quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Truman e uma opção voluntária pela vida ou pela morte





Vinicius de Morais dizia em um dos seus poemas, que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro e isso fica evidente no filme argentino e espanhol Truman, ao mostrar que tudo o que importa na nossa estada no mundo são as relações, ou seja, o amor, a família e os amigos.  Tudo se começa quando dois amigos de infância, separados  decorrência de opções pessoais e de trabalho, se reencontram depois de muitos anos.
Os dois  passam quatro dias juntos, relembrando os velhos tempos  da infância e adolescência,  bem como as peraltices que formaram uma grande amizade e cumplicidade que se manteve com os anos, tornando-os inesquecíveis. O seu reencontro é também o último adeus, mas um adeus não piegas e encarado de frente diante não apenas de uma realidade  absurda e do insólito que cerca a cada um de nós, que muitas vezes é obrigado a fazer opções e a decidir às sobre a vida e a própria morte através da eutanásia, um tema polêmico e recorrente neste nosso tempo em que Thánatos passeia pelas ruas sem disfarce com atentados terroristas e chacinas sem fundamento racional.
O filme gira em torno de Julian (Ricardo Darin), um ator argentino radicado na Espanha, que se predispõe em função de um câncer,  a dar o seu velho cachorro Truman, com idade avançada, de forma que ele se sinta protegido e querido, porque os cachorros considerados os melhores amigos do homem não são como as plantas, seres vegetais e também sentem a separação dos seus donos.
O filme também fala  amizade e cumplicidade de dois homens que se conhecem desde a juventude, Julián  e  Tomás ( Javier Cámara), professor universitário radicado no Canadá, mas que retorna à Espanha para um reencontro com o amigo por conta da doença e dos problemas enfrentados pelo amigo, também em sérias dificuldades econômicas e existenciais.
A cumplicidade entre ambos pode ser percebida no reecontro dos dois,  quando Tomás diz: “vejo pelo seu pau duro que está feliz em me ver”, ao chegar na casa de Julián que parecia desperto e insone durante a madrugada. Ela também se evidencia no olhar e sorriso do amigo ao abrir a porta e reencontrar o outro  num momento de dificuldades pessoais.
Os dois  vão ao consultório de um oncologista que fala dos protocolos do tratamento à base que quimio e radioterapia, que é rejeitada por Julian dizendo que veio para dizer que não quer nenhum tipo de terapia e não pretende voltar ao consultório, porque não pretende perder o tempo que lhe resta entrando e saindo de um hospital sem chances de cura. Ele também diz que sabe que todos fazem o que podem, mas ninguém afinal tem culpa de nada.
Julian também filosofa dizendo que não sabia que precisava de um argumento para viver e comenta que já sonha com os mortos, como se estivesse se preparando para a viagem junto com a velha senhora. Ele também lembra que antes era muito ateu e não acreditava em nada, mas nem a doença mudou as suas perspectivas.
O filme tem como  título, o nome do cachorro de Julián, que encontra algumas pessoas interessadas no animal, a quem explica que iria viajar e não poderia levá-lo. A adoção enfrenta uma barrreira: pouca gente quer um cachorrro velho. Durante os quatro dias da visita de Tomás a Madrid, o diretor Cesc Gray construiu um rico painel sobre os hábitos e o caráter do ator argentino, que é confrontado por pessoas de seu em um restaurante e até mesmo pela sua ex-mulher.
O filme revela as várias facetas da luta do indivíduo pela vida e pela  morte com dignidade, o que se  revela no reencontro de poucas palasvras com o filho que vive em outro pais e a quem abraça num gesto de despedida em Amsterdã antes de uma prova e de um concerto . Julian também assume  pessoalmente o  momento de encarar a despedida da labuta nos palcos que lhe dá um dos poucos prazeres que lhe resta e uma renda insatisfatória para sobreviver sem depender da ajuda do amigo e quando tem de acertar  os preços para um enterro normal, para quem está sem grana.
Como um morituro, ele  age como um ser de  uma espécie rara e extinção com coragem para encarar a vida e morte de frente, afinal cada um morre como pode e no momento em que percebe que precisa deixar para trás seus amigos ou sonhos acalentados durante a vida. 
E é justamente isso que Julián se prepara para fazer ao tentar encontrar um lar para Truman e se propõe depois a ficar bêbado e a derramar suas lágrimas, uma decisão de um homem também cansado e desiludido que não pretende esperar o final e que pretende na morte encontrar uma paz não achada nos caminhos tortuosos da vida, porque cada homem é ele e o conjunto absurdo das suas circunstâncias, muitas delas adversas e desfavoráveis, mas como dia o poeta brasileiro Vinícius de Morais a vida também não é de brincadeira.(Kleber Torres)


Ficha Técnica
Titulo : Truman
Direção: Cesc Gay
Elenco :  Ricardo Darín, Javier Cámara, Dolores Fonzi
Roteiro: Cesc Gay, Tomàs Aragay
Música: Toti Soler, Nico Cota
Prêmios: Prêmio Goya de Melhor Filme

Argentina 

Nenhum comentário:

Postar um comentário