segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Os múltiplos roteiros e caminhos da envelhescência





          O longa metragem Envelhescência relata, em 84 minutos, a história de seis pessoas idosas que vivem a vida de maneira plena e nos mostram, através de suas próprias experiências pessoais, que os hábitos e a rotina após os 60 anos podem ser repletos de atividades e bom humor para quem tem uma proposta e um projeto de vida. Dirigido por Gabriel Martinez e com argumento de Ruggero Fiandanese, o filme também nos revela que o desafio da velhice pode ser enfrentado por quem prática atividades diversas fazendo as coisas que gosta, com apoio da família e dos amigos, afinal ninguém deve envelhecer sozinho.
          Intercalado com comentários e observações do médico Alexandre Kalache; da antropóloga Mirian Goldenberg e do filósofo Mário Sergio Cortella, o filme oferece uma nova perspectiva sobre o significado do envelhecimento na vida de pessoas comuns, não só através dos depoimentos dos personagens, como também de seus familiares e amigos como co-participantes do processo.
          Para o médico Alexandre Kalache, o primeiro presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, o mundo vive uma revolução provocada pelo aumento da longevidade, o que considera a grande transformação do século XXI. Ele cita que a sua geração – nasceu em 1947 -, ganhou 32 anos a mais de vida em função de uma série de fatores – alimentação balanceada, acesso a medicamentos e mais recursos de saúde, melhor qualidade de vida -  tanto que  hoje, as pessoas não mais projetam viver 65 anos, mas 90 anos ou mais.
          Ele observa ainda, que a velhice representa o somatório das experiências pessoais de cada um e o mais importante é preservar a autoestima e ter um projeto de vida, uma vez que não existem regras definidas e estabelecidas para romper os tabus da velhice.
          omo antropóloga Miriam Goldenberg, fala do conceito de ageless, para pessoas que estão revolucionando a forma de envelhecer cantando, dançando, amando e inventando novas formas de se relacionar com as pessoas e com o mundo. Ela vê o tempo como um ativo, um capital de valor inestimável, que não pode ser desperdiçado e acredita na possibilidade de se ter uma bela velhice, apesar da crueldade do processo do envelhecimento, bastando que se tenha um projeto de vida em sintonia com a realidade.
          O filme tem como referência Osvaldo Silveira, 84 anos, um maitre que divide o seu tempo entre o trabalho e o esporte, acordando religiosamente às três horas da madrugada e com uma rigorosa preparação para maratonas.Ele também é um colecionador de títulos.
          Outro caso interessante é o Edmea Correa, 67 anos, que pratica surf  juntamente com o marido de 70 anos. Ela conta que o seu amor pelo surf começou depois da primeira onda, e se arrepende de não ter começado antes, o que mudou a sua vida para melhor.
          Há ainda o otimismo de Luís Schimer, 76,  que continua praticando paraquedismo há 60 anos e não pretende parar nunca ou o mestre de aikidô, Kenji Ono, ou Keizen Ono Sensei (nome que lhe foi dado por seu Mestre Reishin Kawai, o introdutor do Aikido no Brasil), o qual continua em atividade aos 89 anos, depois de ter sido submetido a uma cirurgia ortopédica em função de uma artrose, sem comprometer o seu desempenho e nem a capacidade física.
          Outro caso citado no documentário que também está sendo exibido nos Estados Unidos, é o de Edson Gambiaggi, 87 anos, que se formou em medicina depois de se aposentar, um homem obstinado e que granjeou o respeito dos familiares e dos colegas de curso. Outro depoimento é o de Judith Caggiano, 83 anos, que reinventou sua vida quando ficou viúva após 51 anos de casada, cuidando da casa e dos filhos: ela fez tatuagens em todo o corpo, colocou piercings, anda do moto, vai a bares e fala gíria.
          Ao observar que tudo isso é resultado do avanço na idade média da população e na individualidade das pessoas, o filósofo  Mário Sergio Cortella, diz que depois de velho, que é uma fase da vida, está a morte, a velha senhora que no final das contas acaba visitando a cada um de nós. Em tempo o filme tem como referência musical Envelhecer, de Arnaldo Antunes, para quem “ a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer/ a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer/ os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer/ os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer/ não quero morrer pois quero ver como será que deve ser envelhecer/ eu quero é viver pra ver qual é e dizer venha pra o que vai acontecer. (Kleber Torres)


FICHA TÉCNICA
Direção: Gabriel Martinez
Argumento: Ruggero Fiandanese
Edição: Caio Rodriguez
Fotografia: Daniel Dias
Operador de câmera: Raphael Mariano
Música: Marcelo Fruet
Sound design e mixagem: Ricardo Camera
Produção: Samarah Kojima
Elenco: Edson Gambuggi, Judith Caggiano, Luiz Schirmer, Ono Sensei, Oswaldo Silveira, Edméia Corrêa, Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg, Mário Sergio Cortella
Tempo de duração: 84 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2015































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