Um rico painel sobre
os impactos da revolução tecnológica no mundo do cinema, é o resultado do filme
Side to Side (Lado a Lado) apresentado por Keanu Reeves, num amplo e construtivo debate com cineastas,
atores e técnicos, sobre a influência e as mudanças provocadas pela tecnologia
digital, com os seus avanços exponenciais. Dirigido por Christopher Kenneally,
em 2012, quando foi exibido numa mostra internacional de cinema em São Paulo, o
filme também questiona até que ponto as inovações tecnológicas podem ser
consideradas ou transformadas em arte.
Reeves entrevista diretores
como Martin Scorsese, James Cameron, Robert Rodriguez, Steven Soderbergh, Christopher
Nolam, Richard Linklater, Lars Von Trier – um dos mentores do Dogma 95, um
movimento cinematográfico internacional lançado a partir de um manifesto
publicado há 10 anos – e David Lynch, além
de atores como John Malkovich e Greta Gerwig, além de diretores de fotografia e
técnicos que atuam nos bastidores do cinema.
A discussão transcendeu o mero debate sobre a diferença entre câmeras analógicas, que usam
película da mesma forma desde a criação do cinema há mais de um século e que
devem perdurar, e as digitais, com seus recursos tecnológicos. A abordagem embora
bastante didática, faz também uma
contraposição entre o velho processo fotoquímico das películas e o universo
digital, que se intensificou nos últimos 15 anos, com a produção de câmeras
cada vez mais sofisticadas e com o fim a fabricação dos equipamentos
convencionais.
O filme também evidencia
uma ordem cronológica, desde o uso dos
primeiros recursos dos sistemas de edição eletrônica, que oferecem como
vantagens um custo menor e mais rapidez na produção de filmes, com equipamentos
portáteis facilitando a captura de imagens com a câmera, e permitindo como
contrapartida se ver o resultado da filmagem no momento imediatamente subsequente
à tomada de uma cena. Também evidencia que o cinema hoje mistura arte com
tecnologia, o que transforma o diretor de fotografia numa espécie de mágico e
mudou completamente o sistema de edição e montagem a partir de um simples toque
mágico em um botão.
Em termos históricos
primeiro filme importante feito com
tecnologia digital foi o dinamarquês "Festa de Família" (do movimento
Dogma 95) e o primeiro rodado em HD foi
o "Star Wars: Ataque dos Clones", de 2001), Além da câmera em 3D
desenvolvida por James Cameron para "Avatar". Vale salientar que este
processo se consolidou em 2009, quando o indiano “Quem Quer Ser um Milionário”,
foi o primeiro filme inteiramente digital a conquistar o Oscar, consagrando no
circuito oficial o uso desta nova tecnologia.
O Lado a Lado também nos revela o acelerado desenvolvimento
da tecnologia digital, que no ano 2000 incorporou uma câmera digital de alta
resolução, a F 900, seguida da HD Thompson Viper (2004) e da Genesis, da Panasonic, lançada no ano
seguinte, com um sistema de enquadramento global. Também em 2005 foi lançada a RED 1 e em 2007 a
Silicon, com um aumento da resolução de 2 k para 4 k.
O filme nos leva a
concluir que o avanço do sistema digital é irreversível e provocou mudanças radicais
no modo de produzir e de fazer filmes. Embora o sistema tradicional do
celulóide seja considerado de alta qualidade e de fácil armazenamento, desde
que as fitas sejam acondicionadas em condições adequadas, há ainda uma dúvida:
como preservar o material produzido digitalmente, uma vez que dezenas de
equipamentos produzidos nos últimos 50 anos foram superados e não existem mais
equipamentos para se ver vídeos feitos em Betamax ou VHS.
Mas o Lado a Lado também
nos permite chegar a uma conclusão proposta pelo diretor de "A Rede
Social", David Fincher, ao lembrar que
arte é imortal, não importa em que plataforma, não importando se no
desempenho de 24 fotogramas por minuto ou pelo sistema de pixels, com seu
padrão de resolutibilidade e de qualidade que melhora a cada dia, mas não é
eterno e é mutante como a nossa própria vida.(Kleber Torres)
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