidades marciais do protagonista e a narrativa do filme enfoca questões morais e éticas, tendo como complemento a luta pela vingança e a busca por justiça. A inovação da trama, é que além dos traficantes de drogas, emerge a ação da Yakuza, uma organização criminosa transnacional e que neste caso estaria operando uma rede de tráfico e exploração sexual de adolescentes. O filme embora criticado por algumas pessoas ao considerar que ele faz uma representação superficial do Brasil, com elementos que não refletem a realidade local, como sotaques e cenários pouco autênticos, é instigante. A história também segue clichês do gênero, tornando-se previsível e pouco inovador, enquanto os personagens secundários carecem de profundidade, o que enfraquece a narrativa da trama. No final, Chapman lembra a um policial arrependido de ter se envolvido no mundo do crime, que “Deus não tem nada com isso, afinal você fez a sua escolha”, indicando os caminhos multiplos do livre arbítrio e mostrando que a vingança pode ser um prato que nem sempre se come frio. Como o filme tem como cenário o Brasil, o agente americano dá um jeitinho tipicamente brasileiro para a cobertura dos gastos com a recuperação da irmã de Chapman, que sofreu inclusive um traumatismo craniano em consequência do atentado sofrido: os custos seriam cobertos pelo governo americano que tem um sistema de amparo ao dependente dos seus servidores e assim, ele oferece e o herói aceita uma nova missão garantindo a solução de um problema e sinalizando a continuidade da franquia, naturalmente, com mais tiros, golpes de karatê e até de capoeira, além de sangue cenográfico em abundância e muita adrenalina. (Kleber Torres) Ficha técnica: Título Original: Falcon Rising (Vingança Fatal) Direção: Ernie Barbarash Roteiro: Y.T. Parazi Elenco Principal: Michael Jai White, Neal McDonough, Masashi Odate, Laila Ali, Lateef Crowden, Jimmi Navarro e Hazuki Kato Música : Neal Acree Cinematografia : Yaron Levy Gênero: Ação, Aventura Ano de Lançamento: 2014 Duração: 103 minutos País de Origem: Estados Unidos

terça-feira, 29 de abril de 2025

Assassinato de aluguel um negócio imoral que gera três mil mortes por ano

Anualmente ocorrem mais de três mil mortes no mundo provocadas por assassinos de aluguel, mas não há sinais que isto vai parar e pouco se sabe sobre estes profissionais que atuam acima do bem e do mal, sem restrições éticas ou morais. Este é o tema do episódio inicial da primeira temporada de Mercado Ilegal, uma série de programas de jornalismo investigativo apresentada por Mariana Von Zeller, explorando o funcionamento dos mercados ilegais no submundo mundial. Na sua pesquisa a jornalista ouviu sicários de Los Angeles, do México, passando pelo Brasil, Colômbia, Amsterdã e da África do Sul revelando um fenômeno global sem limites de fronteiras geográficas. No caso sulafricano, são estimadas nos últimos sete anos cerca de mil execuções por encomenda, o que torna o problema uma verdadeira epidemia agravada por um circuito de impunidade envolvendo a disputa entre grupos rivais, que lutam pelo domínio do mercado de táxis e vans de aluguel, responsável metade dos assassinatos de mando que ocorrem naquele país. A jornalista ouviu um grupo de três pistoleiros. Um destes profissionais declara sem hesitação que este é um negócio como outro qualquer e em função das encomendas alguém tem que morrer. O grupo de entrevistados incluiu um profissional de nível superior, que assume mais de 30 homicídios, considerando que matar é uma rotina e os preços podem ser contratados a partir de R$ 400,00. Há outro sicário que tenta analisar as raízes sociais do problema associando o crime de mando à pobreza, mas, em compensação não se arrepende do que faz. Em Amsterdã. Mariana Von Zeller vai muito além de uma simples exposição de casos isolados abordando integrantes de uma família de assassinos de aluguel e traficantes. Um deles alega que faz o que tinha de ser feito e sem hesitações ou restrições de caráter ético e moral destaca que esta seria uma questão de sobrevivência num mundo cão, onde outros profissionais estão igualmente disponíveis no mercado. A narrativa é densa e investiga minuciosamente o universo clandestino onde esses indivíduos operam, demonstrando como eles se inserem em uma complexa e interligada economia paralela, na qual a violência é transformada em uma mercadoria. Esse tratamento revela que, apesar do estigma e da condenação social, tais práticas emergem de contextos culturais, políticos e econômicos específicos que facilitam a proliferação desses mercados ilegais . A jornalista adota uma perspectiva que não se limita à apresentação de nomes e fatos, mas que busca compreender a lógica interna dessas redes criminosas. Dessa forma, ela explora os mecanismos organizacionais que regem a atuação dos assassinos de aluguel, destacando que eles operam dentro de um sistema muito mais amplo—onde o contrabando, a extorsão, o roubo e o tráfico se entrelaçam de forma intrincada gerando uma rede de poder. Essa visão sistêmica é essencial para perceber que os assassinos, longe de serem agentes isolados, fazem parte de um fluxo contínuo de transações ilícitas que refletem desequilíbrios socioeconômicos profundos e a fragilidade de certas estruturas repressivas e judiciais, o que revela a omissão dos governantes em relação ao problema. A série que aborda temas variados sobre mercados ilegais nos convida a pensar criticamente sobre a forma como a sociedade é impactada por essas atividades, muitas delas envolvendo somas bilionárias, ampliando a compreensão do funcionamento dos submundos criminosos, mas também evidenciando a necessidade de abordagens integradas—que combinem segurança pública, políticas sociais e práticas de prevenção—para mitigar a influência desses mercados na vida da própria sociedade e das nações. Van Zeller só não incluiu na sua reportagem a história de Júlio Santana, um brasileiro nato, pai de família exemplar e caridoso, responsável de 492 mortes, que foi imortalizado num livro e no filme “O nome da morte”, ele só foi preso por homicídio uma única vez e solto logo em seguida depois de pagar propina aos policiais sendo protegido pelo signo da impunidade(Kleber Torres).

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Quando o preço da verdade pode ser a própria morte

"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é um filme que envolve uma grave denúncia sobre contaminação da água provocada pela DuPont no desenvolvimento do teflon, a partir de um composto químico PFOA ou C8 amplamente usado na produção de frigideiras e panelas antiaderentes, o que o torna um manifesto político e ambiental sobre uma questão de saúde pública de dimensão global. Dirigido por Todd Haynes e estrelado por Mark Ruffalo, que interpreta Rob Bilott, um advogado corporativo que enfrenta uma gigante dos setor químico para expor a contaminação ambiental causada pela empresa no desenvolvimento de novos produtos. A direção de Haynes é sensível e eficaz, capturando a tensão e a persistência necessárias para enfrentar um sistema protegido por advogados, cientistas, técnicos e burocratas a serviço de uma empresa que lucrou anualmente US$ 1 bilhão com a venda do C8 ao longo das últimas cinco décadas. A fotografia de Edward Lachman utiliza tons de verde, azul e amarelo para refletir a temática ambiental, a frieza corporativa e o aconchego familiar, respectivamente. Esses elementos visuais criam uma atmosfera de desesperança e poluição, alinhada à narrativa do filme que chega a ser lenta em alguns momentos a partir da contaminação do gado e de pessoas que viviam no entorno de uma fazenda nas margens do rio Ohio, na Virgínia Ocidental, onde estava instalado um depósito de resíduos industriais. O roteiro é cuidadoso ao mostrar a resistência popular através do personagem Wilbur Tennant, interpretado por Bill Camp, que perde o seu rebanho e a prória vida, enquanto Rob Bilott representa a escolha de usar o privilégio para buscar justiça. A história, baseada em fatos reais, é um poderoso lembrete da importância da resiliência e da luta contra a poluição e o escamoteamento de informações ambientais. "O Preço da Verdade" não é apenas um filme; é um chamado à ação e à reflexão sobre nosso papel na preservação do meio ambiente e na busca por justiça, oferecendo diversas lições importantes, especialmente relacionadas à coragem, ética, resiliência e impacto ambiental numa ação judicial morosa e que se arrastou por duas décadas, comprometendo a saúde do próprio Rob Bilott, que ve morrer clientes, enfrenta enormes obstáculos, com a perda amigos, renda pessoal e sofre pressões ao longo de sua jornada, mostrando sua crença na defesa da justiça. O filme revela como a contaminação ambiental pode afetar vidas humanas, animais e ecossistemas inteiros, diante dos olhos indiferentes dos órgãos governamentais, que atuavam de forma lenta na regulamentação de controles e monitoramento de problemas que oferecem riscos para as pessoas e o próprio planeta. Os dados levantados por Rob Billlot permitiram o registro de quase quatro mil casos de pessoas que tiveram a saúde afetada diretamente pelo C8 e vai permitir o acompanhamento de mais de 70 mil pessoas que podem inclusive desenvolver algum tipo de câncer somente na Virgínia Ocidental. Ficha técnica: Título : O preço da verdade (Dark Waters) Direção: Todd Haynes Roteiro: Nathaniel Rich, Mario Correa, Matthew Michael Carnahan Elenco : Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins Bill Camp, Victor Garber, Mare Winningham e Bill Pullman Gênero: Drama, Suspense País de origem: Estados Unidos Ano de lançamento: 2019 Duração: 126 minutos