O Longo Caminho da Morte é um drama que se propõe a uma reflexão sobre a
vida, a morte, o capitalismo e a
loucura, sendo considerado um filme underground, produto do cinema marginal, filmado
em 1971 com roteiro e direção de Júlio Calasso Júnior. A obra fala vida e a morte do Coronel Orestes (Othon
Bastos), fazendeiro de café decadente e perpassa três gerações de sua família
entre o desespero, os sonhos, as alucinações e o envolvimento de três mulheres
distintas na sua vida, além de uma pitada alegórica de sexo numa árvore gigantesca e cenas de
sadomasoquimo.
Marcado
por monólogos alongados por digressões filosóficas confusas além de uma profusão de planos gerais, deixando num
segundo lugar a interpretação dos atores, o filme narra o
drama de um oligarca rural envolvido com a política e que tem como pano de
fundo e contraponto a cidade, com seu cenário urbano.
Neste
contexto do conflito entre rural e o urbano, cidade aparece como síntese da modernização
do país e de suas contradições sociais, enterrando definitivamente o coronelismo substituído
pelos empresários, industriais e
construtores de prédios que nascem sobre espaço agrícola, o mesmo que no
passado fizera o prestígio e a riqueza do personagem central da trama.
Influenciado
pelo Cinema Novo e pela contracultura, o Longo Caminho da Morte não tem uma
narrativa linear e se perde em cenas
rurais e na casa grande da fazenda sem maior signfiicação. O filme é também o único longa de metragem ficção
dirigido por Julio Calasso Júnior, uma obra marcada pelo experimentalismo narrativo e pela aproximação
com a contracultura, na busca de uma ambiciosa estética própria e de uma
linguagem.
A obra trata em essência a decadência
da oligarquia rural paulista enriquecida pela cultura do café – e falha ao
tentar buscar raízes críticas na ironia, no deboche e se perde na excessiva
monotonia das cenas que transitam do real ao surreal sem os limites necessários
para entendimento da interface entre a sanidade, que tem limites não definidos
e a própria loucura. Ele se perde no ritmo essencialmente irregular e por isso transcende
os parâmetros físicos entre a vida e da morte para se aproximar da essência do
nada, com um discurso de vanguarda.
O filme começa com um velório e num longo plano panorâmico –uma das suas
marcas narrativas - mostra partes de pessoas sentadas, vestidas de negro
velando um cadáver, cuja imagem é revelada de forma lenta e gradual. Ao fundo,
o som de uma pá escavando a terra fazendo evidenciando o contraste entre os
vivos e o morto, que será enterrado com o seu passado pretérito e ressurge na
tela em imagens como personagem de uma
tragédia pessoal e da sua classe social em extinção, revelando uma outra
disputa entre as imagens e um discurso
sobre a inevitabilidade da morte e da finitude da vida, sem vencidos e
vencedores.
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