Vinicius de Morais dizia em um dos seus poemas, que a
vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro e isso fica evidente
no filme argentino e espanhol Truman, ao mostrar que tudo o que importa na
nossa estada no mundo são as relações, ou seja, o amor, a família e os
amigos. Tudo se começa quando dois
amigos de infância, separados
decorrência de opções pessoais e de trabalho, se reencontram depois de
muitos anos.
Os dois passam quatro
dias juntos, relembrando os velhos tempos
da infância e adolescência, bem
como as peraltices que formaram uma grande amizade e cumplicidade que se
manteve com os anos, tornando-os inesquecíveis. O seu reencontro é também o
último adeus, mas um adeus não piegas e encarado de frente diante não apenas de
uma realidade absurda e do insólito que
cerca a cada um de nós, que muitas vezes é obrigado a fazer opções e a decidir
às sobre a vida e a própria morte através da eutanásia, um tema polêmico e
recorrente neste nosso tempo em que Thánatos passeia pelas ruas sem disfarce
com atentados terroristas e chacinas sem fundamento racional.
O filme gira em torno de Julian (Ricardo Darin), um ator
argentino radicado na Espanha, que se predispõe em função de um câncer, a dar o seu velho cachorro Truman, com idade
avançada, de forma que ele se sinta protegido e querido, porque os cachorros
considerados os melhores amigos do homem não são como as plantas, seres
vegetais e também sentem a separação dos seus donos.
O filme também fala
amizade e cumplicidade de dois homens que se conhecem desde a juventude,
Julián e
Tomás ( Javier Cámara), professor universitário radicado no Canadá, mas
que retorna à Espanha para um reencontro com o amigo por conta da doença e dos problemas
enfrentados pelo amigo, também em sérias dificuldades econômicas e existenciais.
A cumplicidade entre ambos pode ser percebida no reecontro
dos dois, quando Tomás diz: “vejo pelo
seu pau duro que está feliz em me ver”, ao chegar na casa de Julián que parecia
desperto e insone durante a madrugada. Ela também se evidencia no olhar e
sorriso do amigo ao abrir a porta e reencontrar o outro num momento de dificuldades pessoais.
Os dois vão ao
consultório de um oncologista que fala dos protocolos do tratamento à base que
quimio e radioterapia, que é rejeitada por Julian dizendo que veio para dizer
que não quer nenhum tipo de terapia e não pretende voltar ao consultório,
porque não pretende perder o tempo que lhe resta entrando e saindo de um
hospital sem chances de cura. Ele também diz que sabe que todos fazem o que
podem, mas ninguém afinal tem culpa de nada.
Julian também filosofa dizendo que não sabia que
precisava de um argumento para viver e comenta que já sonha com os mortos, como
se estivesse se preparando para a viagem junto com a velha senhora. Ele também
lembra que antes era muito ateu e não acreditava em nada, mas nem a doença
mudou as suas perspectivas.
O filme tem como
título, o nome do cachorro de Julián, que encontra algumas pessoas
interessadas no animal, a quem explica que iria viajar e não poderia levá-lo. A
adoção enfrenta uma barrreira: pouca gente quer um cachorrro velho. Durante os
quatro dias da visita de Tomás a Madrid, o diretor Cesc Gray construiu um rico painel
sobre os hábitos e o caráter do ator argentino, que é confrontado por pessoas
de seu em um restaurante e até mesmo pela sua ex-mulher.
O filme revela as várias facetas da luta do indivíduo pela
vida e pela morte com dignidade, o que
se revela no reencontro de poucas
palasvras com o filho que vive em outro pais e a quem abraça num gesto de
despedida em Amsterdã antes de uma prova e de um concerto . Julian também
assume pessoalmente o momento de encarar a despedida da labuta nos
palcos que lhe dá um dos poucos prazeres que lhe resta e uma renda
insatisfatória para sobreviver sem depender da ajuda do amigo e quando tem de
acertar os preços para um enterro normal,
para quem está sem grana.
Como um morituro, ele age como um ser de uma espécie rara e extinção com coragem para
encarar a vida e morte de frente, afinal cada um morre como pode e no momento
em que percebe que precisa deixar para trás seus amigos ou sonhos acalentados
durante a vida.
E é justamente isso que Julián se prepara para fazer ao
tentar encontrar um lar para Truman e se propõe depois a ficar bêbado e a
derramar suas lágrimas, uma decisão de um homem também cansado e desiludido que
não pretende esperar o final e que pretende na morte encontrar uma paz não
achada nos caminhos tortuosos da vida, porque cada homem é ele e o conjunto
absurdo das suas circunstâncias, muitas delas adversas e desfavoráveis, mas
como dia o poeta brasileiro Vinícius de Morais a vida também não é de
brincadeira.(Kleber Torres)
Ficha Técnica
Titulo : Truman
Direção: Cesc Gay
Elenco : Ricardo
Darín, Javier Cámara, Dolores Fonzi
Roteiro: Cesc Gay, Tomàs Aragay
Música: Toti Soler, Nico Cota
Prêmios: Prêmio Goya de Melhor Filme
Argentina
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