Considerado um dos marcos da contracultura no Brasil, o
filme Meteorango Kid – Herói Intergalático (1969), dirigido por André
Luiz Oliveira é um cult movie, mas ainda é pouco conhecido e tem sido mostrado raras
exibições para cinéfilos, a última delas no Festival de Cinema de Invenção
realizado no primeiro semestre deste ano pelo Canal Brasil, resgatando algumas
das mais relevantes obras cinematográficas dos anos 60. O filme, que tem
como destaque a fotografia e o enredo, foi proibido para menores de 18 anos e
para veiculação na TV, mas conquistou no ano da sua estreia o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio da
Opinião Pública e a Margarida de Prata da CNBB - Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil no Festival de Brasília.
A história, que começa com chegada de um alienígena nos
coqueirais baianos e se transforma em Lula, rapaz de classe média alta, que sonhar ser um super herói e o astro principal
do filme "Tarzan e as Bananas de Ouro", uma sátira ao modelo de Edgar Rice Burroughs, que criou o rei das
selvas, quando sua empregada o acorda. Antes de sair de casa ao som de
"É Proibido Proibir", Lula recebe um bilhete contando que Duda, um
amigo, morrera e ao invés de se emocionar, ele ri da tragédia.
Na faculdade, ele destoa de um grupo de alunos divididos
entre direitistas e esquerdistas e assim, procura não se envolver com as discussões tão em voga no
movimento estudantil num tempo de repressão e medo. Ao mesmo tempo, enquanto
seus colegas participam de discussões
acaloradas e às sem sentido como uma metáfora para driblar a censura, Lula opta
por ler uma revista uma em quadrinhos e depois em tirar sarro dos colegas.
Na sequência seguinte, ele entre numa produtora cinematográfica e imagina ser o
personagem principal de "Tarzan e as Bananas de Ouro". Ali, o produtor,
que o conhece desde a mais tenra infância, propõe a sua inserção no papel
central do seu próximo filme, desde que o pai de Lula, que é capitalista,
invista no custeio da produção. O produtor também fala das regras do jogo do
mercado cinemagráfico que para dar lucro exige cenas de sexo, mulheres bonitas
e violência.
Ao sair da
produtora, Lula encontra com seus amigos Caveira e Zé Veneno, os três vão à casa
de Caveira fumar maconha e sob os efeitos da erva, ele se propõe a oferecer o produto aos seus pais
que se escandalizariam. Em sua "viagem", Lula pensa estar em seu
quarto e imagina se transformar num super-herói batmaniano, que comete parricídio.
Numa outra sequência, Lula, Caveira e Zé discutem e ele pega uma arma e dá um
tiro Caveira, porque matar o não matar é diferenciado apenas pelo ato de
efetuar o disparo, o que lhe confere uma visão nietzscheana da vida e dos fatos.
Ao voltar para a rua, o herói intergalático encontra uma
amiga jornalista e a acompanha até a Ilha de Bananal, onde pescadores garantem
ter visto discos-voadores. O filme faz uma critica à desnacionalização e
americanização da cultura brasileira com a influencia dos brasilianistas que
estudavam a nossa cultura e a sociedade. Num outro corte, ele imagina fazer
parte de um filme de ação, desta vez enfrentando piratas armados de
metralhadoras e fuzis, usando lanchas no interior da Bahia de Todos os Santos.
Depois, ele vai ao velório de Duda, que se suicidara em
uma poça d'água rasa no meio da rua, e se lembra, sem mostrar nenhum
arrependimento, que o havia humilhado por ser homossexual. O pai de Duda pede
que ele acompanhe sua filha até a casa da avó para dar um telefonema. Ao
chegar, Lula dá um susto na velha, que desmaia, e ainda seduz e fatura a irmã
do suicida. Ao voltar ao velório, ele diz jogando as cinzas de um cigarro no
morto: "papei sua irmã".
Ao retornar para sua casa depois de um dia cheio de aventura e
desventuras, ele é surpreendido pela família e amigos que prepararam uma festa
surpresa de aniversário. O filme também mostra uma sequência no Teatro Castro
Alves, onde para assistir a uma peça, ele se apresenta montado num burro e faz
propaganda se sabão em pó e de produtos que se contrapõem aos valores à cultura, porque quando “não se pode fazer
nada a gente avacalha”, como diz o Lula numa das suas reflexões.
As sequencias das cenas se contrapõem também com a de um
vampiro magro e subdesenvolvido, que segue mulheres indefesas nas ruas e acaba
esbarrando num cara cabeludo que de costas se parecia com uma mulher. Ele se
vinga de tudo comendo uma maça. No mais o filme termina com o alienígena
descendo da sua cruz e subindo anum coqueiro para um retorno dialético ao hiperespaço.
Entre legendas de procurado viva ou morto para o
personagem central, fica na tela um questionamento válido para o período da
contracultura e para os tumultuados dias atuais: “o que será de mim e da minha
vida ? E o que importa?” Afinal o filme termina com outra frase simbólica do
tempo do desbunde: “curti adoiado...”
Há quem acredite que o filme traça o perfil de uma geração oprimida pela ditadura e pela
moral de uma sociedade hipócrita, num período de mudanças radicais do paz e
amor livre, bem como com a subversão da cultura e dos valores éticos e morais,
mas que não resultou na construção de uma nova sociedade e nem de uma nova
ordem mundial.(Kleber Torres)
Ficha Técnica:
Título: Meteorango Kid - Herói Intergalático
Direção e roteiro: André Luiz Oliveira
Elenco: Nilda Spencer, Antonio Luiz Martins, Sônia Dias,
Carlos Bastos e Milton Gaúcho
Música : Luiz Galvão
Direção de fotografia: Vito Diniz,
Fotografia de cena: Cravo Neto, Mário
Direção de fotografia: Vito Diniz,
Fotografia de cena: Cravo Neto, Mário
Produção: André Luiz Oliveira, Marcio Curi, Milton
Oliveira
Data de lançamento: 1969
Brasil
P & B
Duração: 85 minutos
Nenhum comentário:
Postar um comentário